sábado, 25 de fevereiro de 2012

São Valério de Astorga, monge

                 

                 A perseguição é herança de quantos querem seguir de perto o Divino Mestre. O Papa Bento XV até chegou a dizer, em animada conversa com um grupo de Cardeais, que a "perseguição" é a quinta nota essencial da Igreja.
                São Valério foi sem dúvida um dos Santos que mais duramente sofreu perseguições durante toda a sua vida. O seu caminho não foi um caminho de rosas.
                Nasceu na província de Leão, perto de Astorga, nos princípios do século VII e por essas redondezas passou quase toda a sua longa vida indo de um lado para outro, encontrando dificuldades de toda a espécie para poder ter uma residência fixa como desejava, a fim de servir a Deus a oração e na penitência.
                Tendo recebido uma esmerada educação cristã, procurou sempre viver de acordo com ela. Cedo se deu conta de que a juventude seguia pelas vias do abandono religioso e da entrega aos prazeres da carne. Ele, para lhes fugir, quis retirar-se para um famoso mosteiro que tinha sido fundado, uns anos antes, pelo santo Bispo de Braga São Frutuoso.
                Apesar das boas intenções e excelentes qualidades que o adornavam, não foi admitido nesse mosteiro, porque outros eram os planos da Divina Provindência.
                Devia carregar com a cruz da perseguição e da penitência, que resultava da insegurança e da vida nómada a que agora se vê forçado em toda a parte. Bem o podiam nomear patrono dos que andam em viagem e dos que não encontram segurança.
                Como sentia um atrativo irresistível para a vida de solidão e silêncio, retirou-se para uma ermida situada perto do castelo da Pe¬dra, próximo de Astorga. Aí se entregou à oração, ao jejum e à mortificação do corpo. Logo correu a voz pelos arrabaldes da santidade de vida daquele jovem ermitão, e muitos eram os que o iam visitar e pedir-lhe orações e conselhos de vida espiritual. Esta ermida estava a cargo de um clérigo que se chamava Flayno. Ao ver as avultadas esmolas que lá deixavam todos os bons visitantes para o seu sustento e para poder ajudar outros mais pobres do que ele.., logo despertou no seu coração avarento o desejo de se apoderar de tudo aquilo, exigindo a Valério que lhe entregasse quanto lhe davam. Mais ainda, obrigou-o a ir-se embora dali, mas os bons cristãos acorriam ao novo paradeiro de Valério e aí depositavam as suas esmolas. Flayno não duvidou em acorrer lá também e queria apoderar-se das esmolas que já nada tinham a ver com a sua, ermida. Chegou inclusivamente a escarnecer dele e a vias de fato.
                Os seus admiradores adquiriram uma ermida num lugarejo chamado Ebronato, e aí se sentia feliz, entregue à oração à penitência. Depressa, porém, o dono daquela propriedade, chamado Racimino, começou a ter inveja dele, por ver que era querido e admirado por toda a gente, e tratou de o expulsar da quinta com grandes impropérios. Pôs à frente daquela igreja um tal Justo, diácono, que de justo apenas tinha o nome, e que também tratou de fazer a vida negra ao pacífico ermitão Valério. Viam-no os fiéis e procuravam ajudá-lo, mas nem sempre o podiam fazer.
                Por fim, depois de mais de vinte anos de duras provas e perseguições de toda a espécie, recebeu a inspiração do céu de se mudar para a região do Bierzo, e aí edificar uma ermida que seria a sua residência até à morte. Assim o fez e naquele lugar tão solitário, longe do ruído mundano, entregou-se à mais dura penitência e prolongada oração. O Senhor abençoou-o copiosamente e fazia muitos prodígios por seu intermédio.
                Fez o voto de não perder nem um minuto de tempo, e assim, quando terminava a sua oração, aplicava-se aos trabalhos manuais ou a escrever. Apesar da sua escassa formação literária, deixou-nos preciosos tratados espirituais e várias vidas exemplares. Por fim, num dia 25 de Fevereiro dos fins do século VII, expirou no Senhor.