quarta-feira, 30 de maio de 2012

Beato Santiago Felipe Bertoni, sacerdote

 
          Se aplicava com sumo interesse ao estudo dos ensinamentos evangélicos e da sagrada Escritura,  Santiago Felipe nasceu em Faenza de pais virtuosos e de modesta condição, chamados Miserino de la Cella e Dominga. Ele antes de abraçar a vida religiosa, se chamava Andrés. 
          Acometido de ataques epilépticos na idade de dois anos, o pai fez voto, si o filho se curasse, de o consagrar ao Senhor como frade. Andrés desde tenra idade acudia com frequência à igreja. Não se entregava aos jogos e diversões próprios de sua idade. Por temperamento foi o mais tímido e retraído e aficionado à solidão.  Em torno aos nove anos, o pai, em cumprimento de seu voto, o agregou à Ordem dos Servos da Bem-aventurada Virgem María.
         Nesta nova vida recebeu o nome de frei Santiago Felipe. Uma vez iniciado na vida religiosa, sendo ainda criança, começou a sobressair pela obediência e exata observância da Regra; chegado à idade adulta praticava a miúdo jejuns e vigílias. Se aplicava com sumo interesse ao estudo dos ensinamentos evangélicos e da sagrada Escritura. Parece que seu alimento era a leitura assídua da vida dos santos Padres e dos exemplos de castidade, de obediência, de humildade, dos santos.
         Desde muito jovem se dedicou com tanto esmero aos estudos literários, que logrou compreender com facilidade e exactidão as obras de autores cristãos e latinos de mais fama. Conhecia à perfeição as cerimónias rituais da Igreja e da Ordem e as rúbricas do breviário, e as observava cuidadosamente. Cobriu alguns cargos conventuais com plena satisfação dos frades. Era, com efeito, de temperamento afável, manso e serviçal.
         Nunca se lhe viu a face alterada. Quando alguém o ofendia, suportava com ânimo sereno as injúrias; ele, por sua parte, nunca ofendia a ninguém. Foi sempre parco em falar: não só evitava as palavras inconvenientes, mas também as inúteis; se alguma vez conversando, escutava expressões obscenas, se lhe ensombrecia o rosto, corrigia o importuno com breve admoestação, e se afastava.
        Ordenado sacerdote, celebrava os divinos mistérios com devoção e veneração incomparáveis, até chegar a derramar lágrimas; nenhum como ele contemplava tão profundamente o mistério da cruz quando tinha entre as mãos o Corpo de Cristo. Foi inimigo declarado do ócio, a que chamava receptáculo de todos os vícios. Se reunia com os demais frades para a celebração e o canto da oração coral; o tempo que lhe restava o passava na cela ocupado na oração ou na leitura; às vezes recreava sua mente com trabalhos manuais de bordado ou tracejado: sempre estava ocupado em algo. Passeava pelos corredores quase sempre só, meditabundo e cabisbaixo.
        Lia com avidez os livros sagrados e as obras de são Jerónimo, em especial se enfrascava com a leitura do opúsculo [del Pseudo Eusebio] sobre a morte deste santo. Chegou um momento en que já só pensava nas realidades eternas e se alimentava mais das coisas celestiais que dos manjares corporais, posto que comia uma só vez ao dia e se contentava com um alimento parco e frugal; mas quando o chamava o superior comia o que estava preparado para toda a comunidade.
         Às sextas-feiras, em memória da paixão do Senhor, levava um cilício e comia só verduras. Nada rezava tanto como os louvores: ainda que todos o tinham em grande apreço, foi mais estimado de Deus que dos homens. A exemplo do Salvador, quis ser tido em nada e desprezado: o que mais desejava em seu interior era agradar a Deus, seu Pai e criador, e seguir as pegadas de nosso Redentor. Passou os últimos dias de sua vida enfermo; ´não o dizia mas em seu semblante se manifestava seu precário estado; com efeito, quando lhe perguntavam como se encontrava, sempre respondia: “Bem, porque assim o quer o Senhor”.
        Nunca se impacientou nem se queixou, nem sequer ao enfrentar a morte, e essa conduta observou toda sua vida. Ainda que estava enfermo, não guardava cama, mas que ia de um lado para outro. Na vigília de sua morte assistiu ao coro com os demais frades para o canto de matinas; no dia anterior pela manhã havia celebrado a missa.
         Na tarde anterior ao dia de sua morte visitou a cada um dos frades para lhes pedir humildemente perdão e para que o recordassem em suas orações dos dias seguinte. Porque estava convencido que se acercava seu fim. Na idade de 25 anos tornou vitorioso à pátria celestial, em 25 de maio pelas três da tarde: era no domingo da santíssima Trindade. Sua estatura era algo mais que mediana; era tão macilento que sua pele estava colada aos ossos; tinha o  rosto afilado, o nariz algo largo, os olhos fundos, o pescoço erguido, os dedos alargados; e a sua tez  era notavelmente pálida.