A celebração da Eucaristia
"A ningúem é permitido participar da Eucaristia, a não ser àquele que, admitindo como verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo purificado pelo batismo para a remissão dos pecados e a regeneração, leve uma vida como Cristo ensinou.
Pois não é pão ou vinho comum que recebemos. Com efeito, do mesmo modo como Jesus Cristo, nosso Salvador, se fez homem pela Palavra de Deus e assumiu a carne e o sangue para a nossa salvação, também nos foi ensinado que o alimento sobre o qual foi pronunciada a ação de graças com as mesmas palavras de Cristo e, depois de transformado, nutre nossa carne e nosso sangue, é a própria carne e o sangue de Jesus que se encarnou.
Os apóstolos, em suas memórias que chamamos evangelhos, nos transmitiram a recomendação que Jesus lhes fizera. Tendo ele tomado o pão e dado graças, disse: Fazei isto em memória de mim, Isto é o meu corpo (Lc 22,19; Mc 14,22); e tomando igualmente o cálice e dando graças, disse: Este é o meu sangue (Mc 14,24), e os deu somente a eles. Desde então, nunca mais deixamos de recordar estas coisas entre nós. Com o que possuímos, socorremos uns aos outros. E por todas as coisas com que nos alimentamos, bendizemos o Criador do universo, por seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo.
No chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida que o tempo permite.
Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão tão sublimes ensinamentos.
Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão,vinho e água. Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces, ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos.
Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados.
Reunimo-nos todos no dia do Sol, não só porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque neste mesmo dia Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Crucificaram-no na véspera do dia de Saturno; e no dia seguinte a este, ou seja, no dia do Sol, aparecendo aos seus apóstolos e discípulos, ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração".
São Justino, filósofo mártir (+ 165), é o mais conhecido dos apologistas. Nascido de família pagã, desde a juventude se inquietava buscando a verdade na filosofia. Num dia, em Éfeso, um ancião o convenceu de que a filosofia era insuficiente para chegar à doutrina da essência e da imortalidade da alma. Justino interessou-se pelo estudo dos Profetas do Antigo Testamento e, por eles, chegou ao cristianismo. Através da oração encontrou o caminho para Deus e para Jesus Cristo.
Tornou-se um mestre itinerante, andando por toda a parte até chegar a Roma, onde fundou uma escola. Justino expunha a fé cristã perto do palácio imperial, desafiando o próprio imperador para um confronto.
Escreve duas Apologias. Impressionante: São Justino dirige estes escritos de defesa do cristianismo ao imperador Antonino Pio e ao Senado romano. Não tem medo. Rejeita as acusações dirigidas aos cristãos e expõe a doutrina da religião cristã. Escreve também o Diálogo com Trifão, uma conversa de dois dias entre ele e um sábio judeu.
Justino lança uma ponte entre a filosofia antiga e o cristianismo com a teoria das “sementes da verdade”: cada ser humano possui em sua inteligência uma semente da Verdade, de modo que tudo na história é orientado para a chegada e a aceitação de Cristo, a verdadeira sabedoria. Justino pagou com o sangue sua busca da Verdade e a defesa da fé. O imperador condenou-o à morte.
São Justino, mártir