"Cristo, que era Deus, teve verdadeiramente um corpo, do qual se serviu como de um instrumento para nossa salvação. Por isso, devemos atribuir-lhe tudo aquilo que é próprio da natureza, porque esta nele existia. Assim, dele dizemos que teve fome, que teve sede, que sofreu, que trabalhou, e outras coisas semelhantes que são próprias da natureza. Quanto às operações próprias do Verbo, tais como chamar à vida os mortos, restituir a visão aos cegos, curar uma hemorroísa, ele as fazia por meio do corpo. Assim, se de um lado, o Verbo trazia as debilidades da natureza, de outro, a carne servia de instrumento para a execução das obras da divindade, enquanto corpo de um Deus.
O Verbo de Deus, dada sua condição divina, foi sempre adorado; assim, fazendo-se homem e tomado o nome de Jesus, ele tem a criação inteira a seus pés e todos dobram o joelho diante de seu nome.
Nós que amamos a Cristo e o trazemos em nós, reconhecemos que a ignorância não é própria do Verbo enquanto Verbo; mas ele disse: não sei, embora enquanto Verbo ele soubesse. Assim agiu para manifestar sua humanidade, seja porque é próprio do homem, seja porque o Verbo revestiu a natureza humana ignorante, em cuja condição dizia, enquanto homem: eu não sei."