quarta-feira, 20 de junho de 2012

Beata Miquelina de Pesao, viúva

         
 
 
        A cidade de Pesaro, na costa oriental da Itália, consagra uma devoção espacial a esta viúva santa que foi um de seus membros. Nascida de pais ricos e ilustres, Miquelina Metelli se casou aos doze anos de idade com um membro da família Malatesta de Rimini, A união foi feliz, mas quando a morte de seu marido a deixou viúva aos vinte anos, com um único filho pequeno, parece que ela de modo nenhum ficou desolada. Sempre gostara dos prazeres da vida, e durante algum tempo continuou a levar a mesma vida de antes, dando pouca ou nenhuma atenção às práticas religiosas.
         Vivia em Pesaro por essa época uma terceira franciscana de origem e ante­cedentes desconhecidos, que atendia pelo nome de Siríaca. Vivia de esmo­las, passava a maior parte de seu tempo em oração, e, para se abrigar de noite, dependia da hospitalidade casual das pessoas caridosas. Miquelina, que era uma daquelas que abriam suas portas à estranha, pouco a pouco foi sendo influenciada por ela.
    Surgiu entre as duas uma familiaridade que resultou na conversão com­pleta de Miquelina. Somente seu filho a prendia agora ao mundo, e quando ele foi vítima de certas queixas infantis, resolveu renunciar a tudo. Aconse­lhada por Siríaca, tomou o hábito de terceira franciscana, distribuiu seus bens aos pobres e passou a mendigar seu pão de porta em porta. Não era fácil para uma pessoa que sempre vivera no bem-estar e no conforto acos­tumar-se com restos de comida que ninguém mais queria.
     Certa vez, no início de sua nova vida, revelou a uma antiga colega que desejava muito saborear um pedaço de carne de porco assada de fresco. Ansiosa por lhe proporcionar este pequeno prazer, sua amiga convidou-a imediatamente para o jantar. Mas quando o prato com a carne foi trazido à mesa e o cheiro saboroso da iguaria lhe invadiu as narinas, Miquelina caiu repen­tinamente em si. Recusando-se a sentar-se à mesa, retirou-se da companhia da amiga e açoitou-se com uma corrente de ferro até o sangue escorrer.
      A cada golpe, ela se apostrofava irada, exclamando para si mesma: "Ainda queres carne de porco, Miquelina? Ainda queres mais?"
           Teve de suportar muitas outras provações interiores e exteriores. Seus parentes criticavam severamente sua conduta, e durante certo tempo che­garam até mesmo a metê-la numa prisão como lunática. Sua paciência e brandura, porém, desarmaram-nos: concluíram que, embora iludida, ela não representava nenhum perigo, e a puseram em liberdade.
           O resto de sua vida ela o passou na renúncia de si mesma e na prática das boas obras. Cuidava dos leprosos e de outros portadores de doenças repugnantes, exer­cendo os ofícios mais humildes em favor deles; e conta-se que curou vários deles, beijando-lhes as chagas. No final de sua vida, Miquelina fez uma peregrinação a Roma, onde, em certa ocasião, lhe foi dada a graça de par ticipar misticamente nos sofrimentos do Senhor. Morreu no Domingo da Santíssima Trindade de 1356, talvez aos cinquenta e seis anos de idade.
           Desde o instante de sua morte foi venerada pelos seus concidadãos, que mantinham uma lâmpada acesa dia e noite diante de seu túmulo na igreja franciscana. Em 1580 a casa em que ela vivera, em Pesaro, foi convertida em igreja, e seu culto foi aprovado em 1737.