sábado, 23 de novembro de 2013

Santa Eanfleda, rainha e abadessa

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Ruínas da célebre Abadia de Whitby, Inglaterra
 
     Santa Eanfleda era uma princesa da Nortúmbria (atual Inglaterra), filha do rei Santo Edwin, mártir, e sua esposa Etelburga. A mãe de Eanfleda tinha sido criada como cristã, mas seu pai era pagão e permanecia alheio à nova religião quando ela nasceu, na noite antes da Páscoa, em 626, em uma residência real perto do Rio Derwent.
     São Beda o Venerável relata que antes do dia em que Eanfleda nasceu um assassino enviado por Cwichelm de Wessex fez uma tentativa contra a vida de Edwin. Depois, Edwin, solicitado pelo Bispo de York, São Paulino, concordou com o batismo de Eanfleda e prometeu se tornar cristão se lhe fosse concedida uma vitória contra Cwichelm. Eanfleda foi batizada, segundo São Beda, na festa de Pentecostes (8 de junho 626) com onze outras pessoas da casa real.
     A campanha de Edwin contra Cwichelm foi um sucesso e o rei adotou a nova fé em 627. Seu reinado terminou em 633 com a sua derrota e morte na batalha de Hatfield Chase. Fugindo dos tempos incertos que se seguiram à morte de Edwin, Etelburga, juntamente com o Bispo Paulino, voltou para Kent com Eanfleda, onde esta cresceu sob a proteção de seu tio, o Rei Eadbald de Kent.
     Em 642 Oswiu, Rei de Bernicia, chefe da família real rival, enviou um sacerdote chamado Utta de Kent, que então era governada pelo primo de Eanfleda, Eorcenberht, para pedir sua mão em casamento. Oswiu já havia sido casado com uma princesa britânica chamada Rieinmellt, e recentemente tornara-se rei após a morte de seu irmão, Oswald, na batalha de Maserfield. O Rei Penda de Mércia, o vencedor de Maserfield, dominava a região central e Oswiu precisava de apoio contra ele. O casamento com Eanfleda lhe traria esse apoio; a data do casamento não está registrada. Por seu lado, Eanfleda tinha esperança de reunificar os dois ramos da monarquia da região, assumindo o papel de protetora do cristianismo.
     Se o objetivo de Oswiu ao se casar com Eanfleda fora a aceitação pacífica de seu governo em Deira, o plano não foi bem sucedido. Em 644 Oswine, primo em segundo grau do Eanfleda, governava Deira e em 651 foi morto por um dos generais de Oswiu. Para expiar a morte do parente de sua esposa, Oswiu fundou a Abadia de Gilling, em Gilling, onde orações eram feitas por ambos os reis.
     Com diferentes graus de certeza, os filhos de Eanfleda com Oswiu são identificados como Ecgfrith, Aelfwine, Osthryth e Aelfflaed.
     Embora Eanfleda tenha sido criada na tradição celta, apoiou São Wilfrid no cálculo da Páscoa de acordo com o método romano. Ela tornou-se protetora de São Wilfrid; este desempenhou um papel importante na política da Nortúmbria durante os reinados de Ecgfrith, Aldfrith e Osred, e no resto da Grã-Bretanha do século sétimo. Quando Wilfrid desejou viajar em peregrinação a Roma, a rainha recomendou-o a seu primo, o Rei Eorcenberht.
     O apoio inicial de Oswiu à facção celta, envolvendo a dupla celebração da Páscoa na corte real, levou a uma crise decisiva na Igreja da região e resultou na convocação do Sínodo de Whitby. Agradecido por seu apoio a data latina da Páscoa, o Papa Vitaliano deu a Eanfleda uma cruz de ouro, provavelmente recamada com alguns elos da corrente de São Pedro.
     Viúva em 670, ela ingressou na Abadia de Whitby como discípula da abadessa, Santa Hilda. Este mosteiro estava intimamente associado à família real e muitos membros foram enterrados lá. A Abadia de Whitby era um mosteiro duplo, que abrigava freiras e monges em alas separadas, embora eles compartilhassem a igreja da abadia e os ritos religiosos.
    Em 680, após a morte de Santa Hilda, fundadora e abadessa do mosteiro, Eanfleda tornou-se abadessa juntamente com sua filha Elfleda. Sob a orientação de Eanfleda o mosteiro mais e mais se aproximou das posições da Igreja de Roma. Neste mosteiro foi enterrado Oswiu e sua esposa fez transladar para Whitby até mesmo os restos de seu pai, o Rei Edwin.
     Eanfleda faleceu por volta do ano 704, no reinado de seu enteado, Aldfrith (685-704) e foi enterrada ao lado de seu marido. Infelizmente, durante a invasão os dinamarqueses apagaram todos os traços do seu culto primitivo. As relíquias da santa, no entanto - de acordo com William de Malmesbury - foram resgatadas e transportadas para a Abadia de Glastonbury, com as de outros santos da Nortúmbria, onde, segundo alguns relatos, existia um monumento dedicado a ela no século XII.