quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Santa Ida de Toggenburg


     A antiga Abadia de Fischingen se erguia em um vale da Suíça. Nela havia uma cela de pequenas dimensões, construída ao lado da mesa de comunhão, com uma janela estreita, que era a única comunicação com o exterior. Dentro da cela vivia uma mulher, consumida pelos anos e pelas penitências. Era Ida, outrora Condessa de Toggenburg. Salva milagrosamente ao cair num abismo, viveu algum tempo numa gruta no meio da floresta, purificando sua alma e destruindo a formosura de seu corpo. Ali a encontrou seu marido num dia de caça.
     - Volte para o castelo - lhe disse. Tenho chorado muito por tua causa. Já sei que és inocente e que Deus te salvou com um milagre.
     A penitente recusou atendê-lo e como ela estivesse muito mudada, o conde não insistiu. Ida então se retirou em Fischingen (¹). Na cela junto à igreja da Abadia ela continuou rezando, quando certo dia uns homens levaram o cadáver de seu esposo e o enterraram em frente ao local onde ela vivia. De sua janelinha podia ver o sarcófago de mármore do Conde de Toggenburg.
     Em sua reclusão, Ida orava, tecia, fabricava as hóstias do altar e lia. Ela passava a maior parte da noite rezando o Saltério. O ‘inimigo’ às vezes ficava aborrecido com o fervor de sua oração, e vinha apagar a sua candeia. Então acontecia uma coisa estranha: o sepulcro se abria, ouvia-se o estalar de ossos, e um esqueleto muito galante saia, com a espada na cintura de prata, ia até a lamparina que iluminava o tabernáculo e a levava à janelinha de Ida. A reclusa acendia sua candeia com aquela lamparina. Feito isto, o esqueleto, fazendo uma profunda reverência, colocava a lamparina de volta no altar e se recolhia no seu frio leito… O Conde de Toggenburg interrompia o sono da morte para servir a esposa amável que ele não soubera compreender em vida.
     E a condessa bendizia sua reclusão pensando nos enganos da vida, nas mentiras do amor e na inconsistência daquela felicidade que um tempo havia embriagado sua alma. Diante daquele esqueleto galante e obsequioso, baixava os olhos pensando: Tudo é mentira, menos servir e amar a Deus.
*
 
     Santa Ida nasceu em Kirchber, em 1156 e faleceu em Fischingen em 1226. Era filha do Conde de Kirchberg, e casou-se com o Conde de Toggenburg.
     Segundo a legenda, o anel nupcial de Ida foi roubado e encontrado por um caçador. Quando o conde viu o anel na mão deste último, acusou a esposa de infidelidade. E, irado, mandou matar o caçador e lançou a esposa de uma janela. Graças a sua inocência, ao cair ela foi milagrosamente salva. Após viver em uma ermida, instalou-se em uma cela de clausura junto a Abadia de Fischingen, onde morreu em odor de santidade.
     Uma obra escrita por Sebastian Brant, em língua alemão, foi publicada em 1510 com o título Der Heiligen Leben, editada por Williams-Krapp emZeitschrift für die Geschichte des Oberrheins (Revista das histórias do Alto Reno) 1982, S. 71-80.
     Em 1974/75, Bruno Meyer pode constatar que no século XII houve em Fischingen uma certa Ida, viúva, que fora casada com um Diethelm von Toggenburg. Consta ter ela se casado em segundas núpcias com Gottfried von Marstetten; pode ter sido esta dama que com sua vida santa tenha constituído a base para a tradição do culto de Santa Ida.
     A veneração a Santa Ida limitava-se a Fischingen e as vizinhanças até 1600, tendo se estendido depois a Kirchberg. Santa Ida é patrona da capela de Bauen, no lago dos Quatro Cantões, que foi documentada pela primeira vez, em 1561, como Capela de Santa Ida.
     Em 1704, a legenda de Santa Ida foi escrita pelo abade de Fischingen, Franz Troger, com dados locais (lago dos Quatro Cantões).
     O Papa Bento XIII aprovou seu culto para a Diocese de Constança em 1724. Na Diocese de Basiléia é ainda hoje venerada como protetora para gado fugitivo.
 
Toggenburg - Suíça
     Entre a cordilheira Churfirsten e o Säntis - a montanha mais alta do leste da Suíça, com 2.501m - a região de Toggenburg fica a uma hora de Zurich. Nada se compara a fauna e a flora desta região em sua diversidade.
 
(¹) A Abadia de Fischingen
     Esta abadia foi fundada em 1138 por Ulrico II, Bispo de Constança, como a intenção de abrigar e hospedar peregrinos em seu caminho de Constança a Abadia de Einsiedeln.
     O eremita Gebino foi designado 1º abade. Em apenas seis anos ele havia construído a torre do sino, acomodação para monges e monjas, e para hóspedes. No seu auge, cerca do ano 1210, Fischingen tinha 150 monges e 120 monjas. O senhorio de proteção da abadia pertencia aos Condes de Toggenburg. Santa Ida, que viveu numa cela da abadia por volta de 1200, está sepultada em uma capela fora da igreja da abadia.
     A partir de 1460, a abadia ficou sob a autoridade da administração de Thurgau da Antiga Confederação Suíça. 

Abadia de Fischingen

     Durante a pseudo-reforma, a abadia foi dissolvida por muitos anos quando, em 1526, o abade e quatro monges se tornaram protestantes. A abadia foi aberta novamente por iniciativa da Igreja Católica.
     Nos séculos 17 e 18, as instalações foram restauradas nos estilos Barroco e Rococó. Entre 1685 e 1687 uma nova igreja foi construída, e em 1705 uma capela dedicada a Santa Ida.
     A Abadia foi dissolvida em 27 de junho de 1848, pelo Grande Conselho de Thurgau.
     Em 1852, as instalações foram vendidas a uma fábrica têxtil. Depois, uma escola funcionou ali. Em 1879, foi adquirida pela sociedade católica de voluntários "Verein St. Iddazell", que estabeleceu ali o Orfanato de Santa Ida.
     De acordo com a constituição suíça, ficara proibida a abertura de novos mosteiros e a restauração de antigos. Com a retirada desta cláusula em 1973, a Abadia de Fischingen foi reaberta como um priorado independente em 1977.