Santo Odilon de Mercœur, ou de Cluny, foi o quinto abade da cidade de Cluny. Nasceu por volta do ano de 962. Seu provável lugar de nascimento é o castelo de Mercœur, perto de Saint-Cirgues (Haute-Loire), ou o Monte de Mercœur, perto de Ardes-sur-Couze (Puy-de-Dôme). Morreu em 31 de dezembro de 1048, mas considera-se também como prováveis datas os dias 1º ou 2 de janeiro de 1049, durante uma visita ao priorado de Souvigny, onde está enterrado.
Odilon era filho da família senhorial de Mercœur em Auvergne, ramo da família dos condes de Auvergne[2], cujas terras se encontravam sobre os platôs que se estendiam de um lado a outro de Allier, entre Brioude e Langeac[3]. Iniciou seus estudos como cônego na igreja de São Julião de Brioude. Em 991, Mayeul, quarto abade de Cluny, conduziu Odilon para a abadia onde era mestre dos noviços. Pouco antes da morte de Mayeul, Odilon tornou-se seu auxiliar. Após sua morte, em 994, Odilon tornou-se, então, o quinto abade de Cluny. Entre os anos 1002 e 1018, o novo abade terminaria a igreja São Pedro o Velho ou Cluny II[4]. Na verdade, ele fora eleito abade por volta do ano 990, enquanto seu predecessor ainda estava vivo, na presença de Burchard, arcebispo de Lyon, de Hugues, bispo de Gênova e de Isarn, bispo de Grenoble.
Odilon foi o principal instigador do «império religioso» de Cluny, com seus mosteiros afiliados. Com o apoio do Papa, ele estendeu a Ordem Clunisiana para além dos Pireneus e do Rio Reno (Alemanha).
Este fortalecimento do poderio da Ordem de Cluny e o reconhecimento da abadia pela Santa Sé gerou um conflito com os bispos no momento em que Odilon tentou anexar a abadia de Vézelay à Ordem Clunisiana. Durante o Concílio de Anse, em 1025, os bispos evocaram o fato de que as abadias dependem do bispo da diocese onde elas estão situadas, conforme às decisões do Concílio da Calcedônia. O Papa evocou sua primazia na Igreja, em 1027. Adalberão de Laon zombou, então, do “rei Odilon”. Sob os conselhos de Guillaume de Volpiano, Odilon abandonou a idéia de anexar a abadia de Vézelay à de Cluny. Esta anexação foi finalmente realizada por volta de 1058, por Hugues de Semur.
Em 14 de setembro de 1025 fundou, juntamente com membros de sua família, o priorado da Santa Cruz de Lavoûte-Chilhac.
Quando Odilon morreu, a Ordem de Cluny possuía cerca de 70 priorados e abadias. São-lhe atribuídos poderes milagrosos, como a cura de um cego, a transformação de água em vinho. Esses milagres suscitaram numerosos dons e vocações para Cluny. Foi um dos promotores da Paz de Deus e da Trégua de Deus (movimentos de pacificação e suspensão de guerras durante períodos de festas religiosas), bem como das celebrações em memória dos fiéis defuntos, em 2 de novembro, dia seguinte à Festa de Todos os Santos.
Para socorrer os pobres, Odilon não hesitou em abrir mão de uma parte dos bens de sua Ordem, já bem grande naquela época. Recusou, em 1031, o arcebispado de Lyon. Seu pensamento teológico deixou, em Cluny, uma importante marca, mesmo após a sua morte, em 1048 (ou 1049). Ele é descrito como um “homenzinho magro e nervoso [...] Pouco eloqüente, apreciador da autoridade, o que não escondia a ninguém, orgulhoso de suas prerrogativas, foi um chef muito enérgico e um inegável organizador. Mas soube também ser doce e caridoso, acontecendo-lhe várias vezes de compreender, melhor que seus contemporâneos, os problemas de seu tempo”. Hugues de Semur foi seu sucessor à frente da abadia.
Seu corpo repousa no priorado de Souvigny, ao lado de São Mayeul de Cluny. As pesquisas e os registros arqueológicos conduzidos entre novembro de 2001 e janeiro de 2002 atualizaram os locais exatos de suas sepulturas, esquecidas desde as depredações e profanações da Revolução Francesa. Santo Odilon de Cluny é celebrado no dia 4 de janeiro.
Abadia de Cluny