terça-feira, 26 de julho de 2011

Dogmas Marianos II: Theotokos: Mãe de Deus


Maria Mãe de Deus


           Cristãos católicos e ortodoxos justificam a utilização da expressão Theotokos ou Mãe de Deus, citando São Lucas 1,43 a qual Santa Isabel saúda a Virgem Maria como a "mãe do meu Senhor".
           Diversos Padres da Igreja nos três primeiros séculos defendem Maria como a Theotokos, dentre eles; Orígenes (254), Dionísio (250), Atanásio (330), Gregório (370), João Crisóstomo (400) e Agostinho de Hipona (430). O hino "À vossa compaixão" (em grego: Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν), datado do século III, retrata Maria como «Santíssima Theotokos, salvai-nos.»

Definição dogmática pelo Concílio de Éfeso

         O uso do termo Theotokos foi formalmente afirmado como dogma no  Terceiro Concílio Ecumênico realizado em Éfeso, em 431. A visão contrária, defendida pelo patriarca de Constantinopla Nestório era que Maria devia ser chamada de Christotokos, que significa "Mãe de Cristo", para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina.
         Os adversários de Nestório, liderados por São Cirilo de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo, uma vez que em Cristo "O Verbo se fez carne" (João  1,14), ou seja o Verbo (que é Deus- João 1,1) é a carne; e a carne é o Verbo, Maria foi a mãe da carne de Cristo e por consequencia do Verbo. Cirilo escreveu que "Surpreende-me que há alguns que duvidam que a Virgem santa deve ser chamada ou não de Theotokos. Pois, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, e a Virgem santa deu-o à luz, ela não se tornou a [Theotokos]?" A doutrina de Nestório foi considerada uma falsificação da Encarnação de Cristo, e por consequência, da salvação da humanidade. O Concílio aceitou a argumentação de Cirilo, afirmou como dogma o título de Theotókos de Maria, e anamatizou Nestório, considerando sua doutrina, nestorianismo, como uma heresia.

Hino “Acatistos” à Mãe de Deus (séc. VII)

Do céu foi enviado um arcanjo eminente para dizer à Mãe de Deus: “Alegra-te!”
Mas quando te viu, ó Senhora, a sua voz ganhou corpo e ele gritou a sua surpresa e o seu encantamento:
“Alegra-te: em ti brilha a alegria da salvação.
Alegra-te: por ti o mal desapareceu.
Alegra-te, porque ergues Adão da sua queda.
Alegra-te, porque Eva também já não chora.
Alegra-te, montanha inacessível aos pensamentos dos homens.
Alegra-te, abismo insondável aos próprios anjos.
Alegra-te, porque te tornas o trono e o palácio do Rei.
Alegra-te: tu levas em ti Aquele que tudo pode.
Alegra-te, estrela que anuncias o nascer do Sol.
Alegra-te, porque em teu seio Deus tomou a nossa carne.
Alegra-te: por ti, toda a criação é renovada.
Alegra-te: por ti, o Criador fez-se menino.
Alegra-te, Esposa que não foste desposada.”
A Puríssima, conhecendo o seu estado virginal, respondeu confiadamente ao anjo Gabriel: “Que estranha maravilha essa que dizes! Ela parece incompreensível à minha alma; como conceberei sem semente para engravidar, como tu está a dizer?” Aleluia, aleluia, aleluia!
Para compreender este mistério desconhecido, a Virgem dirige-se ao servo de Deus e pergunta-lhe como é que um Filho poderia ser concebido nas suas castas entranhas. Cheio de respeito, o anjo aclama-a:
“Alegra-te: a ti Deus revela os seus desígnios inefáveis.
Alegra-te, confiança dos que rezam em silêncio.
Alegra-te: tu és a primeira das maravilhas de Cristo.
Alegra-te: em ti são recapituladas as doutrinas divinas.
Alegra-te, escada pela qual Deus desce do Céu.
Alegra-te, ponte que nos conduz da terra ao Céu.
Alegra-te, inesgotável admiração dos anjos.
Alegra-te, ferida incurável para os demónios.
Alegra-te: tu geras a luz de forma inexprimível.
Alegra-te: tu não revelas o segredo a ninguém.
Alegra-te: tu ultrapassas a sabedoria dos sábios.
Alegra-te: tu iluminas a inteligência dos crentes.
Alegra-te, Esposa que não foste desposada.”
O poder do Altíssimo cobriu então com a sua sombra a Virgem que não tinha sido desposada, para a levar a conceber. E o seu seio fecundado tornou-se um jardim de delícias para os que nele querem colher a salvação, cantando: “Aleluia, aleluia, aleluia!”



          O primeiro e o maior dogma mariano é a declaração de Maria a Mãe de Deus. Sua tradução literal para o português incluí "portadora de Deus". Na teologia calcedoniana Maria é a Theotokos, porque seu filho Jesus é simultaneamente Deus e homem, divino e humano, Theotokos, portanto, refere-se à Encarnação, quando Deus assumiu a natureza humana em Jesus Cristo, sendo isto possível graças à cooperação de Maria.
         Traduções menos literais incluem Mãe de Deus. Católicos, anglicanos, e algumas denominações protestantes usam com mais freqüência o título de "Mãe de Deus" do que "Theotokos". O título de Maria como Mãe de Deus em alguns ocasiões causa má interpretação, esse título não refere-se à Maria como Mãe de Deus desde a eternidade (no Kairós), mas apenas como mãe de Jesus, que por ser verdadeiramente Deus, torna-se também a Mãe de Deus na Terra (no Chronos). Em contrapartida, Theotokos torna explícito seu significado teológico, excluindo assim qualquer mal-entendido da maternidade divina de Maria.
        Diversos Padres da Igreja nos três primeiros séculos defendem Maria como a Theotokos, como Orígenes (254), Atanásio (330) e João Crisóstomo (400). O  Concílio de Éfeso decretou esta doutrina dogmaticamente em 431.
        Theotokos é composta de duas palavras gregas, Θεός (Deus) e τόκος (parto). Literalmente, isso se traduz como portadora de Deus ou a que dá à luz Deus. No entanto, na Igreja Ortodoxa muitos consideram essa tradução literal desajeitada no uso litúrgico, e Theotokos é traduzida como Mãe de Deus. O último título é composto de uma palavra distinta em grego, Μήτηρ του Θεού (transliterado Mētēr tou Theou). Outras palavras gregas poderiam ser usadas para descrever "Mãe de Deus", como Θεομήτωρ (transliterado Theomētor; Θεομήτηρ também escrito, transliterado como Theomētēr) e Μητρόθεος (transliterado Mētrotheos), que são encontradas em textos patrísticos e litúrgicos. As letras gregas ΜΡ e ΘΥ são abreviaturas utilizadas para os termos gregos de "Mãe de Deus", consistindo das letras inicial e final de cada palavra, a sua utilização é uma prática comum na  iconografia ortodoxa para referir-se à Maria.
            Em muitas tradições, Theotokos foi traduzida do grego para a língua local litúrgica. A mais proeminente delas é a tradução para o latim (Deipara, Genetrix Dei, como também, Mater Dei), em árabe (والدة translit الله. transliteração: Wālidat Deus), em georgiano (ღვთისმშობელი. transliteração: Ghvtismshobeli), em armênio: (Աստուածածին. transliteração: Astvadzatzin) e o romeno (Născătoare de Dumnezeu ou Maica Domnului).

Dogmas Marianos I: Virgindade perpétua de Maria

        


           O segundo, na ordem histórica, dos quatro dogmas marianos é o da virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto de Jesus. O dogma foi proclamado em 649, pelo Concílio Ecumênico do Latrão. Uma declaração dogmática, na Igreja, é necessariamente antecedida por séculos de estudos, debates, aprofundamentos e, muitas vezes, superação de doutrinas heréticas.
          A partir de 649, não houve mais nem no Oriente nem no Ocidente vozes discordantes. A Liturgia cristã, que é a teologia feita oração, a literatura e as artes em todas as épocas enalteceram a virgindade perpétua de Maria, por ser Maria a Mãe de Deus. Convém acentuar sempre de novo que é em sua maternidade divina que radicam sua virgindade e todos os outros privilégios marianos.
          A antífona mariana que a Igreja reza há séculos no final da oração da noite, que começa com as palavras “Alma Redemptoris Mater” (Mãe santíssima do Redentor), canta ternamente a virgindade de Maria: “Tu, que acolheste a palavra de Gabriel e, diante de uma natureza extasiada, geraste teu próprio Criador e permaneceste virgem antes e depois do parto, tem piedade de nós pecadores”. Para não citar dezenas de belíssimos poemas a Maria sempre virgem, cito apenas uma parte de um do bispo Sofrônio, do VII século: “Salve, ó Mãe de Deus, não desposada! Salve, ó virgem integérrima depois do parto! Salve admirável espetáculo maior que todos os prodígios! Quem pode descrever teu esplendor? Quem pode cantar o teu mistério?”
          Ao declarar a virgindade de Maria, a Igreja afirma que ela concebeu sem a concorrência do sêmen masculino. Para quem crê, os Evangelhos são suficientemente elucidativos. Lembremos o texto de Lucas: “O anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus … a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27). Em duas linhas, o Evangelista afirma duas vezes a virgindade da escolhida para ser a Mãe de Jesus. Quando a jovem Maria lhe pergunta como isso seria possível, porque ela não conhecia homem (a expressão ‘conhecer’, em hebraico significa ter relações conjugais), o anjo lhe responde: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). O Evangelista Mateus é linearmente claro: “Maria estava prometida em casamento a José. Mas antes de morarem juntos, ficou grávida do Espírito Santo” (Mt 1,18).
          Os exegetas se aprofundam na explicação dessas palavras dos Evangelistas e levantam várias hipóteses. Há quem fale em voto de virgindade de Maria, contrariando toda a cultura hebraica e a mentalidade do Antigo Testamento em que ela fora educada. Há quem pense que a virgindade perpétua decorra natural e indiscutível a partir do momento em que ela é possuída pelo Espírito Santo, tornando-se um inaudito milagre vivo, contendo dentro de si o Filho de Deus, seguramente acima de barreiras ou limites biológicos. E há os que pensam numa Maria prática, consciente e piedosa que, a partir da concepção milagrosa, combina com José, já então ciente do mistério (Mt 1,20-21), uma vida matrimonial virginal. Se Moisés descalçou as sandálias diante da misteriosa sarça que ardia sem se queimar (Ex 3,5), por que José, “homem justo” (Mt 1,19), e Maria, “cheia de graça” (Lc 1,28), não poderiam renunciar a um relacionamento conjugal diante de um Deus que descera dos céus e “armara sua tenda” (Jo 1,14) na mais íntima intimidade da vida dos dois? Fica sempre verdadeira a palavra do anjo, dita no contexto da Anunciação: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,38).
           A doutrina da virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto, está inseparavelmente unida à maternidade divina de Maria, à ação do Espírito Santo em Maria, ou seja, à encarnação do Filho de Deus. Pela lógica e ciência humanas ninguém ousaria afirmar sua virgindade no parto e depois do parto. Mas também pela razão humana ninguém conseguiria afirmar o mistério da encarnação de Deus. A Igreja não precisou das provas sensíveis a que recorreram os Apócrifos, ainda que revestidas de piedade e encanto. A preocupação dos Apócrifos, no entanto, em comprovar a virgindade no parto e depois do parto de Maria, mostra uma linha lógica de necessidade: não se trata de um parto de uma criança apenas, trata-se do parto de uma criança que, sendo inteiramente humana, é inteiramente divina. E se esse fato ultrapassa a ciência e a inteligência, constituindo um mistério inefável, isto é, que não pode ser expresso por conceitos humanos, com ele ultrapassa também o fato da virgindade integral de Maria.
           O dogma da virgindade de Maria quer ainda afirmar, sem deixar nenhuma sombra de dúvida, que Jesus, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, é o filho primogênito e único de Maria de Nazaré, ou seja: Jesus Cristo, o Messias, não teve irmãos ou irmãs carnais nascidos do ventre de sua mãe Maria. Tiago Menor, por exemplo, é chamado de “irmão do Senhor” (Gl 1,19) e outras vezes se fala nos irmãos de Jesus presentes entre seus ouvintes (Mt 12,46; Mc 3,31-35; Lc 8,19). Mas todos sabem que em hebraico o termo “irmão” pode indicar qualquer parentesco, como sobrinho (Gn 12,5 e 13,8; 29,12.15), tio, primo (1Cr 23,22) e até amigo (Gn 29,4). Isso nunca foi problema teológico para a Igreja.
          O dogma da virgindade de Maria, sempre ligado à maternidade divina, foi-se preparando e firmando nos primeiros séculos, nas pregações, escritos e doutrina dos santos padres, na liturgia e na piedade popular, até que, em outubro de 649, o Concílio do Latrão chegou a esta definição de fé: “Seja condenado quem não professar, de acordo com os santos Padres, que Maria, mãe de Deus em sentido próprio e verdadeiro, permaneceu sempre santa, virgem e imaculada quando, em sentido próprio e verdadeiro, concebeu do Espírito Santo, sem o concurso do sêmen de homem, e deu à luz Aquele que é gerado por Deus Pai antes de todos os séculos, o Verbo de Deus, permanecendo inviolada a sua virgindade também depois do parto”. Por ‘santos Padres’, entendemos os Bispos participantes do Concílio, que assinaram o documento dogmático.
          Lembremos que a virgindade de Maria vai muito além de um dado biológico e físico. João Paulo II, na encíclica Redemptoris Mater, em poucas linhas abre um leque extenso: “O fato fundamental de ser a Mãe do Filho de Deus constituiu desde o princípio uma abertura total a sua missão. As palavras ‘Eis a serva do Senhor’ testemunham esta abertura de espírito em Maria, que une em si, de maneira perfeita, o amor próprio da virgindade e o amor característico da maternidade, conjuntos e como que fundidos num só amor” (n. 39).
           O comportamento e a vida virginal de Maria inspiraram uma nova forma de servir a Deus, praticamente desconhecida no Antigo Testamento: o celibato consagrado, que é uma decisão pessoal, livre, consciente, espontânea de dedicar a vida inteira e sem reservas a serviço da missão de Cristo sobre a terra, ou seja, a serviço da construção do Reino de Deus. Pelo seu sim, Maria consagrou-se inteiramente à missão que Deus lhe propunha. Obedeceu humildemente. Acolheu o plano de Deus e a ele doou-se sem reservas. Vazia de pretensões pessoais e pobre de si, deixou-se envolver pela riqueza de Deus. Maria tornou-se “exemplo sublime de perfeita consagração, pela sua pertença plena e dedicação total a Deus” (Vida Consagrada, 28).
           O religioso, a religiosa não têm outra finalidade senão repetir o gesto de Maria e centrar, sem reservas, sua vida em Cristo, modelo, razão e meta da vida consagrada e ser, no tempo e no espaço, um Evangelho vivo aberto, acessível ao povo, que não procura apenas palavras, ainda que sagradas, mas o testemunho de uma vida totalmente consagrada às coisas de Deus, exatamente como o foi a Virgem Maria.
          Na encíclica Redemptoris Mater (1987), João Paulo II descreve a consagração virginal de Maria, que passou a ser o modelo de vida consagrada: “Maria consente na escolha divina para se tornar, por obra do Espírito Santo, a Mãe do Filho de Deus. Pode-se dizer que este consentimento que ela dá à maternidade é fruto da doação total a Deus na virgindade. Maria aceitou a eleição para ser mãe do Filho de Deus, guiada pelo amor esponsal, o amor que consagra totalmente a Deus uma pessoa humana. Em virtude desse amor, Maria desejava estar sempre e em tudo ‘doada a Deus’, vivendo na virgindade. As palavras ‘Eis a serva do Senhor’ comprovam o fato de ela desde o princípio ter aceitado e entendido a própria maternidade como dom total de si, da sua pessoa, a serviço dos desígnios salvíficos do Altíssimo. E toda a participação materna na vida de Jesus Cristo, seu Filho, ela viveu-a até o fim de um modo correspondente à sua vocação para a virgindade” (n. 39)


Por Frei Clarêncio Neotti, O.F.M

Beato Guilherme Ward, mártir

          Nascido em Thornby, no condado de Westmoreland, cerca de 1560, foi martirizado no dia 26 de julho de 1641. Ele estava com cerca de 40 anos quando foi para Douay para estudar para o sacerdócio, mas não há maiores detalhes de sua vida anterior. Ele chegou lá no dia 18 de setembro de 1604; recebu as ordens menores no dia 16 de dezembro de 1605, o subdiaconato em 26 de outubro de 1607, o diaconado em 31 de maio de 1608 e o sacerdócio no dia seguinte.
          No dia 14 de outubro ele retornou a Inglaterra e qaundo estava dirigindo-se para a Escócia, ficou preso po três anos. Ao obter sua liberdade ele voltou para a Inglaterra onde trabalhou por 30 anos, vinte dos quais ele passou em várias prisões como confessor da fé. Ele era zeloso e de forte temperamento, severo consigo mesmo e com os outros, e muito especialmente devotado para ouvir as confissões. Assim ele tinha a reputação de ser um bem conceituado diretor espiritual e confessor. Tão mortificada era sua vida pessoal e em segredo suas inúmeras obras de caridade que foi ainda acusado de avareza.
         Ele estava em Londres quando o Parlamento proclamou em 7 de abril de 1641, o fim de todos os sacerdotes sob pena de morte, mas ele recusou-se em aposentar e no dia 15 de julho foi preso na casa de seu sobrinho. Seis dias depois ele foi trazido para Old Bailey e foi  condenado no dia 23 de julho. Ele sofreu o martírio no dia 26 de julho na festa de Santa Ana por quem ele tinha uma grande devoção. Suas últimas palavras foram: "Jesus, Jesus, Jesus, recebe minha alma".
         Uma pintura à óleo de seu retrato logo após seu martírio está preservado no Colégio de Santo Edmundo, em  Old Hall, no condado de Hertford.


Santos Joaquim e Ana, pais da Virgem Maria

          Ana, do hebraico Hannah, graça, é um nome apropriado, atribuído à mãe da bem-aventurada Virgem Maria na liturgia oriental, desde o fim do século VI. No mesmo período vem honrando, sempre no Oriente, o pai Joaquim, denominado entretanto de vários modos: Eli, Cléofas, Eliacim, Jonaquim e Sadoc.
          O Evangelho silencia acerca dos pais de Maria; o vazio foi preenchido pelo apócrifo proto-evangelho de Tiago. Neste, entre os elementos fantasiosos, é possível extrair algumas notícias úteis para delinear o perfil dos santos cônjuges. Seu culto, tão antigo no Oriente quanto o culto mariano, floresceu no Ocidente em 1584, quando foram instituídas a festa litúrgica de Santa Ana, fixada em 25 de julho e a de São Joaquim, no dia 20 de março. Esta, depois foi integrada à oitava da Assunção, passando em 1913 para o dia 16 de agosto e, finalmente, para 26 de julho, com o novo calendário litúrgico, o qual associa oportunamente os dois santos cônjuges, de cuja união advém, por santo privilégio divino, a imaculada conceição da Virgem.
           "Pelos frutos conheceris a árvore", diz Jesus no Evangelho. E talvez pensasse, nesse momento, nos dois santos avós. Conhecemos o fruto de seu amor, a Virgem Imaculada, santificada desde o primeiro momento no seio materno, portanto, um fruto não deteriorado pelo pecado origianal; "a cheia de graça", que tão só pela sua presença santificou o Batista no seio de Isabel. E uma vez que Maria, "termo fixo do eterno conselho", como diz Dante, é "aquela que a natureza humana enobrece", pode bem se dizer mediadora da graça sobretudo para seus privilegiados pais. O belo nome de Ana, que freqüentemente segue o de Maria, foi honrado por cinco santas e sete beatas.

São Joaquim e Santa Ana, rogai por nós!

São Francisco de Sales, Apresentação de Maria no Templo, trad. de Giancarlo Vigorelli

      

       Nossa Senhora Menina


       "É um admirável ato de simplicidade o dessa gloriosa menina que, mesmo enquanto estava encerrada no seio de sua mãe, nunca deixou de se entreter com a Divina Majestade. Ela se absteve de falar até o momento em que sua hora chegou, e mesmo então não o fazia como as outras meninas de sua idade, pois o que dizia vinha sempre muito a propósito.
        Ela permaneceu como um doce e pequeno cordeiro ao lado de Santa Ana, durante três anos, após os quais foi conduzida ao templo para ser apresentada, como Samuel que, à mesma idade, foi conduzido por sua mãe e consagrado ao Senhor. Ó, meu Deus, como desejaria poder vivamente imaginar a consolação e a suavidade dessa viagem da casa de Joaquim até o templo de Jerusalém! Que alegria manifestava aquela pequena menina, ao ver que era chegado o momento por ela tão desejado... Os bem-aventurados São Joaquim e Santa Ana cantavam ao longo do caminho, e nossa gloriosa Senhora e Padroeira com eles..."


Nossa Senhora Menina junto com seus santos pais Joaquim e Ana




São João Cassiano, monge

        
Cassianus portret.gif

         Nasceu aproximadamente no ano de 360 possivelmente no Império Romano do Leste, na Cítia Menor (atualmente Romênia). Ainda jovem ingressou no mosteiro de Belém, na Palestina. Depois ele viajou pelo Egito visitando vários mosteiros. No mosteiro de Constantinopla foi consagrado diácono por João Crisóstomo, o Patriarca de Constantinopla, de quem se tornou amigo. Quando Crisóstomo foi exilado, no ano de 404, João Cassiano foi enviado a Roma para pleitear sua causa diante do Papa Inocêncio I.
        Posteriormente, Cassiano fundou seu próprio mosteiro, no ano de  410, no estilo egípcio perto de Marselha, na França. Conhecido como Abadia de São Vítor, que foi um dos primeiros mosteiros masculinos, e o de São Salvador, feminino, ambos servindo de modelo para o desenvolvimento do período monástico ocidental. Ele é considerado o fundador do monasticismo ocidental.
         No mosteiro de Marselha estudaram vários teólogos relativamente brilhantes, dentre eles se destacam Vicente de Lérins e Fausto de Riez e o local se transformou no principal foco de oposição à teoria monergística, defendida por Agostinho. Os três juntos formaram a base de oposição, especialmente contra a crença na predestinação divina sustentada por Agostinho e seus seguidores.
        João Cassiano morreu no ano de 435, seus restos mortais estão na Abadia do Mosteiro de São Vítor em Marselha, na França.
        As principais obras de Cassiano foram: Da instituição do monasticismo, Discursos espirituais e Da encarnação do Senhor contra Nestório. Também escreveu uma série de Conferências dos diálogos que teve com vários abades dos mosteiros que visitara para tentar, assim demonstrar as falhas e as novidades dos conceitos de Agostinho a respeito da salvação. Ele procurou elaborar uma alternativa ao monergismo, como para o pelagianismo, desenvolvendo um sinergismo católico ortodoxo. A proposta de Cassiano conhecida como semipelagianismo, segundo a igreja ocidental, fracassou, entretanto tornou-se a teologia popular mais aceita por grande parte do catolicismo romano medieval.


Abadia de São Vitor em Marselha, França

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Santa Cristina de Bolsena, mártir


Martírio de Santa Cristina


Santa Cristina, Bolsena

Basílica de Santa Cristina em Bolsena, lugar do milagre eucarístico


          Quem tem esse belo nome pode escolher entre oito santas protetoras. Mas é certo que a preferência recai sobre essa jovem mártir, venerada em Bolsena, no fim do século IV, cuja Paixão serviu de inspiração a grandes artistas, de João della Robbia a Lucas Signorelli, de Paulo Veronese a Lucas Cranach. Mas, se a existência histórica dessa santa se encontra fora de discussão, é próprio da Lendária Passio latina ser pouco fidedigna.
          A narração se refere a uma jovem de 11 anos,cuja beleza atraía uma multidão de pretendentes. Com o fim de resguardá-la de más surpresas, Urbano, seu pai, oficial do império, recolheu-a numa torre em companhia de 12 meninas e de um igual número de estatuetas douradas dos deuses, para induzí-la a renegar o Deus cristão. Assim o fez para subtraí-la ao perigo da perseguição. Mas Cristina despedaçou as estátuas, recolheu o metal precioso e distribuiu aos pobres, induzindo o pai a passar das blandícias aos flagelos.
         Como a filha não desistisse, o desnaturado pai a entregou aos juízes, que imediatamente passaram aos métodos brutais, infligindo-lhe os mais dolorosos suplicios. Lançada à prisão para enlarguescer, trêa anjos apareceram para consolá-la e curar-lhe as feridas. Depois da enésima tentativa de fazê-la renegar a fé cristã, a moça foi jogada ao lago com uma pedra ao pescoço, mas os anjos seguraram a pedra para que Cristina não se afogasse. O pai, por sua vez, morreu, mas as peripécias da santa não tinham acabado.
          Novamente interrogada pelos juízes,submeteram-na dessa vez a uma série de bárbaras torturas: foi posta sobre uma grade de ferro quente e a seguir numa fornalha; cortaram-lhe os seios e a lançaram num fosso entre serpentes venenosas. Por fim, na falta de outros suplícios mais torpes, cortaram-lhe o tênue fio que ligava à vida, trespassando-a com duas flechas. Termina aqui a legendária Passio. À jovem mártir, escolhida padroeira de Bolsena, está dedicada à igreja construída sobre a gruta onde se guardam suas relíquias.