quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Beata Helena Enselmini, discípula de Santo Antonio


Imagem da Beata na fachada de Aracella
     Um documento conservado na Biblioteca Antoniana descreve as vidas de Santo Antonio, do Beato Antonio Manzoni e da Beata Helena Enselmini. Sicco Polentone, arquivista municipal, filósofo, astrólogo, literato e escritor de numerosas obras, compôs o Códice 559 entre os anos 1433 e 1437, e em 1439 ele foi copiado pelo Frei Joaquim.
     Embora não seja uma obra de alto nível é um excelente documento realizado após cuidadosas investigações sobre seus biografados, dispondo de excelentes fontes no antigo Mosteiro de Arcella, antes que um incêndio ocorrido no inverno de 1494 e 1495 destruísse seu arquivo.
Arcella
     No ano de 1220, seis anos antes de sua morte, retornando da Terra Santa São Francisco desembarcou em Veneza e, a caminho de Assis, passou por Pádua onde fundou o Mosteiro de Arcella.
     Naquele tempo Arcella era um povoado, não distante dos muros da cidade, chamadoCapo di Monte, onde havia uma capela dedicada a Santa Maria de Cela (ou de Aracella: Ara Coeli, Altar do Céu). Ali foram fundados um mosteiro de Clarissas Pobres e um convento de Frades Menores, que as atendiam.
     Em 1227, Santo Antonio foi eleito Ministro Provincial do norte da Itália e chegou a Pádua, iluminando com sua santidade a região. Nas suas sucessivas visitas à cidade fazia referência ao "conventinho da Santa Mãe de Deus", que constituiria o futuro núcleo primitivo da Basílica do Santo. Foi em Arcella que Santo Antonio chegou moribundo na tarde de 13 de junho de 1231, acompanhado do Frei Lucas Belludi, que o assistiu nos últimos instantes de vida.
     O corpo de Santo Antonio mais tarde foi transferido para a Basílica de seu nome, mas Arcella continuou a ser um dos locais mais venerados da cidade, não só por ter sido o local onde o Santo falecera e por ter abrigado suas relíquias por um tempo, mas também por ser o local onde a Beata Helena, sua discípula e uma das patronas menores de Pádua, era venerada.
     Durante a invasão da cidade pelos venezianos, no inverno de 1494 e 1495, o mosteiro foi muito danificado por um incêndio, mas foi restaurado graças aos donativos da população.
     Em 1509, o Imperador Maximiliano de Habsburg, à frente da Liga de Cambrai contra a República Vêneta, instalou seu quartel general no mosteiro. Mais tarde, durante a peste, o mosteiro foi transformado em lazzaretto.
     Desde 1509 as religiosas haviam se transladado para o mosteiro de Santa Helena, em seguida para o de São Bernardino, levando o corpo da Beata. Entre 1674 e 1675, Arcella tornou-se uma pequena, mas digna igreja; em 1792 a Abadessa Elisabete Speroni promoveu uma campanha para restaurar o Santuário. Em 1810, aqueles dois mosteiros foram suprimidos e as religiosas confiaram seu tesouro à Basílica de Santo Antonio. Em 23 de maio de 1958, o corpo da Beata Helena foi devolvido à igreja de Arcella onde podemos venerá-lo sob o altar ainda nos dias atuais.
A Beata
     Em sua passagem por Pádua, São Francisco de Assis entrou em contato com os Enselmini, nobre família da cidade de Pádua, e conheceu a filha do casal, Helena, uma jovenzinha de 13 anos. A jovem fora educada nos mais altos princípios religiosos e nos mais puros ideais de virtude. Quando ela manifestou seu desejo de seguir a vida religiosa, a família não se opôs, mas se alegrou com tal decisão.
Helena recebe o hábito das mãos de S Francisco
     São Francisco de Assis não hesitou em dar o hábito de Santa Clara aquela jovenzinha, hoje honrada como Beata. Helena deixou assim os pais segundo a carne para seguir um pai segundo o espírito, São Francisco, e uma nova mãe, Santa Clara, no Mosteiro de Arcella.
     Anos depois Helena conheceu o taumaturgo de Pádua, Santo Antonio. Parece ter sido ele quem deu a ela uma formação teológica e moral, uma vez que a Beata tinha recebido uma sumária educação intelectual em família, tendo se afastado dela em tão tenra idade.
     Santo Antonio tornou-se seu diretor espiritual e superior. Entre essas duas grandes almas estabeleceu-se logo uma profunda amizade espiritual, com uma ajuda mútua: Antonio dava à heróica dirigida o auxílio de seus conselhos; Helena oferecia seus sofrimentos espirituais, e os resultantes das enfermidades corporais, pelo apostolado de seu diretor espiritual, tornando-se ela também uma missionária de desejo, de amor.
     Por seis anos a vida desta Beata fora uma experiência luminosa e alegre, apesar dos rigores materiais, das privações e da aspereza da vida no mosteiro. Mas, aos vinte anos caíram sobre elas os anos de trevas representadas por doenças, mas, sobretudo, por trevas da alma: provações interiores, tentações contra a Fé e aridez espiritual. Era tentada a crer que tudo era inútil, que a salvação eterna lhe era negada.
     Helena, entretanto, se agarrava às certezas da Fé e à obediência aos superiores nos momentos de maiores provações. Com uma vontade tenaz conseguiu alcançar a paz e a certeza de que a Providência guiava seus passos.
     O historiador diz: "Nenhuma mais diligente que ela na oração litúrgica, nenhuma mais obediente à abadessa, nenhuma mais observante da regra, nenhuma mais solícita em realizar as tarefas domésticas. Sua vida era tecida de jejuns e penitências, tomada pela santidade e pela austeridade. Tão áspera foi sua existência que caía enferma com freqüência, vítima de febre".
     Ficara-lhe a enfermidade do corpo, que não desanimava esta alma forte. Impossibilitada de falar nos últimos meses de vida, comunicava-se com as pessoas por meio de sinais correspondentes às letras do alfabeto. Nesta linguagem de surda-muda ditou a narração de numerosas visões com que foi favorecida.
     O historiador se detém em descrever a visões celestiais de que gozou Helena, como indício de sua união com o Senhor, visões que ela dava a conhecer às Irmãs.
     No dia 4 de outubro de 1231, arrebatada em êxtase, Helena viu os Santos Francisco e Antonio em atitude de louvor ao Senhor; contemplou, na glória do Paraíso, grande número de almas de religiosos, discípulos de São Francisco. O que a encantou foi que o maior título de glória fosse constituído dos rigores e das austeridades dos eremitas e dos penitentes. Foi-lhe revelado também que havia algo ainda mais precioso: a obediência, esta ascese diária dos que vivem em comunidade. A Beata visitou também o Purgatório, onde viu como as orações dos fiéis livram as benditas almas de seus sofrimentos.
     Conta-se que a Beata viveu vários meses sem provar outro alimento que a Sagrada Comunhão. Sua morte ocorreu, quando tinha apenas vinte e quatro anos, no dia 4 de novembro de 1231.
     Sicco Polentone conclui assim: "Desde o dia de seu trânsito até hoje, seu corpo se conserva tão bem, que não podemos vê-lo sem nos admirar, e isto por um privilégio divino que testemunha a santidade de Helena".
     Leão X (1513-1521) a beatificou. O seu culto foi confirmado em 29 de outubro de 1695 por Inocêncio XII (1691-1700). Em 1956 foram iniciados os trâmites para sua canonização.