domingo, 7 de agosto de 2011

Santos Padres da Igreja




hamamos de «Padres da Igreja» (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Certa vez disse o Cardeal Henri de Lubac:
          «Todas as vezes que, no Ocidente tem florescido alguma renovação, tanto na ordem do pensamento como na ordem da vida – ambas estão sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem surgido sob o signo dos Padres.»
           Gostaria de apresentar aqui ao menos uma relação, ainda que incompleta, desses gigantes da fé e da Igreja, que souberam fixar para sempre o que Jesus nos deixou através dos Apóstolos.
          Em seguida, vamos estudar um pouco daquilo que eles disseram e escreveram, a fim de que possamos melhor conhecer a Tradição. [...]

  1. S. Clemente de Roma (†102), Papa de Roma (88 - 97)
  2. Santo Inácio de Antioquia (†110)
  3. Aristides de Atenas (†130)
  4. São Policarpo de Esmira (†156)
  5. Pastor de Hermas (†160)
  6. Aristides de Atenas (†160)
  7. São Hipólito de Roma (160 - 235)
  8. São Justino (†165)
  9. Militão de Sardes (†177)
  10. Atenágoras (†180)
  11. São Teófilo de Antioquia (†181)
  12. Orígenes de Alexandria (184 - 254)
  13. Santo Ireneu (†202)
  14. Tertuliano de Cartago (†220)
  15. São Clemente de Alexandria (†215)
  16. Metódio de Olimpo (sec.III)
  17. São Cipriano de Cartago (210-258)
  18. Novaciano (†257)
  19. São Atanásio de Alexandria(295 -373)
  20. São Efrém - (306 - 373), diácono, Mesopotânia
  21. São Hilário de Poitiers - bispo (310 - 367)
  22. São Cirilo de Jerusalém, bispo (315 - 386)
  23. São Basílio Magno, bispo (330 - 369) - Cesaréia
  24. São Gregório Nazianzeno - (330 - 379), bispo
  25. São Ambrósio - (340 - 397), bispo, Treves - Itália
  26. Eusébio de Cesaréia (340)
  27. São Gregório de Nissa (340)
  28. Prudêncio (384 - 405)
  29. São Jerônimo ( 348 - 420), presbítero Strido, Itália
  30. São João Cassiano (360 - 407)
  31. São João Crisóstomo - (349 - 407), bispo
  32. São Agostinho - (354 - 430), bispo
  33. Santo Efrém (†373)
  34. Santo Epifânio (†403)
  35. São Cirilo de Alexandria - (370 - 442), bispo
  36. São Pedro Crisólogo - (380 - 451), bispo, Itália
  37. São Leão Magno (400 - 461), papa de Roma - Toscana, Itália
  38. São Paulino de Nola (†431) - Sedúlio (sec V)
  39. São Vicente de Lerins (†450)
  40. São Pedro Crisólogo (†450)
  41. São Bento de Núrcia (480 - 547)
  42. São Venâncio Fortunato (530-600)
  43. São Ildefonso de Toledo (617 - 667)
  44. São Máximo Confessor (580-662)
  45. São Gregório Magno (540 - 604), Papa de Roma
  46. São Ildefonso de Sevilha (†636)
  47. São Germano de Constantinopla - (610-733)
  48. São João Damasceno (675 - 749), bispo, Damasco
         São Clemente de Roma (†102), Papa (88-97), foi o terceiro sucessor de São Pedro, nos tempos dos imperadores romanos Domiciano e Trajano (92 a 102). No depoimento de Santo Ireneu “ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua pregação e ensinamento”. (Contra as heresias)
       
        Santo Inácio de Antioquia (†110) foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas às igreja de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.

        Aristides de Atenas († 130) foi um dos primeiros apologistas cristãos; escreveu a sua Apologia ao imperador romano Adriano, falando da vida dos cristãos.

        São Policarpo (†156)  foi bispo de Esmirna, e uma pessoa muito amada. Conforme escreve Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi discípulo de São João Evangelista. No ano 155 estava em Roma com o Papa Niceto tratando de vários assuntos da Igreja, inclusive a data da Páscoa. Combateu os hereges gnósticos. Foi condenado à fogueira; o relato do seu martírio, feito por testemunhas oculares, é documento mais antigo deste gênero (publicado neste livro).

        Hermas (†160) era irmão do Papa São Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra Pastor. suas visões de estilo apocalíptico. 

        Didaquè (ou Doutrina dos Doze Apóstolos) é como um antigo catecismo, redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu manuscrito grego.

        São Justino (†165), mártir nasceu em Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos “a única filo proveitosa”, filósofo, fundou uma escola em Roma. Dedicou a sua Apologias ao Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi martirizado em Roma.

        Santo Hipólito de Roma (160-235) discípulo de santo Irineu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu pregar. Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos, escreveu a Tradição Apostólica onde retrata os costumes da Igreja no século III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.

       Melitão de Sardes (†177) foi bispo de Sardes, na Lídia, um dos grandes luminares da Ásia Menor. Escreveu a Apologia, dirigida ao imperador Marco Aurélio.

       Atenágoras (†180) era filósofo em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo; escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos, foi grande apologista.

      São Teófilo de Antioquia (†após 181) nasceu na Mesopotâmia, converteu-se ao cristianismo já adulto, tornou-se bispo de Antioquia. Apologista, compôs três livros, a Autólico.

      Santo Ireneu (†202) nasceu na Ásia Menor, foi discípulo de são Policarpo (discípulo de são João), foi bispo de Lião, na Gália (hoje França). Combateu eficazmente o gnosticismo em sua obra Adversus Haereses (Refutação da Falsa Gnose) e a Demonstração da Preparação Apostólica. Segundo são Gregório de Tours (†594), são Irineu morreu mártir. É considerado o “príncipe dos teólogos cristãos”. Salienta nos seus escritos a importância da Tradição oral da Igreja, o primado da Igreja de Roma (fundada por Pedro e Paulo).

       Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, foi bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio, escreveu a obra Sobre a Santíssima Trindade.

       São Clemente de Alexandria (†215) Seu nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela Itália, Síria, Palestina e fixou-se em Alexandria. Durante a perseguição de Setímio Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor, onde morreu em 215. Seu grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento grego com a fé cristã. Dizia: “Como a lei formou os hebreus, a filo formou os gregos para Cristo”. 

        Orígenes (184-254) Nasceu em Alexandria, Egito; seu pai Leônidas morreu martirizado em 202. Também desejava o martírio; escreveu ao pai na prisão: “não vás mudar de idéia por causa de nós”. Em 203 foi colocado à frente da escola catequética de Alexandria pelo bispo Demétrio. Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Mammae, chamou-o a Antioquia para ouvir suas lições. Morreu em Cesaréia durante a perseguição do imperador Décio. 

        Tertuliano de Cartago (†220), norte da África, culto, era advogado em Roma quando em 195 se converteu ao Cristianismo, passando a servir a Igreja de Cartago como catequista. Combateu as heresias do gnosticismo, mas se desentendeu com a Igreja Católica. É autor das frases: “Vede como se amam” e “ O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”.

        São Cipriano (†258) Cecílio Cipriano nasceu em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado. Foi perseguido no tempo do imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258. Escreveu a bela obra Sobre a unidade da Igreja Católica. Na obra De Lapsis, sobre os que apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama sofrido pelos cristãos, a força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a obra Sobre a Oração do Senhor, sobre o Pai Nosso.

        Eusébio de Cesaréia (260-339) bispo, foi o primeiro historiador da Igreja. Nasceu na Palestina, em Cesaréia, discípulo aí de Orígenes. Escreveu a sua Crônica e a História Eclesiástica, além de A Preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido por Dioclesiano, imperador romano.

        Santo Atanásio (295-373), doutor da Igreja, nasceu em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,onde conheceu o grande Santo Antão(†376), o “pai dos monges”. Tornou-se diácono da Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre, se destacou no Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se bispo de Alexandria em 357 e continuou a sua luta árdua contra o arianismo (Ário negava a divindade de Jesus), o que lhe valeu sete anos de exílio. São Gregório Nazianzeno disse dele: “O que foi a cabeleira para Sansão, foi Atanásio para a Igreja.”

        Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, nasceu em Poitiers, na Gália (França); em 350 clero e povo o elegiam bispo, apesar de ser casado. Organizou a luta dos bispos gauleses contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia Menor, voltando para a Gália em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de Nicéia. É chamado o “Atanásio do Ocidente”.Escreveu as obras Sobre a Fé, Sobre a Santíssima Trindade.

        Santo Efrém, o Sírio (†373) doutor da Igreja é considerado o maior poeta sírio, chamado de “a cítara do Espírito Santo”. Nasceu em Nísibe, de pais cristãos, por volta de 306, deve ter participado do Concílio de Nicéia (325), segundo a tradição, com o seu bispo Tiago. Foi ordenado diácono em 338 e assim ficou até o fim da vida. Escreveu tratados contra os gnósticos, os arianos e contra o imperador Juliano, o apóstata. Escreveu belos hinos e louvores a Maria.

         São Cirilo de Jerusalém (†386), doutor da Igreja, Bispo de Jerusalém, guardião da fé professada pela Igreja no Concílio de Nicéia (325). Autor das Catequeses Mistagógicas, esteve no segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 381.

         São Dâmaso (304-384), Papa da Igreja, instruído, de origem espanhola, sucedeu o Papa Libério que o ordenou diácono; obteve do Imperador Graciano o reconhecimento jurisdicional do bispo de Roma. Mandou que S. Jerônimo fizesse uma revisão da versão latina da Bíblia, a Vulgata. Descobriu e ornamentou os túmulos dos mártires nas catacumbas, para a visita dos peregrinos.

           São Basílio Magno (329-379), Bispo e doutor da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro, são santos. Foi íntimo amigo de S. Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em 370 tornou-se bispo de Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da Capadócia. Combateu o arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus tinha uma alma humana). Destacou-se no estudo a Santíssima Trindade (Três Pessoas e uma Essência).

          São Gregório Nazianzeno (329-390), doutor da Igreja – nasceu em Nazianzo, na Capadócia, era filho do bispo local, que o ordenou padre; foi um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de São Basílio, que o sagrou bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a Santíssima Trindade o fez ser chamado de “teólogo”, que o Concílio de Calcedônia confirmou em 481.

          São Gregório de Nissa (†394) foi bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nazianzeno. Os três santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e místico; teve grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla (381) que definiu o dogma da SS. Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo (Macedônio negava a divindade do Espírito Santo) e arianismo.

         São João Crisóstomo (354-407) ( = boca de ouro), doutor da Igreja, é o mais conhecido dos Padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia. Tornou-se patriarca de Constantinopla, foi grande pregador. Foi exilado na Armênia por causa da defesa da fé sã. Foi proclamado pelo papa S. Pio X, padroeiro dos pregadores.

         São Cirilo de Alexandria (†444) Bispo e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o substituiu na Sé episcopal em 412. Combateu vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que em Jesus havia uma só Pessoa e duas naturezas), com o apoio do papa Celestino. Participou do Concílio de Éfeso (431), que condenou as teses de Nestório. É considerado um dos maiores Padres da língua grega, e chamado o “Doutor mariano”.

        São João Cassiano (360-465) recebeu formação religiosa em Belém e viveu no Egito. Foi ordenado diácono por S. João Crisóstomo, em Constantinopla, e padre pelo papa Inocêncio, em Roma. Em 415 fundou dois mosteiros em Marselha, um para cada sexo. São Bento recomendou seus escritos.

       São Paulino de Nola (†431) nasceu na Gália (França), exerceu importantes cargos civis até ser batizado. Vendeu seus bens, distribuindo o dinheiro aos pobres, e com sua esposa Terásia passou a viver vida eremítica. Foi ordenado padre em 394, em 409 bispo de Nola.

       São Pedro Crisólogo (†450) (= palavra de ouro) bispo e doutor da Igreja – foi bispo de Ravena, Itália. Quando Êutiques, patriarca de Constantinopla pediu o seu apoio para a sua heresia (monofisismo - uma só natureza em Cristo), respondeu: “Não podemos discutir coisas da fé, sem o consentimento do Bispo de Roma”. Temos 170 de suas cartas e escritos sobre o Símbolo e o Pai – Nosso.

       Santo Ambrósio (†397), doutor da Igreja, nasceu em Tréveris, de nobre família romana. Com 31 anos governava em Milão as províncias de Emília e Ligúria. Ainda catecúmeno, foi eleito bispo de Milão, pelo povo, tendo, então recebido o batismo, a ordem e o episcopado. Foi conselheiro de vários imperadores e batizou santo Agostinho, cujas pregações ouvia. Deixou obras admiráveis sobre a fé católica.

       São Jerônimo (347-420), “Doutor Bíblico” – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa S. Dâmaso, por cuja ordem fez a revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor a Igreja [...].

       Santo Epifânio (†403), Nasceu na Palestina, muito culto, foi superior de uma comunidade monástica em Eleuterópolis (Judéia) e depois, bispo de Salamina, na ilha de Chipre. Batalhou muito contra as heresias, especialmente o origenismo.

       Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja - Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. São Leão Magno (400-461) - Papa e Doutor da Igreja - nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente dos papas Celestino I (422-432) e Xisto III (432-440) e foi muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da Igreja do seu tempo e pôde travar contato pessoal e por cartas com Santo Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o descrevia como “ornamento da Igreja e do divino ministério”. Deixou 96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na elaboração dogmática sobre o grave problema tratado no Concílio de Calcedônia, a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que recebeu o título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão, respectivamente junto a Átila, rei dos Hunos, em 452, e junto a Genserico, em 455, bárbaros que queriam destruir Roma.

       São Vicente de Lérins (†450) Depois de muitos anos de vida mundana se refugiou no mosteiro de Lérins. Escreveu o seu Commonitorium, “ para descobrir as fraudes e evitar as armadilhas dos hereges”.

       São Bento de Núrcia (480-547) nasceu em Núrcia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se consagrou a Deus. Tornou-se superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo papa S. Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era “ora et labora”. O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI proclamou-o Patrono da Europa, em 24/10/1964.

        São Venâncio Fortunato (530-600) nasceu em Vêneto na Itália, foi para Poitiers (França). Autor de célebres hinos dedicados à Paixão de Cristo e à Virgem Maria, até hoje usados na Igreja.

        São Gregório Magno (540-604), Papa e doutor da Igreja - Nasceu em Roma, de família nobre. Ainda muito jovem foi primeiro ministro do governo de Roma. Grande admirador de S. Bento, resolveu transformar suas muitas posses em mosteiros. O papa Pelágio o enviou como núncio apostólico em Constantinopla até o ano 585. Foi feito papa em 590. Foi um dos maiores papas que a Igreja já teve. Bossuet considerava-o “modelo perfeito de como se governa a Igreja”. Promoveu na liturgia o canto “gregoriano”. Profunda influência exerceram os seus escritos: Vida de São Bento e Regra Pastoral, usado ainda hoje.

         São Máximo, o confessor (580 - 662) nasceu em Constantinopla, foi secretário do imperador Heráclio, depois foi para o mosteiro de Crisópolis. Lutou contra o monofisismo e monotelismo, sendo preso, exilado e martirizado por isso. Obteve a condenação do monotelismo no Concílio de Latrão, em 649.

         Santo Ildefonso de Sevilha (†636) doutor da Igreja. Considerado o último Padre do ocidente. Bispo de Sevilha, Espanha desde 601. Em 636 dirigiu o IV Sínodo de Toledo. Exerceu notável influência na Idade Média com os seus escritos exegéticos, dogmáticos, ascéticos e litúrgicos.

        São Germano de Constantinopla - (610-733) Bispo - Patriarca de Constantinopla (715-30), nasceu em Constantinopla ao final do reinado do imperador Heracleo (610-41); morreu em 733 ou 740. Filho de Justiniano, um patriciano, Germano dedicou seus serviços à Igreja e começou como clérigo na catedral de Metrópolis. Logo depois da morte de seu pai que havia ocupado vários altos cargos de oficial, pelas mãos do sobrinho de Herácleo, Germano se consagrou bispo de Chipre, o ano exato, porém, de sua elevação é desconhecido.

        São João Damasceno (675-749) Bispo e Doutor da Igreja - É considerado o último dos representantes dos Padres gregos. É grande a sua obra literária: poesia, liturgia, filo e apologética. Filho de um alto funcionário do califa de Damasco, foi companheiro do príncipe Yazid que, mais tarde o promoveu ao mesmo encargo do pai, ministro das finanças. A um determinado tempo deixou a corte do califa e retirou-se para o mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém. Tornou-se o pregador titular da basílica do Santo Sepulcro. Enfrentou com muita coragem a heresia dos iconoclastas que condenavam o culto das imagens. Ficaram famosos os seus Três Discursos a Favor das Imagens Sagradas.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Catequese do Papa Bento XVI

"NÃO EXISTE SÓ O TRABALHO.
TOMEM TEMPO PARA LER A BÍBLIA"
03.08.2011 - Cidade do Vaticano: Depois de três semanas de pausa no mês de julho, Bento XVI retomou esta manhã as audiências de quarta-feira com um encontro aberto a fiéis e peregrinos na Praça da Liberdade, diante de sua residência de verão, em Castel Gandolfo. 4.500 pessoas lotaram a praça para ouvir a catequese do papa.

Queridos irmãos e irmãs!
         Estou muito contente de ver vocês aqui na praça de Castel Gandolfo e de retomar as audiências interrompidas no mês de julho. Eu gostaria de continuar com o tema que iniciamos, isto é, uma “escola de oração”, e que, hoje, de modo um pouco diferente, sem nos distanciarmos do tema, assinalar alguns aspectos de caráter espiritual e concreto, que me parecem úteis não só para quem vive em certas partes do mundo um período de férias de verão como nós [na Europa], mas também para todos aqueles que estão empenhados no trabalho cotidiano.
        Quando temos um momento de pausa em nossas atividades, de modo especial durante as férias, normalmente pegamos nas mãos um livros que desejamos ler. E é justamente sobre este aspecto que gostaria hoje de destacar.
        Cada um de nós tem necessidade de um tempo e um espaço para se recolher, meditar, se acalmar... Graças a Deus é assim!
         De fato, esta experiência nos mostra que não somos feitos só para trabalhar, mas também para pensar, refletir, ou simplesmente para seguir com a mente e com o coração uma história que nos coloca de um certo modo “perdidos” para depois nos re-encontrarmos enriquecidos.  
          Naturalmente, muitos desses livros de leitura que pegamos durante as férias são, na sua maioria, para “fugir” [da realidade] e isso é normal. Entretanto, várias pessoas, particularmente aquelas que podem ter um espaço de pausa e de relaxamento prolongado, se dedicam a ler algo mais empenhativo.
        Gostaria agora de fazer uma proposta: por que não descobrir alguns livros da Bíblia que normalmente não são conhecidos? Ou aqueles que talvez escutamos qualquer pedaço durante a Liturgia, mas que jamais lemos por inteiro?
         Na realidade, muitos cristãos nunca leram a Bíblia e tem um conhecimento muito limitado e superficial. A Bíblia – como diz o nome – é uma coleção de livros, um pequena “biblioteca”, nascida com o passar de um milênio.
         Alguns desses livrinhos que a compõe permanecem quase que desconhecidos para a maior parte das pessoas, também para bons cristãos. Alguns são bem breves, como o “Livro de Tobias”, um livro que contem um sentido muito alto de família e de matrimônio; o Livro de Ester, no qual a rainha judia, com a fé e a oração, salva seu povo do extermínio. Ou ainda um mais brevre: o Livro de Rute,  uma estrangeira que conhece Deus e experimenta sua providência. Estes pequenos livros podem ser lidos por inteiro em uma hora.
         Mais desafiadores, e verdadeiras obras primas, são: o Livro de Jó, que aborda a grande problemática da dor do inocente; o Eclesiastes que debate a desconcertante modernidade na qual coloca em discussão o sentido da vida e do mundo; e o Cântico dos Cânticos, estupendo poema simbólico do amor humano.
          Como vocês podem ver, estes são todos livros do Antigo Testamento. E o Novo? Certo, o Novo Testamento é mais conhecido e são gêneros menos diversificados. Porém, a beleza de ler um Evangelho completo é a descoberta, bem como recomendo os Atos dos Apóstolos ou uma das Cartas.
          Em conclusão, queridos amigos, hoje, quero sugerir de ter em mãos, durante às férias ou nos momentos de pausa, a santa Bíblia, para apreciá-la de modo novo, lendo subsequentemente alguns de seus Livros, aqueles menos conhecidos e também aqueles mais notáveis, como o Evangelho, mas uma leitura contínua.
        Fazendo assim, os momentos de descanso podem-se tornar, além de um enriquecimento cultural, também um nutrimento do espírito, capaz de alimentar o conhecimento de Deus e o diálogo com Ele, na oração.
         Esta parece ser uma boa ocupação para as férias: pegar um livro da Bíblia tendo um momento de descontração e, ao mesmo tempo, entrar no grande espaço da Palavra de Deus e aprofundar nosso contato com o Eterno, justamente como propósito do tempo livre que o Senhor nos dá.


Fonte: Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

         Ao frade Bartolomeu de Trento, que viveu na metade do século XIII, devemos a versão sobre a origem da basílica de Santa Maria Maior. Segundo a tradição, no ano 352, vivia em Roma, o representante do imperador que tinha se transferido para Constantinopla, um certo João, fidalgo riquíssimo que não sabia como gastar toda sua fortuna. Não tinha filhos e queria construir obras pias para a Igreja, mas não sabia quais escolher.         
           Na noite de 5 de agosto, lhe apareceu em sonho a Virgem Maria, que lhe ordenou construir uma igreja no lugar onde estivesse com neve pela manhã. O rico senhor acordou e se pôs a pensar que a neve em Roma era uma coisa estranha, pois agosto era a estação de verão. Porém o mais interessante foi que a Virgem, na mesma noite apareceu ao papa Libério e lhe disse que, logo ao raiar do dia, subisse a colina do monte Esquilino, que encontraria o local cheio de neve e lá deveria erguer uma igreja.
Pela manhã aquele fato inédito, foi constatado e enquanto a notícia se espalhava por toda Roma, o papa e João, caminhando por estradas diferentes, seguidos por uma multidão se encontraram: lá em cima do monte Esquilino comprovaram que havia neve. Com um bastão o papa traçou a área para erguer a igreja que o patrício construiu apenas com o seu dinheiro. Nascia a basílica de Santa Maria da Neve.
        
Alguns pesquisadores dizem que João procurou o papa Libério para lhe contar seu sonho e que teve uma surpresa ao saber que também o pontífice havia tido a mesma visão. Depois, juntos com a população foram ao alto ao monte Esquilino, e demarcaram sobre a neve o terreno onde a igreja foi construída. Desta maneira, notou-se que as tradições se mesclaram por obra da alma popular que sempre uniu poesia à história.
Aquelas colinas do monte Esquilino, durante a Antiguidade, tinham sido um lugar de despejo de lixo, cheio de imundices; posteriormente se tornou o lugar onde os escravos eram sepultados. Na época do Império, ao contrário, as colinas eram ocupadas por imensas vilas de nobres. Entretanto continuava sendo um lugar de estranhas lembranças e que a comunidade evitava freqüentar. Com a construção da igreja da Santa Maria da Neve, o local reconquistou a visitação popular.
Tanto é verdade que cerca de um século depois, para celebrar os resultados do Concílio de Efeso, que proclamou a "maternidade divina da Virgem Maria", o Papa Xisto III em 440, mandou construir uma igreja. Mas queria que fosse grande, muito grande, daí o nome "Maior", e escolheu o mesmo local onde fora construída a igreja indicada pela Virgem em sonho ao papa Libério. No dia 5 de agosto de 431, a nova igreja, que substituiu a anterior, foi consagrada, com o nome de basílica de "Santa Maria Maior".
Nela foi realizado o primeiro presépio que se tem notícia na Igreja, por isto também ficou conhecida como basílica de "Santa Maria do Presépio".
Na basílica se encontram os primeiros e mais ricos mosaicos alusivos a Nossa Senhora e é, de fato, um dos maiores e mais belo santuário mariano de toda a cristandade.  
A festa litúrgica da "Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior" que acontece em 5 de agosto entrou no calendário romano em 1568.


 
Vista da  ábside da Basílica


fachada da Basílica de Santa Maria Maior


Relicário com as palhas da manjedoura onde nasceu Jesus






Santo Osvaldo, rei e mártir

          Osvaldo nasceu em 604. Era filho do rei pagão Etelfrit, da Nortúmbria, futura Inglaterra, e da princesa Acha. O reino foi invadido em 616, quando seu pai morreu na batalha contra o rei Edin, que assumiu o trono e depois fundou a cidade de Edimburgo.
          Acha e seus onze filhos fugiram para a Corte do rei da Escócia, onde todos se converteram. As crianças foram entregues aos cuidados dos beneditinos do Mosteiro de Iona, fundado em 563 por são Columbano, famoso centro de formação e estudos. Lá receberam sólida formação acadêmica e religiosa, adequada aos fidalgos e no seguimento de Cristo.
          Osvaldo destacava-se pelo belo porte físico, pela inteligência e pela caridade cristã. Tinha um sorriso franco, era bom e generoso, não distinguindo ricos e pobres. Era um hábil e capacitado estrategista militar, treinado pelo pequeno, mas potente exército do rei da Escócia, que muito o apreciava. Curioso mesmo era o seu animal de estimação: um falcão que lhe obedecia e pousava-lhe na mão.
          Quando o rei Edin morreu, em 633, Osvaldo formou seu exército, pequeno e eficaz, e venceu a famosa batalha de Havenfield, em 634, com o usurpador tombando morto. Osvaldo assumiu o trono como legítimo rei da Nortúmbria. Contam os registros históricos que antes desse combate ele teve uma visão de são Columbano, que o orientou a rezar junto com seus soldados antes de partir para o combate. Ele obedeceu. Mandou erguer uma grande cruz no centro do campo onde estavam, ajoelhou-se diante dela, pedindo aos soldados, quase todos pagãos, que fizessem o mesmo. Assim postado, com fé e humildade, o futuro rei pediu a Deus proteção e liberdade para seu povo oprimido pelos inimigos.
         O rei Osvaldo sempre atribuiu essa vitória à intercessão de são Columbano e à proteção de Cristo. Depois de coroado, todo o exército converteu-se. Mandou chamar os monges escoceses do Mosteiro de Iona para pregarem o Evangelho no seu reino. Ele mesmo traduzia para o povo os sermões, conseguindo muitas conversões. Construiu igrejas, mosteiros, cemitérios, hospitais, asilos e creches, distribuiu riquezas e promoveu prosperidade e caridade ao povo.
         Casou-se com a princesa Cineburga, filha do rei pagão de Wessex, hoje também Inglaterra. Em seguida, convenceu o sogro a permitir uma missão evangelizadora de monges escoceses no seu reino, que acabaram convertendo esse rei também. A Igreja deve à fé do rei Osvaldo o grande impulso para a evangelização do povo inglês e o estabelecimento da vida monástica na ilha britânica. O rei da Nortúmbria morreu em combate em 642, defendendo o seu povo de invasores pagãos.
         Amado e venerado como santo em vida, a fama de sua santidade ganhou destaque junto aos povos de língua inglesa graças à divulgação dos monges beneditinos. Depois, o venerável Beda, monge famoso pela santidade e sabedoria na doutrina, reivindicou o título de mártir a santo Osvaldo da Nortúmbria, por ter morrido em combate contra os pagãos. Sua festa é uma tradição antiga, e a Igreja manteve a celebração no dia 5 de agosto.




Santo Osvaldo, rogai por nós!



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Do catecismo de São João Maria Vianney, presbítero, século XIX, (Catéchisme sur la prière: A. Monnin, Esprit du Curé d'Ars, Paris, 1899, pp. 87-89)

A mais bela profissão do homem é rezar e amar


      "Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis ai a felicidade do homem sobre a terra.
      A oração nada mais é do que a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e doçura que inebria, e uma luz maravilhosa que o envolve. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém pode mais separar. Como é bela essa união de Deus com sua criatura! É uma felicidade impossível de se compreender.
      Nós nos havíamos tornados indignos de rezar. Deus, porém, na sua bondade, permitiu-nos falar com Ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada.
      Meus filhinhos, vosso coração é por demais pequeno, mas a oração o dilata e o torna capaz de amar a Deus. A oração faz saborear antecipadamente a felicidade do Céu; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita, os sofrimentos desaparecem, como a neve que se derrete sobre os raios de sol.
      Outro benefício que nos é dado pela oração: o tempo passa tão depressa e com tanta satisfação para o homem, que nem se percebe a sua duração. Escutai: certa vez, quando eu era pároco em Bresse, tive que percorrer grandes distâncias para substituir quase todos os meus colegas que estavam doentes; nessas intermináveis caminhadas, rezava ao bom Senhor e - podeis crer! - o tempo não me parecia longo.
      Há pessoas que mergulham profundamente na oração, como peixes na água, porque estão inteiramente entregues a Deus. Não há divisões em seus corações. Ó como eu amo estas almas generosas! São Francisco de Assis e Santa Clara viam nosso Senhor e conversavam com Ele do mesmo modo como nós conversamos uns com os outros.
      Nós, ao invés, quantas vezes entramos na Igreja sem saber o que vamos pedir. E, no entanto, sempre que vamos ter com alguém, sabemos perfeitamente o motivo por que vamos. Há até mesmo pessoas que parecem falar com Deus deste modo: "Só tenho duas palavras para Vos dizer e logo ficar livre de Vós...". Muitas vezes penso nisso: quando vamos adorar a Deus, podemos alcançar tudo o que desejamos, se o pedirmos com fé viva e coração puro".

 

Catecismo sobre a santificação do Domingo, São João Maria Vianney

             "Vós trabalhais, trabalhais, porém, o que ganhais vos arruína a alma e o corpo. Se se perguntasse a esses que trabalham no Domingo: “Que é que acabais de fazer?”, eles poderiam responder: “Acabo de vender meu burro ao demônio, de crucificar Nosso Senhor e de renunciar ao meu batismo. Vou para o inferno… Terei que chorar toda uma eternidade por um nada…” Quando eu vejo uns que carregam no Domingo, penso que carregam a sua alma para o inferno.
      Oh! Como se ilude nos seus cálculos aquele que se afana no Domingo, com o pensamento de que vai ganhar mais dinheiro ou fazer mais trabalho! Acaso um pouco mais de dinheiro poderá compensar o dano que ele causa a si próprio, violando a lei de Deus? Vós imaginais que tudo depende do vosso trabalho; vem, porém, uma doença, um acidente… É preciso tão pouca coisa! Uma tempestade, uma chuva de granizo, uma geada. Deus tem tudo nas mãos; pode vingar-se como quiser; meios não lhe faltam. Não é sempre ele que é o mais forte? E não deve ele permanecer o senhor no fim?
      Havia uma vez uma mulher que viera procurar o seu vigário e lhe pedir licença para apanhar o seu feno no domingo. “Mas, diz-lhe o vigário, não é necessário; o vosso feno não corre risco algum”. A mulher insistiu, dizendo: “O Sr. quer então que eu deixe morrer a minha colheita?” Foi ela quem morreu à tarde mesmo… Ela estava mais em perigo do que a sua colheita…
Trabalhai, não para a comida que perece, mas para a que dura para a vida eterna (Jo 6, 27). Que vos rende o haverdes trabalhado no domingo? Deixais bem a terra tal qual é quando vos ides embora; não levais nada. Ah! Quando se está apegado à terra, não é bom ir-se dela!…
     O nosso primeiro fim é ir para Deus; só estamos na terra para isto.
     Meus irmãos, deveríamos morrer no Domingo e ressuscitar na segunda-feira.
     O domingo é o bem de Deus; é o dia DEle, o dia do Senhor. Ele fez todos os dias da semana; podia reservá-los todos para Si; deu-vos no entanto seis e reservou para Si apenas o sétimo. Com que direito tocais naquilo que vos não pertence? Sabeis que o bem roubado nunca aproveita. O dia que roubais ao Senhor tão pouco vos aproveitará. Conheço dois meios bem seguros de se ficar pobre: trabalhar no domingo e tomar o bem de outrem".




São João Maria Vianney, "Sermão para a Quinta-feira Santa"

         


         "Que amor, que caridade nos demonstrou Jesus no escolher a vigília da sua morte para instituir um sacramento graças ao qual ele permanece em meio a nós para ser o nosso Pai, nosso consolador e todo o nosso bem. Mais feliz mesmo do que aqueles que viveram durante sua vida mortal, quando ele se encontrava apenas em um lugar determinado e para vê-lo era preciso andar muito! Hoje nós o encontramos em todas as partes do mundo, e tal é o privilégio nos foi prometido até o fim do mundo. Que amor imenso Deus tem para sua criatura! Não, nada pode embaraçá-lo quando se trata de mostrar-nos o seu grande amor! Neste feliz momento para nós, toda Jerusalém está em desordem, todos querem a sua morte, todos querem verter o seu sangue adorável, e é precisamente neste momento que ele prepara para eles, como para nós, a prova mais inefável do seu amor".



Basílica de São João Maria Vianney