quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Santas Magnança e Máxima, virgens


S Germano, Bispo de Auxerre e Sta Magnança

     Eis uma legenda que remonta suas origens nas profundezas do patrimônio cultural da região de Yonne, França.
     É preciso, para situar os fatos no seu contexto, recuar até a primeira metade do século V. São Germano ia suceder Santo Amatre e se preparava para ser o sexto Bispo de Auxerre. Esta sucessão seguiu-se a um verdadeiro plebiscito da população. Germano, inicialmente reticente, acabou por aceitar tornar-se Bispo de Auxerre.
     Assim, durante os 30 anos que durou o seu episcopado, de 418 a 448, a popularidade de Germano não parou de crescer e sua renomada aumentar com a imagem de um homem justo e bom, preocupado no amparo aos mais necessitados. Também lhe atribuem numerosos milagres, ao longo das viagens que ele empreendia.
    Por isso, quando em 448 São Germano foi para a Itália, em Ravena, atuando como mediador do povo de Armorique (em revolta contra os funcionários romanos) junto ao Imperador Valentiniano, ele estava, pode-se dizer, no auge de sua reputação. E foi naquele momento que a doença o atingiu, levando à sua perda.
     Antes de sua morte, São Germano manifestou o desejo de que seu corpo fosse enviado ao seu país natal, Auxerre. Sua vontade foi atendida e cinco jovens, que haviam sido suas discípulas, foram designadas para acompanhar os “despojos embalsamados” de São Germano até a sua última morada: Magnança, Paládia, Camila, Pórcia e Máxima. Ao longo do caminho os peregrinos se revezavam para tornar bom o estado das estradas e das pontes, a fim de facilitar o avanço do cortejo fúnebre.
     Mas, o trajeto de Ravena à Auxerre é longo e a viagem punha à prova. Assim, a mais frágil das jovens, Magnança, após ter com toda boa vontade atravessado os Alpes, caiu enferma a alguns dias do término da viagem. Seu devotamento a São Germano lhe fora fatal e ela morreu a beira da estrada, suplicando a suas companheiras que a sepultassem ali onde ela se encontrava e que continuassem a viagem para Auxerre. Isto ocorreu em novembro de 448.
     Durante um século e meio não mais se ouviu falar de Magnança; o lugar onde seu corpo havia sido sepultado se tornara desconhecido, embora os eruditos o situassem nos arredores da aldeia de Saint-Pierre-sous-Cordois.
     A legenda conta que no século VII um peregrino à procura de um lugar para dormir se deitou no mesmo local onde Magnança fora sepultada, tendo como travesseiro o esqueleto da cabeça de um cavalo. À noite, ele teve um sonho em que uma serpente saia da cabeça do cavalo e tentava se introduzir em sua boca. Ele acordou em pânico e teve então a visão de duas jovens que se apresentaram como Magnança e Paládia e o tranquilizaram dizendo que a serpente havia fugido e que elas o haviam acordado para salvar sua vida.
     Ao amanhecer, o homem foi para a aldeia próxima, Saint-Pierre-sous-Cordois, e contou sua história. Acreditou-se no milagre, e após terem cavado no local indicado pelo peregrino, o esqueleto de uma mulher foi encontrado e o transportaram para a aldeia. Foi assim que aquela aldeia tomou o nome de Santa Magnança.
     Mais tarde, por volta do século XV, um túmulo foi construído para acolher Santa Magnança.
      O pouco que se sabe sobre as duas virgens Magnança e Máxima vem de duas fontes: uma “Vida” anônima do século XII e o "Miracula Sancti Germani" de Henry de Auxerre.
     Segundo Henry, das discípulas de São Germano que seguiam com carinho e orações o trajeto de seu corpo, três morreram durante a longa viagem e seus túmulos foram construídos em várias igrejas. Henry relata que em seu tempo (976) multidões de peregrinos chegavam a Auxerre durante todo o ano.
     Para confirmar isto, existe na Borgonha a cidade de Santa Paládia (Vermenton) e Santa Magnança. Os monges de Moutier-Saint-Jean ajudaram na divulgação do culto de Santa Magnança.
     O belo túmulo da virgem Magnança, que até hoje está preservado, data do século XII e seus artísticos baixos-relevos representando cenas da legenda felizmente escaparam da destruição das relíquias pelos calvinistas e pelos adeptos da Revolução Francesa.
     Em 1823 e 1842 foram realizados dois reconhecimentos canônicos das relíquias. Santa Magnança vem sendo invocada especialmente para as crianças em perigo de morte. A sua festa na Diocese de Sens é no dia 26 de novembro.
     As relíquias de Santa Máxima foram preservadas no Mosteiro de Auxerre até 1567, quando foram destruídas pelos calvinistas. Por ambas - Magnança e Máxima - terem aparecido para salvar o peregrino, juntas elas são lembradas em tantos lugares na França.