terça-feira, 5 de junho de 2012

Beato Fernando de Portugal

         

        Filho de João I de Portugal, empregava desde muito jovem seus rendimentos pessoais no resgate de cativos cristãos das mãos sarracenas. Parte em 1434, com seu irmão Henrique o Navegador a uma expedição contra Marrocos, então em mãos de uma dinastia de piratas. Acaso seria uma premonição sobre a situação atual? Nada novo há sob o sol. O certo é que a expedição foi um fracasso e a armada lusitana teve de render-se e deixar Fernando como garantia de pagamento de enormes quantidades de dinheiro.
          As Cortes de Portugal, depois de nove anos de negociações, deixaram morrer de disenteria e em mãos do inimigo a seu príncipe. Fernando viveu como escravo, encadeado e obrigado aos mais sujos trabalhos.
          Suportou sua desdita com dignidade e pôs sua esperança em Deus com enorme integridade, sem renunciar à fé nem a uns compatriotas tão esquecidos de sua terrível sorte. As fontes históricas muçulmanas falam de sua vida edificante ou da veneração que suscitava nos mais piedosos habitantes de Fez.
          Fernando optou pela pobreza, castidade e obediência, em radical fidelidade a sua própria consciência. Seu cadáver esquartejado apodreceu pendurado nas torres das muralhas. Deveria ser padroeiro dos milhões de escravos que ainda restam no mundo; o dos heróis olvidados pelos seus, ou melhor, dos que são vítimas dos vaivéns políticos. Quando o sacerdote dom Pedro Calderón de la Barca chegou ao céu, foi recebido por Fernando grato por essa maravilha de drama chamada O Príncipe Constante.