quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Beata Vitória Rasoamanarive, viúva e princesa de Madagáscar


      A Beata Vitória Rasoamanarive, nasceu em 1848 na cidade de Tananarive na grande Ilha de Madagáscar, e pertencia a uma das mais poderosas famílias dos Hovas: seu avô materno foi primeiro ministro por vinte anos quando era rainha Ranavalona (1832-1852) e era irmã de Rainilaiarivony, que exerceu a mesma função por mais de 30 anos, de 1864 a 1895.
     Segundo o uso do país, foi adotada pelo irmão mais velho do pai, de quem se sabe pouco; o tio Rainimaharavo era comandante geral do exército malgaxe.
     Rasoamanarive (este era seu nome original) cresceu recebendo, principalmente da mãe, uma ótima educação moral e seguia a religião idolátrica dos seus ancestrais. Mas quando alguns missionários franceses chegaram a Madagáscar, e se estabeleceram em Tananarive, ela ingressou na escola das Irmãs de São José de Cluny, abraçou a fé católica e no dia de Todos os Santos de 1863 foi batizada, recebendo o nome de Vitória.
     Madagáscar sofria então influência colonial da França, o que resultava em descontentamentos e tumultos; quando o Rei Radana II, considerado demasiado amigo da França foi afastado, se desencadeou uma perseguição mais ou menos aberta contra a missão católica, pois a nacionalidade francesa dos missionários supunha um apoio aos interesses coloniais da França.
     Vitória teve que suportar a insistência de seu pai adotivo que procurava convencê-la a deixar a fé católica e retornar ao paganismo, ou abraçar a fé anglicana, que naquele tempo estava bem radicada em Madagáscar. Vitória resistiu com firmeza a todos os pedidos, ameaças e até castigos corporais. Pensou mesmo em ingressar num convento. Todavia os missionários foram de parecer que isso era uma imprudência e aconselharam-na a permanecer na família e a ser apóstola no mundo.
     Finalmente ela contraiu matrimônio em 13 de maio de 1864, perante um sacerdote católico, com o jovem Radriaka, filho do primeiro ministro e comandante do exército. O marido era um homem dissoluto, o que provocou tais sofrimentos à jovem esposa, que chegou a ser aconselhada pelos parentes a se divorciar. Ela, porém, cônscia da indissolubilidade do matrimônio e certa de que provocaria escândalo perante a opinião pública uma princesa católica se divorciar, preferiu aguentar a dolorosa situação até à morte de Radriaka, que ocorreu em 1887.
     Pelos seus magníficos exemplos de vida autenticamente cristã, conquistou a simpatia e o respeito de todos: povo e autoridades. Serviu-se desse prestígio para se tornar o sustentáculo da fé católica defendendo-a continuamente junto a rainha e ao poderoso primeiro ministro nos anos em que os missionários foram expulsos (1883-1886). Intervinha para que as igrejas e as escolas católicas permanecessem abertas, encorajava os católicos enviando mensageiros ou indo pessoalmente aos vilarejos vizinhos. Visitava os pobres, os presos e os leprosos, procurando socorrê-los na medida do possível.
     Segundo uma expressão malgaxe, tornou-se “Pai e Mãe” dos fieis e a coluna da Igreja, que ficou privada de seus pastores. Quando em 1886 os missionários puderam retornar, encontraram uma comunidade católica florescente e vigorosa, resultado de seu mérito.
     Sofreu várias enfermidades com grande paciência e faleceu no dia 21 de agosto de 1894, aos 46 anos. Foi grande o pesar do povo. Embora não desejasse, foi sepultada triunfalmente no mausoléu de seus antepassados em Tananarive.
     A causa de sua beatificação foi iniciada somente em 14 de janeiro de 1932. Depois do processo canônico e da comprovação de um milagre atribuído à sua valiosa intercessão, foi beatificada pelo papa João Paulo II em 29 de abril de 1989, em Antananarivo, Madagáscar.