sábado, 24 de dezembro de 2011

Ds Exposição sobre o Evangelho de São Lucas, de São Beda Venerável, presbítero e doutor da Igreja, século VIII (Lib.1,46-55: CCL 120,37-39)

Magnificat


         E Maria disse: A minh'alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador ( Lc 1,46-47).
        O Senhor, diz ela, elevou-me por um dom tão grande e inaudito, que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças de meu ser ao louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza daquele que é eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo que sinto e penso, porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o Salvador, que concebi e é gerado em meu seio.
       O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! ( Lc 1,49 ).
       Estas palavras se relacionam com o início do cântico que diz: A minh'alma engrandece o Senhor. De fato, só a alma em quem o Senhor se dignou fazer maravilhas pode engrandecê-lo e louvá-lo dignamente e dizer, exortando os que compartilham seus desejos e aspirações: Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome (SL 33,4).
       Quem conhece o Senhor e é negligente em proclamar sua grandeza e santificar o seu nome, será considerado o menor no Reino dos Céus (Mt 5,19). Diz-se que santo é o seu nome porque, pelo seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está infinitamente separado de todas as coisas criadas.
        Acolhe Israel, seu servidor, fiel ao seu amor ( Lc 1,54).
       Israel é, com razão, denominado servidor do Senhor, porque, sendo obediente e humilde, foi por ele acolhido para ser salvo, como diz Oséias: Quando Israel era criança, eu já o amava ( Os 11,1). Aquele que recusa humilhar-se não pode certamente ser salvo, nem dizer com o Profeta: Quem me protege e me ampara é meu Deus; é o Senhor quem sustenta a minha vida! ( Sl 53,6). Mas, quem se fizer humilde como uma criança, esse é o maior no Reino dos Céus ( cf. Mt 18,4).
        Como havia prometido a nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos para sempre ( Lc 1,55).
        Trata-se da descendência de Abraão segundo o espírito e não segundo a carne, isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que seguiram o exemplo da sua fé, fossem eles circuncidados ou incircuncisos. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso, acreditou e isto lhe foi imputado como justiça.
        A vinda do Salvador foi, portanto, prometida a Abraão e a seus filhos para sempre, isto é, aos filhos da promessa, dos quais se diz: Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, heredeiros segundo a promessa ( GL 3,29 ).
        É com razão que, antes do nascimento do Senhor e de João, suas mães profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens comecem igualmente por ela; e se foi pela sedução de uma só mulher que a morte foi introduzida no mundo, agora é pela profecia de duas mulheres que se anuncia ao mundo a salvação.