sexta-feira, 29 de junho de 2012

Beato Basilio Velyckovskyj e companheiros, mártires

 
 
           Bispo da Igreja greco-católica ucraniana "clandestina", da Congregação do Santíssimo Redentor (1903-1973). Mártir  Nasceu em 1 de junho de 1903 em Stanislaviv (actualmente Ivano-Frankvisk). No mês de agosto de 1925 entrou no noviciado da Congregação do Santíssimo Redentor e, pouco depois, foi ordenado sacerdote. Durante sete anos foi missionário na região de Volyn´; em 1942 foi nomeado superior em Ternopol.  Em 11 de abril de 1945 foi preso e condenado a dez anos de detenção no campo de concentração de Vorkuta, na Sibéria.
           Libertado em 1955, voltou a Lvov, onde em 1959 foi nomeado clandestinamente bispo. Devido à dura perseguição, não pôde ser ordenado até 1963. Voltaram a prendê-lo pelo delito de "organizar estudos teológicos secretos em Ternopol"; o condenaram a três anos de exílio.
           Em 27 de Janeiro de 1972, antes de o libertar, lhe injetaram uma substância "desconhecida". Faleceu aos 69 anos, em Winnipeg (Canadá), em 30 de Junho de 1973. Foi beatificado por S.S. João Paulo II em 27 de junho de 2001, junto com outras 24 vitimas da perseguição do regime soviético aos católicos ucranianos.
           O grupo beatificado está integrado por:
- Mykolay Charneckyj, bispo;
- Josafat Kocylovskyj, bispo;
- Symeon Lukac, bispo; 
- Ivan Slezyuk, bispo,
- Mykyta Budka, bispo;
- Gregorio Lakota, bispo;
- Gregorio Khomysyn, bispo;
- Leonid Fedorov, sacerdote;
- Mykola Konrad, sacerdote;
- Andrij Iscak, sacerdote;
- Román Lysko, sacerdote;
- Mykola Cehelskyj, sacerdote;
- Petro Verhun, sacerdote;
- AlejandroZaryckyj, sacerdote;
- Klymentij Septyckyj, sacerdote;
- Severijan Baranyk, sacerdote;
- Jakym Senkivskyj, sacerdote;
- Zynovij Kovalyk, sacerdote; 
- Vladimir Bajrak, sacerdote;
- Ivan Ziatyk, sacerdote;
- Tarsicia Mackiv, monja;
- Olympia (Olha) Bidà, religiosa;
- Laurentia (Leukadia) Harasymiv, monja;
- Volodymyr Pryjma, leigo.

Beato Genaro Maria Sarnelli

           Genaro Maria Sarnelli, filho do Barão de Ciorani, nasce em Nápoles em 12 de setembro de 1702. Aos 14 anos, após a beatificação de Francisco Regis, decide fazer-se jesuíta. Seu pai o dissuade crendo-o demasiado jovem. Genaro empreende então os estudos de direito que acaba com o título de doutor em ambos direitos em 1722.
           Havendo-se distinguido no exercício de sua profissão se enrola, não obstante, na Congregação dos Cavaleiros Profissionais do Direito e da Medicina, dirigida pelos Pios Operários de são Nicolás de Tolentino. Entre as regras desta Associação existe a obrigação de assistir aos enfermos do hospital dos Incuráveis. É aqui onde Genaro se sente chamado por Deus ao sacerdócio.
            Em setembro de 1728 ingressa no seminário e é destinado pelo Cardeal Pignatelli à paróquia de santa Ana di Palazzo. Para poder estudar tranquilamente se hospeda no colégio da Santa Familia, mais conhecido como o Colégio de los Chinos, fundado por Matteo Ripa.
           Em 8 abril do ano seguinte deixa o colégio de los Chinos para começar em 5 de junho do mesmo ano seu noviciado na Congregação das Missões Apostólicas. Em 28 de maio de 1731 conclui o noviciado e em 8 julho do ano seguinte se ordena sacerdote. Durante todos estes anos, além das visitas ao hospital, se dedica a ajudar as crianças que são obrigadas a trabalhar, ensinando-lhes o catecismo. Visita aos anciãos do geriátrico de santo Genaro e aos marinheiros enfermos que jazem prostrados no hospital do porto.
           É este também o tempo em que entabula amizade com Santo Afonso de Ligório e conhece seu apostolado. Juntos se dedicam a ensinar o catecismo aos laicos e organizam as capelas do entardecer. Após sua ordenação, o Cardeal Pignatelli lhe encomenda que dirija o ensino religioso na paróquia dos Santos Francisco e Mateo, no bairro espanhol. Quando se dá conta da corrupção que impera entre as jovens, decide empregar todas suas energias na luta contra a prostituição.
           Neste mesmo tempo (1733), santo Alfonso deve defender-se das injustas críticas que padece a causa da fundação da Congregação missionária do Santíssimo Redentor em Scala (SA) em 9 de novembro de 1732. Em junho do mesmo ano, ao chegar a Scala para ajudar ao amigo durante uma missão em Ravello, Sarnelli decide fazer-se redentorista ao tempo que continua sendo membro das Missões Apostólicas.
           Desde o día de sua entrada na Congregação, em abril de 1736, se empenhará sem descanso nas missões paroquiais e em escrever a favor das "jovens em perigo". Escreve também sobre a vida espiritual. Seu cansaço é tal que chega a estar à beira da morte. Com o consentimento de santo Alfonso volta a Nápoles para tratar-se. Ali empreende novamente seu apostolado entre as prostitutas. Além de se dedicar ao apostolado redentorista e ao das Missões Apostólicas, promove a meditação comunitária entre os laicos publicando "El mundo santificado". Com outro livro seu promove uma campanha contra a blasfêmia.
          Em 1741, ao tempo que planifica as grandes missões pregadas nos subúrbios de Nápoles, participa também nelas e prepara a visita canónica do Cardeal Spinelli. Apesar de seu permanente estado enfermiço segue pregando até finais de abril de 1741 quando, já muito enfermo, volta a Nápoles onde morre em 30 de junho na idade de 42 anos. Seus restos descansam en Ciorani, primeira igreja redentorista.
          Genaro Sarnelli deixou-nos em herança umas 30 obras dedicadas à meditação, à teologia mística, à direção espiritual, ao direito, à pedagogia, à moral e a diversas temáticas pastorais. Sua atividade social em favor da mulher lhe merece ser considerado entre os autores que com maior autoridade têm enfrentado esta temática na Europa da primeira metade do século XVIII Em 12 de maio de 1996, o Papa João Paulo II o beatificou na Praça de São Pedro.

São Marcial de Limoges, bispo e mártir

 
 
               Existem duas biografias de São Marcial, tão fantasistas uma como outra: a Vida primitiva e a Vida recente; a primeira, publicada por um membro do clero de Limoges, França, no século VIII; a segunda, por Ademar de Chabannes, monge da Abadia de São Marcial de Limoges, no principio do século IX.
              A Vida primitiva conta que, tendo Marcial sido enviado por S. Pedro para converter as gentes de Limoges, partiu de Roma com dois companheiros, Alpiniano e Austricliniano. Este morreu no caminho; Marcial ressuscitou-o, porém, com o cajado de São Pedro que trazia, e os três chegaram bem a Limoges. Toda a gente, ao que parece, os esperava para se converter. Marcial tomou a direcção da nova comunidade como bispo; devido a esse facto, a Igreja de Limoges pode orgulhar-se remontar aos tempos apostólicos; o que era preciso demonstrar.
             Contudo, a Vida primitiva não falava do que tinha feito Marcial antes de exercer apostolado. O padre de Chabannes preencheu esta lacuna com a Vida recente. Ficou esta a dizer-nos que Marcial, primo de São Pedro, tinha sempre vivido na companhia do Salvador. Era ele «o menino» que Jesus mostrou aos Apóstolos quando os impelia a tornarem-se como crianças, se queriam entrar no reino dos céus (Mt 18, 3); e era, ele ainda «o rapaz que tinha cinco pães e dois peixes», quando da multiplicação dos pães no deserto (Jo 6, 5-15).
            Tal livro pretendia evidentemente valorizar as relíquias de São Marcial, que estavam em posse da abadia do Padre de Chabannes, e atrair peregrinos e esmolas. A verdade está em não sabermos nada de São Marcial, a não ser que morreu como bispo de Limoges, na segunda metade do século III.

Santo Adolfo de Osnabrück

       

       Em Osnabrück, em Saxónia, santo Adolfo, bispo, que abraçou os costumes cistercienses no mosteiro de Altenkamp (1224). Etimologia: Aquele que é um guerreiro valente, é de origem germânica.
          Morreu em Osnabrück em 30 de Junho de 1224. Era filho de uma família muito rica. Ele, sem embargo, deixando aparte tanta herança e prebendas, se inclinou por se fazer monge. A coisa não foi fácil para este jovem. Ele não tinha uma vocação decidida como outros tantos que estamos lendo cada dia no santoral. Foi justamente num mosterio, chamado Cam, a que se retirou para pensar em si mesmo, onde encontrou o sentido de sua vocação religiosa à vida consagrada. 
          Com todo respeito pediu ao abade que o admitisse no recinto sagrado. Em seguida ganhou a simpatia de todos os irmãos em congregação. Durante os oito últimos anos de sua vida desempenhou pastoralmente o cargo de bispo da cidade que o viu nascer. Seu trabalho se baseou principalmente em atender aos pobres e necessitados de atenções, sobretudo o mundo marginal dos leprosos.
          Um destes, que vivia afastado de todo o mundo, recebia a visita de Adolfo uma vez por ano. Levava-lhe os remédios espirituais que, sem dúvida, eram mais importantes que os simplesmente materiais. Passava o dia com ele amigavelmente charlando de temas da oração e da leitura da Biblia. Cada um deve ocupar o posto que a sociedade lhe encomenda com convicção e entrega absoluta ao que a vocação lhe pede. Este trabalho apostólico não era bem visto por alguns canónicos acomodados. Como não lhes prestava a mínima atenção, conseguiram que o leproso se fosse daquele lugar para outro . Não sabiam estes senhores canónicos que a obra de Deus está acima de comodidades. Por isso, um anjo do Senhor o mudou para a  cova em que vivia anteriormente. A razão não era outra que Adolfo pudesse vê-lo como sempre. Nos últimos momentos de sua vida, o leproso se viu assistido por seu amigo. Confessou-o e ele morreu tranquilamente na paz de Deus.

Santa Erentrudes, abadessa e fundadora

           

            Erentrudes (ou Erentraud, também conhecida como Erendruda) era originária da região de Worms (Palatinado). Foi chamada pelo Bispo de Juvanum (atual Salzburgo, Áustria), São Roberto de Salzburgo, seu tio e diretor espiritual, para fundar em Nonnberg um mosteiro de religiosas, do qual veio a ser a primeira abadessa.
            Colaborou com os trabalhos apostólicos do bispo com a oração e cuidando da educação da juventude feminina. Como abadessa introduziu a regularidade monástica, privilegiando a vida de oração, da qual era um exemplo.
             Estando São Roberto à morte, Erentrudes apareceu debulhada em lágrimas: "Pedi que eu vá convosco", disse-lhe ela. "Que desejais vós que eu venha a ser, quando não estiverdes presente, e me veja destituída do meu pai espiritual?"
            O santo bispo parece ter pedido nesta intenção ao chegar ao Paraíso, porque Erentrudes deixou este mundo poucos dias depois, em 30 de junho de 710.
             Foi São Roberto quem mudou o nome de Juvanum para Salzburgo (cidade do sal) em recordação das salinas por ele criadas para o bem das suas ovelhas, residentes nas imediações.
             O culto a esta Santa é muito antigo em Salzburgo. Houve transladação de suas relíquias em 1023 e em 1624. Parte da cabeça se conserva em um precioso relicário de 1316; as outras relíquias estão sob o altar do coro do mosteiro; o sarcófago de pedra, vazio, ainda é encontrado na cripta de Santa Erentrudes.
             Em 1924, as relíquias foram examinadas: os ossos revelaram uma estatura pequena e a idade estimada, com base em um dente conservado, foi de cinquenta e cinco anos.
             Santa Erentrudes foi eleita recentemente para ser homenageada com uma medalha comemorativa da Abadia de Nonnberg (5 de abril de 2006). Foi a primeira medalha de uma série “Grandes Abadias da Áustria”. O reverso mostra a cripta dedicada a Santa Erentrudes na Abadia de Nonnberg, com uma imagem da santa.
             Ela é celebrada no dia 30 de junho e a transladação de suas relíquias é comemorada em 4 de setembro.


Abadia de Nonnberg, Austria

São Gilberto de Sempringham e o chamado à fidelidade

           


           São Gilberto foi um homem que durante sua vida foi duramente perseguido, primeiro dentro de sua casa, por seu pai que não aceitava suas limitações físicas que o impediam de ser, a exemplo dele, um cavaleiro; depois, pelos empregados de suas terras, que muitas vezes o ridicularizavam diante de sua debilidade, e, finalmente, depois de ter fundado a sua Ordem, quando dois irmaõs religiosos se voltaram contra ele, denunciando-o ao Papa e ao Rei da Inglaterra. Foram calúnias, que por inveja da santidade de São Gilberto, o fizeram entrar no sofrimento e um sofrimento no silêncio.
            São sinais de martírio em sua vida. Dar a vida peloCristo urge necessariamente entrar no martírio, muitas vezes, não pelo derramamento de sangue, mas no coração que sofre pelas injúrias, fofocas e calúnias que procuram desmoralizar uma obra. O martírio é uma condição necessária para quem quer seguir a Cristo mais de perto.
            São Gilberto experimentou em sua vida o drama de tantos sofrimentos mas, nunca diante das mais absurdas situações, perdeu sua fé e esperança no Senhor a quem serviu com maior fidelidade.
            Que todos os santos mártires possam interceder por nós para que sejamos persevarantes no seguimento ao Senhor da vida.






   

São Paulo, apóstolo, missionário e mártir



             São Paulo, apóstolo, doutor das gentes e oráculo do mundo, era judeu da tribo de Benjamim e chamava-se Saulo. Nasceu em Tarso, cidade célebre da Cilícia, dois anos depois do nascimento de Nosso Senhor. Por nascimento era cidadão romano, privilégio concedido pelo imperador Augusto aos tarsenses em prémio da sua fidelidade. Seu pai, que era da seita dos fariseus, mandou-o para Jerusalém, sendo ainda jovem, para cursar a escola de Gamaliel, aprendendo a doutrina das leis e das tradições.
           Em pouco tempo fez grandes progressos, e sendo um dos mais zelosos partidários da lei, foi também um dos mais ardentes perseguidores da Igreja. Depressa chegou a furor o seu falso zelo. Não contente com pedir encarniçadamente a morte de Santo Estêvão, quis ter o gosto de guardar as capas dos que o apedrejavam. A perseguição, excitada em Jerusalém contra a Igreja depois da morte do protomártir, deu boa ocasião a este furioso inimigo dos discípulos de Cristo de satisfazer o seu ódio.
          Percorria a cidade, entrava no templo, revistava as casas e delas arrancava a quantos criam no Senhor, arrastando-os pelas ruas, metendo-os nos calabouços e carregando-os de cadeias. Pareciam muito estreitos os limites da Judeia, da Galileia e da Palestina para contentar o fementido zelo deste furioso perseguidor. Respirando sangue, mortes e carnificina dos fiéis, apresentou-se ao Conselho, pedindo cartas e mandados para as sinagogas e judeus de Damasco, com pleno poder para devassar e proceder contra todos os cristãos, para exterminar, se pudesse, aquela recém nascida Igreja.
         Partiu para Damasco com amplíssimos poderes, lançando reptos e fulminando ameaças. Já ia perto da cidade, quando, pela hora do meio-dia, viu de repente descer do céu uma luz extraordinária, mais resplandecente que o Sol, a qual o rodeou, a ele e aos que o acompanhavam. Atónitos e atemorizados, caíram todos por terra, e estando Saulo derribado, ouviu uma voz que, distinta e claramente, lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Comove-se o seu coração ao ouvir tão amorosa quanto inesperada queixa; recobrando o espírito, respondeu: «Quem sois vós, Senhor?» «Eu sou Jesus, lhe respondeu o Salvador, a quem tu persegues». «Em vão pretendes recalcitrar contra o estímulo». Ao ouvir isto, o santo, tremendo, perturbado e fora de si, exclamou: «Senhor, que quereis que eu faça?» «Levanta-te, respondeu-lhe o Salvador, entra na cidade, e ali te dirão o que deves fazer». Os que o acompanhavam não estavam menos atónitos do que ele; só Paulo via o Salvador distintamente.
          Levantou-se, quis abrir os olhos e achou-se em trevas; de modo que foi necessário conduzirem-no pela mão à cidade, onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber. Neste meio tempo, revelou Deus o que se passava a um dos discípulos, chamado Ananias, o qual foi à pousada de Saulo; pôs as mãos sobre ele; restituiu-lhe a vista; instrui-o suficientemente e administrou-lhe o baptismo. Se nunca houve conversão mais ruidosa, tão pouco a houve mais sincera, pois o mais furioso perseguidor de Jesus Cristo passou de repente a ser um dos mais fervorosos apóstolos.
         Pregava, demonstrava a divindade de Jesus Cristo e confundia a quantos disputavam ao Salvador a augusta qualidade de verdadeiro Messias. Os judeus ficaram tomados de susto diante de tal pregador, porque, sobre ser perfeitamente lido nas Escrituras, era de engenho vivo, com certo ar de autoridade em tudo quanto fazia; leva após si o respeito e o coração de todos. Sobressaltados os doutores da lei em presença de tão formidável adversário, perdendo a esperança de lhe resistir , tomaram a resolução de se desembaraçar dele; mas os fiéis livraram-no das suas mãos e do seu furor, baixando-o uma noite da muralha, metido num cesto. Livre de perigo, passou a Jerusalém para conferenciar com São Pedro, em cuja companhia esteve quinze dias. Apareceu-lhe Jesus Cristo e deu-lhe ordem de ir pregar o Evangelho aos gentios.
          Partiu para Tarso, de onde fez várias excursões apostólicas pelas cidades da Síria e da Cilícia, recolhendo grande espólio para Jesus Cristo. Os apóstolos mandaram São Barnabé à cidade de Antioquia; achou sobrada messe para um só operário; pediu a São Paulo que se lhe juntasse, e os dois apóstolos com tão feliz êxito trabalharam que foi ali onde os fiéis começaram a chamar-se cristãos.
          Três anos havia que Paulo e Barnabé pregavam em Antioquia com maravilhoso fruto; faziam-se nela com o maior fervor todos os exercícios a religião; eram muito frequentes os jejuns e celebravam-se os sagrados mistérios, quando o Espírito Santo deu a entender aos profetas e aos doutores (em grande número) que tinham e escolhido Paulo e Barnabé para a conversão os gentios. Jejuaram os fiéis, fizeram oração, ofereceram o divino sacrifício, e o Espírito Santo declarou a sua vontade do modo mais explícito, pois ouviu-se uma voz, percebida por todos os assistentes, que dizia: «Segregai a Paulo e Barnabé para o ministério a que os tenho destinado». Dobraram então os apóstolos tanto os jejuns, como as orações; impuseram-lhes as mãos e enviaram-nos para a missão quem o Espírito Santo lhes assinalara.
           Partiram para a Selêucia; daqui embarcaram para Chipre, entraram em Salamina, capital da ilha, e pregaram o Evangelho com tanto zelo e êxito que se converteu a maior parte da cidade. Tem-se por certo que no começo desta missão sucedeu o famoso rapto de São Paulo ao terceiro céu, onde o Senhor lhe descobriu maravilhas superiores a toda a expressão, dando-lhe a inteligência dos mais ocultos mistérios; mas, para que se não desvanecesse com os singulares favores, como diz o mesmo apóstolo, permitiu Deus que o estímulo da carne o combatesse toda a vida; e para o sujeitar, acrescentou ele aos trabalhos do apostolado, contínuas e rigorosas penitências. Era então governador da ilha o procônsul Sérgio Paulo, homem prudente e entendido, o qual, logo que ouviu falar o nosso santo de Cristo e da sua religião, a teria imediatamente abraçado, se não o tivesse impedido um judeu chamado Bar-Jesus, por sobrenome Elimas, que quer dizer um insigne mágico.
           Abrasado o apóstolo em santo zelo contra aquele embusteiro, disse-lhe «Ó criatura cheia de todas as astúcias e de toda a iniquidade, filho do diabo, inimigo de toda a justiça, quando é que cessarás de perverter os rectos caminhos do Senhor? Mas agora a mão do Senhor está sobre ti: Vais ficar cego e, durante algum tempo, não hás-de ver o sol». No mesmo instante perdeu Elimas a vista, buscou quem lhe desse a mão para andar; milagre que assombrou o procônsul, o qual se converteu imediatamente.
            Deixaram, os Apóstolos a ilha de Chipre,e partindo para a Ásia menor, pregaram o Evangelho em Antioquia da Pisídia, em Perga da Panfília e nas províncias vizinhas. Achando-se São Paulo em Antioquia, pregou a Jesus Cristo na sinagoga com tanta unção e eficácia, que todo o povo se mostrou inclinado a crer n’Ele. Sobressaltados os sacerdotes e os doutores, vomitaram mil blasfémias contra Cristo e amotinaram-se contra os apóstolos, em virtude do quem lhe disseram estes: «Vós havíeis de ser os primeiros a quem nós anunciássemos a palavra de Deus; mas, já que sois os primeiros que a desprezais, e por vossa mesma boca vos confessais indignos da vida eterna, eis que daqui a vamos anunciar aos gentios».
           Dito isto, sacudiram o pó de seus pés e partiram para Icónio, onde operaram numerosas conversões de judeus e idólatras; mas os judeus que se mantiveram, pertinazes em sua incredulidade moveram o povo tão furiosamente contra eles, que sofreram grande risco de ser apedrejados. isto obrigou-os a retirar-se daquela cidade e foram para Listra, Derba e muitos outros povos.
           Estando em Listra, São Paulo curou de repente um paralítico de nascença; milagre que fez acreditar àquela cega gente que era um deus; e nesta persuasão iam já oferecer-lhe incenso e vítimas, quando, horrorizados, os apóstolos rasgaram os vestidos em sinal de luto e clamaram que eram uns pobres homens, tão mortais como os outros, e que não havia mais do que um Deus verdadeiro, Criador do céu e da terra. Chegaram a Listra alguns judeus, que vinham de Icónio e de Antioquia da Pisídia, e concitaram o povo de maneira que aquela veneração se converteu de repente em desatinado furor. Uma espessa chuva de pedras caiu sobre São Paulo; levaram-no de rastos pela cidade e deixaram-nos por morto fora dela; ainda nessa mesma noite voltou o apóstolo à cidade, como pôde; mas ao amanhecer do dia seguinte, saiu de Listra, para que se não excitasse alguma perseguição contra os fiéis.
          Crescia o seu zelo com o trabalhos e os perigos. Percorria com São Barnabé a Pisídia, a Atália e grande parte da Síria, ordenando bispos e sacerdotes e fundando igrejas em todas aquelas províncias. Não é fácil imaginar o muito que o grande apóstolo padeceu por Cristo naquelas expedições. Ele próprio dá testemunho de que nenhum outro padeceu mais trabalho, sofreu mais golpes, tolerou mais cárceres; muitas vezes se viu às portas da morte, nos rios, nos caminhos, por mar e terra. Não se podem explicar os perigos a que se expôs por parte dos judeus, dos gentios e dos falsos irmãos, empenhados todos em o desacreditar e perder, sem estar seguro ainda nos mais embrenhados desertos. Quantos dias passou sem comer nem beber, quantas noites sem dormir, exposto a todos os rigores do tempo, sem recurso nem abrigo!
          Cinco vezes foi cruelmente açoitado pelos judeus com nervos de boi; duas com varas, por ordem dos magistrados das cidades da Ásia ou da Grécia; três vezes padeceu naufrágios; passou um dia e uma noite flutuando entre as ondas do mar, esperando ser tragado por elas a cada momento. Mas no meio de tantos trabalhos, São Paulo, sempre o mesmo, sempre mais e mais abrasado no amor de Jesus Cristo, sempre mais e mais zeloso de levar seu santo nome por todas as nações da terra! Causa assombro considerar as cidades, as províncias, os reinos e os vastos domínios que percorreu este grande apóstolo, anunciando o Evangelho em todos eles.
           Fez três ou quatro viagens a Jerusalém, percorreu, depois da sua separação de São Barnabé, todas as Igrejas da Cilícia, Síria e Atália. Estando em Licaónia, tomou por companheiro o seu querido discípulo Timóteo; daqui passou à Frigia e à Galácia, onde converteu muitos gentios. Chegado à Macedónia, pregou em Filipos, onde produziu maravilhosos frutos; de Filipos passou a Selêucia, daqui à Bereia e a Atenas, onde falou no Areópago, naquele famoso tribunal dos Atenienses, declarando com tanta força e tanta eloquência a divindade de Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos e a santidade do Evangelho, que se converteram à fé Dionísio, um dos mais célebres e mais sábios daquela Academia – assim se diz – uma mulher chamada Dâmaris e outros muitos.
           De Atenas encaminhou-se para Corinto, onde permaneceu perto de dezoito meses com a consolação de ver florescer e triunfar naquela cidade a religião cristã, crescendo tanto a Igreja de Corinto pelo grande número de indivíduos que abraçaram a fé, que foi um dos mais ilustres reinos de Jesus Cristo nos primeiros séculos. mas quanto maiores eram os progressos que fazia o Evangelho, mais tinha São Paulo que padecer. Embarcou em Cêncrio para voltar à Síria; atravessou a Galácia, a Frígia e as províncias da Ásia mais afastadas do mar. Chegou a Éfeso, onde pregou o Evangelho; mas foi posto fora desta cidade por um motim, levantado por um artista de prata, chamado Demétrio; sublevou o povo contra o apóstolo, irritado por ver o grande desfalque que sofria a venda de suas imagens ou medalhas de Diana de Éfeso, pela pregação de São Paulo.
          Este transitou pela Macedónia, onde permaneceu algum tempo; e, enfim, voltou pela quarta vez a Jerusalém, pelo ano 58. Vendo-o os judeus no templo, lançaram-se sobre ele e pediram auxilio para o prender. «Este é, diziam, aquele homem que em toda a parte prega contra a lei, contra o templo e contra o povo de Deus». Do povo comunicou-se logo o tumulto e, concorrendo de toda a cidade, arremessaram-se contra o apóstolo; arrastaram-no para fora do templo, cobriram-no de golpes; e teriam acabado com ele, se não tivera acudido o tribuno Lísias, que comandava a coorte romana; arrancando-o com grande trabalho das mãos daqueles furiosos, sem mais informação e interrogatório, mandou atá-lo e lançar-lhe cadeias, pondo-o em seguida em segurança.
          Era tal o concurso, que se viram, obrigados os soldados a fazê-lo subir por uma escadaria de pedra que estava da banda de fora do cárcere. Quando São Paulo percorreu com a vista, do alto da escada, aquela multidão, pediu licença ao tribuno para falar ao povo; e obtendo-a; referiu a história da sua conversão; mas quando chegou ao ponto em que Cristo lhe mandou levar a pregação aos gentios, entraram os judeus a dar-lhe gritos descompostos e a soltar-se contra ele com desenfreamento. Para os sossegar, ordenou-lhe o tribuno que entrasse para a prisão, com o intento de lhe aplicar a tortura, mas, tendo sabido que era cidadão romano, mudou de propósito e mandou tirar-lhe as cadeias. Informado depois de a disputa versar sobre pontos de religião, convocou o conselho plenário dos Judeus.
           Logo que abriu São Paulo a boca para falar, o sacerdote descarregou-lhe brutalmente sobre o rosto uma bofetada, que o santo sofreu com grande paciência, de modo que a reunião ficou como atônita e confundida, dissolvendo-se tumultuariamente. Mandou o tribuno que o tornassem a levar à prisão, com receio de que a multidão o fizesse em pedaços. Na noite seguinte apareceu-lhe Jesus Cristo, animou-o, confortou-o e disse-lhe que, assim como tinha dado testemunho d’Ele em Jerusalém, era mister que o desse também em Roma.
           Enquanto isto se passava no cárcere, mais de quarenta judeus tinham acudido a casa do príncipe dois sacerdotes, protestando que não comeriam, enquanto se não tirasse a vida a São Paulo. Tendo-o sabido Lísias, deu ordem para que, à meia noite, partisse o nosso santo com uma boa escolta para Cesareia, onde se achava Félix, governador da Judeia, dando-lhe uma participação exacta do sucedido. Dois anos o teve Félix preso em Cesareia, onde o santo confundiu os judeus em quantas ocasiões se lhe ofereceram, e converteu muitos pagãos.
          Festo, sucessor de Félix, propôs a São Paulo em conselho se queria ser remetido para Jerusalém, a fim de que se julgasse a sua causa; mas o santo, que sabia da conspiração dos judeus, respondeu que não havia motivo, pois estava inocente e nunca tinha feito mal a ninguém; mas, visto que a sua causa estava no tribunal de César, para César apelava. No dia seguinte teve outra audiência do governador, em presença do rei Agripa. Este ficou tão,plenamente convencido da sua inocência, que disse a Festo dever pô-lo em liberdade, se não tivesse ele apelado para César.
          Dispostas já todas as coisas para o embarque, São Paulo, seguido de São Lucas e de Aristarco, fez-se à vela para Roma. A poucos dias de navegação, levantou-se uma tormenta tão desfeita, que não só se viram constrangidos a alijar a carga, mas também os próprios aparelhos do navio; e prosseguindo sempre com maior violência , chegaram todos a perder a esperança de se salvarem. Mas, fazendo oração o apóstolo, conseguiu que ninguém do navio perecesse e, com efeito, dando á costa na ilha de Malta, todos ganharam a terra, uns a nado, outros em tábuas, sem que houvesse um só que não se reconhecesse devedor da vida ao santo apóstolo. Receberam os insulanos os náufragos com muita humanidade, e fizeram lume para que secassem a roupa.
           Ajuntou São Paulo umas poucas de maravalhas para avivar mais a chama, sem dar por uma víbora que vinha dentro delas, a qual, logo que sentiu a mão, mordeu o apóstolo. Viram isto os bárbaros, e julgaram que seria homem facinoroso, perseguido pela justiça dos deuses, esperando por instantes que caísse morto em terra; mas Paulo não fez mais do que sacudir a mão, e a víbora caiu no fogo sem lhe ter feito o mais leve dano; à vista disso, atónitos os bárbaros, e mudando de repente o conceito, começaram a olhá-lo como homem extraordinário.
           Hospedou-o em sua casa o mais considerado da ilha, chamado Públio, romano, o qual tinha seu pai enfermo; mas apenas São Paulo o visitou , logo ficou repentinamente são. Com a notícia deste milagre, acudiram logo ao apóstolo todos os enfermos da ilha, e todos recuperaram saúde. Depois de nela se haver demorado seis meses, embarcou o santo com os seus companheiros, aportou a Siracusa da Sicília, desembarcou em Pozuoles e partiu por terra para Roma. Tendo tido notícia os fiéis da sua vinda, saíram de tropel a recebê-lo, e bem fácil é imaginar a ternura com que o faziam. Deu-se-lhe permissão para que andasse livremente pela cidade, só com guarda à vista; aproveitou-se desta liberdade para instruir os judeus e para confirmar os fiéis na fé.
          Dois anos (61-62) esteve São Paulo em Roma, durante os quais pregou maravilhosamente o reino de Jesus Cristo, fazendo numerosas conversões, até no próprio palácio do imperador. Justificado plenamente em todos os tribunais, mandaram-no absolvido de tudo quanto lhe imputavam. Vendo-se já em inteira liberdade, levou o Evangelho a muitas províncias, e não poucos autores crêem ter estado o santo em Espanha. É provável que tivesse regressado ao oriente, não achando descanso nem consolação senão em seus trabalhos apostólicos; podendo-se dizer sem exagero que foi um milagre contínuo a vida desse grande apóstolo.
          A perseguição rebentou em Roma a seguir ao grande incêndio de ano de 64. São Paulo foi preso na Ásia pelo fim do ano 66. Trouxeram-no acorrentado para Roma, onde este cativeiro foi muito mais rigoroso que o primeiro. Provavelmente esteve na prisão na companhia de Pedro, que sendo simples judeu, foi executado com toda a simplicidade jurídica. Mas Paulo, cidadão romano, sobreviveu vários meses, ao que parece.
          Da cadeia escreveu uma carta última a Timóteo. Antes de pedir que lhe traga a capa, os livros e sobretudo os pergaminhos, diz: «Quanto a mim, estou pronto para o sacrifício; e o tempo da minha partida já se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira e guardei a fé. Já nada me resta senão receber a coroa da justiça que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia, e não só a mim, mas também àqueles que desejam a sua vinda» (2 Tim 4, 6-8). Foi-lhe cortada a cabeça junto à entrada de Óstia, segundo a tradição (no ano 67), na localidade chamada Tre Fontane. Temos catorze epístolas de S. Paulo, nas quais podemos dizer que se contém toda a doutrina cristã. 

A queda e a conversão de São Paulo no caminho de Damasco



Martírio de São Paulo


túmulo de São Paulo

São Pedro, apóstolo, papa e mártir

 
 
 
             São Pedro foi príncipe dos Apóstolos, cabeça visível da Igreja de Jesus Cristo, coluna imóvel da fé, como se exprime o concílio de Éfeso, pedra e base da religião, como diz o Calcedonense, vigário de Jesus Cristo na terra, cimento, diz Santo Agostinho, sobre que se fundou e sobre que assenta a Santa Igreja. Chamava-se Simão antes de subir ao apostolado.
             Era de Betsaida, povoação na Galiléia, nas margens do lago de Genesaré, filho de Jonas ou João, de condição muito obscura, pescador de mister, mas homem de muita bondade. Não se sabe ao certo o ano em que nasceu. Tendo casado em Cafarnaum, o porto mais célebre daquele grande lago, chamado em todo o país o mar de Tiberiades, aí residia em companhia do irmão, André.
            Era este discípulo do Batista, e tendo visto a Jesus, de quem, ouvira dizer a seu mestre que era o verdadeiro Messias, deu esta notícia ao irmão Simão, dizendo-lhe: «Vi o Messias». Simão, que era de natural vivo e ardente, e que, cheio de religião, suspirava pela vinda do Messias, não deixou sossegar André enquanto este o não levou a ver o Salvador. No dia seguinte foram juntos procurá-Lo. Logo que o Filho de Deus viu o nosso Santo, disse-lhe com a sua particular bondade, que bem mostrava não sei que assinalado amor: «Simão, filho de Jonas, assim te tens chamado até agora; mas daqui em diante quero que te chames Cefas, que quer dizer Pedro».
           Ficaram os dois irmãos com o Salvador aquele dia, e desde então se declarou Pedro por um de seus mais fervorosos discípulos. De volta a sua casa, ganhou para Jesus Cristo toda a família, e ainda prosseguia em seu ordinário mister de pescador; passavam-se poucos dias em que não visse o Salvador , e tem-se por certo que se encontrou presente nas bodas de Canaã, quando o Senhor fez o primeiro milagre. Ainda não havia deixado nem o mister nem a casa, quando, voltando Cristo de Jerusalém, o encontrou com André nas margens do lago, levantando as redes.
            Entrou o Senhor no barco, e disse a Pedro que O levasse pelo mar fora a sítio mais profundo, onde teriam boa pesca. «Mestre, disse-Lhe, toda a noite nos temos afadigado inutilmente sem ter colhido nada; mas já que me mandais, vou deitar a rede à vossa ordem». Foi extraordinária a pesca; atônito, São Pedro lançou-se aos pés do Salvador, dizendo-lhe: «Senhor, eu sou o grande pecador, não sou digno de aparecer na vossa presença». Levantou-o o Senhor e disse-lhe: «Tem confiança e segue-Me»; quero que, sem deixares o ofício, o melhores; «daqui nem diante serás pescador de homens». Fez tanto efeito no espírito e no coração do Santo a graça de vocação, encerrada nestas palavras, que no mesmo instante deixou tudo; e dando-lhe permissão sua mulher, nunca mais se apartou do lado do Salvador.
            Em todas as ocasiões se traduziu o amor e ternura que por Ele professava. Uma noite velejava no lago em companhia dos demais discípulos, e vendo vir Cristo para eles sobre as águas, impaciente Pedro por se arrojar a seus pés, disse-lhe: «Senhor, mandai-me ir também a Vós sobre as ondas, antes que entreis no barco». «Vem», respondeu-lhe o Salvador. Obedeceu Pedro, saltou ao mar com intrepidez; o vento refrescou um pouco, e como viu que se ia afundando, teve medo e exclamou: “Senhor, salvai-me». Colheu-o o Salvador pela mão, e repreendeu-o brandamente, dizendo-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» Mas no meio disto ia crescendo a fé com o seu amor.
           Explicou o Salvador aos discípulos em Cafarnaum o mistério da Eucaristia; pareceu duro e muitos deles, que principiaram a desconfiar da sua doutrina, retiraram-se. Votando-se então o Senhor para os doze que escolhera para apóstolos, disse-lhes: «E vós não vos ides também?» Tomou Pedro a palavra e respondeu em nome de todos: «Senhor, aonde é que iremos? Só vossas palavras nos ensinam o caminho da vida eterna, e estamos bem persuadidos de que sois o verdadeiro Messias».
           Não foi só esta a única confissão pública que fez Pedro da sua fé. Perguntou Jesus aos discípulos o que se dizia d’Ele na Judeia e em que reputação era tido? Responderam que uns O tinham por João Batista ressuscitado; outros por Elias; outros por Jeremias, ou enfim por algum dos profetas. «E vós, replicou-lhes o Salvador, quem dizeis que Eu sou?» Pedro de novo toma a palavra em nome de todos e com a sua natural vivacidade e costumado fervor responde: «Vós, Senhor, sois o Cristo, Filho de Deus vivo». «E tu, Simão, filho de Jonas (replicou o Salvador) és bem-aventurado, porque essa importante verdade não ta revelou a carne, nem o sangue», tão sublime conhecimento nem é, nem pode ser, efeito da razão natural, «meu Pai celestial te iluminou, para que soubesses quem Eu era» e agora vou Eu dizer-te a ti o que és desde este momento: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja»; debaixo do meu poder serás a sua base, não menos que a sua defesa. «Em vão se armará todo o inferno contra ela»; poderá combatê-la com heresias, persegui-la pelos tiranos e ainda oprimi-la; mas «o todo do edifício», cuja base te constituo deste esta hora, «jamais trepidará».
            Todas as seitas que houverem de levantar-se na série dos séculos hão-de fundar-se sobre areia, porque não terão por fundamento esta pedra. «Dar-te-ei a chave do reino dos Céus: àqueles a quem tu abrires as portas, franquear-se-lhes-ão; e àqueles a a quem as cerrares, ser-lhes-ão cerradas», porque a justiça do céu confirmará as sentenças que tu pronunciares na terra. Serás nela o meu vigário e quanto dispuseres em meu nome será ratificado por Mim.
           Concordam os Santos Padres em que desde este momento ficou Pedro constituído príncipe dos apóstolos, pedra fundamental da religião e cabeça visível da Igreja. Crescia com a fé o amor que professava a Jesus Cristo. certo dia, o Filho de Deus declarou aos apóstolos que era indispensável passar a Jerusalém e padecer nesta cidade as maiores ignomínias e sofrer morte afrontosa; horrorizado o nosso Santo ao ouvir isto, saiu-se com esta exclamação espontânea: «Que dizeis, Senhor! Não queira Deus que tal suceda», e que nós o permitamos; prontos estamos a a defender-vos, ainda que seja à custa da própria vida. Repreendeu-o o Salvador com severidade, dizendo-lhe: «Aparta-te de Mim e sai da minha presença, se hás-de falar dessa maneira. Fazes o ofício de Satanás sem o perceberes, pois pretendes estorvar a obra da Redenção».
           Bem conhecia Jesus Cristo o amoroso principio donde nascia este indiscreto zelo; e assim, passados cinco dias, o escolheu para testemunha da sua gloriosa transfiguração no Tabor, onde, deslumbrado o apóstolo pelos resplendores da glória que jorravam da face do Salvador, exclamou estático e gozoso; «Belo sítio é este, aqui sim, é que devíamos estar». Em todas as ocasiões distinguira Cristo o nosso Santo com algum especial favor. Dispôs que fosse ele quem achasse dentro de um peixe uma moeda de quatro dracmas para pagar a César o tributo em nome dos dois, e quando se aproximava o tempo da paixão, enviou Pedro e João, para que arranjassem o Cenáculo, onde havia de celebrar a Páscoa.
            Concluída a ceia, tendo ido o divino Salvador lavar os pés aos apóstolos, começou por São Pedro; mas, cheio de confusão, quando viu a seus pés o divino Mestre, retirou-os prontamente, protestando que nunca o consentiria; porém, ameaçando o Salvador com não o reconhecer por seu se não se deixasse lavar, atemorizado Pedro com tão formidável ameaça, exclamou fervoroso: «Que dizeis Senhor! Não só deixarei lavar os pés, mas as mãos e a cabeça antes do que desagradar-Vos». Contente o Salvador com esta disposição, disse-lhe que o demónio faria todos os seus esforços para o derribar; mas que Ele tinha feito oração a seu Eterno Pai, a fim de que, se chegasse a titubear com a tentação, logo voltasse a fortalecer-se mais do que nunca lhe sobrassem forças para alentar e fortificar a seus irmãos.
           Nenhum discípulo professou amor mais abrasado ao divino Mestre, ainda que todos os outros O abandonassem, não obstante a profecia em contrário que acabava de ouvir. Tardou pouco em dar mostras do seu zelo, quando, ao ver no Horto das Oliveiras os soldados lançarem mão do seu Mestre, puxou da espada e descarregou tal golpe em Malco, que lhe deitou ao chão uma orelha, ação que o Salvador repreendeu. Preso o Pastor, dispersaram-se as ovelhas. Só Pedro, em companhia de João, teve coragem para o seguir Cristo até casa de Caifás, mas, reconhecido como um dos discípulos, caiu na fraqueza de negar por três vezes que conhecesse tal homem.
           Despertou-lhe a lembrança da sua miséria o canto do galo, como lho havia prognosticado o Salvador. Foi inexplicável o seu arrependimento e a sua dor; retirou-se desfeito em lágrimas, e três dias inteiros passou em amargo pranto sem se atrever a aparecer diante da gente. Reparou a sua queda com generosa contrição, pelo que nem o discípulo perdeu nada do ardente amor que professava ao divino Mestre, nem o Mestre diminuiu um pouco da ternura com que olhava o seu caro discípulo; e por isso, logo que ressuscitou, apareceu em particular a São Pedro.
            Esta ternura nunca se mostrou tão claramente como nas perguntas que lhe dirigiu junto ao mar de Tiberiades, poucos dias antes da sua gloriosa ascensão aos céus. Perguntando-lhe três vezes, em presença dos demais apóstolos, se O amava mais do que todos, escarmentado Pedro com as quedas precedentes, respondeu com sinceridade que, pois o mesmo Senhor conhecia bem todas as coisas, sabia igualmente o amor que lhe tinha. «Apascenta os meus cordeiros, lhe respondeu o Salvador, apascenta as minhas ovelhas», e com estas palavras, disse Santo Agostinho, confirmou a Pedro no primado que lhe havia conferido, entregando-lhe o cuidado de todo o rebanho.
           O primeiro ato de autoridade que exerceu São Pedro foi propor aos Apóstolos a eleição que se devia fazer de um indivíduo que tomasse o lugar de Judas. Logo que o Espírito Santo baixou sobre os Apóstolos, no dia de Pentecostes, Pedro, como cabeça da Igreja, pregou um sermão tão enérgico, tão eloquente, tão eficaz à multidão que se encontrava às portas do Cenáculo, que três mil pessoas receberam o batismo.
           Entrou depois no templo, acompanhado de São João; e encontrando à porta um pobre de quarenta anos tolhido de nascença, mandou-lhe em nome de Jesus Cristo que se levantasse; o paralítico fê-lo imediatamente e foi saltando de contente por toda a cidade, publicando em altos gritos a maravilha. A este prodígio correu o povo a rodear os apóstolos.
           Aproveitando Pedro tão bela ocasião, falou de Jesus Cristo com tanta eloquência, com tanto espírito e com tanta unção, que nesse dia converteu cinco mil pessoas. Como estas maravilhas faziam tanto ruído, não era fácil que a recém-nascida Igreja gozasse por muito tempo a paz. os dois apóstolos foram presos e interrogados em nome de quem tinham operado o milagre; Pedro respondeu intrepidamente que em nome do mesmo Jesus Cristo que eles haviam crucificado. Proibiram-lhes continuar a falar de tal Cristo ou da sua doutrina; ao que respondeu com uma firmeza que os deixou atónitos: «Considerai se será justo obedecer-vos, antes do que a Deus», o qual nos manda publicar a ressurreição do Salvador, da qual nós mesmos fomos testemunhas.
           Cada dia crescia o número dos fiéis, e cada dia se mostrava Pedro mais poderoso em obras e em palavras. Aquele que dias antes era um pobre pescador, rústico e grosseiro, falava agora como grande doutor da lei. Todas as suas palavras eram oráculos; multiplicavam-se em suas mãos as maravilhas; punham os enfermos nas ruas e nas praças públicas, para que a sombra de Pedro os tocasse e no mesmo instante ficavam curados. Tantos prodígios forçosamente o haviam de pôr em sobressalto os magistrados; mandaram-no prender, açoutaram-no cruelmente; Pedro não cabia em si de contente por ser digno de padecer estas afrontas por Jesus Cristo.
           Por ocasião da terrível perseguição que se seguiu à morte do proto-mártir Santo Estêvão, saíram os discípulos de S. Pedro a pregar o Evangelho fora dos termos da Judeia. Convertidos já os de Samaria, passou o apóstolo a esta província, juntamente com S. João, para tornar os fiéis participantes do Espírito Santo, administrando-lhes o sacramento da confirmação. Ao voltar da Samaria, entrou na cidade de Lida; vendo um paralítico, chamado Enéias, estendido sobre a cama, onde havia oito anos que jazia, disse-lhe: «Enéias, o Senhor Jesus Cristo te salva; levanta-te e leva a tua cama». Levantou-se logo Enéias, publicou o milagre e o seu autor; e toda a cidade recebeu o batismo.
           Repetiam-se a cada passo os prodígios e a cada passo se dilatavam as conquistas para Jesus Cristo. Morreu em Jope uma virtuosa viúva, chamada Tabita; São Pedro chegou a esta cidade dois dias depois da sua morte; fez oração junto do cadáver, à vista de todo o povo; manda a Tabita que se levante em nome de Jesus Cristo; Tabita abre os olhos, levanta-se do ataúde e toda a cidade de Jope reclama o batismo.
           Nesta cidade teve Pedro aquela misteriosa visão, em que Deus lhe manifestou que, tendo seu Filho morrido por todos os homens, nenhum povo ou nação era excluída do beneficio da redenção. Estava um dia em oração, à hora do meio-dia, quando, arrebatado de repente em êxtase, viu abrir-se o céu, baixar dele um suporte em figura de lençol, contendo toda a espécie de animais, répteis, quadrúpedes, aves,e ao mesmo tempo ouviu uma voz que lhe disse: «Pedro levanta-te, mata e come». - «Não permita Deus, replicou Pedro, que eu coma coisa profana e imunda». Porém a mesma voz replicou: «Não chames imundo, nem profano, o que já purificou o próprio Deus». O apóstolo voltou em si do rapto, e ainda não compreendia bem o que significava a visão, quando entraram em sua casa os criados de um oficial, chamado Cornélio, natural de Roma, que comandava um corpo de infantaria da legião italiana, aquartelada em Cesaréia.
            Pela comissão que traziam, claramente conheceu o sentido da visão, isto é, que também devia pregar a fé aos gentios, pois não era só para os habitantes da Judeia. Partiu sem demora para Cesaréia; encontrou Cornélio que o esperava rodeado de gente; pregou-lhes, instruiu-os; e ainda não tinha acabado de falar quando baixou sobre todos o Espírito Santo visivelmente, em forma de brilhante resplendor. Seguiu-se o batismo à vinda do Espírito Santo; de volta á Judeia, contou Pedro a toda a Igreja as misericórdias do Senhor, pelo que os fieis glorificaram a Deus por se ter dignado fazer participantes os gentios, como os Judeus, do dom da penitência para a salvação.
            À vocação dos gentios seguiu-se muito de perto a dispersão que o Espírito Santo fez dos apóstolos, para que fossem anunciar o Evangelho a todas as partes do universo. Tocou a Pedro nesta distribuição ir pregar à capital do mundo; e sendo Antioquia a capital do oriente, deu princípio por ela, fundando aquela Igreja onde os discípulos começaram a chamar-se «cristãos».
           São Pedro manteve poucos anos a sua cadeira naquela cidade. Depois de percorrer grande parte da Ásia, anunciando Jesus Cristo aos Judeus, espalhados pelo Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, voltou a Jerusalém, onde se deteve algum tempo. Renovou-se com o maior furiosa perseguição contra os fieis em Jerusalém. Querendo Herodes Agripa congraçar-se com os Judeus, tirou a vida ao apóstolo São Tiago, e persuadido de que daria o maior gosto à nação em fazer o mesmo a São Pedro, que era a cabeça dos outros, mandou prendê-lo; mas como era o tempo da Páscoa, em que não podia castigar-se nenhum delinquente, deu ordem para que fosse bem custodiado no cárcere, nomeando para este fim dezasseis soldados que se revezariam de quatro em quatro, sem o perder nunca de vista.
           Era seu intento tirar-lhe a vida depois de passar a Páscoa, e dar prazer ao povo com um espectáculo tanto do seu gosto; mas ouviu Deus as orações de toda a Igreja e confundiu o tirano, porque na noite anterior ao dia assinalado para a execução, o anjo do Senhor apareceu no cárcere, despertou Pedro, a quem as cadeias com que estava preso caíram; abriram-se-lhe as portas de par em par; o anjo do Senhor conduziu-o até ao cabo da rua e desapareceu.
           Foi-se direito São Pedro à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde se haviam reunido muitos fiéis e estavam em oração; bateu à porta; saiu silenciosamente uma donzela por nome Rode a ver quem chamava; conheceu o apóstolo pela voz e foi tamanha a sua alegria que, em lugar de ir abrir a porta, correu apressada a dar a notícia aos que estavam dentro. Disseram-lhe que estava louca; ela replicou: «Repito que é ele, e que pela voz o conheci». Entretanto, continuava São Pedro chamando; abriram afinal e é fácil de imaginar qual seria a admiração e o gozo de todos quantos o viram; e mais ainda quando lhes referiu circunstanciadamente tudo o que se havia passado e o modo porque estava livre do cárcere e das cadeias.
           Depois deste sucesso, percorreu o apóstolo outra vez quase toda a Judeia e uma parte da Ásia para animar os fiéis com santo fervor; tendo permanecido por algum tempo em Antioquia, passou a Roma pelo ano 43 e nela fixou a sua cadeira pontifical. «Dispô-lo assim a divina Providência, diz São Leão, para aquela cidade, que era a cabeça do mundo, ser também o centro da religião e a escola da verdade, depois de o ter sido do erro, ficando constituída por mestra das demais Igrejas da terra».
           De Roma escreveu São Pedro a sua primeira epístola aos fiéis do Oriente. E a data é de Babilónia, porque assim chamava àquela capital do mundo pagão; não obstante, a fé fazia nela maravilhosos progressos pelos desvelos do apóstolo e de seus discípulos. Na mesma cidade escreveu Marcos o seu Evangelho, que São Pedro aprovou para satisfazer a devoção dos fiéis que nela havia.
          Aos três ou quatro anos da sua residência em Roma, publicou-se o decreto do imperador Cláudio, para que saíssem da cidade todos os judeus. Partiu Pedro para Jerusalém, onde presidiu ao concílio em que se definiu que a lei do Evangelho abolira a da circuncisão. As decisões foram levadas a Antioquia por São Paulo e São Barnabé. Veio também São Pedro a essa cidade e não teve escrúpulo em se misturar com os gentios convertidos à fé, comendo com eles sem fazer diferença de viandas. Mas informado de que isto escandalizava os Judeus, absteve-se de o fazer por mera complacência. Não pareceu bem, a São Paulo esta nímia condescendência, e com santa liberdade lhe disse que semelhante atitude podia levar a crer que ainda subsistia a obrigação de observar a lei antiga. Rendeu-se São Pedro à advertência de São Paulo «e o que era príncipe dos apóstolos e cabeça da Igreja, diz santo Agostinho, não se valeu da sua primazia; cedeu a autoridade à modéstia». Não considerou, observa São Gregório, que São Paulo era inferior a ele, e admitiu docilmente a sua repreensão: Ecce a minore reprehenditur, et reprehendi non dedignatur.
           Restituído a Roma, dedicou-se a cultivar a vinha do Senhor que havia plantado e que era já o modelo de todas as Igrejas, custando-lhe este cultivo imensos trabalhos e fadigas. Mas não se limitava a Roma a sua pastoral solicitude, antes se dilatava a toda a Igreja, à qual escreveu a sua segunda epistola, dirigida a todos os fieis em geral. Afirmam alguns Santos Padres que percorrera todas partes do mundo, desprezando os perigos e as perseguições que lhe suscitavam os Judeus e os gentios.
           Diz-se que de Roma levara ele próprio o Evangelho a várias províncias da Europa; e quando não fosse em pessoa, tem-se por certo que o fez por meio de discípulos. Muitas Igrejas de França, Itália, Espanha, Inglaterra, África e Sicília e ilhas adjacentes conservam, os nomes dos seus primeiros bispos, persuadidas de que foram discípulos de São Pedro. Enquanto São Pedro trabalhava em Roma tão gloriosamente chegou a esta cidade São Paulo, dispondo-o assim a divina Providência para que os dois maiores luminares do mundo cristão terminassem a sua carreira na capital do universo e a ilustrassem com o seu glorioso martírio.
           Os milagres feitos em Roma por um e outro apóstolo inflamaram a mais terrível das perseguições no reinado do ímpio Nero. Fugindo da tempestade, assim se conta, saía um dia o apóstolo para se retirar de Roma, quando à porta dela encontrou o Salvador, como quem ia para entrar. Não lhe pareceu novidade a visão, por estar acostumado a muitas semelhantes, e assim lhe perguntou sem estranheza: «Senhor, aonde ides?» «Vou a Roma, respondeu-lhe Jesus Cristo, a ser crucificado de novo». Compreendeu o apóstolo o que queria dizer, e ocorrendo-lhe então à memória o que o Senhor lhe havia prognosticado, antes e depois da ressurreição, voltou para trás e dispôs-se para o martírio.
           Há também a velha tradição seguinte: No mesmo dia foi preso e conduzido ao cárcere Mamertino, junto do Capitólio, onde esteve nove meses com São Paulo, acrescentando em cada dia conquistas para Jesus Cristo, pois foram convertidos e batizados por São Pedro dois dos seus guardas, Processo e Martiniano, com quarenta e sete pessoas que estavam na mesma prisão. Enfim, depois de empregar a vida a fazer conhecer e amar a Jesus Cristo, depois de contribuir com tão imensos trabalhos para fundar e estabelecer a Igreja em todo o Universo, mas muito particularmente na capital do mundo, viu finalmente aproximar-se o tempo, prognosticado por Jesus Cristo, em que outro havia de o cingir e conduzir aonde naturalmente não quereria.
          Tiraram-no do cárcere e levaram-no à outra banda do Tibre, ao Vaticano. Seguindo outra tradição, queriam crucificá-lo ao modo ordinário; mas conseguiu dos verdugos que o pregassem na cruz de cabeça para baixo, porque disse que não merecia ser tratado como o seu divino Mestre. É o que nos dizem Orígenes e São Jerónimo. Foi sepultado o príncipe dos apóstolos muito perto, e desde então foi o seu sepulcro, depois do de Jesus Cristo, o mais respeitável e o mais respeitado de todo o mundo cristão; começando na terra o culto dos dois apóstolos São Pedro e São Paulo quase ao mesmo tempo que teve principio a sua eterna felicidade no céu.
          Logo que o imperador Constantino deu a paz à Igreja, levantaram-se sumptuosíssimos templos em toda a parte, em honra dos dois santos. No dia 18 de Novembro celebra a Igreja a dedicação das duas formosas basílicas fundadas em Roma em honra dos apóstolos São Pedro e São Paulo, cuja construção se deveu ao grande Constantino e a dedicação ao papa Silvestre.
           Mas ambas foram refeitas: a de São Pedro, durante mais de cem anos, a partir do início do século XVI; e a de São Paulo (menos completamente) , desde o incêndio que sofreu em 1823, até ser reinaugurada em 1854.

Igreja Quo Vadis, na Via Apia em Roma



Túmulo de São Pedro, na Cripta da Basílica no Vaticano
 

São Pedro e São Paulo, apóstolos

 



A solenidade de são Pedro e de são Paulo é uma das mais antigas da Igreja, sendo anterior até mesmo à comemoração do Natal. Já no século IV havia a tradição de, neste dia, celebrar três missas: a primeira na basílica de São Pedro, no Vaticano; a segunda na basílica de São Paulo Fora dos Muros e a terceira nas catacumbas de São Sebastião, onde as relíquias dos apóstolos ficaram escondidas para fugir da profanação nos tempos difíceis.
E mais: depois da Virgem Santíssima e de são João Batista, Pedro e Paulo são os santos que têm mais datas comemorativas no ano litúrgico. Além do tradicional 29 de junho, há: 25 de janeiro, quando celebramos a conversão de São Paulo; 22 de fevereiro, quando temos a festa da cátedra de São Pedro; e 18 de novembro, reservado à dedicação das basílicas de São Pedro e São Paulo.
Antigamente, julgava-se que o martírio dos dois apóstolos tinha ocorrido no mesmo dia e ano e que seria a data que hoje comemoramos. Porém o martírio de ambos deve ter ocorrido em ocasiões diferentes, com são Pedro, crucificado de cabeça para baixo, na colina Vaticana e são Paulo, decapitado, nas chamadas Três Fontes. Mas não há certeza quanto ao dia, nem quanto ao ano desses martírios.
A morte de Pedro poderia ter ocorrido em 64, ano em que milhares de cristãos foram sacrificados após o incêndio de Roma, enquanto a de Paulo, no ano 67. Mas com certeza o martírio deles aconteceu em Roma, durante a perseguição de Nero.
Há outras raízes ainda envolvendo a data. A festa seria a cristianização de um culto pagão a Remo e Rômulo, os mitológicos fundadores pagãos de Roma. São Pedro e são Paulo não fundaram a cidade, mas são considerados os "Pais de Roma". Embora não tenham sido os primeiros a pregar na capital do império, com seu sangue "fundaram" a Roma cristã. Os dois são considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação como pelo ardor e zelo missionários, sendo glorificados com a coroa do martírio, no final, como testemunhas do Mestre.
São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro papa da Igreja. A ele Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra fundarei a minha Igreja". São Pedro é o pastor do rebanho santo, é na sua pessoa e nos seus sucessores que temos o sinal visível da unidade e da comunhão na fé e na caridade.
São Paulo, que foi arrebatado para o colégio apostólico de Jesus Cristo na estrada de Damasco, como o instrumento eleito para levar o seu nome diante dos povos, é o maior missionário de todos os tempos, o advogado dos pagãos, o "Apóstolo dos Gentios".
São Pedro e são Paulo, juntos, fizeram ressoar a mensagem do Evangelho no mundo inteiro e o farão para todo o sempre, porque assim quer o Mestre.


São Pedro libertado da prisão pelo anjo do Senhor



A fuga de Pedro da perseguição em Roma e a visão de Cristo




O martírio de São Pedro



Pregação de Paulo em Atenas



O martírio de São Paulo e São Pedro