quarta-feira, 29 de maio de 2013

Beata Janete, vidente de Nossa Senhora de Caravaggio














A Aparição de Nossa Senhora de Caravaggio

     O município de Caravaggio, terra da aparição, se encontrava nos limites dos estados de Milão e Veneza e na divisa de três dioceses: Cremona, Milão e Bergamo. Ano de 1432, época marcada por divisões políticas e religiosas. Além disso, teatro da segunda guerra entre a República de Veneza e o Ducado de Milão, passou para o poder dos venezianos em 1431. Pouco antes da aparição, em 1432, uma batalha entre os dois estados assustou o país.
     Neste cenário de desolação, às 17 horas da segunda-feira, 26 de maio de 1432, Nossa Senhora aparece a uma camponesa. A história conta que a mulher, de 32 anos, era tida como piedosa e sofredora. A causa era o marido, Francisco Varoli, um ex-soldado conhecido pelo mau caráter e por bater na esposa. Maltratada e humilhada, Janete Varoli (Giannetta, em italiano) colhia pasto em um prado próximo, chamado Mezzolengo, distante 2 km de Caravaggio.
     Entre lágrimas e orações, Janete avistou uma senhora que na sua descrição parecia uma rainha, mas que se mostrava cheia de bondade. Dizia-lhe que não tivesse medo, mandou que se ajoelhasse para receber uma grande mensagem. A senhora anuncia-se como “Nossa Senhora” e diz: “Tenho conseguido afastar do povo cristão os merecidos e iminentes castigos da Divina Justiça, e venho anunciar a Paz”.
     Nossa Senhora de Caravaggio pede ao povo que volte a fazer penitência, jejue nas sextas-feiras e vá orar na igreja no sábado à tarde em agradecimento pelos castigos afastados e pede que lhe seja erguida uma capela. Como sinal da origem divina da aparição e das graças que ali seriam dispensadas, ao lado de onde estavam seus pés, brota uma fonte de água límpida e abundante, existente até os dias de hoje, e nela muitos doentes recuperam a saúde.
     Janete, na condição de porta-voz, leva ao povo e aos governantes o recado da Virgem Maria para solicitar-lhes – em nome de Nossa Senhora – os acordos de paz. Apresenta-se a Marcos Secco, senhor de Caravaggio, ao Duque Felipi Maria Visconti, senhor de Milão, ao imperador do Oriente, João Paleólogo, no sentido de unir a igreja dos gregos com o Papa de Roma. Em suas visitas, levava ânforas de água da fonte sagrada, que resultavam em curas extraordinárias, prova de veracidade da aparição. Os efeitos da mensagem de paz logo apareceram. A paz aconteceu na pátria e na própria Igreja.
     Até mesmo Francisco melhorou nas suas atitudes para com a esposa. Sobre ela, após cumprida a missão de dar a mensagem de Maria ao povo, aos estados em guerra e à própria Igreja Católica, os historiadores pouco ou nada falam. Por alguns anos foi visitada a casa onde ela morou que, com o tempo desapareceu no anonimato.


A Vidente
     

Sua figura emerge da luz sóbria de um documento notarial escrito em pergaminho existente no Santuário e transcrito nas atas da visita pastoral (27 de abril de 1599) do Bispo Speciano.
     Janete, de 32 anos, é filha de Pedro Vacchi, casada com Francisco Varoli. Todos conhecem "seus virtuosos costumes, a sua piedade, sua vida sinceramente honesta".
     Na primeira história publicada em 1599, de Paulo Morigi, se fala da ida de Janete à Constantinopla. Mais recentemente, João Castelli (1932) e o Arcebispo Natal Mosconi (1962) levantaram a hipótese de um encontro entre Janete e o Imperador João VIII Paleólogo em Florença, ou em Veneza, ou em Ferrara, por ocasião da chegada à Itália do governante bizantino para o Conselho de Ferrara-Florença (1438-1439).
     Esta viagem para o Oriente, acompanhada de personagens marcantes nos anos seguintes à aparição não é tão improvável. Havia uma estreita relação entre a corte italiana e o imperador bizantino, que se casou com a princesa italiana Sofia, da dinastia Monferrato-Paleólogo. As viagens de negócios e de peregrinação para Constantinopla via Veneza ou Gênova eram comuns; o embarque dos peregrinos tinha como objetivo final a Terra Santa e desde o século XV alguns habitantes de Caravaggio seguiam para a corte imperial do Oriente por razões diplomáticas ou militares.
     Eram os anos de preparação para a celebração do Concílio de Ferrara-Florença e é espontânea a conexão entre a aparição de Caravaggio, a viagem de Janete à Constantinopla e o decreto de união entre os gregos e os latinos sancionado em 6 de julho de 1439.
     Sabendo que o Duque de Milão queria conhecê-la, Janete passou a noite em oração e, diz Paulo Morigi: ... perto do alvorecer a gloriosa Virgem se dignou aparecer novamente, dizendo: "Janete, minha serva, não duvide, mas afasta de ti todo temor e vá confiante para onde és chamada, que eu estarei contigo". Assim dizendo, ela desapareceu.
     Também nesta primeira edição da história da Aparição encontramos Janete como testemunha e fiadora do milagre de Bernardo de Bancho, curado de uma enfermidade na perna esquerda em 31 de agosto de 1432.
     A tradição a chama de "Beata", querendo ilustrar suas virtudes exemplares. Nós não sabemos se Janete tinha filhos, não sabemos com certeza se residia na vizinhança de Caravaggio como diz a tradição; mesmo que seja muito provável, não sabemos se ela era tão pobre. Não sabemos a data da morte da Beata; se ela viu Nossa Senhora aos 32 anos, a data de seu nascimento deve ser 1400. Levando-se em conta a duração média de vida na época, Janete não deve ter vivido muito mais de meio século.
     Nenhuma palavra dela foi preservada. No entanto, ela falou, e deve ter falado várias vezes quando perguntada sobre o que tinha visto e ouvido. Mas todo o conteúdo essencial está no "memorial" em pergaminho, que narra o diálogo entre Janete – espontâneo e direto, que mesmo sob o latim não esconde seu modo popular de falar – e a Virgem da Aparição.
     Ela cumpriu fielmente o mandato que lhe foi dado e isto é o que mais deve ser lembrado. A tradição a quer sepultada na igreja paroquial, que teve mais de um cemitério ao redor. A Schola S. M., que desde a Aparição vem realizando o atendimento na igreja de Nossa Senhora e no hospital, tinha sepulcros no interior na igreja paroquial. Janete sempre teve apenas um culto popular.