Natural da Galiza (Espanha), e nascido em 1808 no dia de Santiago, recebeu o nome de Tiago. Infância e juventude decorreram-lhe sem incidentes, numa vida cristã entregue ao estudo, e depois ao trabalho manual. Só aos 22 anos, depois de conhecer a futilidade do mundo, tomou o hábito dos frades menores, fez o noviciado e no ano seguinte a profissão religiosa, em busca da perfeição evangélica. Esses anos eram difíceis para as ordens religiosas, perseguidas humilhadas, obrigadas a fechar os conventos e suprimir tudo o que pudesse denunciá-las, como o uso das vestes religiosas. João Tiago, como muitos outros, perseverou na sua vocação, convencido de que não é o hábito que faz o monge...
Em 1859 pediu e obteve autorização para ir para a Palestina, como missionário. E passado pouco mais dum ano imolava a vida pelo Senhor no convento de Damasco. Em 1860 os drusos, que habitavam no Líbano, desencadearam contra os cristãos uma terrível e bárbara perseguição: destruíam povoações inteiras, campos e vinhas, e matavam todos os cristãos que encontrassem, sem pouparem sequer as crianças. Morreram cerca de 6.000. Em Damasco, associados aos maometanos, destruíram a ferro e fogo igrejas, conventos e casas de católicos.
Entre os numerosos mártires houve sete franciscanos do convento de Damasco, que pereceram heroicamente com o respectivo guardião, o B. Manuel Roiz, depois de se terem encomendado a Maria e se terem alimentado com o pão dos fortes, na noite de 9 para 10 de julho de 1680.
João Tiago e um confrade, Francisco Pinazzo, tinham-se refugiado no campanário da torre, mas foram aí descobertos pelos perseguidores. Intimados a abandonarem a fé cristã e abraçarem a islâmica, responderam: <<Só temos uma alma, e não queremos perdê-la abjurando das nossas crenças. Somos cristãos e religiosos franciscanos, e como tais queremos viver e morrer>>. Enfurecidos com a coragem da resposta, os mulçumanos agrediram-nos à pancada e à paulada com tal violência que ao nosso herói lhe partiram a coluna vertebral, depois do que lá do alto o atiraram ao chão. Apesar disso, ainda conseguiu sobreviver até a manhã seguinte, no meio de indizíveis sofrimentos. Quando pela madrugada passou por ali um turco e deu conta do religioso ainda vivo, mas agonizante, com os membros fraturados e banhado no próprio sangue, puxou da cimitarra e deu-lhe o golpe de misericórdia.
Foi assim que João Tiago Fernandes, a última dessas vítimas franciscanas, se juntou no céu aos seus confrades que já gozavam da glória de Deus. Toda a fraternidade de Damasco tinha sido imolada pela fé. A Custódia franciscana da Terra Santa escreveu assim com letras de ouro, uma nova página triunfal.