quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Beata Joana de Aza, mãe de S. Domingos de Gusmão


     Não se tem muita informação sobre Joana de Aza - que alguns chamam de santa e outros de beata.  O que se sabe principalmente é que foi mãe do grande São Domingos de Gusmão e que era uma mulher virtuosa, muito compassiva.
     Seu pai era D. Garcia Garcés, senhor do condado de Aza, marechal-mor de Castela e tutor do rei Afonso VIII, e sua mãe Da. Sancha Bermúdez de Trastamara. Joana nasceu, portanto, no seio de uma família nobre, várias vezes entrelaçada com a casa real de Castela. Seu ano de nascimento deve ter sido 1140.
     Aos vinte anos Joana de Aza se casou com D. Félix Ruiz de Gusmão, senhor de Calaruega. Dante saudou este nobre consórcio no seu Paraíso. Os seus nomes estavam cheios de simbolismos: Félix, "feliz",Joana, "o senhor é a sua graça".
     O casal vivia em Calaruega e ali nasceram seus filhos. O mais velho, Antonio, foi sacerdote e consagrou a vida aos peregrinos e aos enfermos que iam ao sepulcro de São Domingos de Silos, próximo de Calaruega. O segundo, Manes, ou Mamerto, seguiu o irmão mais novo e se fez dominicano. São Domingos foi o terceiro dos irmãos e recebeu este nome (que significa homem do Senhor) por causa de um sonho que sua mãe teve nos meses que precederam o seu nascimento.
     É muito conhecido o fato: Joana sonhou que levava em seu seio um cachorrinho (alguns dizem que ele era branco e preto) portando uma tocha acesa em sua goela, e que ele saia incendiando o mundo. Joana se assustou e foi rezar a São Domingos de Silos, morto cem anos antes, na abadia beneditina que conserva o túmulo do fundador. Fez uma novena e parece que prometeu que o filho haveria de ter o mesmo nome do Santo.
     Esta santa mãe não podia prever que seu filho haveria de eclipsar o bom São Domingos de Silos, sob cuja proteção nasceria. Mas, no céu os Santos não se preocupam com as glórias terrenas. O certo é que a criança foi protegida por São Domingos de Silos: a mãe foi consolada, o menino nasceu e iluminou o mundo com sua santidade.
     O costume das mulheres que prevêem partos difíceis se dirigirem aos monges de Silos pedindo fitas que tenham sido tocadas nas relíquias do Santo continua até os dias de hoje. Elas as conservam até o momento de darem à luz, e muitas vezes sua confiança é recompensada.
     O nascimento de Domingos deu-se no dia 24 de junho, dia de São João Batista, o precursor. Domingos também haveria de ser uma voz que endireitava caminhos: fundaria a Ordem dos Irmãos Pregadores, ou Dominicanos.
     Várias circunstâncias milagrosas cercaram o batizado do Santo. No dia de seu batizado, ocorrido em Calaruega, o celebrante que rezava a Missa de ação de graças equivocou-se: por três vezes, ao dirigir-se ao povo, ao invés de dizer Dominus vobiscum, dizia Ecce reformator Ecclesiae. Isto é, em vez de anunciar aos fiéis que o Senhor estava com eles, dizia que ali estava o reformador da Igreja. A madrinha viu uma estrela sobre a cabeça do menino.
     Joana foi com o marido a Silos para agradecer ao Santo tal nascimento, e Deus abençoou ainda mais tarde essa união: dois sobrinhos de São Domingos também se tornariam dominicanos.
     Joana criou Domingos com o próprio leite, formou-o com o seu coração e a sua intelig6encia; levava com freqüência o pequeno a Ucclés, ao túmulo do seu tio-avô, o Beato Pedro. A tradição popular conservou naquele local um eremitério da Beata Joana e uma fonte de São Domingos.
     Mas, o menino não viveria muitos anos com seus pais. Aos sete anos, Joana o confiou a um irmão seu, pároco de Gumiel de Izán. Este se encarregou da educação do pequeno Domingos. Não havia então escolas nos povoados e era preciso que ele se armasse da palavra para combater as heresias.
     De sua mãe deve ter aprendido, quando pequenino, a virtude da compaixão. Aos catorze anos, Domingos viu um dia que, devido a grande seca, o povo sofria de uma fome terrível. Vendeu todos os seus livros, todos os seus pergaminhos, pois dizia "Não quero peles mortas quando vejo perecer as vivas".
     Mais do que ter dado à luz São Domingos de Gusmão, Joana, com seu exemplo, foi a luz que iluminou sua infância.
     A Beata Joana de Aza era uma grande mestra da caridade alegre e compassiva. Os historiadores do século XIII mencionam um único fato, que chegou até nossos dias, que comprovam essa virtude.
     Com grande confiança se aproximavam de Joana os pobres, os débeis, os doentes. Sabiam por experiência própria que aquela mulher dominava a arte de dar. Com um sorriso nos lábios, com simplicidade ela dava o que possuía.
     O esposo de Joana, D. Félix, senhor de Calaruega, possuía uma farta adega, pois o vinho era reconfortador após um dia de fadigas. E ele apreciava o bom vinho.
     D. Félix estava ausente e, quando os pobres procuraram por Joana, ela lhes deu o vinho do esposo, além de outras coisas costumeiras.  Os historiadores relatam que além das esmolas, repartiu o vinho; além dos socorros, a alegria do bom vinho. O vinho que consolava o coração de D. Félix consolaria também os corações dos que não tinham vinho.
     Aconteceu de chegar D. Félix com sua comitiva e, na presença de todos, pediu à esposa que lhe trouxesse um pouco daquele vinho que tinha na adega. Talvez ele soubesse da generosa distribuição que a esposa fizera... O fato é que a pobre Joana desceu até a adega - e em que estado pode-se imaginar - e pediu a ajuda de Deus Nosso Senhor. Ele seria menos generoso do que Joana? Ela encontrou vinho no barril e D. Félix pôde alegrar seu coração com o bom vinho! Dizem as crônicas que todos reconheceram a santidade de Joana de Aza e deram graças por tudo.
     Acredita-se que a Beata faleceu por 1190. Enterrada em Calaruega, foi depois levada para Gumiel de Izán e repousa atualmente em Penafiel, província de Valladolid (não a Penafiel portuguesa).
     Mesmo depois de morta não cessaram de pedir-lhe coisas: os lavradores invocavam-na pedindo a fertilidade das terras; quando faltava a chuva, lembravam-se de recorrer a Joana; quando os gafanhotos apareciam, procuravam por ela... E a Beata Joana de Aza, como uma boa mãe de família, atendia aos pedidos de seus filhos, e continua até hoje a atendê-los!
     O Papa Leão XII confirmou o culto da Beata em 1828.