terça-feira, 12 de julho de 2011

São João Gualberto

           São João Gualberto, descendia de família nobre e  rica de Florença. Tendo recebido uma educação aprimorada, deixou-se mais tarde encantar pelas  vaidades do mundo.  O amor aos divertimentos tomou nele proporções tais que, esquecido dos bons princípios da moral, se entregou a  uma vida cheia de liberdades perigosas. 
           Deus, porém, vigiava e proporcionou-lhe os meios  da  sincera conversão.  A ocasião foi a seguinte:  Um fidalgo  tinha assassinado Hugo, irmão único de João Gualberto.  O pai jurou vingança e exigiu de João a promessa de tirar desforra, logo que a ocasião propícia se apresentasse.  Não era necessária grande insistência, porque a alma de João fervia de ódio e de  desejo de tirar vingança.
           Era uma Sexta-feira Santa.  João, voltando da fazenda,  inesperadamente se viu em frente do inimigo.  Parecia chegado o momento almejado.  A estrada, tão estreita era,  que dificilmente dava passagem a duas pessoas, e impossível era os dois inimigos não se acotovelarem. João, sem hesitar um momento, desembainhou a espada e, sequioso do sangue do inimigo, precipitou-se sobre o assassino do irmão.  Este,  ou porque lhe faltasse a  coragem, ou porque não tivesse uma arma à mão,  para se defender,  caiu de joelhos e os braços abertos  em cruz, disse a João:  “Por amor de Jesus Cristo, que neste dia por nós morreu, tem piedade! Não me mates, por amor de Jesus Cristo!” .  João, estupefato, sem saber no primeiro momento o que pensar, parou e não ousou dar um passo adiante.  Lembrou-se do grandioso exemplo que o divino Redentor tinha dado, no dia da morte, perdoando os inimigos.   Vindo-lhe à mente esta consideração,  sentiu-se tomado de grande comoção e, como por encanto,  desapareceram os ímpetos de vingança.  Atirando para longe a espada, dirigiu-se ao inimigo, abraçou-o e  disse:  “Não me é possível negar-te o que me pediste em nome de Jesus Cristo. Não só te deixo a vida, mas ofereço-te a  minha amizade.  Pede a Deus que me perdoe os meus pecados. 
             Foi esta para João, a hora da conversão.  Assim reconciliado com o inimigo, entrou numa Igreja, ajoelhou-se ao pé  de um crucifixo e, em ardente oração, pediu a  Jesus Cristo que lhe perdoasse os pecados.  Chegando-se  mais perto ao divino Redentor,  viu a cabeça da imagem para ele  se inclinar, em sinal de perdão.   Profundamente impressionado por esta visão, João Gualberto  tomou a resolução de dar um outro rumo à sua vida e dedicá-la ao serviço de Deus. Para este fim, foi ao convento de Miniates pedir admissão entre os religiosos.  A princípio,  encontrou a mais forte resistência do pai;  este,  estava  resolvido, se  preciso fosse, a empregar a  força, para tirar o filho do convento.  Diante, porém,  da constância e firmeza  inquebrantável deste, desistiu do plano e inteiramente se conformou.
            João Gualberto,  fiel  aos seus propósitos, dentro de pouco tempo era, entre os religiosos, o primeiro em  virtude e perfeição cristã.
            Morreu  o abade e os monges, reunidos em capítulo  com o fim de eleger um sucessor,  concentraram todos os  votos  em João Gualberto.  Este relutou, não querendo aceitar a dignidade de superior e retirou-se com  mais alguns companheiros, para a solidão, perto de Florença.  Lá se associaram  a  dois eremitas e com eles  levaram uma vida  unicamente de oração e penitência. 
           Não tardou que viessem outros, jovens e  velhos, atraídos  pela  santidade  dos  eremitas, a pedirem que os aceitassem  em sua companhia.  João Gualberto deu-lhes a regra de São Bento.   Como, porém,  o número dos postulantes crescesse de dia para dia,  foi preciso construir um convento com Igreja.  Passados uns anos,  a  nova Ordem, a de Valombrosa, possuía já doze conventos, os quais  em  João Gualberto reconheciam o superior. 
           Amável e caridoso para com os  outros, era João austero e inclemente para consigo.  Apesar de moléstia dolorosa no estômago, que o atormentava, não se dispensava nunca do jejum. 
           João Gualberto morreu em  1073, na idade de 73 anos, em Passignano, na Toscana.  Celestino III inseriu-lhe o nome no catálogo dos santos. 

Reflexões

           Perdoar os inimigos não é apenas generosidade:  É dever cristão.  Como de Deus esperamos que nos perdoe  os nossos  pecados e com este perdão contamos sempre, assim devemos  perdoar, não sete vezes, mas setenta vezes  sete, aqueles  que nos ofenderam.  Com que direito rezamos o Pai-Nosso, com que direito trazemos o título de cristão, se não queremos perdoar?  “Deus assim o quer – diz São Tomás de Vila Nova; - Deus assim manda e lhe agrada.  Que fazemos  para agradar a um amigo?  Para atender a um amigo, somos capazes de perdoar os nossos  desafetos. Se o amigo, tem tanto poder sobre nós,  quanto mais  não devemos fazer para agradar a Deus, que não pede, mas manda?  Que dizemos a isso?  Não nos entreguemos a  longas considerações.  Prostremo-nos diante da imagem de Jesus  Crucificado e  digamos de boca e de coração:  “Senhor Jesus Crucificado! Por vosso amor e em obediência à  vossa ordem, perdôo de  coração todo o mal que os homens  me fizeram e peço que,  como eu,  também vós lhes perdoeis” . 

Monastero di Vallombrosa

Abadia de Valombrosa, Itália



São João Gualberto, rogai por nós!



Morte de São João Gualberto




Capela do Mosteiro Valombrosano em Jundiaí, Brasil