quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Beato André Carlos Ferrari, bispo

        

         S. Paulo enumerando as virtudes que devem adornar o Bispo, diz: «É necessário que seja sóbrio, prudente, hospitaleiro, capaz de ensinar». Assim foi o Cardeal André Carlos Ferrari, que veio ao mundo numa pequena aldeia de Itália, a 13 de Agosto de 1850, de pais humildes. Tendo frequentado o seminário, ordenou-se padre a 19 de dezembro de 1873.
         Como pároco, teve especial cuidado com a juventude. Pouco tempo esteve à frente do trabalho paroquial, pois foi nomeado professor e reitor do seminário de Parma. Distinguindo-se por sua piedade, doutrina e direção de almas, Leão XIII nomeou-o Bispo de Gustalla, no dia 23 de Junho de 1890, não contando ainda 40 anos de idade. Foi tal o seu proceder à frente da pequena diocese que o mesmo Sumo Pontifice resolveu transferi-lo para outra maior e mais importante, a de Como.
          Nos anos em que permaneceu nessa diocese, percorreu-a de lés a lés, visitando todas as freguesias, por menores e remotas que fossem. Empenhou-se sobremaneira na formação do clero e desenvolvimento da Ação católica. No consistório de 18 de maio de 1894, Leão XIII, que estimava o Bispo de Como, inclui-o no número de Cardeais, e três anos depois confiou-lhe o governo da Arquidiocese de Milão.
          No dia em que foi nomeado Arcebispo dessa cidade, o Servo de Deus acrescentou o nome de Carlos ao de André, que recebera no baptismo, para honrar S. Carlos Borromeu, Pastor imortal e glória da igreja milanesa. O que ele fez neste novo campo de apostolado, é-nos referido por João Paulo II na homilia que proferiu no dia da beatificação do Cardeal, a 10 de maio de 1987; «Cristo foi a “porta” da santidade para o cardeal André Carlos Ferrari que, depois de ter sido Bispo de Guastalla e de Como, dirigiu por cerca de 27 anos a Arquidiocese de Milão, seguindo com fervor apaixonado as pegadas dos grandes predecessores, Ambrósio e Carlos.
          Sustentado por fé robusta e zelo iluminado, ele soube indicar com tino seguro o caminho a percorrer entre novas e difíceis realidades emergentes no contexto religioso e social do seu tempo. Soube ver os problemas pastorais, que as circunstâncias históricas apresentavam, com o olhar do Bom Pastor, indicando os modos para os enfrentar e resolver.
          Ele é, portanto, um exemplo de grande atualidade. Consciente de que a ignorância dos princípios essenciais da fé e da vida moral expunha os fiéis à propaganda ateia e materialista, organizou uma forma de catequese moderna e incisiva. Também o estilo pastoral foi por ele renovado; inspirando-se no Bom Pastor, ele repetia com vigor que não se devia esperar passivamente que os fiéis se aproximassem da Igreja, mas que era indispensável voltar a percorrer, como Jesus, as ruas e as praças para ir ao encontro deles, falando a linguagem deles.
         Visitou quatro vezes a vasta arquidiocese ambrosiana, indo às localidades mais distantes e inacessíveis, mesmo a cavalo e a pé, onde deste tempo imemoriável não se tinha visto um Bispo. Por esta razão, ante a sua pastoral incansável , alguns diziam: “S. Carlos voltou”. A solicitude do Pastor foi expressa também na promoção de formas novas de assistência, adequadas às mudanças dos tempos e os jovens abandonados, os trabalhadores e os pobres”.
          A seguir, o Santo Padre enumera os meios de que se valeu o beato André Carlos para levar por diante o seu programa. “Amadureceu assim no coração do Cardeal Ferrari o projeto de uma Obra, que constitui hoje uma sua herança preciosa: a Companhia de São Paulo, chamada também Obra Cardeal Ferrari. Da ideia originária de uma casa do Povo, que recolhesse as organizações de apostolado dos leigos e de assistência na arquidiocese, desenvolveu-se uma série de atividades inspiradas no genial e corajoso dinamismo pastoral do Arcebispo ; o ‘Secretariado do Povo’, os refeitórios nas empresas, as missões aos operários, a casa da Criança e a casa para reeducação dos desencarcerados, as grandes iniciativas na imprensa católica, a organização das grandes peregrinações.
          Mérito insigne do cardeal Ferrari foi precisamente ter percebido com feliz intuito a urgência de envolver os leigos na vida da comunidade eclesial, organizando-lhes as forças para uma presença cristã mais incisiva na sociedade. Foi zeloso promotor da Ação Católica masculina e feminina que, sob o seu determinante impulso, cresceu e de Milão teve benéfico influxo em toda a Itália.
          Prodigalizou-se também por erigir a Universidade Católica e teve a alegria de ver a sua atuação incipiente».Por fim João Paulo II refere-se às virtudes heroicas do Bem aventurado nestes termos: «Mas o segredo da incansável ação apostólica do novo beato continua a ser a sua vida interior, baseada em profundas convicções teológicas, inundada de terna e filial devoção a Nossa Senhora, centrada em Jesus Eucarístico e Crucificado, expressas numa atitude constante de grande bondade para com todos, de comovida solicitude pelos pobres, de heroica paciência no sofrimento.
         A 29 de Setembro de 1920, entre as lancinantes dores do mal que o afligia, escreveu no seu diário estas extremas palavras: “Seja feita a vontade de Deus, sempre e em tudo”». O Beato André Carlos Ferrari faleceu em Milão, no dia 2 de Fevereiro de 1921.