quinta-feira, 4 de agosto de 2011

São João Maria Vianney, presbítero

         


           São João Maria Batista Vianney, nasceu em Lyon, Dardilly no dia 8 de maio de 1876 e faleceu em Ars-sur-Formans no dia 4 de agosto de 1859. João Maria Batista Vianney, era de origem pobre e humilde, foi o quarto filho de Mateus e Maria Vianney.
          Nasceu pouco antes de irromper a Revolução Francesa em 08 de Maio de 1786 em uma pequena aldeia, Dardilly, que fica perto de Limonest, a dez quilômetros ao norte de Lyon, na França. Foi batizado no mesmo dia em que nasceu. No batismo recebeu o nome de João, ao qual acrescentou o de Maria por especial devoção à Maria Santíssima. Desde a infância, manifestava uma forte inclinação à oração e um grande amor ao recolhimento. Muitas vezes era encontrado num canto da casa, jardim ou no estábulo, rezando, de joelhos, as orações que lhe tinham ensinado: o Padre-Nosso, a Ave-Maria, etc. Os pais, principalmente a piedosa mãe, Maria, cultivavam no filho esse espírito de religião e de piedade, que o levou a crescer na fé e ser devoto de Maria Santíssima.
          Durante os anos da Revolução Francesa, quando a igreja da vila foi fechada pela perseguição religiosa, ele continuava a rezar. Para fazer isso, ele aproveitava algum tempo de seu trabalho, de cuidar de animais junto com seus irmãos, para rezar. Ele continuava a rezar, no final do dia, as orações habituais em casa com seus pais. Ele gostava de ajudar os pais nas caridades que eles faziam, ajudando os necessitados. Quando jovem, caiu doente e passou quatorze meses nos hospitais de Lyon e de Roanne e não pode entrar para o serviço militar durante o império napoleônico, teve que viver escondido, exposto a graves perigos. Desde pequeno queria ser padre a todo custo, mas esbarrou em dois obstáculos: pobreza e sobretudo a escassa inteligência.
          Em 1813, com vinte anos, ele ingressou no seminário Santo Irineu, em Lyon. Todos os cursos que devia fazer eram dados em latim. O problema surgiu de imediato; João Maria não entendia nada, e nas provas do primeiro mês tirou notas baixas, que o desclassificaram, mas estas notas não eram definitivas. Insiste em entrar na Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs, mas não é admitido pelas mesmas razões. Por causa disto, ele foi mandado de volta para Ecully, para estudar Teologia com seu amigo, padre Balley. O padre nesse tempo o ensinou na língua Francesa, língua do Vianney, e no final do curso ele fez as provas em Francês, e foi aprovado. Assim ele foi readmitido no Seminário. No dia 02 de Julho de 1814 foi ordenado Subdiácono.
          João Maria continuou seus estudos na casa do amigo, padre Balley. Depois da batalha de Waterloo, quando os austríacos invadiram a região, João Maria foi a pé por falta de transporte, para Grenoble. Lá, no dia 13 de Agosto de 1815, ele foi ordenado padre, aos 29 anos de idade. No dia seguinte celebrou sua primeira Missa! Ao Padre Vianney ninguém lhe fazia prognósticos animadores. Faltavam-lhe os apregoados dotes da razão que tanto faziam a grandeza dos séculos das luzes. Por essa razão, os padres estavam queixando-se ao bispo de Balley e pela mesma razão o bispo lhes respondera: “Não sei se ele é instruído; sei que é iluminado”.
         Começou a sua vida sacerdotal como ajudante do bispo Balley. O bispo Balley, continuou a dar ao padre Vianney os cursos de Moral e Teologia, Em Dezembro de 1817, o estado de saúde do bispo Balley agravou e ele faleceu. Em Janeiro de 1818 veio o novo pároco para Ecully, mas ele tinha uma vida totalmente diferente do padre Vianney. Na verdade, o Padre Vianney era diferente. A par da simplicidade mais natural e de uma autêntica humildade, irradiava dele algo superior à inteligência, uma forma mais elevada de ver as coisas, que se manifestava nos conselhos que dava no jeito de conversar com as pessoas, de lhes ouvir os problemas e de lhes sugerir soluções ou confortá-las.
         O Arcebispo de Lyon, Arquidiocese sede da Diocese de Ecully, sabendo dessa diferença pediu ao Vigário Geral Courbon, para informar ao padre Vianney, que ele seria transferido para a paróquia da Aldeia de Ars-em-Dombes. De nada mais que 200 a 300 habitantes, no dia 9 de fevereiro de 1818, uma sexta-feira, João Maria Batista Vianney chegou em Ars, para cuidar de uma capela semi-abandonada.
         Veio em uma carruagem, guiada por um paroquiano de Ecully, onde carregou seus pertences e uma biblioteca com trezentos volumes. Apesar de pequena instrução, gostava de ler livros. Ao chegar à cidadezinha ficou meio confuso, porque a neblina cobria as casas. O entendimento foi difícil pois o menino, Antonio Givre, não sabia Francês e o dialeto de Ars era bem diferente de Ecully.
         Então perguntou ao garoto: “Menino, onde está Ars?” O menino apontou com o dedo dizendo-lhe: “É ali mesmo”. E João Maria Vianney disse ao menino: “Você me ensinou o caminho de Ars, e eu lhe ensinarei o caminho do céu”. Essa predição era enfática, mas situada no tom romântico da época. Predição, ou não, o certo é que o pequeno pastor Antonio Givre morreu alguns dias depois dela. Um monumento de bronze, na entrada de Ars, lembra esse primeiro encontro. O Padre entrou no povoado levando muitos sonhos e esperanças. João Maria Batista Vianney era simples, por isso, quando chegou na paróquia de Ars, devolveu alguns móveis à proprietária, deixando somente o necessário.
         A sua alimentação era muito simples, apenas algumas batatas cozidas. Nem imaginava quanto iria sofrer ali dentro. Ars era pequena no tamanho, mas enorme quanto aos problemas: muitas casas de jogatina, de prostituição, de vícios, cidade paganizada. A capela estava sempre vazia.
         Em 1818, Ars-em-Dombes era uma caricatura cristã. A fé não era vista com seriedade. A capela estava sempre deserta, o povo não frequentava os sacramentos e o domingo era marcado por festas profanas. Aí ele dobrou seu tempo de oração. O Padre Vianney se pôs a rezar, fazer jejuns e penitência. Visitava as famílias e as convidava para a Santa Missa.
          Ars começou a transformar-se. Alguns começaram a ir à capela. A capela se enchia. Então o pároco fundou a Confraria do Rosário para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens. Diante disso, os donos dos bares e organizadores de jogatinas começaram dura perseguição contra o Padre Vianney. Este chegou a dizer, “Ah, se eu soubesse o que é ser vigário, teria entrado num convento de monges”. Ars Virou santuário com peregrinações. Pessoas cultas de outras cidade iam ouvir as homilias do Cura d’Ars.
           Quando algum padre lhe perguntava qual o segredo de tudo aquilo, o Padre Vianney lhe respondia: “Você já passou alguma noite em oração? Já fez algum dia de jejum?”. Ele viveu toda a sua vida dedicada a Deus. Ele repousava de 02 a 04 horas no máximo por noite. Quando acordava ia a Igreja, rezava diante do Sacrário e depois ia confessar seus paroquianos. Eram inúmeras as pessoas que vinham se confessar com ele. Ele passou a maior parte de sua vida no confessionário. Chegava a ficar 14 horas confessando os paroquianos. Como era grande o número de pessoas, ele dividiu em vários confessionários, um para mulheres outro para homens, outro para doentes, etc. Ele marcava os horários para cada um.
           O Cura d’Ars acreditava no poder da oração e do jejum e na resposta do bom Deus. Ele tinha em sua mente a exortação de São Paulo Apostolo: “Orai sem cessar” (1 Ts 5, 17). Não era orador, não falava com eloquência, nas homilias perdia o fio da meada, atrapalhava-se, outras vezes não sabia como acabá-las cortava a frase e descia do púlpito acabrunhado.
           O mesmo acontecia na catequese. No confessionário, porém, estava sua maior atuação pelo mistério da Providência Divina. No aconselhamento das pessoas falava do bom Deus de forma tão amorosa que todos saiam reconfortados. Não sabia usar palavras bonitas, ideias geniais, buscava termos do quotidiano das pessoas. No confessionário viveu intensamente seu apostolado, todo entregue às almas, devorado pela missão, integralmente fiel à vocação. Do confessionário seu nome emergiu e transbordou dos estreitos limites Ars-em-Dombes para aldeias e cidades vizinhas. Os peregrinos que desejavam confessar-se com ele começaram a chegar.
           Nos últimos tempos de vida eram mais de 200 por dia, mais de 80.000 por ano. Corpo incorrupto de São João Maria Batista Vianney, João Maria gostava muito de São Francisco, por isso, ele estava inscrito na Ordem Terceira Franciscana. Ele amava os pobres e ajudava sempre que tinha dinheiro e principalmente na parte espiritual. João Maria gostava muito também de Santa Filomena, e muitos escritores vinham ouvi-lo falar dela, e escreviam vários livros.
          Um deles é o “Santa Filomena Virgem Mártir” segundo “Santo Cura d’Ars”. Ele queria construir uma igreja para a Santa Filomena, mas não conseguiu, e hoje atrás da sua igreja foi construída uma basílica em honra de Santa Filomena, onde seu corpo incorrupto repousa num relicário. O seu coração está conservado até hoje em uma capela dentro de um relicário. O padre Vianney transformou o lugarejo de Ars em uma aldeia menos ateia, com mais amor a Deus do que aos prazeres terrenos. Toda vez, antes de começar a Santa Missa, ele tocava o sino, na torre em que ele construiu, para avisar que era hora do cristão rezar, lembrar de Deus. Ele próprio ensinava catecismo para as crianças. João Maria era de estatura pequena, mas de constituição robusta.
           Sua vida de intenso trabalho, pouca alimentação, jejum e penitência, provocou um enfraquecimento. Aos 73 anos de idade, na terça-feira, 02 de Agosto de 1859, João Maria Batista Vianney recebe a Unção dos Enfermos. Na quarta-feira, 03 de Agosto, assina seu testamento, deixando seus bens aos missionários e seu corpo à Paróquia. Às duas horas do dia 04 de Agosto de 1859, morre placidamente. Nos dias 04 e 05, trezentos padres mais ou menos e uma incalculável multidão desfilaram diante do seu Corpo, em prantos, para despedir.
           Quando chegou à cidadezinha ninguém veio recebê-lo, quando morreu a cidade tinha crescido enormemente e multidões de peregrinos o acompanharam à última morada. A Igreja, que pela lógica humana receara fazê-lo sacerdote, curvou-se à sua santidade. João Maria Vianney foi proclamado Venerável pelo papa Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo papa Pio XI em 1925 e pelo mesmo foi declarado padroeiro de todos os párocos do mundo, em 1929. Esse é o Santo Cura d’Ars, cuja memória, celebramos no dia 4 de agosto.
            A vida do Santo Cura d’Ars confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29). São dois grandes pensamentos conhecidos do povo católico no mundo inteiro do sábio Santo Cura d’Ars. O primeiro é: “Deixai uma paróquia 20 anos sem Padre e lá os homens adorarão os animais”. E o segundo: “Quem não tem tempo a perder para Deus, perde seu tempo”. Louvado seja o bom Deus pelo Santo Cura d’Ars.Uma frase interessante dita por São João Maria Vianey: "Para ser santo é preciso ser louco, ter perdido a cabeça".


Corpo incorrupto de São João Maria Vianney


Basilica

Basílica de São João Maria Vianney em Ars, França.

casa Juan Vianney

Casa paroquial onde residiu São João Maria Vianney.

confesionario

O confessionário na igreja onde ouvia as confissões de milhares.





quarta-feira, 3 de agosto de 2011

São Pedro de Anagni, monge beneditino

          Provinha da nobre família dos príncipes de Salerno e era monge beneditino em Anagni, quando o Papa Alexandre II, que ali se encontrava exilado, nomeou-o bispo da mesma cidade. Construiu a nova catedral. Esteve em Constantinopla, a mandado de Alexandre II, como embaixador junto ao imperador. Participou da primeira Cruzada e retornou à sua diocese. Foi canonizado apenas cinco anos decorridos do seu falecimento.


São Pedro de Anagni, rogai por nós.


Cattedrale di Santa Maria_anagni

Catedral de Santa Maria em Anagni.



Santa Lídia, discípula de São Paulo

Os apóstolos Silas, Timóteo e Lucas acompanhavam Paulo em sua segunda missão na Europa, quando chegaram em Filipos, uma das principais cidades da Macedônia, que desfrutava de direitos de colônia romana. Lá encontraram uma mulher que lhes foi de grande valor.
Eles já haviam passado alguns dias na cidade. Mas Paulo e seus companheiros pensavam em ficar até o sábado, pelo menos, pois era o dia em que os correligionários judeus se reuniriam para as orações. Como Filipos não tinha sinagoga, o local mais provável para o encontro seria às margens do pequeno rio Gangas, que passava fora da porta da cidade.
Assim entendendo, ao procurarem o lugar ideal para suas preces, como nos narra são Lucas nos Atos dos Apóstolos, eles foram para lá e começaram a falar com as mulheres que já estavam reunidas. Entre elas estava Lídia, uma comerciante de púrpura, nascida em Tiatira, na Ásia.
Ela escutava com muita atenção, pois não era pagã idólatra, acreditava em Deus, o que quer dizer que tinha se convertido à fé dos judeus. E o Senhor abrira o seu coração para que aderisse às palavras de Paulo.
Lídia era uma proprietária de sucesso, rica, influente e popular, exercendo sua liderança entre os filipenses e, principalmente, dentro da própria família. Isso porque a púrpura era um corante usado em tecidos finos, como a seda e a lã de qualidade. Na época, o tecido já tingido era chamado de púrpura, e o mais valioso existente. Usado como símbolo de alta posição social, era consumido apenas pela elite das cortes.
Quando terminou a pregação, Lídia tornou-se cristã. Com o seu testemunho, conseguiu converter e batizar toda a sua família. Depois disto, ela os convidou: "Se vocês me consideram fiel ao Senhor, permaneçam em minha casa". E os forçou a aceitar.
Esta, com certeza, foi a primeira e maior conquista dos primeiros apóstolos de Cristo. A casa de Lídia tornou-se a primeira Igreja católica no solo europeu.
Lídia usou todo o seu prestígio social, sucesso comercial e poder de sua liderança para, junto de outras mulheres, levar para dentro dos lares a palavra de Cristo, difundindo, assim, a Boa Nova entre os filipenses. A importância de Lídia foi tão grande na missão de levar o Evangelho para o Ocidente que cativou o apóstolo Paulo, criando um forte e comovente laço de amizade cristã entre eles.
O culto a santa Lídia é uma tradição cristã das mais antigas de que a Igreja Católica tem notícia. A sua veneração é respeitada, pois seus atos são sinais evidentes de sua santidade.

São Pedro Julião Eymard, pregador e confessor


Pedro Julião Eymard nasceu no norte da França, em Esère, no dia 4 de fevereiro de 1811, primeiro filho de um casal de simples comerciantes, profundamente religioso. Todos os dias, sua mãe levava-o à igreja, para receber a bênção eucarística. Assim, aos cinco anos de idade, despontou sua vocação religiosa e sacerdotal.
         
Mas encontrou a objeção do seu pai. Apesar de muito religioso, ele não concordou com a decisão do filho, porque precisava da sua ajuda no trabalho, para sustentar a casa. Além disto, não tinha condições de pagar as despesas dos estudos no seminário. Diante desses fatos, só lhe restava rezar muito enquanto trabalhava e, às escondidas, estudar o latim. Em 1834, conseguiu realizar o seu sonho, recebendo a ordenação sacerdotal na sua própria diocese de origem.
Após alguns anos no ministério pastoral, em 1839, padre Eymard entrou na recém-fundada Congregação dos Padres Maristas, em Lyon. Nesta Ordem permaneceu durante dezessete anos, chegando a ocupar altos cargos. Foi quando recebeu de Maria Santíssima a missão de fundar uma obra dedicada à adoração perpétua da eucaristia.
Aliás, padre Eymard já notava que havia um certo distanciamento do povo da Igreja. Algo precisava ser feito. Rezou muito, pediu conselhos aos superiores e para o próprio papa Pio IX. Entretanto, percebeu que por meio do Instituto dos Maristas não poderia executar o que era preciso. Deixou o Instituto e foi para Paris.
Lá, em 1856, com a ajuda do arcebispo de Paris, fundou a Congregação dos Padres do Santíssimo Sacramento. E, depois de três anos, a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. Mais tarde, também fundou uma Ordem Terceira, em que leigos comprometem-se na adoração do Santíssimo Sacramento.          Padre Pedro Julião Eymard foi incansável, viajando por toda a França, para levar sua mensagem eucarística. Como seu legado, além da nova Ordem, deixou inúmeros escritos sobre a espiritualidade eucarística.
Muito doente, ele faleceu na sua cidade natal no dia 1°. de agosto de 1868, com apenas cinqüenta e sete anos de idade.
Beatificado pelo papa Pio XI em 1925, foi canonizado pelo papa João XXIII em 1962. Na ocasião, foi designado que a memória litúrgica de são Pedro Julião Eymard deve ser celebrada em 2 de agosto, um dia após o de sua morte.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Santo Eusébio de Vercell, bispo

          Santo  Eusébio era  filho de  pais  piedosos e ricos;   nasceu na  ilha da Sardenha.   Instruído  nas ciências sacras e profanas em Roma,  foi unido ao clero romano, quando São Silvestre governava a Igreja.   Mais  tarde  foi destacado para Vercelli, no Piemonte, para dirigir aquela diocese. Segundo testemunho de  Santo Ambrósio, foi o primeiro  sacerdote secular do Ocidente, que com este estado ligava  o  de sacerdote  regular, e que obrigava o clero da  cidade a  levar uma vida  quase de monges. 
          Eusébio vivia  com o clero em comunidade. Pela  oração e penitência, pediam-se as  bênçãos de Deus para o trabalho da  cura de almas. Além disto estudavam os santos livros, trabalhavam nas paróquias e  ocupavam-se de ofícios  manuais.  Referindo-se a  este estado de vida, Santo Ambrósio disse: "Pode  haver coisa mais maravilhosa? Tudo ali é digno de imitação. O rigor do jejum é compensado pela paz da  consciência e pelo  sossego da alma. O poder do bom exemplo sustenta a todos. O que mais custa à natureza, torna-se  fácil pelo costume".  
          Desta santa comunidade saiu uma série de excelentes bispos. Esta vida  em comum preparou Eusébio para as lutas que o esperavam, e deu-lhe  força para sair  vencedor de todas.  Já em 355, apareceu a primeira dificuldade,  quando o Imperador Constâncio convocou o Concílio de  Milão, ao qual Eusébio se  negou a comparecer, prevendo a preponderância que haveria de elementos arianos. Só quando recebeu o convite escrito do imperador, dos bispos arianos e  católicos, prontificou-se a  ir, mas com a declaração, de que agiria  segundo  a  sua consciência e  os ditames da justiça.   Esta declaração  determinou os membros do Concílio a  dar-lhe acesso às  sessões, bem como ao Legado do Papa, mas só no décimo dia, quando não  havia mais nada  a  receber de sua presença. Ainda assim exigiram  que assinasse  uma bula, que continha a  excomunhão de Santo Atanásio, a que  se opôs enérgica e resolutamente, apelando para a  assembléia que devia respeitar  as  resoluções do  Concílio de Nicéia. 
           As sessões do Concílio  foram então transferidas  para os salões do palácio imperial, e foi ali  que o imperador, com a espada em punho, exigiu  peremptoriamente que assinasse  aquele  documento.  Eusébio ainda assim negou a assinatura, o que lhe importou a prisão e  o exílio para  Scitópolis, na Palestina. Os católicos  viram neste gesto do santo  o triunfo da fé católica,e deram a  Eusébio  as provas  mais claras e comoventes de  solidariedade e  dedicação. Em Scitópolis teve  de sofrer  muitas contrariedades, da parte do bispo ariano daquela cidade. O fanatismo dos arianos  chegou a  ponto de maltratar  fisicamente  o santo prelado e pô-lo  em incomunicabilidade  com os  católicos. Eusébio  passou  por um verdadeiro martírio. O Seu consolo  era o amor dos católicos, que o cumulavam de  atenções, sempre que podiam e a visita de Santo Epifânio.  Os arianos, porém, não o deixavam em paz. Se por algum tempo conseguia  livrar-se da  prisão, outra mais apertada se  lhe abria. Assim aconteceu que, arrebatado dos católicos, ficasse preso, incomunicável, durante seis dias, sem se alimentar. O alimento que os arianos lhe ofereciam, rejeitava-o e aos católicos  era impossível chegar aonde estava. No sexto dia os católicos apareceram em  grande número e com veementes protestos e grandes ameaças, exigiram a libertação do bispo. 
            De Scitópolis, Eusébio foi transferido para a Capadócia e  de lá para Tebaida, onde permaneceu até a morte do imperador Constâncio,  em 361.  Sob o governo de Juliano, Apóstata, os bispos católicos exilados  tiveram  liberdade  de voltar  para as dioceses. Depois de uma expatriação de seis  anos, Eusébio foi a  Alexandria, onde Santo Atanásio realizava  um Concílio, a que assistiu  para depois se  dirigir a Antioquia, onde reinavam graves dissensões entre os  católicos. Deixando Antioquia, visitou quase todas as Igrejas do Oriente, confortando os católicos, animando os fracos  e  chamando os separados ao seio da Igreja. Igual apostolado  realizou na Ilíria, onde o arianismo  tinha produzido lamentáveis estragos.   Por fim, chegou à Itália, onde teve uma recepção brilhante, em que tomaram parte os  colegas do episcopado e o povo.  Em companhia de Santo Hilário , bispo de Poitiers, começou o apostolado de unificação das Igrejas.   Eusébio e Hilário contestaram a  legitimidade  do bispo ariano Auxênio em Milão;  nada, porém, conseguiram, porque  Auxêncio soube habilmente enganar o inperador  Valentiniano e alguns bispos. 
           Depois de tantos trabalhos e  lutas, Eusébio retirou-se  para a  sua  diocese de Vercelli, onde encontrou tudo em boa ordem, graças ao zelo do clero por ele  formado. Não tardou muito que Deus  chamasse  seu fiel  servo ao bem merecido  repouso, em 370. Por causa dos grandes sofrimentos  que passou  Santo Eusébio, em defesa da fé, deu-se-lhe o título de mártir.  

Reflexões: 

            Como é  admirável  a firmeza de Santo Eusébio nas lutas, nas dificuldades, nas perseguições! Desta firmeza o católico  deve procurar  ter  uma boa parcela. Muitas  vezes se vê o contrário. Se vem uma contrariedade, é fácil ouvirem-se  palavras de  desânimo, de queixas contra Deus e  até ameaças de abandonar a religião.  Quando vai tudo bem, não é preciso muita virtude, por  achar fácil a  conformidade  com a vontade de Deus. 
           Sofrer pelo amor de Deus é uma honra, uma segurança. Muitos pensam contrariamente, julgando ser uma graça especial de Deus quando não se sofre nada. O pecador, que assim raciocina,  engana-se.  São Bernardo escreve: "Quem pecou, não experimentando o castigo de Deus, pode estar certo que é objeto da  ira de Deus. Deus condena no outro  mundo a  quem nesta vida não conseguiu  corrigir pela  adversidade".  De Santo Agostinho  são as seguintes  palavras: "Se vives em pecado e  Deus  não te castiga, mal sinal é".  A isenção de sofrimento, portanto, longe de ser sinal da amizade de Deus, deve causar sérias apreensões  ao pecador.  Aos amigos,  Jesus  Cristo oferece o cálice da dor. Disso  tens a prova nos Apóstolos, mártires e confessores. Queres fazer exceção desta honrosa  regra?     

Santo Eusébio de Vercelli, rogai por nós.


Sé da Arquidiocese de Vercelli

Catedral de Vercelli, Itália



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja

       
         Santo Afonso Maria de Ligório, bispo, escritor, poeta, musicista, Doutor da Igreja, foi fundador de uma das mais ativas e numerosas congregações religiosas: os Padres Redentoristas. Nasceu perto de Nápoles, Itália, em 1696, filho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles.
          Do pai herdara uma vontade férrea, inteligência viva e perspicaz, enquanto que a mãe plasmou seu coração para a fé a bondade. Ainda pequeno, recebeu do Santo São Francisco de Jerônimo da Companhia de Jesus, a seguinte profecia: "Esta criança, não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus".
          Seu pai destinou-o aos estudos das artes liberais, das ciências exatas, das disciplinas jurídicas, conseguindo Afonso rápidos e surpreendentes progressos. Aos dezesseis anos anos doutorou-se em direito civil e eclesiástico e começou a colher louros e triunfos no foro. Seu pai sentia-se orgulhoso do brilhante futuro que se abria ao filho e já tinha preparado uma noiva, rica e nobre, mas no coração de Afonso, já havia a graça divina aberto profundos sulcos, e inspirado outras rotas de grandeza.
          Como advogado, já de renome, recebeu uma causa de grande importância do Duque Orsini contra outro príncipe, o grão-duque de Toscana. Meticulosamente nosso advogado estudou o processo, reviu os autos, conferiu documentos. Fez uma brilhante defesa no foro. A vitória parecia mais que garantida quando o contra-atacante lhe chamou a atenção para uma pequena falha que lhe passara despercebida.
         Afonso reconheceu que se enganara e exclamou: "Ó mundo falaz, agora eu te conheço! Adeus tribunais!". Este acontecimento determinou a reviravolta mais profunda de sua vida. O jovem e brilhante advogado abandonou definitivamente a advocacia para dedicar-se às causas mais nobres na seara evangélica.
         Completou os estudos de teologia e foi ordenado sacerdote aos trinta anos. Esta mudança custou-lhe renhidas lutas com o pai, que não podia conformar-se com a escolha feita pelo filho, renunciando aos títulos de nobreza e à rica herança da família. Mais tarde, ainda com pavor Afonso recordava dessas horas de combate. Desde então Afonso colocou suas altas qualidades de ciência e de oratória a serviço de Cristo, dedicou-se sobretudo à pregação, com o lema: "Deus me enviou a evangelizar os pobres".
          Procurava de preferência os pobres Lazaroni e a meninada abandonada pelas ruas de Nápoles. Muito se mortificava Dom José, vendo seu filho metido no meio do povinho, desprezível a seus olhos de fidalgo. Nosso santo não se deixava esmorecer. Passou a morar no Hospício dos Padres Chineses e pensou seriamente em ir para as missões pagãs. Entretanto, os planos de Deus terminaram por conduzi-lo a um convento de irmãs em Scala, perto de Amalfi, para onde foi por ter adoecido, e necessitar de repouso.
         Nesse convento havia a Irmã Maria Celeste Crostarosa que se destacava por sua virtude. A 3 de outubro de 1731 revelou-lhe a Irmã a visão que tivera: Afonso estava designado por Deus para fundar uma Congregação.
         Começou então o duelo entre Deus e a humildade do Santo. A luta foi um verdadeiro martírio para Afonso. A santa Irmã chegou mesmo a intimá-lo: "D. Afonso, Deus não o quer em Nápoles; chama-o para fundar um novo Instituto". Resolvido a isso, depois de ter sido orientado pelo seu confessor Facoia, mais tarde bispo, teve o Santo de enfrentar tremenda oposição do pai. Este recriminava ao filho dureza de coração por querer abandoná-lo para meter-se na aventura de fundar um novo Instituto.
         Mas a graça venceu, e a 9 de novembro de 1732 fundou Afonso, em Scala, a Congregação dos Padres Redentoristas, que no começo tinha o nome de Instituto do SS. Salvador. Os primeiros companheiros de Afonso eram todos sacerdotes, e logo começaram a dedicar-se à pregação. Não tardou aparecer desunião nas idéias. Queriam uns que o Instituto, além da pregação, se dedicasse também ao ensino.
        Afonso insistiu na exclusividade da pregação aos pobres, às regiões de gente abandonada, na forma de missões e retiros. Venceu seu ponto de vista. Em 1749 o Papa Bento XIV aprovou as Regras do Instituto, que tinha por fim a imitação de Jesus Cristo e a pregação de missões e retiros de preferência à classe mais abandonada. À frente de seus súditos percorreu cidades e vilas do Sul da Itália, convertendo pecadores, reformando costumes, santificando as famílias.
         Era um facho ardente que deixava em chamas de amor divino os lugares por onde passava. Mais do que sua palavra, pregava o seu exemplo de virtude, de penitência, de caridade e de santa inocência. As cidades disputavam Afonso como pregador. Um dia chegou ao seu conhecimento, que o queriam nomear arcebispo de Palermo.
          Pediu orações para que se evitasse "o grande escândalo" desta nomeação. Mas em 1762 o Papa Clemente XIII impunha-lhe a mitra de Santa Águeda dos Godos. "Vontade do Papa é a vontade de Deus", disse o santo, e curvou a fronte. Durante 13 anos pastoreou sua diocese, reformou-lhe o clero, os costumes, as Igrejas. Outra tornou-se a vida religiosa nos mosteiros e conventos.
          Os diocesanos passaram mas viram que tinham um santo por bispo, quando vendeu até as alfaias, os móveis de seu pobre palácio, seu anel de bispo, para acudir aos necessitados. Em 1775, a seu pedido, livrou-o do bispado. Papa Pio VI. O santo patriarca voltou pobre para o seu convento, e ali mão de Deus o experimentou e lhe burilou lindas facetas de virtude. Afonso, acabrunhado por sofrimentos físicos, teve o desgosto de ver a cisão no seu Instituto e, por mal-entendidos, foi até excluído na Congregação que fundara. Os últimos anos do Santo são síntese, tudo adversidades inimagináveis.
          Das profundezas da sua alma dorida clamava a Deus misericórdia e auxílio. Em tudo reconhecia a adorável vontade de Deus. Após longo martírio no corpo e na alma morreu calmamente no Senhor a 1º de agosto de 1787 na idade de 91 anos. Em 1816 foi declarado beato.
          Foi canonizado em 1839 por Gregório XVI. Santo Afonso foi um prodigioso escritor. Nos seus últimos doze anos de vida, para não faltar ao programa que se propusera quando jovem, de não perder mais tempos tempo jamais, dedicou-se à redação de livros, enriquecendo a coleção de obras ascéticas e teológicas. Deixou para os sacerdotes a sua célebre Teologia Moral; para os religiosos a Verdadeira Esposa de Cristo; para o povo cristão, livros cheios de verdadeira e ungida piedade, tais como as Meditações sbre a Paixão do Salvador, Glórias de Maria, Visitas ao SS. Sacramento, Tratado sobre a oração. Foi historiador, apologeta, pregador, poeta e exímio musicista.
          A devoção popular muito deve às suas canções por ele escritas e musicadas. Até hoje no tempo de Natal, é comum escutar o seu "Tu Scendi dalle Stelle" - Tu desces das estrelas. A Igreja deu-lhe o título de Doutor zelosíssimo. As obras de Santo Afonso têm a perenidade das fontes seculares. Reflexões Imitemos Santo Afonso, empregando o nosso tempo em trabalhos e orações fugindo assim do pecado e do mal emprego do nosso tempo.
          Só com a oração e num trabalho com o Cristo encontraremos a força e a graça para salvar nossa alma e nos santificarmos.

Excelências do Poder Sacerdotal por Santo Afonso Maria de Ligório



          "Mede-se também a dignidade do padre pelo poder que ele exerce sobre o corpo real e o corpo místico de Jesus Cristo.
          Quanto ao corpo real, é de fé que no momento em que o padre consagra, o Verbo encarnado se obrigou a obedecer-lhe, vindo às suas mãos sob as espécies sacramentais. Causou espanto que Deus obedecesse a Josué, e mandasse ao sol que se detivesse à sua voz, quando ele disse: Sol! Fica-te imóvel diante de Gabaon… E o sol deteve-se no meio do Céu.
         Mas é muito maior prodígio que Deus, em obediência a poucas palavras do padre, desça sobre o altar, ou a qualquer parte em que o sacerdote o chame, quantas vezes o chamar, e se ponha entre as suas mãos, embora esse sacerdote seja seu inimigo! Aí permanece inteiramente à disposição do padre, que pode transportá-lo à sua vontade dum lugar para outro, encerrá-lo no tabernáculo, expô-lo no altar, ou ministrá-lo aos outros. É o que exprime com admiração S. Lourenço Justiniano, falando dos padre: “Bem alto é o poder que lhes é dado! Quando querem, demudam o pão em corpo de Cristo: o Verbo encarnado desde do Céu e desce verdadeiramente à mesa do altar! É-lhes dado um poder que nunca foi outorgado aos anjos. Estes conservam-se junto do trono de Deus; os sacerdotes têm-no nas mãos, dão-no ao povo e eles próprios o comungam”.
        Quando ao corpo místico de Jesus Cristo, que se compõe de todos os fiéis, tem o sacerdote o poder das chaves: pode livrar do inferno o pecador, torná-lo digno do Paraíso, e, de escravo do demônio, fazê-lo filho de Deus. O próprio Jesus Cristo se obrigou a estar pela sentença do padre, em recusar ou conceder o perdão, conforme o padre recusar ou dar a absolvição, contanto que o penitente seja digno dela.
       De modo que o juízo de Deus está na mão do padre, diz S. Máximo de Turim. A sentença do padre precede, ajuda S. Pedro Damião, e Deus a subscreve. Assim, conclui S. João Crisóstomo, o Senhor supremo do universo não faz senão seguir o seu servo, confirmando no Céu tudo quanto ele decide na terra.
       Os padres, diz Santo Inácio mártir, são os dispensadores das graças divinas e os consócios de Deus. E, segundo S. Próspero, são a honra e as colunas da Igreja, portas e porteiros do Céu.
       Se Jesus Cristo descesse a uma igreja, e se sentasse num confessionário para administrar o sacramento da Penitência, ao mesmo tempo que um padre sentado no outro, o divino Redentor diria: Ego te absolvo o padre diria o mesmo: Ego te absolvo; e os penitentes ficariam igualmente absolvidos, tanto por um como pelo outro.
       Que honra para um súdito, se o seu rei lhe desse poder para livrar da prisão quem lhe aprouvesse! Mas muito maior é o poder dado pelo Padre Eterno a Jesus Cristo, e por Jesus Cristo aos padres, para livrarem do inferno, não só os corpos, mas até as almas; esta reflexão é de S. João Crisóstomo.

Santo Afonso Maria de Ligório
Livro "A Selva" Parte I