terça-feira, 15 de outubro de 2013

Santa Teresa de Jesus, reformadora do Carmelo


     Santa Teresa d’Ávila (1515-1582) estava no Carmelo de Toledo quando o Rei de Portugal, D. Sebastião (1554-1578), foi morto e seu exército derrotado na grande batalha contra os mouros em Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1578.
     A Santa teve uma revelação sobre essa derrota. Ficou muito triste e chorou, porque ela desejava com todas as suas forças a vitória da Cristandade e a derrota dos seus inimigos. Protestou ao Senhor: "Meu Deus, como pode permitir a derrota do seu povo e a vitória de seus inimigos?". O Senhor respondeu: "Se eu encontrei-os prontos para comparecer perante Mim, por que estás triste?".
     Sua tristeza desapareceu quando ela considerou a glória que os soldados mortos em batalha já estavam desfrutando no céu. Ela admirava os guerreiros que Deus tinha encontrado prontos para a felicidade eterna, especialmente considerando que os costumes dos soldados eram geralmente relaxados. Imediatamente lhe veio o desejo de estender a sua reforma carmelita a Portugal.
     Rezou fervorosamente para conhecer a vontade de Deus, e, no dia da Festa da Assunção, a resposta chegou. O Senhor lhe disse: "Minha filha, não vá a Portugal para fundar casas de sua reforma. Vossas filhas e filhos o farão no futuro, quando poderei acabar com o castigo infligido a Portugal e mostrarei a minha misericórdia àquele país. O aumento do número de boas religiosas me permitirá levantar Portugal da miséria em que terá caído, para restaurá-lo na felicidade que havia desfrutado no passado e prometer-lhe glórias futuras".
     Vemos aqui dois temas interligados: a derrota de Alcácer-Quibir, em 1578, e a fundação de conventos carmelitas em Portugal.
     Em primeiro lugar, Santa Teresa estava rezando quando Deus revelou a ela que o Rei D. Sebastião de Portugal, que reinou de 1557-1578, sofreu a grande derrota de Alcácer-Quibir. A batalha se revelou decisiva sob vários pontos de vista. Se o Rei D. Sebastião - um rei muito piedoso e virgem, a última flor do velho Portugal – tivesse sido vitorioso, teria quebrado o poder dos muçulmanos. Portugal poderia ter fundado uma próspera colônia no norte da África, uma ponte para uma África inteiramente católica. Isto teria causado um golpe feroz ao poder dos muçulmanos em todo o mundo.
     Os islamitas então ocupavam os Bálcãs, a Turquia, toda a Ásia Menor, o Norte da África e partes da África sub-saariana. Portanto, se o Exército Português tivesse conquistado uma parte do Norte de África, outros reinos, como Espanha e França, teriam aproveitado desta vitória. Portugal já tinha a sua cabeça de ponte em Fez. Em Alcácer-Quibir tentava expandir sua posição militar. Por estas razões Alcácer-Quibir foi uma batalha decisiva.
     Para esta batalha além-mar D. Sebastião havia preparado uma grande frota em Lagos com um grande exército de nobres e de soldados portugueses. Os historiadores dizem que sua tática contra os muçulmanos foi imprudente. Ele morreu na batalha e o poder português sofreu um duro golpe. Pelo contrário, o poder islâmico se consolidou e tomou força. Isto não foi apenas um fato negativo para a luta contra o Islã, mas também favoreceu os protestantes. Com efeito, livre da pressão católica na África, os muçulmanos se concentraram nos Bálcãs e no ataque contra a Áustria-Hungria. Para este efeito, favoreceram os Estados protestantes que também eram inimigos do Império Austro-Húngaro.
     A catástrofe também foi desastrosa para a independência de Portugal. D. Sebastião deixou somente um herdeiro, o Cardeal D. Henrique (1512-1580) seu tio, que se tornou Rei de Portugal. A Santa Sé dispensou-o ​​do celibato eclesiástico para que ele pudesse continuar a dinastia de Avis. Mas ele reinou apenas por dois anos, de 1578-1580, e não teve filhos. A coroa portuguesa passou por direito de sucessão ao Rei Filipe II da Espanha (1527-1591). A dinastia de Avis desapareceu. Assim, a morte do Rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir representou um dano gravíssimo para Portugal.
     Percebendo tudo isto, Santa Teresa ficou triste e chorou. Perguntou ao Senhor como ele tinha podido permitir aquela derrota. A resposta foi que como o exército estava tão bem preparado espiritualmente, Ele levou muitos dos soldados para o céu. Com o devido respeito, esta primeira parte da resposta do Senhor parece um pouco evasiva. Mas a resposta fica completa quando o Senhor explica que a derrota foi um castigo e que os bons religiosos que viriam seriam uma das maneiras de escapar da punição.
     Podemos ver como o diálogo entre Santa Teresa e Nosso Senhor é essencialmente uma preocupação política e militar que diz respeito a Portugal. Isto é o oposto de uma certa mentalidade sentimental e doce sobre a vida dos santos, que nunca iria considerar esses aspectos. Tudo tem que ser espiritual no sentido mais estrito do termo. Esta falsa piedade abomina qualquer referência aos interesses políticos e militares católicos. Acredita falsamente que a espiritualidade é algo tão elevado a ponto de excluir esses aspectos. Insinua que o verdadeiro santo não trata de assuntos políticos e militares. Mas este episódio envolvendo Santa Teresa e Nosso Senhor mostra precisamente o contrário.
     Nosso Senhor mostra a derrota militar de D. Sebastião em uma revelação mística à grande Santa Teresa, porque é este o tema que deseja ocupar-se com ela. Obviamente, Deus tinha um grande interesse naquela batalha. Quando a Causa Católica é derrotada em armas, as pessoas santas devem ficar tristes. E Santa Teresa estava. Segue-se um diálogo onde Deus revela o significado mais profundo da história e as razões sobrenaturais da derrota.
     Consideremos quão maravilhosos são os desígnios de Deus. A Sua Sabedoria Divina tem um número infinito de facetas, que a inteligência humana jamais será capaz de abraçar. Responde à pergunta de Santa Teresa dizendo que muitos soldados portugueses estavam bem preparados para a morte e por isso os levou para o céu. Vejam como até mesmo quando Deus está castigando uma Nação, Sua misericórdia leva em conta a situação espiritual dos combatentes. Talvez tivesse adiado o momento da punição se os soldados não estivessem prontos para uma boa morte. Vejam sua delicadeza, sua bondade, sua misericórdia.
     Em segundo lugar, deixe-me dizer uma palavra sobre a Ordem do Carmo. Santa Teresa tinha uma missão especial para difundir a reforma do Carmelo. A missão das Carmelitas era atrair, através da oração e da penitência, as graças de Deus para os países onde fundavam seus mosteiros. Uma segunda dimensão da sua missão era ganhar estas graças para toda a Cristandade e – a terceira dimensão – para o mundo inteiro, para que todos pudessem converter-se à Religião Católica.
     Quando Santa Teresa viu que a nação portuguesa era, sob vários aspectos, fervorosa, concebeu o desejo de fundar ali um convento. Era um projeto excelente e agradável a Deus, mas Deus lhe pediu para adiar a execução. Por quê? Apenas a Sabedoria Divina o sabe.
     Mas, uma consideração é que o povo português precisava de tempo para aceitar a supremacia dos espanhóis, após a coroa de Portugal ter sido incorporada à Espanha do Rei Felipe II, que a havia recebido na sucessão legítima após a morte do Cardeal D. Henrique. Se as carmelitas espanholas tivessem ido logo para Portugal, de acordo com o desejo de Santa Teresa, poderiam enfrentar uma recepção ruim. Um período de adaptação parecia necessário. Talvez esta fosse uma das razões pelas quais Nosso Senhor adiou a chegada dos carmelitas espanholas em Portugal. Após a união dos dois reinos ser aceita, a presença das carmelitas espanholas em Portugal seguiu naturalmente e produziu imensos frutos espirituais.
     Como conclusão, podemos ver o quanto é importante acompanhar os acontecimentos do nosso tempo, na medida em que eles têm a ver com a salvação das almas, a Causa Católica, a derrota da Revolução, a glória e a exaltação da Santa Igreja. Isto para nós é um ato de amor a Deus característico da nossa vocação contra-revolucionária, que está atento aos problemas do presente.
     Peçamos esta graça incomparável a Santa Teresa.