Ao beatificar Irmã Maria Bertila, em 1952, o papa Pio XII disse: “É uma humilde camponesa”. Sim, uma simples camponesa, que sem êxtases, milagres ou grandes feitos, provou que a santidade é feita de atitudes diárias de união com Nosso Senhor e sua Mãe Santíssima. Vivendo na pureza e na fé profunda, a graça divina se manifestou nela e é um exemplo do que esta graça pode fazer em cada um de nós, se formos fieis a Deus e aos seus Mandamentos.
Santa Maria Bertila Boscardin nasceu dia 6 de outubro de 1888, na cidade de Vicenza, na Itália, e recebeu o nome de Ana Francisca no batismo. Os pais eram simples camponeses que moravam em Brendola, na província de Vicenza.
Instruída pela mãe, desde a idade de cinco anos Aninha gostava de rezar muito tempo de joelhos diante de um quadro de Nossa Senhora que se encontrava na cozinha. Ajudava a mãe nos cuidados da casa e o pai nos trabalhos do campo. Ela era a mais velha de três filhos e sua infância transcorreu entre o estudo e os trabalhos do campo, rotina natural dos filhos e das filhas de agricultores dessa época.
Aos nove anos fez sua Primeira Comunhão, fato não muito comum naquela época. O voto de castidade o fez aos treze anos. Quando manifestou ao pároco o desejo de se tornar religiosa, este lhe respondeu: “Aninha, tu não serves para nada. Quaisquer religiosas não saberiam que fazer duma aldeã ignorante como tu és”. Mas o padre arrependeu-se da sua recusa e chamou-a no dia seguinte.
Aos dezessete anos, no dia 8 de abril de 1905, Aninha saiu da casa paterna para ingressar no Convento das Irmãs Mestras de Santa Dorotéia dos Sagrados Corações, adotando o nome de Maria Bertila. Forte e robusta, os trabalhos mais custosos – o forno e a lavanderia – foram-lhe designados. Fez o segundo ano de noviciado no hospital de Treviso. A Superiora Geral desejava para ela um cargo de enfermeira, mas a superiora do hospital, Irmã Margarida, pô-la na cozinha como ajudante de uma freira idosa e enferma.
Pela segunda vez a Superiora Geral decidiu que ela seria enfermeira e mandou-a de volta ao hospital de Treviso e mais uma vez a superiora do hospital mandou-a para as panelas. No dia seguinte, por falta de pessoal, foi colocada na seção infantil onde havia crianças atacadas de difteria. Num instante a enfermeira adormecida dentro dela se revelou inteligente e ágil, impondo respeito e confiança.
Foi então que estudou e diplomou-se como enfermeira, de modo que pôde tratar os doentes com ciência e fé, assistindo-os com carinho de irmã e mãe, qualidades que se manifestaram durante a 1ª. Guerra Mundial. Irmã Maria Bertila surpreendeu a todos com sua incansável disposição e solidariedade de religiosa e enfermeira no tratamento dos feridos de guerra.
Teve uma existência de união com Deus no silêncio, no trabalho, na oração e na obediência. Isto se refletia na caridade com que se relacionava com todos: doentes, médicos e superiores. Mas era submetida a constantes humilhações por parte da superiora.
Tinha apenas vinte e dois anos de idade quando, além de enfrentar a doença no próximo, teve que enfrentá-la em si mesma: foi operada de um tumor e antes que pudesse recuperar-se totalmente já estava junto de seus doentes. As humilhações pessoais continuavam associadas às dores físicas.
Seu mal se agravou e aos trinta e quatro anos sofreu a segunda cirurgia, mas não resistiu e faleceu no dia 20 de outubro de 1922, no hospital de Treviso, depois de converter, com sua agonia resignada e serena, o médico-chefe do hospital.
Muitos milagres foram realizados junto ao seu túmulo e creditados à sua intercessão. Foi beatificada em 8 de junho de 1952 pelo Papa Pio XII e canonizada em 11 de maio de 1961, festa da Ascenção de Nosso Senhor, pelo Papa João XXIII. Irmã Maria Bertila Boscardin, que morreu tão simples como tinha vivido, foi canonizada na Basílica de São Pedro em meio a luzes, galas e uma liturgia papal magnífica.
Foi sepultada na Casa-mãe da Congregação em Vicenza e junto ao seu túmulo há sempre alguém rezando, pedindo a intercessão da santa enfermeira junto a Deus Nosso Senhor para tratar de males diversos, e a ajuda sempre chega.
Esta humilda camponesa teve o privilégio de ter uma mãe extraordinária que diante da pobreza, da irascibilidade do marido, do mal-estar ambiente, das dificuldades da vida calava-se, tinha paciência, rezava muito. Os filhos de Maria Teresa Benetti viam tudo isto e ouviam sempre sair de seus lábios palavras suaves que falavam de Deus, da Fé, do Céu, da resignação... Felizes as crianças que têm uma mãe como esta!
Vista de Vicenza, com sua Catedral, a partir do Monte Berico |