quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Os novos santos espanhóis I: Santa Ângela da Cruz

 

        María de los Ángeles Martina de la Santísima Trinidad Guerrero González nasceu nas cercanias de Sevilha no dia 30 de janeiro de 1846. Seu pai, Francisco, era cozinheiro do convento dos Trinitarios e sua mãe, Josefa, costureira. Os dois tiveram 14 filhos, dos quais somente 6 chegaram à vida adulta.
         Como tantas meninas pobres sevilhanas de seu tempo freqüentou pouco o colégio, aprendendo a escrever sem dominar a ortografia, algumas noções de aritmética e catecismo. Mas sua pobreza não a impedia, desde cedo, a compartilhar os bens que tinha em casa com os mais pobres.
          Aos 12 anos teve que começar a trabalhar como aprendiz de sapateira para ajudar a família. Na sapataria Maldonado, onde trabalhava, rezava diariamente o Rosário e teve suas primeiras experiências místicas. Sempre muito dedicada, começou a ensinar seu ofício em um lar para meninas abandonadas.
         Mas foi o confessor de Angelita que a ajudou a encontrar o que Deus lhe pedia: ser freira. Em 1865, acompanhada de sua irmã Joaquina, chegou às portas do Convento fundado em Sevilha por Santa Teresa de Jesus. Entretanto, apesar de sua grade capacidade para vida contemplativa, não foi admitida porque não tinha suficiente saúde para a vida do Carmelo.
         Sem desistir do seu caminho, em 1868, entrou como postulante nas Filhas da Caridade do Hospital central de Sevilha, mas por sua saúde debilitada foi transferida para a cidade de Cuenca, onde o clima mais ameno poderia curá-la. Em 1870 teve que deixar definitivamente as Filhas da Caridade apesar de sua entrega e fidelidade generosa.
         Resignada a viver como "freira sem convento" voltou a seu trabalho e se submeteu a uma rotina de obediência ao seu confessor escrevendo a ele todos os seus pensamentos e desejos da alma. Em seus documentos íntimos, páginas assombrosas para uma mulher iletrada, com faltas ortográficas, mas com uma identidade cristã admirável, descrevia seu projeto de uma Companhia com dimensão caridosa e social a favor dos pobres e com um impacto enorme na Igreja e na sociedade de Sevilha por sua identificação com os necessitados.
         Ela queria "fazer-se pobre com os pobres". Ela não queria fazer caridade "de cima para baixo", mas ajudar os pobres "de dentro". Escrevia o que vivia: "A primeira pobre, eu...".
        No dia 2 de agosto de 1875, Ângela e outras três mulheres, Juana, Josefa e outra Juana estavam dispostas a viver o mistério da cruz na oração e no serviço aos pobres. Elas foram viver em um quarto alugado, no qual havia apenas uma mesa, algumas cadeiras e esteiras de junco que serviam de colchão, um Crucifixo e um quadro da Virgem das Dores. Estava nascendo as Irmãs da Cruz.
        Logo, a fundadora imprimiu a sua Companhia um ambiente de limpeza, saudável alegria e contida beleza. Seu estilo seria o de mulheres sensíveis, humildes, impregnando o ar de doçura de tal forma que todos agradecessem aquele novo modo de querer Deus e os pobres. Em 1879 o Arcebispo Joaquín Lluch aprovou as primeiras constituições da Companhia das Irmãs da Cruz, em uma síntese de oração e austeridade, contemplação e alegria no serviço aos pobres. E assim, as Irmãs da Cruz foram espalhando-se pela por toda Espanha, Ilhas Canárias, Itália e América.
        No dia 7 de julho de 1931 Madre Ângela teve uma trombose cerebral que, nove meses depois, a levaria à morte. Mas durante estes últimos meses, mesmo com metade do corpo paralisado, continuou mostrando sua virtude e humildade, tratando de agradar e nunca molestar. Depois de uma longa agonia e de ter recebido os últimos Sacramentos morreu em Sevilha no dia 2 de março de 1932.
        Foi beatificada em Sevilha pelo papa João Paulo II no dia 5 de novembro de 1982, seu corpo preservado repousa na capela da Casa Madre fundada por ela e sua memória litúrgica é celebrada no dia 5 de novembro.


corpo de Santa Angela