quarta-feira, 31 de julho de 2013

Beata Zdenka Cecília Schelingova, religiosa e mártir


     No dia 14 de setembro de 2003, Festa da Santa Cruz, João Paulo II beatificou, numa solene cerimônia em Bratislava, na Eslováquia, a Irmã Zdenka Cecilia Schelingova e o Bispo Vasil’ Hopko, ambos mártires eslovacos.
     Na presença de bispos, alguns cardeais, sacerdotes e religiosas, testemunhas e vítimas ainda vivas da “Igreja do Silêncio”, também chamada “Igreja das catacumbas do século XX” nos países sob o domínio comunista, o papa recordou os filhos da Santa Igreja que irrigaram com seu sangue aquelas regiões e deu como exemplo das perseguições de ontem e de hoje as duas figuras notáveis que beatificava.
 
      
     Cecilia Schelingova, este era o seu nome de leiga, nasceu em 24 de dezembro de 1916 em Krivá, distrito de Dolny, Eslováquia, penúltima de 11 filhos. Três dias depois foi batizada. Seus pais, Pavol e Zugana, eram honestos camponeses que deram uma educação religiosa aos filhos, fundamentada na oração e no cumprimento do dever - trabalhar no campo e nas lides da casa.
     Cecília se distinguia de suas companheiras na escola pela diligência, obediência e a prontidão com que procurava ajudar os outros.
     Em 1929 começou a colaborar na paróquia das Irmãs de Caridade da Santa Cruz.  Atraída pela caridade das Irmãs, com apenas 15 anos desejou entrar naquela Congregação. Seus pais e seus irmãos se alegraram muito e se sentiram muito satisfeitos com sua escolha.
     Durante seu noviciado fez estudos de enfermagem em Podunajské Biskupice por dois anos, e depois um curso de especialização em radiologia. No dia 30 de janeiro de 1936 emitiu os primeiros votos mudando o nome para Zdenka (Sidônia).
     Era intensa sua oração. Durante o trabalho se mantinha muito unida a Deus. Era amável com todos e estava sempre disposta a servir. A amizade espiritual com Jesus marcou sua vida religiosa e seu trabalho de enfermeira.
     Com o diploma de enfermeira, exerceu esta atividade em Humenné, cidade situada na parte oriental da Eslováquia, próximo da Ucrânia, e de 1942 em diante, gozando de grande estima por suas qualidades, trabalhou na radiologia do Hospital Estatal de Bratislava com competência, generosidade e amor pelos doentes. Muitos a consideravam um “modelo de Irmã e de enfermeira profissional”.
     Em 1948, o partido comunista começou uma verdadeira perseguição contra a Igreja Católica, usando discriminação com os fieis, fechando Ordens religiosas, enviando sacerdotes e religiosos para os trabalhos forçados, perseguindo e aprisionando bispos e seus colaboradores.
     As Irmãs de sua Congregação também viviam no temor e nas dificuldades cada vez mais pesadas. Irmã Zdenka Schelingova participava do sofrimento da Igreja eslovaca oprimida pelo regime, e procurou ajudar alguns sacerdotes em dificuldade por causa de sua Fé.
     Com grande coragem conseguiu ajudar na fuga de um sacerdote católico em tratamento no hospital por causa das torturas sofridas durante os interrogatórios, e já destinado aos trabalhos forçados na Sibéria. Depois da fuga do sacerdote, Irmã Zdenka rezou assim diante da cruz na capela do hospital: “Jesus, eu vos ofereço a minha vida pela dele. Salvai-o!”
     Mas a coisa não passou de todo despercebida: o regime comunista totalitário pos a Polícia secreta a vigiar a religiosa.
     Assim, oito dias depois, 29 de fevereiro de 1952, quando Irmã Zdenka procurava ajudar outros seis sacerdotes a escapar, foi descoberta e aprisionada. Nos dias seguintes, sofreu terríveis interrogatórios no cárcere, com humilhações e torturas.
     No dia 17 de junho de 1952, acusada de alta traição, foi condenada a doze anos de prisão, a perda dos direitos civis por dez anos. Era evidente que a condenação era infringida no âmbito da perseguição religiosa contra a Igreja Católica e não por um atentado à soberania do Estado: era o motivo das condenações de tantos eclesiásticos.
       Embora sofrendo, Irmã Zdenka não mostrava nenhum rancor contra os seus algozes, antes perdoando e disposta a morrer por Deus e pelo bem da Igreja. Enquanto era golpeada quase até a morte, sussurrou: "O perdão é o maior na vida”.
     Sua via crucis prosseguiu por diversas prisões e hospitais de cárceres (Rimavska Sabota, Brno, Praga, Pardubice), o que causou graves conseqüências a sua saúde: devido às torturas, apareceu um tumor maligno no peito e uma tuberculose.  .
     Temendo que ela morresse na prisão, libertaram-na no dia 15 de abril de 1955, mas por medo da situação política, não foi recebida no hospital de Bratislava, foi aceita no de Trnava.
     Depois de pouco mais de três meses, vividos no sofrimento com humildade e abandono à vontade de Deus, Irmã Zdenka morreu de câncer (é o que foi escrito no seu atestado de óbito), no dia 31 de julho de 1955, após ter recebido o Santo Viático, na idade de apenas 38 anos.
     Imediatamente após a sua morte o povo a considerava mártir da Fé.
     Em 1970 o tribunal de Bratislava e a Corte Suprema reconheceram a inocência de Irmã Zdenka da infamante acusação.
     As suas co-irmãs e o povo eslovaco se recordam da sempre risonha Irmã Zdenka como uma religiosa que caminhou na via da perfeição imitando Nosso Senhor Jesus Cristo, suportando os sofrimentos com paciência heróica, firme determinação, disposta a morrer por Deus e pelo bem da Igreja, sem nenhum rancor aos seus perseguidores.
     Seus despojos repousam na Igreja da Santa Cruz, em Podunajske Biskupice.