sexta-feira, 15 de julho de 2011

São Boaventura, Itinerarium mentis in Deum I,6-8

          "Segundo os seis graus da ascensão a Deus, são seis as potências da alma, pelas quais ascendemos do último ao sumo, do exterior ao interior, do transitório ao eterno, isto é: os sentidos, a imaginação, a razão, o intelecto, a inteligência, o ápice da memória, a centelha da sindérese. Esses graus, nós os temos em nós, plantados na natureza, deformados pela culpa, reformados pela graça, e devemos purificá-los com a justiça, praticá-los com a ciência, aperfeiçoá-los com a sabedoria.
          O homem, segundo o dotou a natureza ainda desde o princípio, foi capaz de contemplar, e por isso Deus o pôs no paraíso das delícias; mas tendo ele se voltado da verdadeira luz para o bem transitório, encurvou-se pela própria culpa e todo o gênero humano pelo pecado original. Este, de dois modos, danificou a natureza humana, isto é, com  a ignorância obscureceu a mente, com a concupiscência danificou a carne, de modo que o homem, enceguecido e encurvado, imergiu nas trevas e não vê o lume do céu, a menos que a graça e a justiça não o ajudem contra a concupiscência, e a ciência e a sabedoria contra a ignorância.
           Tudo isso vem mediante Jesus Cristo, que por Deus foi feito para nós sabedoria e justiça, santificação e redenção. Ele, de fato, sendo a virtude e a sabedoria de Deus e o Verbo encarnado, fez-se cheio de graça e de verdade; isto é, infunde a graça da caridade, a qual quando provém de um coração puro, da consciência reta e da fé sincera, retifica toda a alma segundo o tríplice aspecto de que falamos acima. Ensinou depois a ciência da verdade segundo o tríplice aspecto da teologia: simbólico, próprio e místico. Por meio da teologia simbólica aprendemos a fazer uso retamente das coisas sensíveis, mediante a própria começamos a fazer uso retamente das inteligíveis, por meio da mística somos arrebatados para os êxtases sobrenaturais".


São Boaventura concedei-nos uma fé pura e uma inteligência reta.