terça-feira, 10 de janeiro de 2012

São Gonçalo de Amarante

           

            Muito venerado na sua terra natal, no Portugal, como também no norte do Brasil, São Gonçalo de Amarante nasceu em fins do século XII em Tagilde, freguesia de São Salvador, arcebispo de  Braga. Desde a mais tenra idade dava sinais inequívocos de ser um eleito do Senhor para uma vida extraordinariamente santa. Apenas batizada, a criancinha fixou o seu olhar sobre a imagem de Jesus Crucificado, mas de uma maneira, que chamou atenção de todos que presentes se achavam. Em toda a sua infância as sacras imagens de Nossa Senhora e dos Santos exerciam uma grande atração sobre ele, e freqüentemente era observado, que o pequeno Gonçalo se privava do alimento, para visitar estes objetos da sua veneração.
            Os piedosos pais cuidadosamente trataram de dispensar a seu filho uma primorosa educação. O menino, revelando talento e inclinação para as letras, começou os estudos sob a direção de um piedoso sacerdote. Mais tarde, já moço, sob as vistas do Arcebispo de Braga, se entregou ao estudo da teologia, e do mesmo Prelado recebeu as ordens sacerdotais. Seu primeiro campo de ação sacerdotal veio a ser S. Paio de Riba de Vizela, paróquia que foi confiada aos seus cuidados. Humilde e zeloso, rapidamente foi conhecido como modelo de sacerdote, parco e rigoroso para consigo próprio, liberal e cheio de caridade para com os pobres e necessitados.
            Muitíssimo devoto à Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, surgiu-lhe na alma vivíssimo desejo de visitar os santos lugares da Palestina e os Santuários da cidade de Roma. Para  que os seus paroquianos durante a sua ausência não viessem a sofrer espiritualmente por falta de assistência religiosa, preparou e encaminhou ao sacerdócio um sobrinho seu , ao qual, com muitas recomendações confiou a administração da paróquia, pelo tempo que se acharia em viagem de peregrinação. O sobrinho, da sua parte, prometeu  sob juramento cumprir fielmente com os deveres de cura d’almas. Partiu o nosso Santo consolado, confiante na palavra do seu substituto. Visitou Roma e Jerusalém, demorando-se cerca de quatorze anos nesta jornada de penitência e amor a Nosso Senhor.
            De volta à sua terra e à paróquia, teve o grande desgosto de encontrar na pessoa de seu sobrinho, um sacerdote esquecido dos seus deveres, homem vivendo em luxo, desprezando os pobres e necessitados, dando mau emprego às esmolas que recebia.
            Como era seu dever, Gonçalo o censurou severamente; e lembrou-o das solenes promessas feitas ao assumir a administração da paróquia, havia quatorze anos atrás. O sobrinho, muito em vez de aceitar a mais que justa incriminação, longe de se humilhar, enfureceu-se contra seu santo tio: chegou a cobri-lo de insultos e levou a sua fúria a ponto de fisicamente o maltratar. O santo homem, agradecendo a Deus por tantas injúrias recebidas, sem levantar queixas ao Arcebispo, resolveu abraçar a vida solitária, de ermitão. Retirou-se para Amarante, lugar ermo, onde construiu para si um pobre oratório, não deixando, entretanto, de exercer as funções sacerdotais entre a população da redondeza.
            Alguns dias depois, tendo passado quarenta dias em completo jejum, a pão e água, de Nossa Senhora recebeu o aviso, ser a vontade de Deus, ele tomar o hábito de São Domingos. – Dirigiu-se ao convento dominicano de  Guimarães, pediu admissão e foi aceito. Passado o tempo de noviciado, emitiu os santos votos. Junto com outro companheiro foi destacado para fazer pregação no oratório que levantara em Amarante. Passava ali o rio Tâmega, cuja travessia punha em perigo a vida de muita gente. Compadecido da triste situação de tantos viajantes, Gonçalo determinou fazer uma ponte naquele lugar e querendo dar-lhe princípio, lhe apareceu um anjo que indicou dois montes, entre os quais a construção se devia fazer. Pôs mãos à obra, confiando no auxílio também dos moradores daquela região. Estes não se negaram, mas muito se admiraram de ver o virtuoso frade, ao lado dos operários se entregar aos rudes trabalhos. Pedras de grande volume, tão pesadas, que muitos juntos  não conseguiam mover, ele as levava, sozinho dando assim prova de uma assistência que lhe vinha de cima. Dois fatos extraordinários, por todos qualificados milagres, marcaram a intervenção do Santo naquela obra gigantesca que foi a construção da ponte. Quando lhe faltava mantimento para os operários, se punha em oração à borda do rio, pedindo a Deus socorro, e fazendo sobre a água o sinal da cruz, apareciam em grande chusma peixes de todo o tamanho, e facilmente se deixavam pegar.
             E certa ocasião faltaram vinho e água, deficiência esta que seriamente vinha a comprometer a continuação das obras. O servo de Deus nesta sua aflição subiu ao monte situado junto do oratório, prostrou-se por terra  e pediu a Deus o socorresse naquela necessidade. Acabada a oração, com o bordão tocou o rochedo, invocou o nome de Jesus e imediatamente saiu vinho e abundância. Uma pedrinha que punha no orifício da fonte vinhateira, fazia às vezes de uma torneira, a abrir e fechar. Uma segunda pancada deu na parte contrária do penedo, invocando outra vez o nome de Jesus, e saiu água tão clara, mais clara que a do rio.
             O milagre dos peixes se repetiu muitas vezes. As obras da ponte foram levadas ao fim. A fonte do vinho secou, não porém a da água; que está aberta até ao presente, e, bebendo dela, muitos enfermos recebem a saúde.
             Outro fato que os biógrafos de São Gonçalo relatam, e que muito impressionou os que o presenciaram, foi, de com uma sentença condenatória ter mudado pães alvos em massas pretas, e estas, com aspersão de água benta, feito retomar sua forma primitiva de pães, milagre este com que em grande sermão público fez emudecer a linguagem blasfemadora de mofador da divina justiça.
             São Gonçalo morreu aos 10 de janeiro, de ano incerto, presumindo-se que fosse em 1259, no seu humilde leito de palha de eremitério, confortado pelo seu companheiro de hábito e em meio de visões celestes.
             Com muitos milagres Deus glorificou o túmulo do seu fiel servo, sendo ele até hoje muito venerado pelo povo católico. No lugar onde foi sepultado, mais tarde se fez erguer um mosteiro dominicano. O Papa Júlio III em 16 de setembro de 1561 aprovou o culto do bem-aventurado para todo o Portugal. Os Papas Urbano VIII (em 1629), Clemente X (1672) confirmaram a aprovação para toda a Ordem de São Domingos. Clemente XI marcou-lhe a festa para 28 de janeiro.