sábado, 21 de maio de 2011

São Clemente I, papa, Da Carta aos Coríntios, século I (Cap. 36,1-2; 37-38: Funk 1,107-109)

Ficheiro:Giovanni Battista Tiepolo 094.jpg


            São Clemente I, também conhecido como Clemente Romano (em latim, Clemens Romanus), foi o quarto papa da Igreja Católica, entre 92 e 101. Nascido em Roma, de família hebraica, foi o sucessor de Anacleto I (ou Cleto) e autor da Epístola de Clemente aos Coríntios (segundo Clemente de Alexandria e Orígenes), o   primeiro documento de literatura cristã, endereçada à Igreja de Corinto. Ele foi o primeiro Papa Apostólico da Igreja.
           Discípulo de São Pedro, após eleito restabeleceu o uso da Crisma, seguindo o rito de São Pedro e iniciou o uso da palavra Amém cerimónias religiosas. É conhecido pela carta que escreveu para atender a um pedido da comunidade de Corinto, na qual rezava uma convincente censura à decadência daquela igreja, devida sobretudo às lutas e invejas internas entre os fiéis (consta que os presbíteros mais jovens teriam usurpado as prerrogativas dos mais velhos), estabelecia normas precisas referentes à ordem eclesiástica hierárquica (bispos, presbíteros, diáconos) e ao primado da Igreja de Roma, que se ressalta ainda mais pelo fato de São João Evangelista ainda estar vivo e não ter intervindo em tal crise.


Muitas veredas, um só caminho


           "Este é o caminho,caríssimos, onde encontramos nossa salvação: Jesus Cristo, o pontífice de nossas oferendas, nosso defensor e arrimo nas fraquezas.
            Por ele nossos olhos se voltam para as alturas dos céus; por ele contemplamos, como num espelho, o rosto puríssimo e sublime de Deus; por ele abrem-se os olhos de nosso coração; por ele a nossa inteligência, insensata e obscurecida, desabrocha para a luz; por ele quis o Senhor fazer-nos saborear a ciência imortal, pois sendo ele o esplendor da glória de Deus, foi colocado tão acima dos anjos quanto o nome que herdou supera o nome deles (cf. Hb 1,3-4).
            Combatamos, portanto, irmãos, com todas as forças, sob as suas ordens irrepreensíveis.
           Consideremos os soldados, que combatem sob as ordens dos nossos comandantes. Quanta disciplina, quanta obediência, quanta submissão em executar o que se ordena! Nem todos são chefes supremos, ou comandantes de mil, cem ou cinqüenta soldados, e assim por diante; mas cada um, em sua ordem e posto, cumpre as ordens do imperador e dos comandantes. Os grandes não podem passar sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. A eficiência depende da colaboração recíproca.
           Sirva de exemplo o nosso corpo. A cabeça nada vale sem os pés, nem os pés sem a cabeça. Os membros do corpo, por menores que sejam, são necessários e úteis ao corpo inteiro; mais ainda, todos se harmonizam e se subordinam para salvar todo o corpo.
            Asseguramos, portanto, a salvação de todo o corpo que formamos em Cristo Jesus, e cada um se submeta ao seu próximo conforme o dom da graça que lhe foi concedido.
            O forte proteja o fraco e o fraco respeite o forte; o rico seja generoso para com o pobre e o pobre agradeça a Deus por ter dado alguém que o ajude na pobreza. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas por boas obras; o humilde não dê testemunho de si mesmo, mas deixe que outro o faça. Quem é casto de corpo não se vanglorie, sabendo que é Deus quem lhe dá o dom da continência.
            Consideremos, então, irmãos, de que matéria somos feitos, quem éramos e em que condições entramos no mundo, de que túmulo e trevas nos fez sair aquele que nos plasmou  e criou, para nos introduzir no mundo que lhe pertence, onde nos tinha preparado tantos benefícios antes mesmo de termos nascido.
            Sabendo, pois, que recebemos todas estas coisas de Deus, por tudo lhe demos graças. A ele glória pelos séculos dos séculos. Amém.
 



Basílica de São Clemente, em Roma