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     O coração da Santa ia-se dilacerando cada vez mais entre amores opostos: o do pai, de um lado, e o de Nosso Senhor Jesus Cristo, de outro. Verificou-se nela a palavra do Divino Mestre: "Não julgueis que vim trazer a paz a terra. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, e os inimigos do homem serão as pessoas da própria casa" (Mt. 10, 34-36). 
     A fim de converter seu pai, explicou-lhe as verdades eternas, mas Dióscoro, cego de ódio, tirou sua espada para matá-la. Tendo Bárbara corrido, seu pai a perseguiu com a espada na mão, até acuá-la junto a um rochedo. Quando ia desferir o golpe mortal, o rochedo abriu-se milagrosamente e a virgem conseguiu escapar. 
     Informado sobre o local onde ela se escondera, seu pai foi buscá-la. Agarrou-a violentamente, jogou-a por terra, espezinhou-a e, tomando-a pelos cabelos, arrastou-a até sua casa. Não conseguindo convencê-la, levou-a ao tribunal do pretor Marciano. Bárbara foi, então, flagelada com tal violência que seu sangue jorrou de todas as partes do corpo. Lançada num calabouço, Nosso Senhor apareceu-lhe, iluminando o local com um clarão sobrenatural, e curou suas chagas. 
    Mas o iníquo pretor ordenou novos suplícios. Seu corpo foi rasgado com pentes de ferro, e as novas chagas foram queimadas por tochas. 
     Como ela permanecia inflexível, o ímpio pretor ordenou que os seios da santa fossem amputados (o mesmo tormento que poucos anos depois sofreu Santa Águeda, padroeira da Sicília). 
     O pretor excogitou, então, o suplício que mais causaria dor à santa: seria despida e os carrascos a perseguiriam com chicotadas através das ruas da cidade. A castíssima donzela pediu a Deus que protegesse sua pureza. Novo milagre: uma luz descida do céu envolveu-a, livrando-a desse modo dos olhares impudicos. Depois disso o pretor mandou que ela fosse decapitada. 
     Assistindo a todos esses prodígios, seu pai não se deixou comover, mas quis ele mesmo desempenhar o papel de carrasco. Conduziu-a ao alto de uma montanha fora da cidade. Ali, estando a jovem de joelhos em atitude de oração, decepou-lhe a cabeça. Ao mesmo tempo em que sua cabeça caía separada do tronco, via-se a alma da mártir ser arrebatada ao Céu pelos Anjos. 
     Instantes depois do hediondo crime, num céu sem nuvens, um raio fulminou seu pai e o pretor Marciano. Este terrível castigo parece colocar os raios na dependência de Santa Bárbara, e explica a devoção dos fiéis, que sempre recorrem a ela nas grandes tempestades. 
     A veneração desta santa do Oriente passou para o Ocidente, sobretudo em Roma, onde, desde o século VII, se multiplicaram as igrejas e oratórios dedicados a seu nome. 
     Na iconografia católica Santa Bárbara é geralmente apresentada como uma virgem majestosa e altaneira, ostentando uma palma, simbólica de seu martírio, e um cálice como símbolo da proteção que costuma manifestar em relação aos moribundos, e, ao lado, uma espada, instrumento de seu martírio. 
  
O culto a Santa Bárbara 
|  |  | Capela dos 14 Mártires, Sta Maria Antiqua |  
     A mais antiga representação de Santa Bárbara consiste numa pintura encontrada na igreja de Santa Maria Antiqua, no Foro Romano (fundada no século VI). 
     A partir do século IX os testemunhos relativos ao culto da Santa - igrejas, oratórios, altares, mosteiros etc. - tornam-se cada vez mais numerosos, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Posteriormente, a Santa foi incluída entre os 14 Santos Auxiliadores e passou a ser invocada de modo especial para se obter a graça de recepção dos Sacramentos na hora da morte. 
     Os artilheiros e os mineiros escolheram Santa Bárbara como sua patrona, para que ela os proteja de toda a explosão que pudesse causar a morte, como o raio que fulminou o ímpio pai da Mártir. 
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