segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Santo André Corsini



         A família dos Corsini era uma das principais de Florença no século XIV. Nicolau Corsini e Peregrina, sua esposa, viveram muito tempo sem filhos: depois de muito rezar, obrigaram-se com voto a consagrar ao senhor aquele que lhes concedesse. A 30 de Novembro de 1302 nasceu-lhes um filho, a que deram o nome de André. Mas este, apesar dos cuidados dos pais, caiu na libertinagem, não pensou senão em divertir-se, sem se ocupar com salvar-se.
         Peregrina, sua santa mãe, não parava de chorar e de pedir pela conversão dele. Tinha uns 15 anos quando um dia ela lhe disse na amargura da sua alma: “Bem vejo que tu és esse lobo que me foi mostrado em sonhos”. E perguntando-lhe André, cheio de surpresa, o sentido dessas palavras, ela continuou: “Quando eu te trazia no seio, sonhei que daria à luz um lobo, mas que esse lobo, tendo entrado numa igreja, se mudava em cordeiro. O teu pai e eu consagramos-te a Deus e esperamos de ti uma bem diferente maneira de viver”. Estas palavras fizeram em André a mais viva impressão; pensou nelas toda a noite. No dia seguinte, entrou cedo na igreja dos carmelitas, rezou muito tempo diante da imagem de Maria, honrada com o título de Nossa Senhora do Povo, e, sem voltar sequer à casa dos pais, foi pedir ao provincial dos carmelitas que aceitasse admiti-lo entre os seus religiosos. Admitido a vestir o hábito em 1318, fez o noviciado, resistiu corajosamente às solicitações dum tio que desejava vê-lo regressar ao mundo, e pronunciou os votos a 6 de janeiro de 1321.
          Desde então, redobrou de fervor na prática das virtudes, em particular da humildade; a sua alegria estava em servir os pobres e os doentes, em trabalhar na cozinha e em ir mendigar pelas ruas. Praticava em tudo a obediência, e entregava-se cuidadosamente ao estudo e à oração. Fez rápidos progressos no conhecimento das ciências sagradas. Ordenado sacerdote em 1328, levou a que seus pais pasmassem, indo ele celebrar a Missa Nova num conventinho a sete milhas de Florença, isto para evitar qualquer solenidade exterior que lhe perturbasse o recolhimento e a devoção. Pregou algum tempo em Florença e depois, por ordem dos superiores, dirigiu-se a Paris, a fim de se aperfeiçoar no conhecimento da teologia.
          No regresso, passou por Avinhão, onde encontrou o seu parente Pedro Corsini, bispo de Volterra, criado mais tarde cardeal pelo papa Urbano V. Passou alguns dias com este prelado e, no intervalo, deu a vista a um cego que pedia esmola à porta duma igreja. Regressando a Florença, foi prior do convento desta cidade. Deus honrou-o com o dom dos milagres e das profecias; os frutos de edificação e de zelo que lhe seguiam os sermões fizeram que fosse considerado o segundo apóstolo da região.
          Entre os milagres e conversões que realizou, conta-se a volta a Deus de seu primo João Corsini, a quem libertou duma úlcera no pescoço. Vindo a morrer o bispo de Fiésole, vila a uma légua de Florença, o clero, de comum acordo, elegeu em seu lugar o Rev. Padre André. Este, informado da sua eleição, foi-se esconder na cartuxa de Florença. Perdia-se a esperança de o descobrir e pensava-se já fazer segunda eleição, quando uma criança de três anos se apresentou no meio da assembleia dos eleitores e disse: “Deus escolheu André para bispo; está em oração na cartuxa, é lá que o encontrareis”.
          Ao mesmo tempo, outra criança aparecia ao Padre André para lhe dizer: “Não temas, serei o teu guarda, Maria será em toda a parte a tua ajuda e a tua protetora”. Então o santo religioso foi ao encontro dos que o procuravam. Foi sagrado bispo no começo do ano de 1360. Nada diminuiu nas suas austeridades, usava um cilício e um cinto de ferro; cada dia, após rezar os sete salmos penitenciais, tomava a disciplina até ao sangue rezando as ladainhas. A sua cama era constituída por ramas de videira. Não dava nenhum momento do dia ao recreio, para nada tirar à meditação e à leitura dos Livros Sagrados.
           Às mulheres falava o menos possível e recusava-se a dar ouvidos aos lisonjeiros. Toda a vida teve um coração compadecido pelas misérias do próximo; mandou fazer a lista dos pobres envergonhados para os ajudar. Na quinta-feira de cada semana, lavava os pés aos pobres que recebia; um dia apareceu um, que recusou este serviço por ter as pernas cobertas de úlceras; André insistiu e, mal tinha acabado o seu trabalho, o homem sentiu-se completamente curado. André assinalava-se em restabelecer as amizades e acalmar as discussões.
           Urbano V mandou-o como núncio a Bolonha com a missão de restabelecer lá a paz perturbada pelas facções. André conseguiu tudo e encheu a cidade de alegria. Cuidou também de reparar os templos materiais; mandou restaurar a sua catedral, que ameaçava ruína Por fim, tocou para ele a hora da paga. Na noite de Natal, quando celebrava a missa, a Santíssima Virgem apareceu-lhe e anunciou-lhe que no dia de Reis deixaria este mundo para entrar no céu. No dia seguinte, atacou-o a febre, e pôs em ordem os seus assuntos.
           Na festa da Epifania mandou que lhe trouxessem o saltério rezou com os presentes os símbolos dos Apóstolos, de Niceia e de Santo Atanásio, pronunciou o primeiro versículo do Nunc dimittis, e entregou serenamente a sua alma a Deus (6 de Janeiro de 1373). O corpo de André, tirado secretamente de Fiésole, foi transportado para Florença, para uma esplêndida capela da igreja dos Carmelitas. Os florentinos sentiram muitas vezes os efeitos da sua eficaz proteção . O processo de canonização principiou no tempo de Eugénio IV e terminou em 1629 com Urbano VIII.