sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Mártires de Samosata

            Em 72 d.C.o reino de Comagene foi incorporado à província da Síria. Sua capital, Samosata, continuou sendo um lugar militarmente importante por estar localizada num ponto estratégico para a travessia do Eufrates, o divisor natural entre os Impérios romano e parta. Nela ficaram estacionadas legiões romanas ( a Legio VI Ferrata e a LegioXVI Flavia Firma). A medida que o cristianismo se expandia no mundo romano, Samosata foi produzindo líderes cristãos e no 6º século a antiga capital de Comagene era uma metrópole autocéfala da Igreja Oriental.
              Dessa importante cidade, cujos reis haviam se mudado para Roma e seus descendentes viviam regaladamente na alta sociedade do Império, surgiram pessoas, que, se não tinham sangue real, assinalaram sua presença nessa terra antiga e gloriosa ou dela descendiam.

Luciano de Samosata (c. 125-180) foi filósofo e escritor satírico. Nasceu em Samosata e de sua origem étnica dizia que era sírio, assírio ou bárbaro; de qualquer forma oriundo da população semita de Samosata. Satirizou e criticou os costumes e a sociedade da época e exerceu a partir da Renascença significativa influência em escritores ocidentais como Erasmo, Rabelais, Voltaire e Machado de Assis. Atribui-se a ele cerca de 80 obras. Em Uma história verdadeira, Luciano relata uma fantástica viagem à Lua, menciona a existência de vida extraterrestre e antecipa diversos outros temas popularizados durante o século XX pela ficção científica. Luciano zombou em seus escritos de Cristo e dos cristãos e os menciona várias vezes em sua obra Alexandre, o Falso Profeta. Em A Morte de Peregrino ele conta a história de um filósoifo cínico chamado Peregrino o qual se envolveu em certo tempo de sua vida com o cristianismo. Na obra, Luciano costuma relacionar os cristãos às sinagoas da Palestina e se refere a Jesus Cristo como "o homem que foi crucificado na Palestina porque iniciou aquele novo culto no mundo… além disto, seu primeiro legislador convenceu-os de que eram todos irmãos uns dos outros, depois de terem definitivamente transgredido, negando os deuses gregos e adorando o próprio sofista crucificado, vivendo sob suas leis".

Paulo de Samosata (200-275) foi bispo de Antioquia entre 260 e 268. Oriundo de uma família humilde de Samosata, sua carreira eclesiástica cercou-se de controvérsias teológicas. Em 260, foi nomeado funcionário de elite da administração financeira da Rainha Zenóbia de Palmira que controlava a Síria neste tempo. Neste mesmo período foi eleito bispo de Antioquia, recebendo desde cedo a acusação de estar mais interessado no cargo público que na função eclesiástica. Um concílio reunindo bispos das cidades próximas a Antioquia tentou demovê-lo do cargo por sua conduta e doutrina heterodoxas, obtendo êxito somente em 268, quando em um novo concílio reunido em Antioquia houve um debate entre Paulo de Samósata e o presbítero Málquio de Antioquia, mestre de retórica. Derrotado no debate, Paulo foi declarado herético e deposto do cargo. No entanto, somente quando Antioquia voltou à administração romana, é que Paulo de Samosata abandonou forçadamente os edifícios eclesiásticos que ocupava. Paulo de Samosata cria e ensinava que o Cristo-Logos e o Espírito Santo significavam apenas qualidades de único Deus; Jesus-homem obtinha inspiração do Alto e, quanto mais homem se tornava, tanto mais recebia o Espírito acabando por identificar-se com o Pai quando da ressurreição.

Mártires de Samosata (+ 297 d.C.) foram mártires cristãos executados pelo Imperador Maximiano (285-310). Segundo a tradição, em 297 o Imperador Maximiano, voltando vitorioso sobre o exército persa, celebrou os jogos quinqueniais em Samosata, a capital da Síria Comagene. Nesta ocasião ele ordenou a todos os habitantes o reparo ao templo da Fortuna, situado no meio da cidade, e a participar das súplicas solenes e sacrifícios que deveriam ser feitos aos deuses. Os cristãos locais Romano, Jacó, Filoteu, Hiperéquio, Abibo, Juliano e Paregório recusaram-se a participar dos ritos pagãos e foram submetidos a diversos tipos de tortura antes de serem todos pregados em árvores.

Luciano de Antioquia ( +312) nasceu em Samosata, cidade da Síria. Fundador da escola de interpretação bíblica de Antioquia que opunha-se às tendências alegóricas e especulativo-filosóficas da escola de Alexandria. Órfão aos doze anos, foi para a cidade de Edessa, onde ficou sob a mentoria de Macário, estudiosa da Sagrada Escritura, com quem adquiriu sério conhecimento da Bíblia. De Edessa dirigiu-se Luciano a Antioquia onde foi ordenado sacerdote e abriu uma escola de exegese segundo o modelo da que o seu mestre Macário estabelecera em Edessa; lançou-se então a rever as diversas traduções dos Livros do Antigo Testamento e a compor deste uma nova, segundo o texto hebraico. Esta obra foi apreciadíssima no Oriente e serviu muito a Jerônimo, o célebre tradutor da Vulgata. Conservam-se dele a revisão crítica do texto dos Setenta, ou tradução grega dos Livros Sagrados, tendo anexo o Novo Testamento (pelo menos os Evangelhos) e a Apologia do Cristianismo.
A Escola de Antioquia da Síria, fundada por Luciano de Samosata em oposição ao método alegórico alexandrino, o qual era muito dependente da filosofia pagã, pode ser considerado o embrião do método histórico-gramatical de interpretação da Bíblia. O principais representantes da escola de Luciano foram Deodoro de Tarso (m.390), Teodoro de Mopsuestia (m.429) e João Crisóstomo (m.407). As principais características da Escola de Antioquia eram a valorização do sentido literal do texto, a busca da intenção do autor ao escrever o texto e tentativa de reconstituir a compreensão dos destinatários originais da carta ou escrito. A Luciano se atribui a uniformização e recensão dos textos gregos de sua época que foi a origem do Texto Bizantino (ou Textus Receptus) o texto padrão utilizado como original para as traduções do Novo Testamento até o século XIX quando outros tipos de texto forma descobertos.
Luciano encontrava-se em Nicomédia no ano de 303, quando foram publicados os editos do Imperador Diocleciano (245-313) contra os cristãos. Denunciado, Luciano foi lançado na prisão, onde ficou durante anos. Apresentado às autoridades imperiais, diz-se que fez uma excelente apologia da fé cristã. Isso não o livrou da prisão e das torturas que o levaram a morte. Diz que quando intimado a abjurar sua fé dizia: “sou cristão”. O corpo de Luciano foi levado para Drepane, cidade da costa da Bitínia.

Daniel, o Estilita (409-403) Anacoreta (monge que vive em lugar isolado) considerado santo nas Igrejas Católica Romana e Ortodoxa, nasceu na aldeia de Maratha perto de Samosata. É geralmente referido como monge de Samosata.Viveu num mosteiro dos doze aos trinta e oito anos. Durante uma viagem que fez com o seu abade a Antioquia, ele passou por Tellnesin e recebeu a bênção e o encorajamento de Simão, o Estilita. Os Estilitas eram anacoretas que viviam no cimo de colunas, em espírito de penitência; por terem fama de santidade e sapiência atraiam peregrinos que recorriam aos seus conselhos e orações. Embora procure se justificar o seu excesso de ascetismo por causa de uma a necessidade da penitência em uma época de corrupção terrível e decadência social, tal estilo de vida não encontra base nos ensinos do Novo Testamento. Após o encontro com Simão, Daniel visitou lugares sagrados, vários conventos e por fim retirou-se em 451 nas ruínas de um templo pagão para viver como eremita. Pouco depois da morte de seu mestre, ele estabeleceu-se perto de Constantinopla, onde sua influência foi grande, sendo visitado tanto pelo Imperador Leão I, o Trácio (457-474) como pelo Imperador Zenão, o Isauriano (474-491) que buscaram sua benção e orientação.

Eusébio de Samosata (330-379) bispo de Samosata que combateu o arianismo teológico. Em 361 tornou-se o bispo de Samosata. A Eusébio foi confiado o registro oficial da eleição em 360 do bispo de Antioquia, Melécio, que foi apoiado pelos bispos arianos (que não aceitavam a divindade de Cristo), que supuseram que ele apoiaria sua causa.
Quando Melécio expôs a sua ortodoxia, os bispos tentaram anular sua eleição e persuadiram ao imperador romano Constancio II (337-361), um ariano convicto, a extorquir o registro de Eusébio e destruí-lo. Diante da recusa de Eusébio, Constancio ameaçou-o de cortar sua mão direita se ele não desse o registro, mas a ameaça foi retirada quando Eusébio ofereceu as duas mãos. Durante a perseguição de cristãos ortodoxos (isto é, que criam na divindade de Cristo) no Oriente sob o imperador romano Valente (364-378), também ariano, Eusébio viajou incógnito através da Síria e da Palestina, restaurando bispos ortodoxos e sacerdotes que haviam sido depostos pelos arianos. Em 374 Valente exilou Eusébio para Trácia, uma região da Península dos Balcãs, mas após a morte do Imperador em 378, Eusébio foi restaurado ao seu bispado em Samosata. Enquanto estava em Dolikha consagrando um bispo, foi morto após ser atingido na cabeça por uma telha lançada por uma mulher supostamente ariana.

André de Samosata (+451), também conhecido como Andreas Samosatensis, foi bispo de Samosata que era adepto do nestorianismo (doutrina que distingue em Cristo duas pessoas, a divina e a humana). Entrou em controvérsia com Cirilo de Alexandria, o qual acabou o convencendo a abraçar a cristologia do Concílio de Éfeso (431) ainda que, talvez, por considerar a paz da Igreja superior a si mesmo do que por convicções teológicas.
Teodoreto de Ciro (+466) fala de André com muito carinho e estima, elogia sua humildade e disponibilidade para ajudar nos momentos difíceis. As cartas de André de Samosata dão uma idéia de sua sabedoria, prática, disponibilidade para confessar erros e firmeza em manter o que acreditava ser certo.

Rábulas de Samosata (+ 530) nascido em Samosata, Rábulas que aceitou monasticismo e pregou o Evangelho aos pagãos na Fenícia. Durante o reino de Imperador Anastácio (491-518) ele chegou a Constantinopla, onde fundou alguns mosteiros lá e morreu em paz aproximadamente em 530, com 80 anos de idade.