quarta-feira, 31 de julho de 2013

Beata Zdenka Cecília Schelingova, religiosa e mártir


     No dia 14 de setembro de 2003, Festa da Santa Cruz, João Paulo II beatificou, numa solene cerimônia em Bratislava, na Eslováquia, a Irmã Zdenka Cecilia Schelingova e o Bispo Vasil’ Hopko, ambos mártires eslovacos.
     Na presença de bispos, alguns cardeais, sacerdotes e religiosas, testemunhas e vítimas ainda vivas da “Igreja do Silêncio”, também chamada “Igreja das catacumbas do século XX” nos países sob o domínio comunista, o papa recordou os filhos da Santa Igreja que irrigaram com seu sangue aquelas regiões e deu como exemplo das perseguições de ontem e de hoje as duas figuras notáveis que beatificava.
 
      
     Cecilia Schelingova, este era o seu nome de leiga, nasceu em 24 de dezembro de 1916 em Krivá, distrito de Dolny, Eslováquia, penúltima de 11 filhos. Três dias depois foi batizada. Seus pais, Pavol e Zugana, eram honestos camponeses que deram uma educação religiosa aos filhos, fundamentada na oração e no cumprimento do dever - trabalhar no campo e nas lides da casa.
     Cecília se distinguia de suas companheiras na escola pela diligência, obediência e a prontidão com que procurava ajudar os outros.
     Em 1929 começou a colaborar na paróquia das Irmãs de Caridade da Santa Cruz.  Atraída pela caridade das Irmãs, com apenas 15 anos desejou entrar naquela Congregação. Seus pais e seus irmãos se alegraram muito e se sentiram muito satisfeitos com sua escolha.
     Durante seu noviciado fez estudos de enfermagem em Podunajské Biskupice por dois anos, e depois um curso de especialização em radiologia. No dia 30 de janeiro de 1936 emitiu os primeiros votos mudando o nome para Zdenka (Sidônia).
     Era intensa sua oração. Durante o trabalho se mantinha muito unida a Deus. Era amável com todos e estava sempre disposta a servir. A amizade espiritual com Jesus marcou sua vida religiosa e seu trabalho de enfermeira.
     Com o diploma de enfermeira, exerceu esta atividade em Humenné, cidade situada na parte oriental da Eslováquia, próximo da Ucrânia, e de 1942 em diante, gozando de grande estima por suas qualidades, trabalhou na radiologia do Hospital Estatal de Bratislava com competência, generosidade e amor pelos doentes. Muitos a consideravam um “modelo de Irmã e de enfermeira profissional”.
     Em 1948, o partido comunista começou uma verdadeira perseguição contra a Igreja Católica, usando discriminação com os fieis, fechando Ordens religiosas, enviando sacerdotes e religiosos para os trabalhos forçados, perseguindo e aprisionando bispos e seus colaboradores.
     As Irmãs de sua Congregação também viviam no temor e nas dificuldades cada vez mais pesadas. Irmã Zdenka Schelingova participava do sofrimento da Igreja eslovaca oprimida pelo regime, e procurou ajudar alguns sacerdotes em dificuldade por causa de sua Fé.
     Com grande coragem conseguiu ajudar na fuga de um sacerdote católico em tratamento no hospital por causa das torturas sofridas durante os interrogatórios, e já destinado aos trabalhos forçados na Sibéria. Depois da fuga do sacerdote, Irmã Zdenka rezou assim diante da cruz na capela do hospital: “Jesus, eu vos ofereço a minha vida pela dele. Salvai-o!”
     Mas a coisa não passou de todo despercebida: o regime comunista totalitário pos a Polícia secreta a vigiar a religiosa.
     Assim, oito dias depois, 29 de fevereiro de 1952, quando Irmã Zdenka procurava ajudar outros seis sacerdotes a escapar, foi descoberta e aprisionada. Nos dias seguintes, sofreu terríveis interrogatórios no cárcere, com humilhações e torturas.
     No dia 17 de junho de 1952, acusada de alta traição, foi condenada a doze anos de prisão, a perda dos direitos civis por dez anos. Era evidente que a condenação era infringida no âmbito da perseguição religiosa contra a Igreja Católica e não por um atentado à soberania do Estado: era o motivo das condenações de tantos eclesiásticos.
       Embora sofrendo, Irmã Zdenka não mostrava nenhum rancor contra os seus algozes, antes perdoando e disposta a morrer por Deus e pelo bem da Igreja. Enquanto era golpeada quase até a morte, sussurrou: "O perdão é o maior na vida”.
     Sua via crucis prosseguiu por diversas prisões e hospitais de cárceres (Rimavska Sabota, Brno, Praga, Pardubice), o que causou graves conseqüências a sua saúde: devido às torturas, apareceu um tumor maligno no peito e uma tuberculose.  .
     Temendo que ela morresse na prisão, libertaram-na no dia 15 de abril de 1955, mas por medo da situação política, não foi recebida no hospital de Bratislava, foi aceita no de Trnava.
     Depois de pouco mais de três meses, vividos no sofrimento com humildade e abandono à vontade de Deus, Irmã Zdenka morreu de câncer (é o que foi escrito no seu atestado de óbito), no dia 31 de julho de 1955, após ter recebido o Santo Viático, na idade de apenas 38 anos.
     Imediatamente após a sua morte o povo a considerava mártir da Fé.
     Em 1970 o tribunal de Bratislava e a Corte Suprema reconheceram a inocência de Irmã Zdenka da infamante acusação.
     As suas co-irmãs e o povo eslovaco se recordam da sempre risonha Irmã Zdenka como uma religiosa que caminhou na via da perfeição imitando Nosso Senhor Jesus Cristo, suportando os sofrimentos com paciência heróica, firme determinação, disposta a morrer por Deus e pelo bem da Igreja, sem nenhum rancor aos seus perseguidores.
     Seus despojos repousam na Igreja da Santa Cruz, em Podunajske Biskupice.
 
 

Santa Helena de Skövde, viúva e mártir


       Mártir da primeira metade do século XII. Sua festa se celebra no dia 31 de julho.     Sua vida (Acta SS., Julio, VII, 340) é atribuída a São Brynolph, Bispo de Skara, na Suécia (+ 1317). E' chamada também de Santa Elin de Vastergotland, do nome da província sueca onde se encontra Skövde.
     Era de origem aristocrática, era filha de Jarl Guthorm. Tendo ficado viúva muito jovem, vivia piedosamente dando esmolas e contribuindo com generosidade na construção da igreja da sua cidade. As portas de sua casa estavam sempre abertas para os necessitados.
     O marido de sua filha era um homem muito cruel, e foi assassinado por seus próprios empregados. Seus familiares, desejando vingar sua morte, interrogaram os empregados, que admitiram o crime, mas afirmaram falsamente que haviam agido instigados por Helena.
     Para evitar uma vingança, Helena fez uma peregrinação a Terra Santa, permanecendo ausente quase um ano. Retornando à pátria por ocasião da festa de consagração da igreja de Gotene, foi surpreendida numa emboscada e morta pelos familiares de seu genro, no dia 31 de julho de 1160.
     Seu corpo foi levado para Skövde para ser enterrado, e muitas curas maravilhosas aconteceram por sua intercessão.
     Conta-se que na tarde de sua morte um cego, acompanhado de uma criança, passou perto do lugar do assassinato e o menino descobriu num arbusto iluminado por uma luz muito viva um dedo decepado de Helena, no qual estava um anel que ela trouxera da Terra Santa. Quando o cego curvou-se, com a ajuda do menino, pode tocar o sangue de Helena e esfregá-lo nos olhos, ficando curado.
     No local onde a Santa caiu ferida de morte, cerca de dois quilômetros de Skövde, surgiu uma fonte de água que foi chamada de Elins Kalla.
     Estes milagres foram reportados a Roma pelo bispo de Upsala, Estevão, e este, por ordem do Papa Alexandre III, inscreveu o nome de Helena na lista dos santos canonizados (Benedicto XIV, "De canonizatione sanctorum", I, 85). Grande era a veneração a suas relíquias, inclusive depois que a Reforma se expandiu na Suécia. São Lene Kild, muito conhecido no tempo de Santa Helena, esteve em sua igreja.
     As autoridades luteranas censuraram várias vezes o que eles chamavam de superstição papal e anticristã. Especialmente zeloso neste sentido foi o arcebispo luterano Angermannus, que em 1596 ordenou que enchessem a fonte de água com pedras e escombros, mas a água continuou a brotar (Baring-Gould, "Lives of the Saints", July, II, 698). Próximo da nascente existia também uma capela dedicada a Santa. Em 1759 a igreja de Skövde, devorada por um incêndio, foi reconstruída.
     Helena também era muito venerada na Dinamarca. De fato, nas vizinhanças de Tiisvilde, já então um vilarejo pesqueiro no Kattegat, e que posteriormente se tornou uma estação balneária, existia uma localidade chamada Helenes Kilde que era visitada especialmente na vigília de São João, porque ela restituía a saúde aos doentes. Os peregrinos, principalmente os doentes, permaneciam toda a noite junto à sepultura, levavam consigo bolsas com terra do local, e com frequência deixavam seus bastões em sinal de agradecimento.
     Em 1658, o jesuíta Lindanus enviou de Copenhague estas informações aos Bollandistas. Informação semelhante foi feita por Werlaiff, em 1858, em seu "Hist. Antegnelser". A legenda dizia que o corpo de Santa Helena flutuou até Tiisvilde em seu ataúde de pedra, e que uma fonte brotou no local onde o ataúde tocou. Os Bollandistas (loc. cit.) dão como uma possível razão para a veneração de Santa Helena em Tiisvilde que talvez ela tenha visitado o lugar, ou que alguma de suas relíquias tenham sido levadas para lá.


Igreja de Santa Helena em Skövde, Suécia

terça-feira, 30 de julho de 2013

São Leopoldo Mandic



       Leopoldo Mandic nasceu na Dalmácia, atual Croácia, em 12 de maio de 1866. Os pais, católicos fervorosos, batizaram-no com o nome de Bogdan, que significa "dado por Deus". Desde pequeno apresentou como características a constituição física débil e o caráter forte e determinado. O mais novo de uma família numerosa, completou seus estudos primários na aldeia natal.
       Nessa época, a região da Dalmácia vivia um ambiente social e religioso marcado por profundas divisões entre católicos e ortodoxos. Essa situação incomodava o espírito católico do pequeno Bogdan, que decidiu dedicar sua vida à reconciliação dos cristãos Orientais com Roma.
       Aos dezesseis anos, ingressou na Ordem de São Francisco de Assis, em Udine, Itália, adotando o nome de Leopoldo. Foi ordenado sacerdote em Veneza, onde concluiu todos os estudos em 1890. Sua determinação era ser um missionário no Oriente e promover a unificação dos cristãos. Viajou duas vezes para lá, mas não em missão definitiva.
       Leopoldo foi destinado aos serviços pastorais nos conventos capuchinhos por causa da saúde precária. Ele era franzino, tinha apenas um metro e quarenta de altura e uma doença nos ossos. Com grande espírito de fé, submeteu-se à obediência de seus superiores. Iniciou, assim, o ministério do confessionário, que exerceu até a sua morte. No início, em diversos conventos do norte da Itália e, depois, em Pádua, onde se tornou "o gigante do confessionário".
        A cidade de Pádua é famosa por ser um centro de numerosas peregrinações. É em sua basílica que repousam os restos mortais de santo Antônio. Leopoldo dedicava quase doze horas por dia ao ministério da confissão. Para os penitentes, suas palavras eram uma fonte de perdão, luz e conforto, que os mantinham na fidelidade e amor a Cristo. Sua fama correu, e todos o solicitavam como confessor.
      Foi quando ele percebeu que o seu Oriente era em Pádua. E fez todo o seu apostolado ali, fechado num cubículo de madeira, durante trinta e três anos seguidos, sem tirar um só dia de férias ou de descanso. Pequenino e frágil, com artrite nas mãos e joelhos, e com câncer no esôfago, ofereceu toda a sua agonia alegremente a Deus.
     Frei Leopoldo Mandic morreu no dia 30 de julho de 1942, em Pádua. O seu funeral provocou um forte apelo popular e a fama de sua santidade espalhou-se, sendo beatificado em 1976. O papa João Paulo II incluiu-o no catálogo dos santos em 1983, declarando-o herói do confessionário e "apóstolo da união dos cristãos", um modelo para os que se dedicam ao ministério da reconciliação.

Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas, fundadora




        Natividade Venegas de La Torre nasceu em 8 de setembro de 1868, em Jalisco, no México. A última de doze filhos, desde a adolescência cultivou uma devoção especial à eucaristia, exercendo obras de caridade e sentindo o forte desejo de consagrar-se totalmente ao Senhor no serviço ao próximo.
          Só depois da morte prematura dos seus pais pôde unir-se ao grupo de senhoras que, com a aprovação do arcebispo local, dirigiam em Guadalajara um pequeno hospital para os pobres, o Hospital do Sagrado Coração. Em 1910, ela emitiu, de forma privada, os votos de pobreza, castidade e obediência.
          As companheiras escolheram-na, em seguida, como superiora e, desse modo, com o conselho de eclesiásticos autorizados, transformou a sua comunidade numa verdadeira congregação religiosa, que assumiu o nome de Instituto das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, aprovado em 1930 pelo arcebispo de Guadalajara. Na ocasião, madre Nati, como ficou conhecida, e as companheiras fizeram os votos perpétuos; e ela trocou o seu nome para o de Maria de Jesus Sacramentado.
         Exerceu o cargo de superiora-geral entre 1921 e 1954, conseguindo conservar a sua fundação nos anos difíceis da perseguição religiosa. Amou e serviu a Igreja, cuidou da formação das suas co-irmãs, entregou a vida pelos pobres e sofredores, tornou-se um modelo de irmã- enfermeira. Após deixar a direção da sua Congregação, passou os últimos anos da vida, marcados pela enfermidade, em oração e recolhimento, dando mais um testemunho de sua abnegação. Morreu com a idade de noventa e um anos, no dia 30 de julho de 1959.
         O papa João Paulo II declarou-a bem-aventurada em 1992. Continuamente recordada e invocada pelo povo, que, pela sua intercessão, obteve diversos favores celestes, foi proclamada santa pelo mesmo sumo pontífice no ano 2000.
       Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas, primeira mexicana canonizada, soube permanecer unida a Cristo na sua longa existência terrestre, por isso deu abundantes frutos de vida eterna, assim discursou o santo padre durante a solene cerimônia em Roma.

Santa Julita de Cesareia, viúva e mártir



     Santa Julita (Júlia ou Julieta) de Cesareia viveu nos tempos de Diocleciano, falecendo em Cesaréia da Capadócia no ano de 305. Conhecemos o martírio de Santa Julita graças a uma homilia de São Basílio, Bispo de Cesareia. 
     Julita era uma rica viúva que um considerável homem da cidade, inescrupuloso, aos poucos foi empobrecendo, lesando-a fraudulentamente. Levado ao tribunal, o ursupador, caviloso, depois que a santa viúva expôs os fatos, provando a veracidade do que revelara, disse: — A parte contrária não está apta a sustentar ação de juízo, É incapaz, juridicamente, uma vez que fora do direito comum, porque se recusa adorar os deuses dos imperadores e renegar a crença de Jesus Cristo.
     Um edito recente, de 303 mesmo, excluía da comunidade, não podendo, pois, ter vida ativa dentro daquela comunidade, aqueles que não adorassem deuses da paganidade.
     O presidente do tribunal, imediatamente, mandou que trouxessem incenso e um altar portátil e, dirigindo-se à queixosa, convidou-a a agir de modo que pudesse intentar a ação. Bastaria um único grãozinho de incenso e recuperaria todo o patrimônio. Tudo dependia de um simples grão de incenso, da fumaça que dirigisse aos ídolos.
     Julita recusou-se por amor a Jesus. E, como não quisera queimar um só grãozinho, ela, então, foi condenada a ser queimada. Com grande coragem, a santa viúva enfrentou o martírio, a exortar, com voz pausada e firme, os amigos sinceros que assistiam à demanda, no tribunal: — Nós fomos, disse ela, criados da mesma matéria que o homem, à imagem de Deus, como ele. A virtude é acessível tanto às mulheres como aos homens, Carne da carne de Adão, ossos dos seus ossos, é necessário que ofereçamos ao Senhor constância, coragem e paciência viris.
     Ditas estas palavras, dirigiu-se para o fogo com denodo e altivez. 
     Na época de São Basílio, o corpo de Julita era venerado na igreja de Cesareia, e no local do seu suplício ainda corria uma fonte que muitas vezes curou enfermos. 
     De acordo com outras fontes, Santa Julita, viúva, e seu filho, São Ciro, foram vítimas da perseguição romana contra os cristãos no século IV. Ciro, também chamado Siríaco, era ainda criança pequena quando ambos sofreram o martírio.
     Julita, que era uma viúva rica, vivia em Icônio, Turquia, com Ciro, havia nascido há três anos quando Domiciano começou a perseguir os cristãos executando os editos do Imperador Diocleciano.
     Acompanhada de seu filho e de duas criadas, Julita se refugiou em Tarso. Em Tarso, Julita foi reconhecida por oficiais romanos e presa por ordem do governador da Cilícia. No julgamento, ela se declarou cristã e foi torturada.
     No tribunal, o governador retirou-lhe o filho e Julita, sofrendo muito, reafirmava que era cristã. O governador arremessou a criança escada abaixo, causando sua morte instantânea.
     Julita, ao invés de chorar e lamentar-se, regozijou-se e agradeceu a Deus por ter concedido a coroa do martírio a seu filho. Em seguida, foi torturada e decapitada, conservando sua confiança serena no Senhor e sua constância na fé. O fato aconteceu em 15 de julho de 304.

Beata Clara (Sancha de Maiorca), rainha


     
      Segundo a Crônica piniatense, Sancha era a segunda filha do Rei de Maiorca, Tiago II, e foi casada com o Rei de Nápoles, Roberto de Anjou.
     Em 17 de junho de 1304, em Rossiglione, Sancha desposou Roberto de Anjou, o filho mais velho de Carlos II de Anjou e de Maria Arpad da Hungria, herdeiro do trono de Nápoles. Roberto perdera, na idade de 27 anos (1302) a sua primeira esposa, Iolanda de Aragão, filha de Pedro III de Aragão e de Constância de Hohenstaufen.
     À morte de Carlos II, ocorrida em 5 de maio de 1309, Roberto sucedeu-o no trono e Sancha tornou-se assim rainha até a morte do marido. Sancha recebeu do marido o senhorio de Potenza, Venosa, Lanciano, Alessa e San Angelo no dia 2 de agosto de 1311.
     A piedosa rainha mandou construir em Nápoles o convento de Santa Clara com uma esplêndida igreja anexa. Nesta igreja seu esposo, falecido em 20 de janeiro de 1344, foi sepultado. Sucedeu Roberto a sobrinha, Joana de Aragão, enquanto Sancha, por expressa vontade do esposo, foi nomeada tutora da nova rainha, que tinha dezesseis anos.
     Sancha, pouco depois, obrigada a deixar a corte, se retirou no Mosteiro de Santa Maria da Cruz, em Nápoles, onde, em 1344, professou e tomou o nome de Irmã Clara.
     Sancha faleceu em odor de santidade em 28 de julho de 1345 e foi sepultada perto do altar mor da igreja do Mosteiro de Santa Maria da Cruz. Seus despojos foram transferidos posteriormente para a igreja de Santa Clara. Embora não tenha sido oficialmente beatificada, é venerada como beata pelos franciscanos e é celebrada no dia 28 de julho no Martirológio da Ordem.

sábado, 27 de julho de 2013

Beata Maria Madalena Martinengo, abadessa capuchinha


     A nossa Beata nasceu em 1687, dos Condes de Barco, em Brescia, na Lombardia. Nasceu muito fraca, tanto que imediatamente a batizaram. A mãe morreu cinco meses mais tarde. Passado pouco tempo, o pai casou-se de novo.
     Aos cinco anos andava ela bem vestida, chamava as atenções e com isso envaidecia-se, mas não gostava de brincar e apreciava o estudo. Aos sete anos já lia o breviário romano, em latim com certeza. Tornara-se piedosa; aparecia com o oficio de Nossa Senhora ou o terço na mão.
     Aos dez anos entrou como interna na casa das ursulinas de Santa Maria dos Anjos. “Deixei de boa vontade a casa paterna, escreveu ela nas suas notas autobiográficas, para me dar toda a Deus no santo claustro”. Ao receber a primeira comunhão, a hóstia caiu no chão, entre ela e a grade; apanhou-a logo, mas pareceu-lhe que o Senhor não queria vir ao seu coração.
     Começou bem cedo a oferecer grandes penitências: orações prolongadas de noite, no maior frio; enxergão com pedaços de madeira, pedras e espinhos; caminhar descalça sobre cascalho e urtigas, até deitar sangue.
     Impressionava-se com as imundices que às vezes via no mosteiro; para se vencer, tudo isso beijava. Pedia às companheiras que lhe batessem muito, pois o merecia. Nessa altura, não julgava a obediência necessária, em matéria de penitência; e sendo pequena a vigilância sobre ela, seguia a inclinação, julgando fazer bem. O crucifixo servia-lhe de modelo, animador e juiz. “Tudo o que ouvia ler na Vida dos santos, propunha-me copiá-lo na minha”. Mais tarde, para reproduzir um ponto da paixão dos santos Crispim e Crispiniano, espetou agulhas entre a carne e as unhas das mãos e dos pés, e conservou estas vinte torturas, durante três horas.
     Passados dois anos, foi para o convento do Espírito Santo, onde lhe começaram a chamar Santinha (Santarella). Ao cabo de três anos de internato, voltou à casa da família. Os irmãos procuraram-lhe romances e foi obrigada a vestir-se com elegância. Pensava-se em lhe encontrar noivo, mas ela queria conservar-se virgem por amor de Deus, e o pai teve de capitular diante de tal firmeza.
     Viu um dia Santa Teresa e Santa Clara discutirem, diante de Nossa Senhora, a respeito da sua vocação. Mas o cinzento de Santa Clara venceu o branco de Santa Teresa: a nossa donzela tomaria o duro hábito das pobres Clarissas. Fez experiências nos fins de 1704 e princípios de 1705; mas era austeridade demasiada. Finalmente, a 8 de setembro de 1705, tomou em Brescia o hábito das capuchinhas, ficando a chamar-se Irmã Madalena.
     A saúde mantinha-se fraca, dormia mal: “Levantava-me mais cansada do que me deitava na véspera”. Caiu gravemente doente, mas curou-se. Os seus escrúpulos de consciência persistiam. Por fim, viu Nosso Senhor, em vestes pontifícias, que lhe dizia: “Absolvo-te completamente de todos os teus pecados”. Fez um tríplice voto: de procurar o mais perfeito, o mais custoso e o mais intensamente “capuchinho”. Esta contemplativa não desestimava, por outro lado, rezar cem Ave-Marias com genuflexões, todos os sábados. E mais rezava nas grandes circunstâncias.
     Não compreendia que se temesse a morte. No caso de vir a falecer dentro de poucas horas, dizia ela: “Pôr-me-ia como criança nos braços do meu Deus e absolutamente nada temeria”. Gostava de meditar sobre a sua padroeira Madalena, que, segundo a liturgia romana, confundia com a pecadora perdoada, de S. Lucas (cap. 7). ...
     A sua piedade tomava-se cada vez mais profunda. Soma ao ver um padre celebrar o santo sacrifício apressadamente, atrapalhando as palavras. O Senhor disse-lhe um dia: “Esquece-te, como se realmente não existisses”.
     Era terrivelmente engenhosa para encontrar sofrimentos; mas, desde que religiosa, não prescindia da licença. De noite rezava, por horas a fio, com os braços estendidos. ... O que é certo é que ela soma cruelmente com estas torturas inventadas, como testemunho de amor a Cristo crucificado.
     Mas o grande empenho era a obediência, a morte da vontade própria. Dizia que a profissão a decapitara; tinha entrado no mosteiro com a cabeça nas mãos, como se representa São Dinis. Gostava de obedecer a todas, de se fazer menina (bambina).
     Quem escolhera ser a humilde serva das suas Irmãs foi nomeada três vezes mestra das noviças, abadessa em 1732 e de novo em 1736, embora estivesse doente. Exerceu também o cargo de porteira e de vigária. Embora dissesse “O nada não faz nada”, era julgada utilizável! Servia de proteção ao mosteiro; se era anunciada a peste para breve, vinha-lhe uma dor tremenda de dentes, e a peste afastava-se.
     Às noviças mandava ler e reler a Regra, as Constituições, o Legendário franciscano e os Anais dos irmãos menores capuchinhos. Pedia a união de todos os corações, para amarem a Deus: “Amá-lo com um só coração é pouquíssimo, é pouquíssimo!”
     Para 15 de fevereiro (santos Faustino e Jovita, patronos de Brescia), os “filósofos” do local quiseram inaugurar um cassino. Durante a manifestação, o animador da ímpia iniciativa caiu moribundo; converteu-se, porém, antes de expirar. Entretanto, a Irmã Maria Madalena orava. De repente parou, com uma alegria radiosa, dizendo: “A graça está concedida!”. A graça era a festa sacrílega interrompida e o filósofo reconduzido a Deus.
     Gostava do “silêncio alegre, afável, bom; das palavras humildes, doces e santas”. Antes de falar era preciso, segundo ela, fazer a pergunta se as palavras se podiam escrever, a seguir à letra N do dicionário: “necessidade”.
     Já doente, foi reeleita abadessa, e 15 dias mais tarde faleceu, a 27 de julho de 1736, aos quarenta e nove anos, e trinta e dois de vida religiosa. Em 1738 apareceu uma dissertação dum médico que lhe tinha examinado o cadáver. É admirável, escrevia ele, que as agulhas no corpo não tenham dado nem inflamação, nem úlceras nem gangrena.
     Maria Madalena Martinengo foi beatificada por Leão XIII, a 3 de junho de 1900.

Santa Bartolomea Capitanio, fundadora


     Bartolomea Capitanio nasceu em Lovere, Bérgamo, na região da Lombardia no norte da Itália, no dia 13 de janeiro de 1807, filha de Modesto e de Catarina Canossi.


     Desde menina, Santa Bartolomea se mostrou precoce e esperta, e com grande interesse por ensinar. Com todo seu afã por aprender, aos 11 anos ingressou no Mosteiro das Clarissas de Lovere, e em 1822 obteve o diploma de educadora. Naquele educandário, graças à direção de uma superiora culta e piedosa, Irmã Francisca Parpani, Bartolomea fez grandes progressos nos estudos e na via da perfeição. Dois anos depois voltou para casa, onde abriu uma pequena escola para meninas pobres.
     Rica de dons e naturalmente expansiva, Bartolomea não tardou a voltar sua atenção para outro campo de apostolado: a juventude feminina, na qual as ideias péssimas da Revolução Francesa tinham deixado sinais de ruína e falta de orientação moral.
     Devido sua atividade pedagógica manteve contato com outra pessoa também original de Lovere, e que como ela atingiria a santidade. De fato, Santa Bartolomea Capitanio entrou em contato com Santa Vicência Gerosa (1784-1847) (28 de junho), a qual seria sua amiga, companheira e com quem executaria seus planos. Em 1829, Santa Bartolomea começou a trabalhar como diretora no hospital para pobres que tinha sido fundado pelas irmãs Gerosa na mesma cidade de Lovere.
     Durante os exercícios espirituais feitos em Sellere, em 1829, Bartolomea escreveu a Regra de uma nova Instituição, para a qual havia conquistado a adesão de Vicência Gerosa. Quando estas duas amigas se conhecem mais intimamente e trocam ideias, ambas contemplam a grandiosa possibilidade de trabalharem juntas pela juventude, principalmente pelas jovens.
     Assim, fundam a Congregação das Irmãs de Maria Menina, em 1832, instalando-se em um antigo edifício abandonado que tinha o nome de Casa Gaya, e que as pessoas começaram a chamar "o Conventinho".
     Após terem feito os votos solenes de pobreza, obediência e caridade, ofereceram a si mesmas ao serviço dos pobres. Na nova casa se concentraram as obras já iniciadas por Bartolomea: a escola gratuita para as filhas do povo, o orfanato com dez alunas, as reuniões festivas, as pias uniões e a assistência a quantos buscassem ajuda moral e material.
     Em 22 de junho de 1833, Bartolomea e Vicência apresentam o Capítulo Jurídico em catorze artigos, declarando unir-se em sociedade legal, que foi reconhecida pelo governo austríaco (a região então fora anexada a Áustria).
     A obra de ambas foi crescendo com uma rapidez assombrosa, acolhendo cada vez mais discípulas. Entretanto, Bartolomea somente pode dedicar-se à sua fundação por pouco tempo: no dia 26 de julho de 1833, a morte interrompia sua existência breve de anos, mas rica de obras.
     Santa Bartolomea Capitanio destacou-se na perfeição do serviço ao próximo. Foi canonizada junto com Santa Vicência Gerosa em 1950 pelo Papa Pio XII.
     Com a morte de Bartolomea o Instituto parecia que iria naufragar, mas foi se desenvolvendo lentamente, e sem interrupção. Em 21 de novembro de 1835 teve lugar a vestição solene das primeiras Irmãs e a eleição de Vicência Gerosa como superiora. Em 21 de maio de 1837 fundou-se o orfanato de Santa Clara em Bérgamo; em 29 de junho de 1840 o Instituto recebeu a aprovação da Santa Sé e em fevereiro de 1841 a aprovação definitiva da Corte de Viena. Em 12 de março de 1842 foi criada a primeira fundação em Milão; em 7 de fevereiro de 1860 as quatro primeiras Irmãs missionárias partiram para a Índia (Bengala), chamadas por Mons. Marinoni. As Irmãs de Maria Menina são hoje cerca de dez mil, compreendendo setecentas casas.

Martirologio Romano: Em Lovere, da Lombardía, Santa Bartolomea Capitanio, virgem, fundadora junto com Santa Vicência Gerosa do Instituto das Irmãs da Caridade de Maria Menina. Morreu aos vinte e sete anos, atacada pela tuberculose ou melhor consumida por sua caridade (1833).


Lápide comemorativa afixada na casa em que a Santa nasceu em Lovere

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Santa Matilde de Canossa, condessa


     Na Idade Média, os soberanos e a alta nobreza concediam feudos aos vassalos mediante a entrega de símbolos. Se o domínio era seu, ofereciam um punhado de terra e um ramo do lugar. E passaram a fazer o mesmo nas propriedades eclesiásticas - muitas pessoas abonadas deixavam os bens à Igreja, trocando-os por missas que lhes facilitassem o acesso ao céu. Neste caso, os vassalos recebiam o báculo ou o anel. Com isso, a autoridade laica decidia quem seria sagrado bispo. A Igreja foi perdendo a autoridade sobre o clero e Roma quase se converteu em uma diocese a mais. Do ponto de vista eclesiástico, era preciso inverter a situação. O pontífice que mais se empenhou na virada foi Gregório VII (1020 ou 1025-1085), amigo de Matilde.
     Matilde de Canossa, chamada a Grande Condessa, foi a principal apoiadora italiana do Papa São Gregório VII durante a Controvérsia das Investiduras, e é uma das mulheres medievais a serem lembradas por suas realizações militares. Ela é chamada “de Canossa” devido ao castelo de Canossa de propriedade de sua ancestral família, mas ela também é conhecida como Matilde da Toscana.
     Seu pai era Bonifácio III, Conde de Reggio, Modena, Mântua, Brescia, Ferrara, e Marquês de Toscana. Como esta série de títulos implica, ele possuía uma grande propriedade em ambos os lados dos Apeninos, embora a maior parte estivesse na Lombardia e Emilia. Sua mãe era Beatriz da Lorena, filha de Frederico II, Duque da Lorena Superior, e de Matilde da Suábia.
     O lugar de nascimento de Matilde é desconhecido. Mântua, Modena, Cremona e Verona têm sido sugeridas. Seu pai foi assassinado em 1052; sua irmã mais velha e um irmão morreram logo depois, deixando Matilde, de oito anos de idade, como a grande herdeira sob a tutela de sua mãe. Dois anos depois, Beatriz casou-se novamente, com Godofredo o Barbudo, um primo que tinha sido Duque da Lorena Superior antes de se rebelar contra o imperador Henrique III.
     Em 1055, quando Henrique III entrou na Itália fez Beatriz e sua filha Matilde prisioneiras e as levou para a Alemanha. A jovem condessa recebeu uma excelente instrução; ela foi muito bem educada, sabia latim e gostava muito de livros sérios. Ela também era profundamente religiosa e desde a juventude acompanhou com interesse as grandes questões eclesiásticas que estavam então de destaque.
     Antes de sua morte, em 1056, Henrique III devolveu a esposa e a enteada a Godofredo da Lorena. Quando Matilde chegou à vida adulta, foi dada em casamento a seu meio-irmão Godofredo da Baixa Lorena, de quem, no entanto, se separou em 1071.
     A partir de 1071, Matilde passou a governar e a administrar suas extensas possessões na região média e superior da Itália.     Estes domínios foram da maior importância nas disputas políticas e eclesiásticas da época, pois a estrada que vinha da Alemanha pela região do norte da Itália a Roma passava por eles.
     Em 22 de abril de 1071, tornou-se papa Gregório VII, e a grande batalha pela independência da Igreja e a reforma da vida eclesiástica começou. Neste contesto, Matilde foi a aliada destemida, corajosa e firme de Gregório e seus sucessores.
     Imediatamente após a sua elevação ao papado, São Gregório VII iniciou estreitas relações com Matilde e sua mãe. As cartas para Matilde (Beatriz faleceu em 1076) expressam a alta estima e simpatia do papa pela princesa. Ele chamava-a e à sua mãe “suas irmãs e filhas de São Pedro" (Reg., II, ix), e queria realizar uma Cruzada com elas para libertar os cristãos na Terra Santa (Reg., I, xi). Matilde e sua mãe estavam presentes nos sínodos romanos das Quaresmas de 1074 e 1075, em que o papa publicou os importantes decretos sobre a reforma da vida eclesiástica.
     Em 7 de dezembro de 1074, Gregório VII escreveu para Henrique IV agradecendo a recepção amigável ao legado papal e sua intenção de cooperar no desenraizamento da simonia e do concubinato entre o clero. Mas, a disputa entre Gregório VII e Henrique IV logo começou.
     Em uma carta para Beatriz e Matilde (11 de setembro de 1075), o papa reclamou da inconstância e mutabilidade do rei, que, aparentemente, não tinha vontade de estar em paz com ele. No ano seguinte (1076), o esposo de Matilde foi assassinado na Antuérpia.
     Por conta da ação do Sínodo de Worms, Gregório VII foi obrigado a excomungar Henrique IV. Como a maioria dos príncipes do império tomaram partido contra o rei, Henrique queria reconciliar-se com o papa e, consequentemente, viajou para a Itália no meio de um inverno rigoroso, a fim de encontrar-se com ele antes que deixasse o solo italiano em sua viagem para a Alemanha. Gregório VII, que já tinha chegado à Lombardia quando soube da viagem do rei, aconselhado por Matilde, e para a segurança, dirigiu-se para a sua fortaleza nas montanhas de Canossa.
     O rei excomungado pediu à Condessa Matilde, à sua madrasta Adelaide e ao Abade Hugo de Cluny, para intercederem junto ao papa por ele. Estes atenderam ao pedido do rei, e depois de uma longa oposição, Gregório VII permitiu que Henrique comparecesse diante dele pessoalmente em Canossa, e expiasse sua culpa pela penitência pública.
     Após a partida do rei o papa foi para Mântua. Por razões de segurança, Matilde acompanhou-o com homens armados, mas ouvindo boatos de que o Arcebispo Wibert de Ravena, que era hostil a Gregório, estava preparando uma emboscada para ele, ela trouxe o papa de volta para Canossa. Ela elaborou então uma primeira escritura de doação, em que ela deixava seus domínios e propriedades de Ceperano a Radicofani à Igreja Católica. Mas, ela continuou a governá-las e a administrá-las livremente e de forma independente enquanto viveu.
     Pouco tempo depois Henrique reiniciou sua disputa com São Gregório VII; Matilde sempre apoiou o papa com soldados e dinheiro. Ela era confirmada nisto por seu confessor, Anselmo, Bispo de Lucca.
     No contesto para a liberdade da Igreja, ela apoiou de forma semelhante os sucessores do grande Papa. Por conselho do papa Urbano II, Matilde desposou em 1089 o jovem Duque Welf da Baviera, a fim de que a defensora mais fiel da sede papal pudesse assim obter um poderoso aliado.
     Em 1090, Henrique IV voltou para a Itália para atacar Matilde, a quem já tinha privado de suas propriedades na Lorena. Ele devastou muitos de seus bens, conquistou Mântua, seu principal reduto, por traição em 1091, bem como vários castelos. Embora os vassalos da condessa se apressassem em fazer as pazes com o imperador, Matilde novamente prometeu fidelidade à causa do papa, e continuou a guerra, que agora deu uma guinada em seu favor. O exército de Henrique foi derrotado diante de Canossa. O Duque Welf da Baviera, e seu filho de mesmo nome, marido de Matilde, aderiram a Henrique em 1095, mas a condessa permaneceu firme.
     Quando o novo rei alemão, Henrique V, entrou na Itália no outono de 1110, Matilde prestou-lhe homenagem pelos feudos imperiais. Em seu retorno, ele esteve três dias com Matilde na Toscana, mostrou a ela todos os sinais de respeito, e a fez sua imperial vice regente da Ligúria. Em 1112, ela confirmou a doação de seus bens à Igreja que tinha feito em 1077.
     Após sua morte, Henrique foi para a Itália em 1116, e tomou suas terras - não apenas os feudos imperiais, mas também os outros bens. A Igreja Católica apresentou a sua reivindicação legítima à herança. Uma longa disputa pela posse dos domínios de Matilde se iniciou, a qual levou ao termo de compromisso entre Inocêncio II e Lotário III em 1133.
     O imperador e o Duque Henrique da Saxônia tomaram as propriedades de Matilde como feudos do papa com uma renda anual de 100 quilos de prata. O duque fez o juramento feudal para o papa; depois de sua morte, os bens de Matilde foram inteiramente retornados à Igreja Católica. Novas disputas ocorreram sobre estas terras e outros acordos entre os papas e os imperadores do século XII foram relatados. Em 1213, o imperador Frederico II reconheceu o direito da Igreja Católica sobre as propriedades de Matilde.
     No século XVII, o corpo da Condessa Matilde foi removido para o Vaticano, onde agora se encontra na Basílica de São Pedro.
 

Estátua de Matilde na Basílica do Vaticano
 

Santa Ana Wang, virgem e mártir


     Ana Wang nasceu no ano 1886 em Majiazhuang, na zona de Weixian, no sul da província de Hebei. Seus pais eram cristãos, mas enquanto sua mãe era muito piedosa, seu pai não frequentava os Sacramentos. Já em tenra idade seu caráter forte era visível.
     Quando sua mãe morreu, ela tinha então cinco anos, Ana perdeu um sustentáculo na fé. Mas, na escola, ela encontrou outro amparo: Irmã Lucia Wang, sua professora. Embora Ana fosse obrigada pela avó a trabalhar, era o exemplo da classe, não apenas nos resultados, mas também no comportamento. Algumas companheiras, pobres como ela, que a convidavam a roubar com elas as espigas dos campos, a pequena respondia que, no Pai Nosso, Deus assegurava o pão de cada dia.
     Na comunidade católica ela era muito apreciada, porque sabia entoar com doçura os cânticos religiosos, em particular a Ave Maria que sua mãe lhe havia ensinado. Devido sua piedade, foi admitida à Primeira Comunhão.
     Algum tempo depois seu pai tornou a se casar com uma senhora batizada, mas não praticante como ele. Como consequência, Ana não era muito estimada por ela. Ela, entretanto, amava e respeitava os pais, chegando a dar-lhes, bem como a avó, os pequenos prêmios que recebia na escola.
     Aos onze anos Ana ia ser dada em casamento, mas ela se opôs fortemente à ideia, pois queria ser religiosa como Irmã Lucia.
     Em 1900, explodiu com violência a revolta chinesa contra os ocidentais, promovida pela sociedade secreta dos Boxers. O Cristianismo e todos os chineses que o professavam eram vistos como perigosos e desestabilizadores da harmonia nacional e, portanto, deviam ser eliminados.
     Em julho de 1900, um grupo de Boxers atingiu Majiazhuang. A primeira obra do grupo foi por fogo à igreja católica. Em seguida, capturaram vários cristãos e advertiu-os: "O governo proibiu a prática das religiões ocidentais. Se vocês renunciarem à sua religião, vocês serão libertados. Se vocês se recusarem, vamos matá-los".
     O pai de Ana e muitos cristãos fugiram. Mas Ana procurou refúgio em um local que pensava ser seguro, a escola, mas não encontrou lá a Irmã Lucia, que fugira com os alunos. Um ancião, José Wang Yumei, que cuidava da casa dos missionários, naquele momento fazia a guarda da escola para defender algumas mulheres que ali haviam se refugiado. Acolhida calorosamente, Ana passou ali algum tempo, exortando a todos a rezarem com fervor, sobretudo quando na autora chegava um sacerdote para a celebração da Eucaristia.
     Os sequazes dos Boxers, porém, cada vez mais se aproximavam deles. Quando os soldados chegaram, José disse aos presentes, entre os quais havia algumas mães de família com seus filhinhos, para se refugiarem no subterrâneo da escola. Os disparos das armas dos soldados assustaram as crianças que ao chorarem denunciaram o seu esconderijo.
     Todos os presentes foram aprisionados e conduzidos ao vilarejo onde havia o quartel general dos Boxers. A madrasta de Ana decidiu renunciar à sua religião e rogou que Ana fizesse o mesmo. Mas Ana recusou-se a segui-la e disse em voz alta: "Eu acredito em Deus, eu sou cristã, eu não quero renunciar a Deus. Jesus, salvai-me!" Ana e vários companheiros rezaram durante a noite. De manhã, os Boxers levaram para o campo de execução os cristãos que se recusaram a negar sua fé.
     Ana assistiu ao interrogatório de José, o ancião, e de Lúcia Wang, mãe de André, de nove anos, e de uma menina ainda menor. O primeiro a morrer decapitado foi José Wang.
     Ana observou a cena terrível da execução do pequeno André Wang Tianqing, de 9 anos. Os infiéis estavam ansiosos para salvá-lo, mas sua mãe dissera: "Eu sou uma cristã, meu filho é um cristão. Vocês terão que matar a nós dois". Os líderes do grupo fizeram um sinal com suas cabeças. O pequeno André ajoelhou-se e inclinou-se. Ele olhou para sua mãe e sorriu. Em seguida, o machado do carrasco atingiu o pescoço do menino. Naquele dia, os Boxers mataram cinco mulheres com seus filhos, incluindo um bebê de dez meses de idade.
     Aproximava-se a vez da condenação de outros, entre os quais Ana. De joelhos ela rezava em voz alta e mantinha os olhos postos no céu. O chefe dos Boxers, de nome Song, diante daquela cena, refletiu por uns instantes, depois ordenou que a jovem deixasse sua religião. Imersa na oração, ela não o ouviu. O homem então a tocou na fronte e repetiu sua ordem. Recobrando-se, Ana deu um passo e gritou: “Não me toque!” Em seguida, acalmando-se, disse: “Sou católica. Jamais negarei meu Deus. Prefiro morrer!”
     Song cortou brutalmente seu braço direito e repetiu a pergunta: "Você nega a sua religião?" Ela não disse nada. Ele golpeou-a novamente. Ana disse: "A porta do céu está aberta", e sussurrou o nome de Jesus por três vezes, baixando a cabeça. O carrasco deu o golpe final cortando sua cabeça.
     Uma testemunha ocular declarou que depois da decapitação o corpo de Ana permaneceu de joelhos por algum tempo e não caiu até que um soldado lhe desse um empurrão. Outra testemunha, uma senhora idosa, que conhecia a jovem muito bem, afirmou ter visto sua alma, vestida de um hábito azul e verde, indo para o céu com uma coroa de flores na cabeça.
     Em 6 de novembro de 1901, procedeu-se a exumação dos cadáveres, para lhes conceder uma sepultura digna. O Padre Albert Wetterwald, que presidia a cerimônia, escreveu em seu relatório: “Enquanto os encarregados, trabalhando com precaução, no meio de um silêncio solene, retiravam a terra que recobria os cadáveres, todos os olhares ávidos viram aparecer confusos, mas intactos, os membros e a cabeça das vítimas, foi um único grito de admiração e de dor ao mesmo tempo. Os pagãos bradavam o milagre. Os cristãos choravam, mas mais de alegria do que de tristeza”.
     Após os solenes funerais, os compatriotas de Ana começaram a invocar a sua intercessão, que foi comprovada por numerosas graças singulares. No plano das curas espirituais, os primeiros beneficiados foram os próprios familiares de Ana, que apesar de tudo a haviam amado muito. A avó morreu santamente; a madrasta tornou-se católica praticante. O pai, de volta à fé, ficou cego, rezou para a filha que lhe desse a visão, mas não alcançou esta graça. Aceitando, porém, esta condição, usou-a para espiar suas culpas.
     A causa da canonização de Ana Wang foi inserida no grupo capitaneado pelo jesuíta Padre Leone Inácio Mangin e composto ao todo de cinquenta e seis mártires. O reconhecimento do martírio foi decretado em 22 de fevereiro de 1955. Em 17 de abril do mesmo ano, domingo in albis, transcorreu a beatificação. A canonização do grupo, inserido em um grupo mais amplo de 119 mártires chineses, ocorreu em 1º de outubro de 2000.

sábado, 20 de julho de 2013

São José Maria Diaz Sanjurjo, bispo e mártir

         

         José María Díaz Sanjurjo nasceu em Lugo, Espanha em 25 de agosto de 1818. Ele secretamente entrou para  o Priorado Dominicano em Ocaña, e em 1842, recebeu o hábito dominicano. 
          Ele era um famoso  estudioso, teólogo e especialista legal. Ele chegou em Manila, nas Filipinas, em 14 de setembro de 1844. Ele completou seus estudos, enquanto ensinava na Universidade de Santo Tomás.
           Depois de um ano, partiu para as missões vietnamitas. Em março de 1849, ele se tornou bispo. Mesmo quando ele foi elevado à sé episcopal, ele permaneceu um humilde servo do Evangelho. "Aqui, as dignidades significa mais trabalho. Eu não tenho qualquer meio de transporte em tudo, e embora eu não fiz voto para ir descalço, eu faço e às vezes com lama até os joelhos ". Em 1856, ele foi preso e foi decapitado um ano depois.