sexta-feira, 9 de março de 2012

Santa Catarina de Bolonha

       

       Catarina Vegri nasceu no dia 08 de setembro de 1413, na cidade de Bolonha, Itália. Seu pai era o estimado juiz João de Vegri e trabalhava para a corte local, bem situado socialmente, dispunha de razoável conforto para a família. Quando a menina completou nove anos de idade, a família se transferiu para Ferrara, porque seu pai tinha sido convocado pelo duque Nicolau III, que estava construindo seu ducado, composto pelas cidades de Ferrara, Modena e Reggio. E ela foi nomeada dama de companhia de Margarida, filha de Nicolau.
         Dessa forma Catarina vivia na florescente corte, cercada pela nata de artistas e intelectuais. Aprendia música, pintura, dança e as tradicionais matérias acadêmicas, com os renomados da época, mas demonstrava vontade e determinação de se tornar religiosa. E foi o que fez quando toda essa opulência terminou, com a morte prematura de seu pai. Catarina tinha então treze anos e teve de voltar para Bolonha, com sua mãe Benvinda Manolini, que se casara outra vez.
          Após um ano de luto ela ingressou na Ordem terceira de São Francisco, em Bolonha, onde permaneceu por cinco anos, vividos sob intensos conflitos interiores e angustias pessoais. Amadurecendo a idéia de se tornar uma clarissa, em 1432, retornou para Ferrara para ingressar na Ordem de Santa Clara, onde trabalhou incessantemente fiel às Regras fazendo todos os tipos de serviços. Lavou pratos, cuidou da horta, da portaria, ensinou catecismo, escreveu novas orações e compôs novos cantos, até finalmente ser eleita abadessa, para administrar o convento que se tornou famoso e muito procurado. Tudo indicava que era necessário fundar mais um, e Catarina, como abadessa que era, o construiu em Bolonha, inaugurando-o em 1456. Nele ela viu ingressar sua mãe, que de novo se encontrava viúva.
         Contam os registros e a tradição que Catarina possuía vários dons especiais. Enriquecidos pelo trabalho árduo e sofrimento pessoal, traduziram-se através de visões contemplativas e fatos prodigiosos, inclusive por graças, que operou em vida. De suas contemplações, a mais conhecida foi a primeira, que lhe possibilitou presenciar o juízo final e que a marcou por toda a vida. Outra bastante divulgada foi a que ocorreu na noite de Natal de 1456. Catarina ficou orando a noite toda e, no fim da madrugada, lhe apareceu Nossa Senhora com o Menino Jesus no colo, que depois passou para os seus braços.
         Quanto aos prodígios, um foi presenciado por todo o convento. Certo dia uma noviça feriu-se trabalhando na horta, decepando um dedo do próprio pé com a pá que manuseava. Então, Catarina apanhou o dedo amputado, colocou no lugar, rezou com a noviça e o dedo voltou a se unir à pele. São célebres também as graças pelas conversões que ela conseguiu.
         A fama de sua santidade se propagou ainda em vida entre os fiéis. Mas logo depois de sua morte no dia 09 de março de 1463, passou a ser chamada de santa por todos, pelos prodígios e graças que logo ocorreram no local de sua sepultura. Tanto que dezoito dias depois, seu corpo foi exumado, para ser transladado e aí se constatou que ele estava incorrupto, maleável e exalando um doce perfume.
       Desde então, ela não foi mais sepultada, foi colocada sentada numa cadeira, na capela ao lado do altar mor da igreja do convento Corpus Domini, em Bolonha. E assim permanece até hoje, sem se deteriorar, apesar dos vários séculos transcorridos. O culto à Santa Catarina Vegri ou da Bolonha foi autorizado em 1712 pelo papa Clemente XI e o dia de sua morte escolhido para sua veneração litúrgica.


Os restos mortais de Santa Catarina de Bolonha, sentada, na Igreja de Corpus Domini, em Bologna, Itália

São Gregório de Nissa, bispo e doutor da Igreja


Gregorius von Nyssa.jpeg

        Os registros e a tradição trazem poucos dados sobre a vida de Gregório de Nissa, antes dele se tornar sacerdote. Mas, existe a literatura teológica que nos dá luz sobre seus pensamentos e seu modo de agir em relação ao cristianismo, que ele mesmo escreveu e nos deixou. Ele nasceu na Cesarea da Capadócia, Turquia entre os anos 330 a 335. Seus pais Basílio, apelidado de "o velho", e Amélia, tiveram dez filhos dos quais: Gregório, Pedro, Basílio e Macrina, se tornaram santos. Sem contar o avô, que morreu mártir e a avó, da qual a irmã herdou o nome, e que a Igreja também venera.
        Gregório estudou em Atenas, e se interessou especialmente pelos principais autores clássicos da razão, como Platão e Aristóteles, mas também os da fé, como Orígenes e Metódio de Olimpo. Mais tarde se casou e foi lecionar. Ao se tornar viúvo abandonou o cargo de professor, para se dedicar só ao Cristianismo. Sob a orientação e influência de Gregório Nazianzeno, que também é celebrado e com quem ele convivera, foi motivado a seguir a vida religiosa à exemplo dos seus irmãos. Optando pela monástica, se isolou num mosteiro do qual saiu somente quando, em 371, foi nomeado bispo de Nissa, na Capadócia.
        Tornou-se um teólogo conhecido e respeitado através de seus famosos trabalhos dogmáticos, dos quais "Grande Catequese" é considerado o principal. Dentre suas obras importantes, encontramos também o "Livro sobre a Virgindade", referente a Maria, Mãe de Deus. Todas escritas durante o tempo vivido na solidão das margens do rio Íris, onde se isolara com seu irmão Basílio, que depois se tornou bispo da Cesarea.
        Amante da solidão e do estudo, foi a contragosto que assumiu a diocese de Nissa. Sua bondade e falta de senso prático eram tão notórias, que muitos a consideravam ingenuidade. Tanto que, nesse cargo, Gregório viu-se acusado de desperdiçar bens da Igreja, sendo, de repente, deposto e mandado ao exílio, no ano 376, período em que faleceu seu irmão Basílio. Entretanto, dois anos depois, provou que tudo não passou de uma trama dos hereges arianos, porque as acusações não foram fundamentadas e Gregório teve sua inocência reconhecida. Aclamado pelos fiéis e pelo povo, reassumiu a diocese.
        Depois desse episódio do exílio, o conceito de Gregório de Nissa subiu muito no mundo cristão e ele resolveu inúmeras divergências entre as igrejas orientais, sendo o mediador de questões doutrinárias ou mesmo administrativas. Cumpriu também missões determinadas pelo próprio imperador. Ele teve participações decisivas nos concílios: de Antioquia e o de Constantinopla, em 394, onde se definiu a "coluna da ortodoxia". Colocou a paz entre as Igrejas da Arábia e da Palestina.
       Há muitos pontos em comum entre Gregório de Nissa e Tomás d'Aquino se compararmos, no trabalho de ambos, o cuidado em dar aos problemas enfrentados, cada um à sua época, uma resposta em sintonia com os dados da fé e as exigências da razão. Gregório de Nissa é considerado um dos padres orientais mais expressivos do século IV. Ele morreu entre os anos 395 a 400 e sua festa se comemora no dia 09 de março.

Santa Francisca Romana, viúva e fundadora

       

        Francisca Romana tem uma importância muito grande na história da Igreja, por ser considerada exemplo de mulher cristã a ser seguido por jovens, noivas, esposas, mães, viúvas e religiosas, pelo modelo que foi.
        Francisca Bussa de Buxis de Leoni nasceu em 1384, em uma nobre e tradicional família romana cristã e, desde jovem, manifestou a vocação para uma vida de piedade e penitência. Queria ser uma religiosa, mas seu pai prometeu-a em casamento ao jovem Lourenço Ponciano, também cortejado por ser nobre e muito rico. Contudo, era um bom cristão e os dois se completaram, social e espiritualmente. Tiveram filhos, cumpriam suas obrigações matrimoniais com sobriedade e serenidade, respeitando todos os preceitos católicos de caridade e benevolência. Dedicavam tanto tempo aos pobres e doentes que sua rica casa acabou se transformando em asilo, ambulatório, hospital e albergue, para os necessitados e abandonados.
         O casal teve seis filhos que deveriam ser apenas fontes de felicidade para os pais, porém acabaram por se tornar a origem de muita dor e sacrifício. Numa sucessão de acontecimentos Francisca viu morrer três de seus filhos. Roma, naquela época, atravessou períodos terríveis de sua história, sendo flagelada por duas guerras, revoluções, epidemias, fome e miséria. Francisca ainda assistiu outro dos filhos ser feito refém, enquanto o marido se tornava prisioneiro, depois de ferido na guerra. Mesmo assim, continuou sua obra de caridade junto aos necessitados, vendendo quase tudo que tinha para mantê-la. Foi justamente nesse período que recebeu o título de "Mãe de Roma".
         Freqüentava a igreja de padres beneditinos de Santa Maria Nova e ali reuniu as ricas amigas da corte romana para trabalharem em benefício da sociedade. Mesmo sem vestirem hábito algum, sem emitirem votos e sem formarem uma família religiosa, pois, viviam uma vida normal de mães e donas de casa, mas encontrando tempo para se dedicarem à comunidade carente. Quando o marido morreu, Francisca entregou-se de maneira definitiva à vida religiosa, fundando com algumas dessas companheiras, também viúvas, a Ordem das Irmãs Oblatas Olivetanas de Santa Maria Nova.
         Tinha cinqüenta e seis anos quando morreu, no dia 09 de março de 1440, depois de ser eleita superiora pelas companheiras de convento. Sua biografia oficial registra ainda várias manifestações da graça do Senhor em sua vida, como a presença constante e real de um anjo da guarda.
          Foi proclamada Santa Francisca Romana em 1608 e considerada mística, pela Igreja. Narram os registros que, quando morreu, foram necessários três dias para que toda a população de Roma pudesse visitar seu caixão, de tanto que era admirada e querida pelo povo, devotos e fiéis.


Restos mortais de Santa Francisca Romana, em Roma


Uma das visões de Santa Francisca, a Virgem Maria lhe dá o menino Jesus


Igreja de Santa Francisca Romana

quinta-feira, 8 de março de 2012

Beato Faustino Miguez

         

         Etimologicamente significa “afortunado”. Vem da língua latina. A família e, no seu caso, o próprio lugar montanhoso em que vivia, o fizeram um jovem trabalhador, sensível ao olhar de Deus na natureza e nas pessoas. Veio ao mundo num povo de Orense, Espanha, no ano 1831.
          Os pais o enviaram a que estudasse no santuário de Nossa Senhora dos Milagres da capital. Vendo a rectidão e a felicidade daqueles professores, sentiu o desejo de ser sacerdote esculápio com o fim de dedicar-se por inteiro ao trabalho pastoral e educativo nos colégios. Ordenado de sacerdote, foi destinado ao colégio de Getafe, Madrid. Deste centro, como é habitual nos religiosos dedicados à educação, foi passando por muitos outros centros.
           Gostava das ciências naturais. Desde pequeno as apreciava naquelas paragens de sua terra natal. Não gostava de figurar em nada. Seu prazer era a obra a favor dos meninos e jovens. Tratava-os com muita amabilidade, respeito e afeito. Só buscava fazer-lhes o bem humano e espiritual. Era um verdadeiro mestre amigo das pessoas. Seus tempos livres empregava-os escrevendo livros simples sobre ciências naturais. E como sacerdote, gostava muito de estar horas e horas no confessionário.
           Homem com grandes dotes científicas. Não passou de largo ante a dor físico dos homens de seu tempo, sobre eles quis derramar o azeite do amor e da ciência para aligeirar o peso de seu sofrimento. Foi em Guanabacoa onde observa o uso pelos habitantes das plantas com fins terapêuticos, e sente-se atraído por isso. Pôs seus estudos e dotes científicos ao serviço de quem sofre a enfermidade.
           Como o samaritano que percorre os caminhos do mundo, desde seu olhar atento, não passa ao largo ante a dor física dos homens de seu tempo, sobre eles quis derramar o azeite do amor e da ciência para aligeirar o peso de seu sofrimento. Faustino tem a ocasião de conhecer mais de perto e de forma mais continuada a utilidade terapêutica das plantas. Inicia suas experiências com a flora do país que continua no seu regresso à Península.
          Em 1872 o Ayuntamiento de Sanlúcar de Barrameda encarregam-no da análise das propriedades curativas das águas dos mananciais da cidade. Deus concedeu-lhe o dom de curar a enfermos. Muitos outros acudiam a ele para lhe fazer consultas sobre plantas medicinais. Elabora uns preparados medicinais, A Direção Geral de Saúde registou, no ano 1922, doze de seus preparados a que se deu o nome de "Específicos Miguez", dando origem a uns dos legados do P. Faustino, o "Laboratório Miguez". Este surge da conjunção de vários rasgos característicos nele: caminhar próximo das necessidades dos homens, a preocupação pelo que sofre no corpo, o amor à ciência e a convicção que tem que Deus colocou na natureza os meios suficientes para curar a enfermidade, e precisamente nas plantas.
          O Padre Faustino sabe que as meninas de seu tempo são "as esposas e mães de amanhã", descobre nelas "a apóstola da família, a parte mais interessante da sociedade, a portadora de paz, e a alma da família ". Desde sua experiência, descobre a necessidade que tem a meninice feminina de alguém que a guie pelo caminho da promoção humano-cristã. Sua resposta para fazer presente o Reino entre os marginados com um novo projeto de fundação: a Congregação de Filhas da Divina Pastora cujo fim é:" formar o coração e ilustrar a inteligência do belo sexo para fazer culto e civilizado segundo o espírito de Jesus Cristo, a fim de que seja um dia a alma da família e a salvação da sociedade".Já ancião, aos 94 anos morreu em Getafe em 8 de março de 1925. João Paulo II o beatificou em 23 de Outubro de 1998. 

São João de Deus, confessor e fundador


São João Cidade Duarte nasceu no dia 08 de março de 1495 em Montemor-o-novo, perto de Évora, Portugal.
Seu pai era vendedor de frutas na rua. Da sua infância sabemos apenas que, João, aos oito ou fugiu ou foi raptado por um viajante, que se hospedou em sua casa. Depois de vinte dias, sua mãe não resistiu e morreu. O pai acabou seus dias no convento dos franciscanos, que o acolheram.
Enquanto isso, João foi à pé para a Espanha rumo à cidade de Madrid, junto com mendigos e saltimbancos. Nos arredores de Toledo, o viajante o deixou aos cuidados de um bom homem, Francisco Majoral, administrador dos rebanhos do Conde de Oropesa, conhecido por sua caridade.
Foi nessa época que ganhou o apelido de João de Deus, porque ninguém sabia direito quem era ou de onde vinha.
Por seis anos Francisco o educou como um filho, ao lado de sua pequenina filha. Dos catorze anos até os vinte e oito João trabalhou e viveu como um pastor. E quando Francisco decidiu casa-lo com sua filha, de novo ele fugiu, começando sua vida errante.
Alistou-se como soldado de Carlos V e participou da batalha de Paiva, contra Francisco I. Vitorioso, abandonou os campos de batalha e ganhou o mundo.
Viajou por toda a Europa, foi para a África, trabalhou como vendedor ambulante em Gibraltar. Então, qual filho pródigo, voltou à sua cidade natal, onde ninguém o reconheceu, pois os pais já tinham falecido; novamente rumou à Espanha, onde abriu uma livraria em Granada.  
Nessa cidade, em 1538, depois de ter ouvido um inflamado sermão proferido por João d'Ávila, que a Igreja também canonizou, arrependido dos seus pecados e tocado pela graça, saiu correndo da igreja, e gritou: "misericórdia, Senhor, misericórdia".
Todos riram dele, mas João de Deus não se importou. Distribuiu todos os seus bens aos pobres e começou a fazer rigorosas penitências. Tomado por louco foi internado num hospital psiquiátrico, onde foi tratado desumanamente. Depois de ter experimentado todas as crueldades que aí se praticavam e orientado por João d'Ávila decidiu fundar uma casa-hospitalar, para tratar os loucos. Criou assim uma nova Ordem religiosa, a dos Irmãos Hospitaleiros.
Ao todo foram mais de oitenta casas-hospitalares fundadas, para abrigar loucos e doentes terminais. Para cuidar deles, usava um processo todo seu, sendo considerado o precursor do método psicanalítico e psicossomático, inventado quatro séculos depois por Freud e seus discípulos.  
João de Deus, que nunca se formou em medicina, curava os doentes mentais utilizando a fé e sua própria experiência. Partia do princípio de que curando a alma, meio caminho havia sido trilhado para curar o corpo.
Ele sentia a dualidade da situação do doente, por tê-la vivenciado dessa maneira. João de Deus sentia-se pertencer ao mundo dos loucos e ao mundo dos pecadores e indignos e, por isso, se motivou a trabalhar na dignificação, reabilitação e inserção de ambas as categorias.
Um modelo de empatia e convicções profundas tão em falta, que várias instituições seguiram sua orientação nesse sentido, tempos depois e ainda hoje.
Em seguida João de Deus e seus discípulos passaram a atender todos os tipos de enfermos. Seu mote era: "fazei o bem, irmãos, para o bem de vós mesmos".  
Ele morreu no mesmo dia em que nasceu, aos cinqüenta e cinco anos, no dia 8 de março de 1550.
Foi canonizado pelo Papa Leão XIII que o proclamou padroeiro dos hospitais, dos doentes e de todos aqueles que trabalham pela cura dos enfermos.
Hoje a Ordem Hospitaleira São João de Deus, é um instituto religioso, internacional, com sede em Roma, composto de homens que por amor a Deus se consagram à hospitalidade misericordiosa para com os doentes e necessitados em quarenta e cinco países do mundo.

 

São João de Deus, rogai por nós

quarta-feira, 7 de março de 2012

Beato José Olallo Valdés

 
            O Beato José Olallo Valdés nasceu em La Habana, Ilha de Cuba, em 12 de Fevereiro de 1820. Filho de pais desconhecidos, foi confiado à Casa Berço São José de La Habana, onde no mesmo dia 15 de Março de 1820 recebeu o baptismo. Viveu e foi educado na mesma Casa Berço até aos 7 anos, e depois na de Beneficência, manifestando-se um rapaz sério e responsável; com a idade de 13-14 anos ingressou na Ordem Hospitalária de São João de Deus, na comunidade do hospital dos santos Felipe e Santiago, da Habana.
            Superando os obstáculos que pareciam interpor-se à sua vocação, mantém-se constante na sua decisão, emitindo a profissão como religioso hospitalário. Em abril de 1835 foi destinado à cidade de Porto Príncipe (hoje Camagüey), incorporando-se na comunidade do Hospital de São João de Deus, onde se dedicou pelo resto de sua vida ao serviço dos enfermos, segundo o estilo de São João de Deus; em 54 anos somente uma noite se ausentou do hospital, e por causas alheias à sua vontade. De enfermeiro ajudante, aos 25 anos passa a ser o "Enfermeiro Mor do hospital", e depois, em 1856, Superior da Comunidade.
             Viveu enfrentando grandes sacrifícios e dificuldades, mas sempre com rectidão e força de ânimo: sua vida consagrada à hospitalidade não se sentiu afectada durante o período da supressão das Ordens Religiosas por parte dos governos liberais espanhóis, ainda que tenha comportado também a confiscação dos bens eclesiásticos. De 1876, em que morreu seu último irmão de Comunidade, até à data de sua morte, em 1889, ficou sozinho, mas seguiu com a mesma magnificência ocupando-se da assistência dos enfermos, sempre fiel a Deus, à sua consciência, à sua vocação e ao carisma, humilde e obediente, com nobreza de coração, respeitando, servindo e amando também os ingratos, os inimigos e aos invejosos, sem nunca abandonar seus votos religiosos.
            No período da guerra dos 10 anos (1868-1878) mostrou-se cheio de coragem, na custódia dos que tinha a seu cuidado, sempre prudente e sem rancor, trabalhando em favor de todos, mas com preferência pelos mais fracos e pobres, pelos anciãos, órfãos e escravos. Cedeu ante as exigências das autoridades militares de converter o centro em hospital de sangue para seus soldados, mas sem deixar de seguir acolhendo os mais necessitados dos civis, sem fazer distinções de ideologia, raça nem religião.
            Durante os momentos e situações mais difíceis dos conflitos bélicos, ainda pondo em perigo sua própria existência, com “doce firmeza”, socorria assistindo aos prisioneiros e feridos da guerra, sem ter em conta sua proveniência social ou política, defendendo inclusive aos que não tinham permissão do governo para que os curasse, não se deixando intimidar com ameaças, nem proibições, e obtendo por tudo isso o respeito e a consideração das próprias autoridades militares.
           Ante as autoridades também foi capaz de interceder em favor da população de Camagüey num momento de especial tensão e perigo, evitando um massacre civil. Perseverante na vocação, através de sua bondade doce e serena fez do quarto voto de Hospitalidade, próprio dos religiosos de São João de Deus, não só um ministério de amor e serviço para com os enfermos, mas um modo de ardente apostolado, destacando-se na assistência aos moribundos e agonizantes, aos quais acompanhava nas últimas horas de sua existência, na passagem para uma vida melhor. Se distinguiu, pois, sempre por sua infinita bondade, sendo chamado com os apelativos de “apóstolo da caridade” e “pai dos pobres”, que sintetizam perfeitamente o heroico testemunho do Beato Olallo.
           Modesto, sóbrio, sem aspirações de nenhum género mas sim de estar consagrado unicamente a seu ministério misericordioso, renunciou ao sacerdócio e se caracterizou por seu espírito humanitário e competência sanitária, inclusive como médico-cirurgião, ainda que autodidata. Viveu longe das aclamações, recusando as honras para poder fixar seu olhar somente sobre Jesus Cristo, que encontrava no rosto dos que sofriam.
           Sua humildade, em fidelidade a seu carisma, se manifestou na renúncia ao sacerdócio, quando foi convidado por seu Arcebispo, porque sua vocação era o serviço dos enfermos e pobres; os testemunhos, finalmente, nos falam de fidelidade total a sua consagração como religioso na prática dos votos de obediência, castidade, pobreza e hospitalidade.
            Sua morte, ocorrida em 7 de março de 1889, foi tida como a “morte de um justo”: falecimento, velada, funerais e sepultura, com o monumento-mausoléu, levantado depois por subscrição popular, expressavam reverência e veneração para quem foi seu admirado protetor. Desde então seu túmulo será visitado continuamente. Havia morrido mas permanecerá vivo no coração do povo, que o seguirá chamando “Pai Olallo”.
            A popular fama de santidade que o rodeava nascia de sua vida de homem modesto, justo e de ânimo generoso, enquanto modelo de virtudes com um coração ardente de amor por “meus irmãos prediletos”: sóbrio, gozoso, afável, mas sobretudo excelso servidor da caridade. O Beato Olallo soube ser um fiel imitador de seu Fundador. Deus foi sua vida e, em consequência, iluminado pelo amor de Deus, devolveu da mesma maneira tanto amor. “Deus ocupou o primeiro posto em suas intenções e em suas obras: fixos seus olhos no bem levava a Jesús constantemente na alma”.
             Esta heroica caridade tinha sua base numa fé que reconhecia em “Deus a seu próprio pai, e em Jesús o centro de sua vida, o fundamento de seu serviço de amor e de sua misericórdia; Jesús crucificado foi o segredo de sua fidelidade ao amor de Deus que motivava cada uma de suas obras”. Sendo de espírito tenaz, foi sempre dócil aos desígnios de Deus para enfrentar e sustentar melhor as duras e quotidianas tarefas impostas pelo trabalho hospitalário e as situações difíceis e delicadas que comportavam riscos para sua própria vida, sempre tratando de obter o bem de seus enfermos.
            Com a morte do Padre Olallo e de imediato, sua fama de santidade foi aumentando cada dia mais, principalmente entre o povo de Camagüey, que atribuía a sua intercessão graças e ajuda continuas. Aberto o ano 1990, em correspondência com o centenário de sua morte, o Processo de estudo da Causa de sua santidade na diocese de Camagüey, Cuba, foi reconhecida a heroicidade de suas virtudes em 16 de dezembro de 2006. Igualmente, depois da celebração do Processo diocesano sobre um possível milagre, ocorrido em favor da cura da menina, Daniela Cabrera Ramos, de 3 anos, na mesma diocese de Camagüey, sua cura foi reconhecida como verdadeiro milagre por sua Santidade Bento XVI com Decreto de 15 de março de 2008.
            A cerimónia de Beatificação do Padre Olallo Valdés teve lugar na cidade de Camagüey, Cuba, em 29 de novembro 2008, presidida por Sua Eminência o Cardeal José Saraiva Martins.

São Paulo, o simples, eremita

         

          Discípulo e imitador de Santo Antão do deserto. Era um simplório, que a mulher enganava, mas não acreditava quando lho vinham dizer. Finalmente, apanhou-a em flagrante e então deixou-a, indo para o deserto.
          Santo Antão disse-lhe: “Aos 60 anos és velho demais para te fazeres monge”; e o Santo fingiu não fazer caso dele. Mas o aspirante a monge ficou a imitá-lo. Ajoelhava-se Antão? Paulo caía de joelhos. Comia ou bebia? Paulo fazia o mesmo.
          Quando Antão se voltava contra o demónio, Paulo não gritava menos. Passados 15 dias, Antão permitiu-lhe estabelecer-se numa gruta vizinha, e durante um ano instruiu-o sobre os caminhos da vida espiritual.
          Paulo recebeu, em seguida, tantas graças que se tornou um dos solitários mais célebres da Tebaida (Egito). Morreu pelo ano de 340