domingo, 15 de dezembro de 2013

Beata Virginia Centurione Bracelli, viúva e fundadora

                


             Virgínia Centurione, viúva Bracelli, nasceu aos 2 de abril de 1587 em Gênova, filha de Giorgio Centurione, Doge da República no biênio 1621-1622, e de Lélia Spinola, ambos descendentes de família da antiga nobreza. Foi batizada dois dias após o nascimento, obteve a primeira formação religiosa e literária da mãe e de um mestre domiciliar.
              O grande sonho de Virgínia era ir para o Claustro. Desde a infância manifestava inclinação para a vida religiosa, aos 10 anos revelou a sua mãe o seu desejo. A mãe que já conhecia os planos do marido prometeu levá-lo ao mosteiro quando ela completasse 20 anos. Porém aos 15 anos de idade, teve que aceitar a decisão do pai que havia contratado o seu casamento com Gaspar, filho único da família dos Bracelli Grimaldi.
              Aos 10 de dezembro de 1602, com apenas 15 anos, Virgínia se tornou esposa de Gaspar Bracelli, jovem e rico herdeiro de ilustre família, inclinado a uma vida desregrada e ao vício do jogo. Da união nasceram duas meninas: Lélia e Isabella.
              Enviuvando-se com apenas 20 anos, Virgínia fez voto de castidade perpétua, recusando as ocasiões de segundas núpcias propostas pelo pai e vivendo retirada na casa da sogra, ocupando-se da educação e da administração dos bens das filhas e dedicando-se à oração e à beneficência.
             Em 1610, sentiu mais claramente a particular vocação de “servir a Deus nos seus pobres”. Mesmo sendo controlada severamente pelo pai e sem jamais descuidar de seus deveres para com a família, começou a empenhar-se em favor dos necessitados.  A eles ajudava diretamente, seja distribuindo em esmolas, a metade de sua renda total, ou por meio das instituições beneficentes do tempo. Colocadas, convenientemente, as filhas em matrimônio, Virgínia dedicou-se em tempo integral, ao cuidado das crianças abandonadas, dos velhos, dos doentes e da promoção dos marginalizados.
             A guerra entre a República Ligure e o Duque de Savoia, auxiliado pela França, seminando a desocupação e a fome, induziu Virgínia, no inverno de 1624-1625, a acolher, inicialmente em casa, cerca de quinze jovens abandonadas e em seguida, com o aumento do número dos prófugos na cidade, quantos pobres, especialmente mulheres, que conseguiu, providenciando em tudo, para atender às necessidades deles.
             Com a morte da sogra em agosto de 1625, começou a receber, não somente as jovens que chegavam espontaneamente, mas ela mesma saiu pela cidade, indo aos quarteirões mal afamados, em busca daquelas mais necessitadas e em perigo de corrupção.  Para auxiliar as crescentes misérias, instituiu as Cem Damas da Misericórdia, protetoras dos pobres de Jesus Cristo, que aproximando da organização cívica das “Oito Damas da Misericórdia” tinha o dever específico de verificar diretamente, através de visitas a domicílio, as necessidades dos pobres, especialmente daqueles que sentiam vergonha de pedir auxílio.
            Ao intensificar a iniciativa de acolhida das jovens, sobretudo no tempo das pestes e da carestia de 1629-1630, Virgínia foi obrigada a alugar o convento vazio do Monte Calvário, para onde se transferiu aos 14 de abril de 1631 com as assistidas que colocou sob a proteção de Nossa Senhora do Refúgio.
             Após três anos, a Obra já possuía três casas, com cerca de trezentas internas. Virgínia então julgou oportuno, pedir o reconhecimento oficial ao Senado da República que o concedeu aos 13 de dezembro de 1635.
As assistidas de Nossa Senhora do Refúgio, tornaram-se para a Santa, as suas “filhas” por excelência, com as quais dividia a alimentação e as vestes, as instruía com o catecismo e as ensinava a trabalhar para que ganhassem o próprio sustento.
             Desejando dar à Obra, uma sede própria, após ter renunciado a compra do Monte Calvário por exigir um preço muito alto, comprou duas casas vizinhas sobre o morro de Carignano que, com a construção de uma nova ala e da igreja dedicada à Nossa Senhora do Refúgio, tornou-se a Casa Madre da Obra.
             O espírito que animava a Instituição fundada pela Bracelli, era largamente presente na Regra redigida nos anos 1644-1650. Nessa é decretado que todas as casas constituem a única Obra de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário, sobre a direção e a administração dos protetores (leigos nobres, designados pelo Senado da República); é também confirmada a distinção entre as “filhas” com hábito e as “filhas” sem hábito; todas porém, devem viver - mesmo sem votos - como as monjas mais observantes, em obediência e pobreza, trabalhando e rezando; devem por outro lado, serem prontas para prestarem serviços nos hospitais públicos, como se tivessem votos.
             Após a nomeação dos Protetores (3 de julho de 1641), que passaram a ser considerados os verdadeiros superiores da Obra, a Bracelli não se ocupou mais do governo da casa: era submissa à vontade deles e se conformava segundo o parecer deles, até mesmo na aceitação de jovens necessitadas. Vivia como a última das “filhas”, dedicada ao serviço de casa: saía de manhã e também a tarde, para mendigar o sustento para a convivência.
           Se interessara por todas como uma mãe, especialmente pelas doentes, dedicando a elas os mais humildes serviços.  Já nos anos precedentes, havia iniciado uma ação social saneadora, destinada a cuidar das raízes do mal e a prevenir as recaídas: os doentes e os inábeis eram internados em Institutos especiais; os homens válidos eram encaminhados para o trabalho; as mulheres deviam exercitar-se em tecelagem; as crianças deviam empenhar-se em freqüentar as escolas.  Com o crescer das atividades e dos esforços, Virgínia viu decrescer ao seu redor, o número das colaboradoras, particularmente as senhoras burguesas e aristocráticas que temiam comprometer a sua reputação ao tratar com gente corrupta e seguindo uma guia, embora tão nobre e santa, um pouco temerária nas empresas.
            Abandonada pelas suas auxiliares, substituída realmente pelos Protetores no governo de sua Obra, ocupando o último lugar entre as irmãs na casa de Carignano, enquanto a sua saúde física declinava rapidamente, Virgínia atingia nova força na solidão moral.  Aos 25 de março, obteve da República a acolhida da Virgem como protetora. Providenciou, juntamente com o Arcebispo da cidade a instituição das Quarenta Horas de adoração ao Santíssimo, que iniciaram-se em Gênova, no final de 1642, e a pregação das missões populares (1643). Interferiu para esclarecer as freqüentes e sangüinárias rivalidades que surgiam por fúteis motivos, entre as nobres famílias e os cavalheiros.
            Em 1647 obteve a reconciliação entre a Cúria Episcopal e o Governo da República; também entre eles, lutas por meras questões de prestígio. Sem jamais perder de vista os mais abandonados, era sempre disponível a todos os que a ela se dirigiam para receber ajuda, independentemente da proveniência social.
           Agraciada pelo Senhor com êxtases, visões, locuções interiores e outros dons místicos especiais, após uma longa e profícua caminhada na Terra, Virgínia falece no dia 15 de dezembro de 1651, com 64 anos de idade.
Seu corpo permaneceu sepultado no Convento de Santa Clara, em Gênova, até 1801, por exatos 150 anos.
            Após essa data foi retirado intacto e transportado novamente para o Monte Calvário. Em 1872, quando as Irmãs se transferiram para a casa de Marassi em Gênova, o corpo de Virgínia foi transferido com elas, onde permanece incorrupto até hoje.



File:Virginia Centurione body.jpg

Corpo da Beata Virginia