sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Beata Adelaide de Susa, marquesa


     Em várias crônicas beneditinas ela é chamada de "Beata Adelaide", mas o seu culto nunca foi reconhecido oficialmente.
     Filha primogênita e herdeira do Conde Olderico Manfredo II, Marquês de Susa e Conde de Turim e de Berta Obertagna dos Marqueses d'Este, Adelaide nasceu no castelo de Susa entre 1010 e 1016.
     A mãe morreu jovem, depois de ter dado à luz quatro filhos: Adelaide, Imila, Berta e um filho que morreu muito jovem em 1034. O marquês, seu pai, tendo ficado viúvo, dividiu os seus bens entre as três filhas, dos quais a maioria (todas as terras entre Ivrea e Ventimiglia) foi legada à filha mais velha, Adelaide. Mas, o poder dos marqueses de Susa e condes de Turim era principalmente militar, não transmissível a uma mulher, então, quando seu pai morreu, a jovem marquesa, qualificada em muitos textos como princesa, com apenas dezesseis anos, em 1035, casou-se com Hermano III, Duque da Suábia.
     Foi um casamento de curta duração, porque o Duque Hermano morreu de peste em julho de 1038, sem ter tido um filho. Adelaide, que tinha 19 anos, casou-se novamente com Henrique I, Marquês de Monferrato, mas em 1044 ela ficou viúva novamente. Por razões de Estado foi necessário recorrer a um terceiro casamento e a jovem viúva casou-se em 1045 com Odom I (1020 ca – 19/2/1059), Conde de Saboia, Aosta, Maurienne, segundo filho de Humberto I Biancamano de Sabóia.
     Nos 14 anos de casamento, cinco crianças nasceram: Pedro I († 1078), Amadeu II († 1080) Berta († 1087), Adelaide († 1079), Odon († 1102), futuro Bispo de Asti; quatro deles morreram antes da mãe, de novo viúva em 1059.
     Digna neta de Arduino de Ivrea, seu bisavô, que em 976 expulsou os sarracenos do Vale de Susa, Adelaide passou a maior parte da adolescência entre as armas, vendo as guerras e os massacres de perto, vestindo ela também sua armadura e usando armas.
     Apesar de ser bela, considerava a beleza e a riqueza como coisas transitórias, avaliando as virtudes como a glória duradoura. Dotada de um temperamento forte, não protelava, caso necessário, punir a corrupção em grandes personagens da região, incluindo até mesmo os bispos, enquanto premiava magnanimamente as ações nobres e as atividades beneficentes. Acolhia na sua corte menestréis e trovadores, mas queria que suas canções sempre fossem usadas para incitar à virtude, à religião e à piedade.
     Fundou em suas propriedades muitas igrejas e mosteiros que se tornaram depois centros de divulgação do patrimônio de estudos e de história; mandou restaurar a igreja de São Lourenço em Ouls (Turim), que como muitas outras havia sido destruída pelos sarracenos.
     Sua proteção a muitos mosteiros fundados no Piemonte, Valle d'Aosta e Saboia era tal, que São Pedro Damião († 1072), Bispo e Doutor da Igreja, seu contemporâneo, pode dizer: "Sob a proteção de Adelaide os monges vivem como pintainhos sob as asas da galinha".
     Ela era amada pelos italianos da época, que geralmente a chamavam de "a Marquesa dos Alpes", foi estimada por seus súditos e temida pelos seus adversários. Nos longos anos de viuvez, foi capaz de manter o poder com notável habilidade e sabedoria, de modo que o já mencionado São Pedro Damião escreveu a ela: "Tu, sem a ajuda de um rei, sustentas o peso do reino, e a ti recorrem aqueles que desejam adicionar às suas decisões o peso de um julgamento legal. Que Deus Todo-Poderoso te abençoe e a teus filhos de índole régia".
     Infelizmente, seus filhos que tanto amava foram para ela as dores mais fortes, porque os viu morrer ainda jovens, exceto o último, o Bispo Odon. Além disso, a filha Berta (1051-1087) foi protagonista involuntária da agitação política que varreu o império da Alemanha e o Papado. Seu marido, Henrique IV (1050-1106), imperador do S. R. I., rei da Alemanha, da Itália e Duque da Franconia, que ela havia desposado com quinze anos em 13 de julho de 1066, por seu caráter vicioso e tirânico, começou a hostilizar a casta donzela, agindo com grosseria, fazendo armadilhas para desacreditá-la e assim poder se livrar dela. Eclodiu uma tal hostilidade, que levou a pobre Berta a recolher-se na Abadia de Lorscheim, aguardando os acontecimentos.
     Henrique IV convocou um Concílio em Mainz para discutir o seu pedido de divórcio, contra o parecer de sua mãe, a imperatriz Agnes, ela também retirada em um mosteiro.
     O papa enviou como seu representante o Cardeal Bispo de Ostia, São Pedro Damião, que na discussão que se seguiu brilhantemente argumentou em favor da jovem Berta, convencendo todos os acusadores​​.
     A reação de Henrique IV foi grande, e não temendo a aversão dos súditos, continuou em seus propósitos e no final recebeu a excomunhão do Papa São Gregório VII (Hildebrando de Soana, † 1085).
     Apesar de ter sofrido muito com o marido ímpio, Berta mostrou ter um espírito elevado, incitando-o, com a ajuda de sua família no Piemonte, a ir pedir perdão ao papa. Adelaide, por intercessão da filha, concordou em acompanhar o ingrato genro até o papa, que era hóspede da Condessa Matilde em seu Castelo de Canossa (Reggio Emilia), acompanhada por seu filho Amadeu II.
     O imperador humilhado deveu muito mais a esta enérgica mulher do que à Condessa Matilde se o Papa Gregório VII concedeu termos e condições duras, mas viáveis, removendo a excomunhão, que havia resultado da desobediência do súdito. Entretanto, a humilhação foi grande o suficiente para entrar para a História, porque Henrique IV foi deixado por três dias fora do Castelo de Canossa no auge do inverno antes de ser recebido pelo papa. Isto ocorreu em 1077.
     Omitimos aqui a continuação da história de Berta e Henrique que voltaram para a Alemanha, e retornamos para a história de Adelaide, que neste caso doloroso da filha amada foi capaz de obedecer e honrar o Papa e não se indispôs com o Imperador, desintrincando entre as duas autoridades distintas, uma espiritual e outra temporal em luta aberta pelas investiduras eclesiásticas.
     Depois disto, Adelaide teve que agir como mediadora em uma disputa entre os seus dois genros: o mesmo Henrique IV e Rodolfo, Duque da Suábia, marido de sua outra filha, Adelaide.
     Nos últimos anos de sua vida, embora muito idosa, manteve sempre a mente lúcida; deixando todos os cuidados de governo ao seu sobrinho Humberto II, retirou-se primeiramente em Valperga aonde às vezes ia de pés descalços ao pequeno mosteiro de Colberg, distante apenas duas milhas, para honrar a Mãe de Deus venerada ali; o mosteiro mencionado tomou depois o nome de Belmonte.
     Sobre o fim da Marquesa Adelaide de Susa existem hipóteses conflitantes de vários estudiosos: o mais confiável é que depois de Valperga ela se mudou para uma pequena aldeia, Canischio (TO), talvez para fugir da peste, morreu ali, e foi sepultada na igreja São Pedro em 19 de dezembro de 1091.
     O testemunho de um estudioso diz que em 1775 lhe foi apresentado na igreja paroquial de Canischio o seu "mesquinhíssimo túmulo" em um estado de abandono que refletia o estado de vida modesta de seus últimos anos.
     A igreja mencionada foi destruída e de seu túmulo não há qualquer vestígio. Outra hipótese dos historiadores é que seus restos mortais foram transportados de Canischio para a Catedral de São João Batista em Turim, mas também ali não há pistas de seus despojos.