quarta-feira, 20 de junho de 2012

São Silvério, papa e mártir

         
 
         Silvério, filho do papa S. Hormisdas, era apenas subdiácono quando, depois da morte do papa S. Agapito I, a 22 de abril de 536 em Constantinopla, foi imposto como bispo à igreja de Roma pelo rei ostrogodo da Itália, Teodato, que pressentiu o surgimento de um candidato bizantino. Entre­tanto, depois que Silvério foi consagrado, o clero de Koma concordou em aceitá-lo.
          A imperatriz Teodora escreveu-lhe, pedindo-lhe que reconhecesse como respectivos patriarcas de Constantinopla e Antioquia os monofisitas Ântimo e Severo. Silve'rio respondeu polidamente, com palavras que, no fundo, eram uma recusa, e se afirma que, ao fazê-Io, ele observara que estava assinando a própria sentença de morte. Ele tinha razão. Teodora era uma mulher que não tolerava qualquer oposição, mas sabia esperar.
     Depois da devastação dos subúrbios de Koma pelo general ostrogodo Vítiges, o papa e o senado abriram espontaneamente as portas da Cidade ao seu adversário bizantino Belisário, e Teodora viu chegada a chance que esperava. Silvério foi sequestrado, depois de uma malograda tentativa de incriminá-lo, com base em uma pretensa carta de sua autoria, de conspirar traiçoeiramente com os godos, e levado à força para Patara, na Lícia, na Ásia Menor, e, no dia seguinte, Belisário, que agia pressionado por sua mulher Aníonina, proclamou papa, em lugar dele, o candidato da impera­triz Teodora, o diácono VigOio. Iniciava-se assim um episódio muito triste da história do papado.
      Aparentemente o imperador Justiniano não fora informado cio que es­tava se passando, e quando o bispo de Patara lhe comunicou o acontecido, ele ordenou que Silvério fosse enviado de volta a Roma e se instaurasse um inquérito. Mas, quando o papa desembarcou na Itália, os partidários de Vigílio o interceptaram e o aprisionaram, e Antonina, desejosa de agra­dar a Teodora, convenceu seu marido a permitir que eles o tratassem como quisessem. Em consequência, Silvério foi levado, sob escolta, â ilha de Paí-marola, no mar Tirreno, ao largo de Nápoles.
      Ali, ou talvez na vizinha ilha de Ponza, terminou seus dias, logo depois, em consequência dos maus-tratos de que fora vítima. Segundo Liberato, que escreveu por ouvir dizer, ele morreu de fome; mas seu contemporâneo Procópio afirma que foi assassinado por um dos escravos de Antonina, por ela instigado. De qualquer maneira, S. Silvério é celebrado como mártir.
      Não se sabe claramente como foi legitimada a apresentação de Vigílio ao sólio pontifício, mas, assim que ele foi reconhecido como papa, sua protetora Teodora sofreu uma decepção, pois ele deixou de apoiar suas intrigas em benefício do monofisitismo, e se apresentou como defensor da ortodoxia, que era, afinal de contas, o que se esperava de um papa.