Em Pádua, na região de Veneza, beata Eustóquia (Lucrécia) Bellini, virgem da Ordem de São Bento (1469). Etimologia: Lucrécia = Aquela que ganha, é de origem latina. Seu nascimento não foi propriamente legítimo, Lucrécia Bellini nasceu em Pádua no ano 1944, era fruto da adúltera relação mantida por uma monja do mosteiro beneditino de São Prosdócimo com Bartolomé Bellini; quando tinha quatro anos de idade o demónio se apoderou de seu corpo, tirando-lhe o uso da razão, e atormentando-a praticamente toda a vida.
Aos sete anos foi confiada às monjas de São Prosdócimo que mantinham no seu mosteiro uma espécie de escola; a conduta da comunidade não era exemplar, mas Lucrécia desprezava o ócio mundano, preferia os retiros, os trabalhos e a oração, sendo muito devota de Nossa Senhora, de São Jerónimo e de São Lucas. Em 1460 o bispo Jacopo Zeno, após a morte da abadessa, tentou impor uma melhor disciplina no mosteiro, mas as monjas e as alunas da escola, regressaram a suas casas ficando sozinha Lucrécia Bellini no mosteiro.
Então vieram substitui-las umas monjas do mosteiro beneditino de Santa María da Misericórdia, sob a direcção da abadessa Justina de Lazzara. Lucrécia tinha quase 18 anos, pediu para ingressar na ordem, e em 15 de janeiro de 1461 toma o negro hábito beneditino e muda seu nome para Eustóquia; o demónio que durante algum tempo a havia deixado em paz, tomou controle de seu corpo, obrigando-a a realizar atos contrários à Regra; levando-a inclusive a realizar atos tão ruidosos e violentos, que as irmãs estavam aterradas que optaram por a ter atada a uma coluna durante vários dias. Mas a calma durou pouco, logo depois que Eustóquia fora desatada, a abadessa caiu enferma com um estranho mal-estar, ela suspeitava que Eustóquia tinha algo que ver com seus sintomas, crendo inclusive que praticava bruxaria, pelo que foi obrigada a manter reclusão e ingerir tão somente pão e água durante os seguintes três meses. Mas todas estas provas não desanimam a noviça que a todos aqueles que lhe propunham que retornasse ao mundo o que mudasse de mosteiro ela dizia-lhes que todas aquelas tribulações eram bem-vindas já que desejava expiar o pecado de que ela havia nascido, fazê-lo ali onde foi cometido, na solidão ela se confortava recitando um rosário ou uma coroa de salmos e orações que ela compunha.
Uma vez que foi libertada, o demónio voltou a atormentar, com flagelações sangrentas, náuseas incontroláveis e outras estranhas aflições que ela suportava com uma inflexível paciência, o que convenceu as irmãs de suas virtudes, e finalmente em 25 de março de 1465 se admitiu sua profissão solene, e como era costume daquele tempo, dois anos depois foi-lhe imposto o negro véu das beneditinas. Sua vida não foi longa, teve grande beleza, mas as possessões diabólicas, as enfermidades e penitências, haviam-na reduzido a quase um esqueleto vivente, pelo que os últimos anos de sua vida os passou quase sempre enferma numa cama, absorta na oração e meditação da Paixão de Jesús.
Ela morreu em 13 de fevereiro de 1469 quando tinha tão só 25 anos, seu final foi tão sereno que seu rosto pôde recobrar sua antiga beleza, o demónio a havia deixado finalmente em paz. Eustóquia é o único caso conhecido de um crente que conseguiu triunfar em seu desejo de santidade, ainda que em toda sua vida fosse possuída pelo diabo.
Quatro anos depois de sua morte, o corpo foi exumado do sepulcro original, que começou a encher-se de uma água pura e milagrosa, que deixou de surgir só quando o mosteiro foi encerrado. Em 1475 seu corpo foi trasladado para a igreja do mosteiro, e em 1720 foi posto dentro de uma arca de cristal. O mosteiro de São Prosdócimo suprimiu-se em 1806 e o corpo da beata beneditina foi trasladado para a Igreja de São Pedro de Pádua; sobre o altar de mármore que contém seu corpo, se encontra uma pintura de Guglielmi que representa a beata pisando o diabo. Sua festa religiosa, actualmente oficiada em toda a diocese de Pádua, é em 13 de fevereiro.