terça-feira, 10 de maio de 2011

Do comentário à Primeira Carta de São Pedro, de São Beda, o Venerável, presbítero, século VIII

Raça escolhida, sacerdócio do Reino

            "Vós sois a raça escolhida, o sacerdócio do Reino (1Pd 2,9). Este elogio foi feito outrora por Moisés ao antigo povo de Deus. Agora com maior razão, o apóstolo Pedro o aplica aos pagãos pois acreditarm em Cristo, que como pedra angular, reuniu todos os povos na mesma salvação que fora dada a Israel.
            Chama-os de raça escolhida, por causa da fé que os distingue daqueles que, rejeitando a pedra viva, acabaram sendo eles mesmos rejeitados.
            Chama-os também sacerdócio do Reino, porque estão unidos ao corpo daquele que é o supremos rei e verdadeiro sacerdote. Como rei torna-os participantes do seu reino e, como sacerdote, purifica-os dos pecados pelo sacrifício do seu sangue. Chama-os sacerdócio do Reino para que se lembrem de esperar o reino eterno e ofereçam continuamente a Deus o sacrifício de uma conduta irrepreensível.
            São ainda chamados nação santa e povo que ele conquistou (1Pd 2,9), de acordo com o que diz o apóstolo Paulo, comentando uma passagem do profeta: O seu justo viverá por causa de sua fidelidade, mas se esmorecer, não encontrarei mais satisfação nele. Nós não somos desertores, para a perdição. Somos homens de fé, para a salvação da alma (Hb 10,38-39). E nos Atos dos Apóstolos: O Espírito Santo vos colocou como guardas para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue de seu próprio Filho (At 20,28).
            Portanto, o sangue de nosso Redentor fez de nós um povo que ele conquistou, como outrora o sangue do cordeiro libertou do Egito o povo de Israel.
            Eis  por que, no versículo seguinte, recordando o significado místico da antiga história, Pedro ensina que ela deve ser realizada espiritualmente pelo novo povo de Deus, acrescentando: Para proclamar suas obras admiráveis (cf. 1Pd 2,9). De fato, os que foram libertados da escravidão do Egito por Moisés, entoaram ao Senhor um cântico de vitória, depois de terem atrevessado o mar Vermelho e afogado o exército do Faraó. Do mesmo modo, também nós, depois de termos recebido no batismo o perdão dos pecados, devemos agradecer dignamente os benefícios celestes.
             Os egípicios que afligiam o povo de Deus, e por isso eram  símbolo das trevas  e tribulações, representam muito bem os pecados que nos oprimiam, mas que foram lavados pelas águas do batismo.
            A libertação dos filhos de Israel e a sua caminhada para a terra outrora prometida, têm íntima relação com o mistério da nossa redenção; por ela nos dirigimos para os esplendores da morada celeste, sob a luz e direção da graça de Cristo. Esta luz da graça foi também prefigurada por aquela nuvem e coluna de fogo que, durante toda a peregrinação pelo deserto defendeu os israelitas das trevas da noite e os conduziu através das veredas indescritíveis para a pátria prometida".



São Beda (672-735)