terça-feira, 10 de setembro de 2013

Santa Pulquéria, imperatriz


Serviu de para-raios, afastando os inimigos da Civilização Cristã nascente.


     O Papa São Leão homenageou a Imperatriz Pulquéria, digna neta de Teodósio, o Grande, com as seguintes palavras:
     “É a vós que se deve a supressão dos escândalos suscitados pelo espírito do mal; graças ao vosso esforço, toda a terra está presentemente unida na mesma confissão de Fé. A parte principal em tudo que neste tempo se fez contra os adversários da Verdade Divina, duas palmas estão em suas mãos, duas coroas sobre sua cabeça, porque a Igreja lhe deve a dupla vitória sobre a impiedade de Nestório e Eutíquio, que embora divididos no ataque, visavam o mesmo fim: a negação da Encarnação e do papel da Virgem Mãe na salvação do gênero humano”.
     Pulquéria nasceu em 19 de janeiro de 399, foi batizada por São João Crisóstomo em Constantinopla e muito nova ainda fez voto de virgindade, juntamente com as duas irmãs mais novas.
     Conta-se que ela e suas irmãs, virgens como ela, entoavam os Salmos e com isto continham os bárbaros. Grande devota de Nossa Senhora, ela construiu várias igrejas em sua honra em Bizâncio.
     Quando seu pai, Arcádio, morreu, em 414, foi proclamada "augusta" tendo apenas quinze anos, e passou a governar tutelando seu irmão, Teodósio II, dois anos mais novo do que ela. Assumiu todas as responsabilidades do governo e raras vezes viu-se tanta prudência aliada à tamanha precocidade.
     O palácio imperial quase havia se tornado um convento, porque dia e noite ali as saudações divinas eram cantadas, lia-se a Sagrada Escritura, jejuava-se e faziam-se trabalhos manuais. Pulquéria, tendo como conselheiro o Patriarca Atiço, tornou-se defensora da ortodoxia católica, emanando leis contra os hereges de vários movimentos, impedindo o acesso de pagãos aos cargos públicos, moderando a influência dos judeus na vida do império. Em 417, ela restabeleceu a comunhão entre a Sé Apostólica e o patriarcado de Constantinopla.
     Quando Teodósio chegou aos vinte anos, Pulquéria concorreu para que ele desposasse Atenaide, filha de um filósofo pagão de Atenas. O casamento aconteceu em 7 de junho de 421. Batizada com o nome de Eudóxia, esta princesa acabou por perseguir a cunhada, por esta exercer influência sobre Teodósio. Pulquéria teve que se retirar da corte.
     Na realidade, a heresia de Eutíquio (378-454), superior de um mosteiro de Constantinopla, havia agravado a tensão entre as duas damas, que estavam em posições opostas.
     Pulquéria se retirou no seu palácio de Ebdomon, e ali residia quando a 13 de junho de 449 o Papa São Leão Magno, em luta contra o herege Eutíquio, enviou-lhe várias cartas pedindo insistentemente que viesse em auxílio da ortodoxia ameaçada. Com uma carta datada de 17 de março de 450, a Augusta Pulquéria respondeu afirmativamente ao pedido do Papa.
     Eutíquio tinha, com efeito, caído nas boas graças do Imperador Teodósio II, e a heresia triunfava então na sé de Constantinopla. Bastou que Pulquéria aparecesse na corte para acabar com tais abusos. Estimulou a convocação do Concílio de Calcedônia que condenou o eutiquianismo e seus adeptos. Ela também foi envolvida na controvérsia que teve como protagonista São Flaviano, patriarca de Constantinopla, episódio que expôs o erro de Teodósio II, e também contribuiu para a volta de Pulquéria à corte.
     Em 28 de junho de 450, com o falecimento de Teodósio, Eudóxia foi afastada e Pulquéria tornou-se senhora absoluta do Império, então ameaçado por Átila, rei dos hunos.
     A fim de estabilizar a sua autoridade, Pulquéria decidiu casar-se com o General Marciano, que respeitou seu voto de virgindade. O General Marciano perseguiu os partidários dos heresiarcas Nestório e Eutíquio, e obrigou Átila a afastar-se das fronteiras.
     Durante o Concílio de Calcedônia (451), do qual participaram também os soberanos bizantinos, na presença de seu marido, o Imperador Marciano, Pulquéria foi aclamada como a nova Santa Helena, defensora e salvadora da Cruz de Cristo.
     Entre o Papa São Leão Magno e os soberanos se estabeleceu uma correspondência intensa para consolidar as normas do Concílio, e quando surgiram sucessivas agitações heréticas, especialmente na Palestina (453), Pulquéria interveio com duas cartas dirigidas aos monges palestinos e a São Bassa e suas monjas.
     A Imperatriz Pulquéria faleceu no terceiro ano de reinado de Marciano, no mês de julho de 453. No seu testamento, ela deixou todos os seus bens para os pobres.
     Os historiadores bizantinos mencionam, entre suas obras, a construção de suntuosos templos em honra dos mártires, de numerosos mosteiros, hospitais, aos quais destinava dotes para seu sustento.
     Algumas de suas obras: a Igreja dos 40 Mártires de Sebaste, o Santuário dedicado a Santo Estevão, que abriga a relíquia da mão direita do protomártir, uma igreja em honra ao Profeta Isaias, a Igreja de São Mena. Santa Pulquéria é recordada também por ter dado início, em 449, e depois com o apoio de Marciano, à construção de santuários marianos.
     O corpo de Santa Pulquéria foi sepultado na Igreja dos Santos Apóstolos de Constantinopla, aonde já repousavam São Gregório de Nazianzeno, São João Crisóstomo e São Flaviano. O sucessor do Imperador Marciano, Imperador Leão (457-474), cheio de admiração pela Imperatriz falecida, fez colocar uma imagem dela sobre seu túmulo.
     No Ocidente, o culto de Santa Pulquéria teve novo impulso com o Papa Bento XIV. Seu decreto de 2 de fevereiro de 1752 estendia o culto de Santa Pulquéria e de São Marciano, com Missa própria, a uma boa parte da Europa, e elogiava os valores altamente expressivos do casto casamento dos soberanos.
     Santa Pulquéria é recordada no dia 10 de setembro e, junto com São Marciano, São Flaviano e São Leão, no dia 17 de fevereiro. Ela recebeu o título de "custódia da Fé" devido a sua grande participação na defesa da ortodoxia católica.