São João de Ávila, nascido em Almodóvar do Campo, Cidade Real em 6 de janeiro de 1500 e falecido em Montilla, no dia 10 de maio de 1569, foi um escritor ascético e sacerdote.
Seus pais, Alfonso de Ávila (de ascendência judia) e Catalina Gijón possuíam minas de prata em Sierra Morena. Começou a estudar Direito em Salamanca em 1514, mas abandonou os estudos impelido por sua devoção, e retirou-se para Almodóvar, onde viveu em duras penitências. Passou a estudar Artes e Teologia em Alcalá de Henares entre 1520 e 1526, onde foi aluno de Domingo de Soto e travou amizade com Don Pedro Guerrero, futuro arcebispo de Granada. Durante sua estada ali seus pais faleceram e, ao ordenar-se sacerdote em 1526, a sua primeira missa foi dedicada à sua memória. Vendeu toda sua herança e distribuiu a renda entre os pobres, para depois dedicar-se por inteiro à evangelização, começando em seu próprio povoado.
Um ano depois se ofereceu como missionário para o novo bispo de Tlascala, frei Julián Garcés, que em 1527 haveria de embarcar para a América, pretendendo acompanhá-lo junto com seu amigo de Alcalá Fernando Contreras. Falando com o arcebispo de Sevilha, Alonso Manrique, foi dissuadido de seu projeto e recebeu ordens de evangelizar a Andaluzia, o que passou a fazer com um denodo que lhe valeria o apelido de O Apóstolo da Andaluzia.
Escreveu um célebre comentário ao Salmo XLIV (Audi filia, et vide) para uma de suas convertidas em Écija, Sancha Carrillo, filha dos senhores de Guadalcázar, que foi publicado em Alcalá furtivamente em 1556, e com maior divulgação e autorizadamente em Madri em 1557. Esta obra pode ser considerada um verdadeiro compêndio de ascese e o rei Filipe II a tinha em tamanha estima que solicitou que jamais faltasse no Escoriall. Da mesma forma o cardeal Astorga, arcebispo de Toledo, disse que com esta obra "havia convertido mais almas do que o número de letras que ela continha". Este opúsculo marcou positivamente sua literatura ascética posterior, e o projetou de tal modo que não há autor religioso do século XVI tão consultado como João de Ávila. Foi o examinador da autobiografia de Santa Teresa , relacionou-se com freqüência com Santo Inácio de Loyola ou seus representantes, que o queriam jesuíta, com São Francisco de Borja, São Pedro de Alcântara, São João de Ribera e o frei Luís de Granada.
Sua enorme ascendência como pregador provocou inveja e alguns clérigos o denunciaram à Inquisição sevilhana em 1531, e até 1533 esteve encarcerado e sob processo. Contra cinco acusadores teve 55 defensores. A base da acusação seria um suposto eramismo, do qual teria se impregnado em Alcalá. No final foi absolvido, com a censura de "ter proferido em seus sermões e fora deles algumas proposições que não pareceram adequadas", ordenando-se-lhe, sob pena de excomunhão, que as corrigisse nos mesmos lugares onde as havia pregado.
Em 1535 viajou para Córdoba, chamado pelo bispo frei Álvarez de Toledo, e ali conheceu frei Luís de Granada. Organizou pregações pelos povoados andaluzes (sobretudo na Sierra de Córdoba) e conseguiu muitas conversões espetaculares de personalidades de alta categoria. Fez amizade com o novo bispo de Córdova, Cristóbal de Rojas, para quem escreveu as Advertências ao Concílio de Toledo. Também interveio na conversão do Duque de Gandía, futuro São Francisco de Borja, e do soldado e então livreiro ambulante Juan Ciudad, que mais tarde seria São João de Deus. Evangelizou não só na atual Andaluzia, mas também esteve no sul da Mancha e na Estremadura. Organizou a Universidade de Baeza, e caiu doente em 1554, mas ainda permaneceria ativo por quinze anos, até piorar visivelmente em 1569, morrendo no mesmo ano em Montilla, onde está sepultado.
Em 1588 frei Luís de Granada recolheu alguns escritos enviados por discípulos e com eles, junto com suas memórias pessoais, redigiu a primeira biografia do religioso. Em 1623 a Congregação de São Pedro Apóstolo, de sacerdotes naturais de Madri, iniciou a causa de sua beatificação. Em 1635 o licenciado Luís de Muñoz escreveu a segunda biografia, baseando-se na anterior e nos documentos do processo de beatificação, além de outros já perdidos. Em 4 de abril de 1894 o Papa Leão XIII o beatificou; em 2 de julho de 1946, o Papa Pio XII o declarou Patrono do clero secular, e o Papa Paulo VI o canonizou em 1970.