terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Beata Maria das Dores Rodriguez Sopeña

         

          Dolores Rodríguez Sopeña nasce em Vélez Rubio (Almería), em 30 de Dezembro de 1848, quarta entre sete irmãos. Seus pais, Tomás Rodríguez Sopeña e Nicolasa Ortega Salomón, castelhanos, se haviam trasladado desde Madrid a essa localidade por motivos de trabalho. Dom Tomás havia terminado sua carreira judicial demasiado jovem, pelo que não podia exercer e consegue um emprego como administrador das quintas dos marqueses de Vélez.
          Sua infância e adolescência transcorrem em distintos povos das Alpujarras pois, quando seu pai começa a exercer como magistrado sofre ao longo de sua carreira diversas mudanças. Contudo, ela define esta etapa de sua vida como um «lago de tranquilidade». Em 1866, seu pai é nomeado Fiscal da Audiência de Almería. Dolores tem 17 anos. Ali começa a frequentar a sociedade, mas a ela não lhe chamavam a atenção as festas nem a vida social; seu interesse é fazer bem aos outros.
         Em Almería tem suas primeiras experiências apostólicas: atende, material e espiritualmente, a duas irmãs enfermas de tifo e a um leproso, tudo isso às escondidas por medo a que a proibissem seus pais. Também visita aos pobres das Conferencia de São Vicente de Paulo com sua mãe. Três anos mais tarde, seu pai é transferido para a Audiência de Porto Rico, onde viaja com um de seus filhos enquanto o resto da família se instala em Madrid.
           Na capital Dolores ordena melhor sua vida: elege um diretor espiritual e colabora ensinando a doutrina na cadeia de mulheres, no hospital da Princesa e nas Escolas Dominicais. Em 1872, a família se reúne em Porto Rico. Dolores tem 23 anos e permanecerá na América até aos 28. Começa seu contacto com os jesuítas. O P. Goicoechea foi seu primeiro diretor espiritual. Ali funda a Associação de Filhas de Maria e Escolas para as pessoas de cor onde se alfabetiza e ensina o catecismo.
           Em 1873, seu pai é nomeado Fiscal da Audiência de Santiago de Cuba. São tempos difíceis, pois estala um cisma religioso na ilha. Por este motivo, sua ação se reduz a visitar aos enfermos do hospital militar. Pede a admissão nas Irmãs da Caridade, mas não o consegue por sua falta de vista.
           Com a idade de 8 anos havia sido operada aos olhos e esta doença a acompanhará toda a vida. Ao terminar o cisma começa a trabalhar nos bairros marginais e funda o que ela denomina «Centros de Instrução», pois neles não só se ensinava o catecismo mas também cultura geral e inclusive se prestava assistência médica. Para esta obra consegue muitas colaboradoras e a estabelece em três bairros diferentes.
           Em Cuba morre sua mãe, seu pai pede a retirada e voltam a Madrid em 1877. Em Madrid organiza sua vida em três frentes: o cuidado da casa e de seu pai, o apostolado, o mesmo que fazia antes de deixar a Península, e sua vida espiritual: elege diretor espiritual e começa a fazer anualmente os Exercícios Espirituais de santo Ignácio.
           Em 1883 morre seu pai e se reavivam suas lutas vocacionais. Por indicação de seu diretor, o P. López Soldado SJ ingressa no convento das Salesas, pese a que nunca se havia planeado uma vida inteiramente contemplativa. Aos dez dias deixa o convento pois comprovou não ser sua vocação. Ao sair se dedica com mais intensidade ao apostolado. Abre uma «Casa Social» onde se tramitam os diversos assuntos que saem em suas visitas ao hospital e à cadeia.
           Numa de suas visitas a uma das presas que acabava de ficar em liberdade, conhece o Bairro das Injúrias. Corre o ano 1885. Dolores tinha 36 anos. Ao ver a situação moral, material e espiritual da gente, começa a visitar o bairro todas as semanas e convida a muitas de suas amigas. Aí começará a que logo se denominará «Obra das Doutrinas», antecedente de seus «Centros Operários». A sugestão do bispo de Madrid, D. Ciríaco Sancha, em 1892 funda uma Associação de Apostolado Secular hoje denominado «Movimento de Laicos Sopeña». No ano seguinte recebe a aprovação civil. A Obra se estende em 8 bairros da capital.
          Em 1896 inicia sua atividade fora de Madrid. Pese a oposição da Associação, aceita fundar a Obra em Sevilha. Fruto de muitos mal entendidos, demite como Presidenta em Madrid no ano seguinte e se estabelece em Sevilha. Em só quatro anos realiza 199 viagens por toda Espanha para estabelecer e consolidar a Obra das Doutrinas. Por sua vez, acompanha o P. Tarín, SJ, em algumas missões por Andaluzia. 
         No ano 1900 participa numa peregrinação a Roma pelo Ano Santo. Faz um dia de retiro no sepulcro de São Pedro e ali recebe a confirmação de fundar um Instituto Religioso que desse continuidade à Obra das Doutrinas e que ajudara a sustentar espiritualmente a Associação laical. O Cardeal Sancha, então já arcebispo de Toledo, lhe propõe fundar ali.
         Em 24 de Setembro de 1901, em Loyola, depois de uns Exercícios Espirituais realizados junto com 8 companheiras, se levanta ata de fundação do «Instituto de Damas Catequistas» (hoje «Instituto Catequista Dolores Sopeña»), ainda que a fundação oficial foi em 31 de Outubro em Toledo. Uma de suas grandes intuições foi fundar, ao mesmo tempo, uma Associação civil, hoje chamada «Obra Social e Cultural Sopeña - OSCUS», que, em 1902, consegue o reconhecimento do governo.
          Em 1905 recebe da Santa Sede o Decretum laudis e, dois anos mais tarde, em 21 de Novembro de 1907, a aprovação das Constituições concedida diretamente por S.S. Pío X.  operários fortemente influenciados pelo anticlericalismo e não podia pretender-se o ensino da religião diretamente. Isto também determina que as religiosas deste Instituto não levem hábito e nem sequer um sinal religioso externo. Muda seus meios e seus métodos para poder conseguir o fim: acercar-se dos operários «afastados da Igreja», que não haviam podido receber instrução cultural, moral nem religiosa e unir os «distanciados socialmente», então, «a classe operária e do povo» com a «alta e acomodada». Isto o resume em duas linhas de ação: dignificar ao trabalhador e criar fraternidade. Detrás de sua entrega ao serviço dos outros está uma fé profunda e autêntica, uma rica espiritualidade.
          Seu compromisso pela dignidade da pessoa brota de sua experiência de um Deus Pai de todos, que nos ama com uma ternura infinita e deseja que vivamos como filhos e irmãos. Dali seu grande desejo de «Fazer de todos uma só família em Cristo Jesus.» Sua grande união com Deus lhe permite descobri-lo presente em tudo e em todos, especialmente nos mais necessitados de dignidade e afecto. Sair ao encontro de cada pessoa em sua situação, introduzir-se nos bairros marginais da época, era inconcebível para uma mulher a finais do século XIX.
          O segredo de sua audácia é sua fé, essa confiança sem limites, que ela reconhece como seu maior tesouro e que afaz sentir-se instrumento em mãos de Deus, instrumento ao serviço da fraternidade, do amor, da misericórdia, da igualdade, da dignidade, da justiça, da paz... Em poucos anos, estabelece comunidades e Centros nas cidades mais industrializadas de então.
           Em 1910 se celebra o primeiro Capítulo Geral e é reeleita Superiora Geral. Em 1914 funda em Roma e em 1917 viajam as primeiras Catequistas para abrir a primeira casa na América, concretamente no Chile.  No ano seguinte, em 10 de Janeiro de 1918, Dolores Sopeña morre em Madrid com fama de santidade. 
          No dia 11 de Julho de 1992, João Paulo II declara heroicas suas virtudes sendo beatificada em 23 de Março de 2003. Atualmente a Família Sopeña, formada pelas três instituições que deixou fundadas, quer dizer, o Instituto Catequistas Dolores Sopeña, o Movimento de la Laicos Sopeña e a Obra Social e Cultural Sopeña, está presente em Espanha, Itália, Argentina, Colômbia, Cuba, Chile, Equador, México e República Dominicana.