domingo, 13 de outubro de 2013

Santos Fausto, Januário e Marcial, mártires




         O ódio com que a gentilidade perseguiu a Igreja de Jesus Cristo provinha do seu aferro às velhas superstições e ao erro deplorável de que eram essas crenças o sustentáculo do Império e a condição essencial da sua eterna permanência. Os imperadores publicaram terríveis decretos contra os cristãos, reputados a peste pública , para cuja execução enviavam, como governadores das províncias, homens que estivessem bem compenetrados da necessidade de os exterminar. Para a Espanha, entre outros, veio um chamado Eugênio. Achavam-se por este tempo em Córdova, Fausto, Januário e Marcial, a quem vários escritores nacionais fazem irmãos, filhos de São Marcelo , centurião, ilustre mártir de Jesus Cristo.
            Educados no fervor da piedade, ansiosos de padecer o martírio, condoídos de ver a injustiça do governador romano, perseguidor dos seus irmãos na fé, apresentaram-se perante o seu tribunal e disseram-lhe: – «Que fazes ou pensas, Eugênio? Porque persegues os servos de Deus em lugar de acreditares no que eles acreditam?» Surpreendido com  esta apóstrofe, que tomou por ousadia, perguntou-lhes: – «Quem sois vós, desventurados, que ousais assim falar?» – «Nós, respondeu Fausto, somos cristãos; reconhecemos um só Deus verdadeiro, por quem tiveram o ser todas as criaturas; a Ele adoramos e reverenciamos; os vossos ídolos só têm o ser que lhes deram as mãos dos homens, sem que neles haja outra virtude senão a que a vossa cegueira lhes atribui; e com tudo isso não vos envergonhais de adorar as obras de vossas mãos, deixando de fazê-lo com o Criador de todas as coisas» – «Que desespero vos impeliu procurar a vossa perda?» – «Vós é que sois o desesperado, pois tendo ódio ao nome cristão, pode-se-vos perguntar que tendes com inocentes, que em nada vos ofenderam, cujo crime está em reconhecerem por seu Deus a Nosso Senhor Jesus Cristo». Não gostou Eugênio desta santa liberdade; para castigar o que ele reputava de petulância, ordenou aos carrascos que estendessem o Santo no cavalete e o atormentassem.
            Então falou Januário a Fausto, em presença do tirano, nestes termos: – «Tu padeces por nós, sendo certo que não tens mais culpa do que a que todos cometemos», ao que Fausto respondeu: – «Nós, que temos estado sempre unidos na terra, crede que estaremos também no céu». Ouvindo Eugênio este e outros discursos, tendentes a mostrar o ardente desejo que tinham de padecer, disse-lhes: – «Sei muito bem que estais unidos na impiedade, e que entre vós combinastes o que tendes aqui dito; portanto, cessai já de blasfemar, chamando Deus ao que não o é». – «Muito te enganas, replicou Januário, em reputares impiedade à nossa uniformidade em confessar a Jesus Cristo por verdadeiro Deus na presença de um inimigo». Pelo que foi também estendido no cavalete como Fausto; e outro tanto fizeram a Marcial por se manter firme em igual confissão.
          Tentou novamente a Fausto para que sacrificasse aos deuses do Império; mas, vendo-o alegre em meio de tormentos, Eugênio mandou que lhe cortassem as orelhas, o nariz as sobrancelhas e o lábio inferior, lhe arrancassem os dentes superiores, sem que o Santo deixasse no meio desta carnificina de louvar o Senhor. 
          Julgou Eugênio que com semelhantes tratamentos, intimidaria a Januário, e portanto dirigiu-lhe a palavra nestes termos: – «Já vês o estado a que reduziram a desobediência e obstinação deste teu correligionário; tem dó de ti mesmo, subtraindo-te à mesma crueldade». – «Estás enganado, respondeu Januário, se julgas Fausto obstinado porque professa com constância a verdadeira religião. Quanto a mim, jamais romperei os laços da caridade que a ele me unem; ninguém nos poderá demover da confissão do verdadeiro Deus, por cujo amor estamos resolvidos a sofrer quantos tormentos tu possas imaginar». Teve os mesmos tratamentos cruéis que Fausto.
            Voltando-se para Marcial, representou-lhe que não quisesse acompanhar os seus dois correligionários em tanta demência; Marcial manteve-se porém, constante na mesma confissão, pelo que padeceu iguais suplícios, até que Eugênio, cansado de esperar que reconsiderassem a seu modo, os mandou queimar a todos.
              O sacrifício das três ilustres vítimas foi consumado a 18 de Outubro de 307.
             Não consumiu o fogo os veneráveis corpos de modo que não ficassem alguns ossos e restos, que os fiéis guardaram a ocultas, até ao tempo da paz dada à Igreja. Nessa ocasião, edificaram um tempo em sua honra, do qual fala Santo Eulógio, muito concorrido de fiéis a celebrarem o seu culto. Essa igreja tomou depois o título de São Pedro, porque foi neste dia que o rei São Fernando reconquistou Córdova aos mouros