quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Beata Bárbara Maix, fundadora


     Há um ano a Beata Bárbara Maix era beatificada em cerimônia realizada em Porto Alegre. A vida desta mulher forte e batalhadora nunca é lembrada nos meios feministas, que tanto elogiam as “conquistas” das mulheres...
     Respeitando as autoridades civis e eclesiásticas, ela soube, entretanto, fazer prevalecer seus métodos e seus princípios. Enfrentando as hostilidades de uma imprensa já eivada de liberalismo e de idéias anticatólicas levou adiante a obra que a Divina Providência lhe inspirara.
     Como tantas almas de escol – Santa Paulina e a Venerável Madre Voiron, por exemplo – que deixaram suas pátrias para no Brasil se dedicarem a uma obra de excelência junto à população católica, a Beata Bárbara exortou suas Irmãs à dedicação à infância e à juventude feminina em orfanatos e colégios, além de serviços em hospitais durante epidemias.
     É justo, pois, prestar a ela nossa homenagem agradecida, rogando que ela interceda para que nossa Pátria saiba reconhecer as verdadeiras e reais conquistas que só podem ter como meta a maior glória de Deus e da Santa Igreja.
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     Natural de Viena, Áustria, filha de José Maix e Rosália Mauritz, nasceu no dia 27 de junho de 1818. Bárbara herdou dos pais a fé católica, o espírito de luta e resistência, persistente teimosia pelo ideal de vida, a coragem de enfrentar as adversidades. O amor sem limites ao próximo, sobretudo aos mais necessitados espiritualmente, foi o que a tornou forte, destemida, cheia de vigor.
     Bárbara ficou órfã de pai e mãe aos 15 anos. Ela e as irmãs perderam inclusive a casa em que viviam. Enfrentando a vida praticamente sozinha, fez curso de modista, habilitando-se a ensinar corte e costura, bordado e artes femininas. Passava horas inteiras em oração na Igreja de Nossa Senhora da Escada. Em 1843 abriu uma pensão destinada a acolher moças desempregadas. Bárbara logo reuniu 18 congregadas, sob a orientação espiritual e o apoio do Pe. João Nepomuceno Pöckl, redentorista.
     Em 1848, explodiu a revolução liberal em Viena, perseguindo a Igreja e as associações religiosas. Bárbara e suas companheiras foram obrigadas a abandonar sua residência.

Chegada ao Brasil
     O contexto político-econômico de Viena obrigou Bárbara a sair do país. Sua meta era a América do Norte, mas quando um barco com destino ao Brasil aportou no porto de Hamburgo, onde ela e as suas discípulas aguardavam para embarcar, ela percebeu ser esta a vontade de Deus e decidiu partir. Ela e as 21 companheiras vinham para o Brasil sem conhecê-lo cultural e geograficamente. Acompanhava-as o Pe. Pöckl, que também tencionava fundar a Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração de Maria, e mais dois jovens da família Hamberger.
     Dom Manoel de Monte Rodrigues de Araújo, Bispo do Rio de Janeiro, intercedeu por elas, que foram acolhidas pelas Irmãs Concepcionistas do Convento de Na. Sra. da Ajuda. Naquele convento as futuras Irmãs se prepararam para o dia da vestição religiosa.
     É de se salientar que o Imperador D. Pedro II visitou-as algumas vezes, pois entendia bem o idioma alemão. A mãe do Imperador, a falecida Da. Leopoldina, era natural de Viena e as hóspedes gozavam da benévola proteção do Imperador e da Imperatriz.
     A maioria das Irmãs do Convento da Ajuda dispunha de escravas para auxiliar nos trabalhos caseiros. Um mês após a entrada das suas Irmãs naquela generosa hospedagem, e tendo as suas Irmãs se recuperado da longa viagem, Bárbara rogou a Madre Abadessa que se dignasse consentir que as Irmãs cozinhassem por si mesmas, lavassem suas roupas e se dedicassem aos trabalhos de agulha e costura. Era o modo de Bárbara restaurar a vida autônoma da comunidade e demonstrar seu repúdio à escravidão.
     No dia 8 de maio de 1849, as Irmãs emitiram os votos religiosos e ficou ereta juridicamente a primeira Instituição feminina de vida ativa no Brasil, a Congregação do Sagrado Coração de Maria, já com 22 membros. Bárbara recebeu o nome religioso de Madre Maria Bárbara da Santíssima Trindade.
     Numa época de muitas dificuldades, especialmente para as mulheres, Bárbara se fez educadora e proporcionou estudo a muitas meninas, em especial órfãs e pobres. Atenta à realidade, percebeu outras necessidades da época, assumindo Asilos e Pensionatos. Por ocasião das epidemias – cólera e febre amarela – e da Guerra do Paraguai, assumiu atividades em enfermarias e hospitais. As Irmãs acolhiam mulheres que procuravam asilo, dedicavam-se à educação das jovens mais abandonadas e cuidavam dos doentes.
     Em 1852, Madre Bárbara viajou para Roma levando as Constituições para o Papa aprová-las, o que daria maior credibilidade à sua obra junto ao clero e mais apoio espiritual. Além da aprovação verbal do Beato Papa Pio IX, que a exortou a trabalhar e aumentar a Congregação, ela conseguiu trazer mais candidatas ao noviciado, dois candidatos à Congregação dos Irmãos e os pais dos Hamberger, que chegaram ao Rio em 1853.
     Em janeiro de 1855, o Asilo de Santa Leopoldina, de Niterói (RJ) abrigava 26 órfãs e 4 órfãos. E a cidade de Pelotas (RS), tendo ouvido falar do Asilo de Niterói, resolveu fundar um asilo de meninas órfãs e desamparadas, confiando-o às Irmãs do Coração de Maria.
     Em 1857, Madre Bárbara vê a possibilidade de abrir um colégio próprio em Porto Alegre , pois percebera que havia ali mais vocações religiosas do que no Rio. Entrementes, aceitou a direção de um Asilo às Expostas, um anexo da Santa Casa de Misericórdia que recebia crianças abandonadas na “Casa da Roda” e que dava instrução às órfãs.
     Foram grandes e incontáveis os sofrimentos da Fundadora. Nos Asilos mantidos por sociedades leigas, pertencentes à maçonaria, Madre Bárbara sofreu toda sorte de hostilidade. Em 1858, a Fundadora tratou de conseguir existência independente dos poderes públicos. Para tanto, abriu um pensionato na casa alugada pela Congregação ao lado do asilo de Porto Alegre. Logo jovens se apresentaram para se tornarem Irmãs do Coração de Maria, embora houvesse jornais diários que difundiam grande antipatia pela vida religiosa.

A Dissidência
Relicário da Beata na Capela S Rafael
     Um grupo de Irmãs do Asilo de Pelotas, influenciado e apoiado pela Diretoria, separou-se da Congregação. Em Porto Alegre , algumas Irmãs apresentaram a D. Sebastião Dias Laranjeira, Bispo do Rio Grande do Sul, acusações contra a Fundadora, ocasionando a visita canônica ao Asilo Providência, onde residia Madre Bárbara. Críticas infundadas e calúnias difamaram a fundadora e as irmãs que lhe eram fiéis. O Bispo nomeou superiora local e mestra de noviças da oposição.
     Em 31 de dezembro de 1870, Madre Bárbara partiu para Petrópolis, deixando para sempre Porto Alegre onde por 14 anos dedicara-se ela para que suas filhas tivessem em abundância. Saia espontaneamente, mas as rebeldes tomaram isso como uma expulsão. Nas suas cartas ofereceu o seu perdão a todas.

Últimos Anos
     No dia 15 de janeiro de 1871, Madre Bárbara assumiu a administração, com mais quatro Irmãs, da Escola Doméstica de Petrópolis, destinada a acolher órfãs. No mês de setembro daquele ano, o Asilo recebeu a visita da Família Imperial, que assistiu a Missa na capela com as asiladas e as Irmãs.
     Madre Bárbara, que sempre tivera uma saúde frágil, sofria de asma e do coração, sentia o mal se agravar. A cisão da Congregação causara-lhe muito sofrimento. Não podendo responder as cartas que as Irmãs lhe enviavam, dizia que “o que não posso fazer agora com a pena, faço-o dia e noite com a língua e as lágrimas do coração, pedindo à Ssma. Trindade que, com sua onipotência, opere nos corações de cada uma aquilo de que necessitam”.
Capela Santuário São Rafael
     Faleceu em Catumbi (RJ), onde morava com as quatro Irmãs numa casa emprestada. No dia 17 de março de 1873, expirou placidamente, com um sorriso nos lábios, às 16 h. Tinha 55 anos. Deixou às suas Irmãs o Perdão como herança, e o perfume da sua santidade a todos.
     Algum tempo após sua morte foram encontradas cartas datadas de 1872 que Madre Jacinta, a líder das dissidentes, havia escrito às autoridades eclesiásticas e ao Imperador contando toda a verdade sobre o acontecido, retratando-se e pedindo perdão à Fundadora. Madre Bárbara guardara estas cartas que, depois de lidas pelas autoridades, lhe foram entregues, para evitar a humilhação de suas filhas perante a Igreja e o governo Imperial.
     Embora aparentemente sua vida fora um fracasso, Bárbara tinha certeza, como demonstram suas cartas, que Deus tinha fundado a sua Congregação, e, apesar de ela parecer aniquilada, com um só aceno a reergueria. Sua Congregação prosperou e se expandiu e está presente hoje em 15 Estados do Brasil, encontrando-se também no Haiti, Moçambique, Paraguai, Venezuela, Bolívia e Itália.
     Em 1957 seus restos mortais foram transladados para a Capela São Rafael, em Porto Alegre. A Venerável Bárbara Maix foi beatificada no dia 6 de novembro de 2010, na cidade de Porto Alegre em celebração presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri.