terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Beata Matilde do Sagrado Coração, fundadora


     Como em muitos casos, uma vocação forte, límpida, entusiasmada, contrasta com um pai que sonha para a própria filha um bom partido e um róseo porvir. Mas a fundadora da Congregação das Filhas de Maria Mãe da Igreja, educada desde pequena na fé católica, muito jovem havia decidido a se dedicar inteiramente a Nosso Senhor.
     Matilde Téllez Robles nasceu em Robledillo de la Vera, nas proximidades de Cáceres, Espanha, no dia 30 de maio de 1841, um dia de plenitude primaveril inundado pela luz da solenidade litúrgica de Pentecostes. No dia seguinte ela recebeu o Batismo na igreja paroquial.
     Matilde era a segunda dos quatro filhos de Félix Téliez Gómez e de sua esposa Basilea Robles Ruiz. No mês de novembro de 1841, devido à profissão de escrivão do pai, a família se estabeleceu em Béjar (Salamanca), cidade importante pela sua indústria têxtil.
     A mãe de Matilde era o centro do lar: desde muito pequenos seus quatro filhos eram ensinados a amar a Deus e a ficarem atentos às necessidades do próximo. O pai também era um bom cristão, mas, sendo um notário famoso, desejava uma vida social brilhante para seus filhos e ficou desiludido quando muito cedo sua filha manifestou claros sinais de vocação religiosa.
     E, como esta vocação não diminuiu com o passar dos anos, ele passou ao ataque cronometrando o tempo que ela passava na igreja e obrigando-a a freqüentar a sociedade. Obedecendo, ela se adorna e participa da vida social, encantando a todos com sua graça juvenil. Mas mesmo assim, a sua inclinação pelas coisas de Deus é clara, e o Sr. Félix, vencido pela constância da filha, deixa-a em liberdade para seguir o caminho por ela escolhido.
     A jovem se entregou a um apostolado intenso: preside as Filhas de Maria, na Conferência de São Vicente exerce a função de enfermeira, ensina catecismo, ajuda na paróquia, numa intensa atividade que tem como centro e inspiração um só pensamento: levar almas a Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Matilde se sente atraída pela Eucaristia; amando profundamente aquela presença silenciosa, passava horas em adoração, conciliando com inteligência a ação com a contemplação.
     Pouco tempo depois de completar 30 anos, numa carta escrita no dia 4 de maio de 1874 ao Papa Pio IX, confia o desejo cultivado há anos: fundar um instituto religioso. Mas foi o pai que, novamente, criou obstáculos, desta vez devido ao clima anticlerical que se respirava na Espanha.
     Matilde, no entanto, sofre em silêncio, reza e espera, confortada pelo seu diretor espiritual, Pe. Manuel da Oliva, sacerdote de São Filipe, até que seu pai lhe concedeu a desejada autorização.
     No dia 19 de março de 1875, festa de São José, após a Missa na Paróquia de Santa Maria, ela e sete companheiras deveriam, unidas e solidárias, seguirem para a casa onde dariam início à vida religiosa. Mas, das sete jovens comprometidas só uma se apresenta: Maria Briz. Diante desta grande provação Matilde não desanima. Fortalecidas com a Eucaristia, ela e a sua única companheira se dirigem alegres e esperançosas, com heróica intrepidez, para a «casita de Nazaret», como Matilde a denomina.
     Com Maria, Matilde acolhe em casa um grupo de órfãs, se dedica ao ensino das crianças pobres e passa de casa em casa para cuidar dos doentes.
     No dia 23 de abril de 1876, o bispo de Plasencia, D. Pedro Casas y Souto, autorizou provisoriamente a obra; no dia 20 de janeiro de 1878, Matilde e Maria vestem o hábito religioso naquela cidade. Nasceu assim, em meio às críticas de que aquela fundação era uma autêntica tolice, as “Adoradoras de Jesus e Filhas de Maria Imaculada”.
     No dia 19 de março de 1884, o mesmo bispo erige canonicamente a obra como Instituto religioso de direito diocesano, e no dia 29 de junho, a Fundadora com outras Irmãs emitem a profissão religiosa.
     Na sua casa se respirava o espírito de Nazaré, com a vida em torno do tabernáculo, sendo Nossa Senhora amada de um modo particular. Deste modo as Irmãs encontravam coragem para trabalhar até em uma terrível epidemia de cólera, para passar tanto tempo em adoração, para dedicar-se inteiramente aos pobres e aos doentes, fieis ao moto “oração, ação, sacrifício” transmitido a elas por Matilde.
     No dia 17 de dezembro de 1902, completamente consumida por sua dedicação, pelo trabalho intenso, pelas doenças, aos 61 anos, Matilde faleceu rodeada por suas filhas. Todo o povoado chorou a sua perda como se fosse uma mãe, proclamando ao mesmo tempo a sua grande caridade e as suas numerosas virtudes.
     Suas filhas hoje se chamam Filhas de Maria Mãe da Igreja, estão presentes na Espanha, em Portugal, na Itália, na Venezuela, Colômbia, Peru e México, e continuam a ser uma “eucaristia perene” como ensinou a Fundadora.     Matilde foi beatificada em 21 de março de 2002 por João Paulo II.