Entrada no Carmelo, onde tomou o nome, em certo modo profético, de Maria Cândida da Eucaristia, quis «acompanhar a Jesus, na sua condição de Eucaristia, o mais que pudesse». Prolongava suas horas de adoração, e, sobretudo, a hora das 23 às 24 de cada sexta-feira, a passava ante o Tabernáculo. A Eucaristia polarizava verdadeiramente toda sua vida espiritual, não tanto pelas manifestações devocionais, quanto pela incidência vital na relação entre sua alma e Deus.
Da Eucaristia tirou forças Maria Cândida para consagrar-se a Deus como vítima em 1 de novembro de 1927. Maria Cândida desenvolveu plenamente o que ela mesma define como sua «vocação à Eucaristia» ajudada pela espiritualidade carmelitana, a que se havia acercado através da leitura da História da alma de Santa Teresinha. São bem conhecidas as páginas em que santa Teresa de Jesus descreve sua especialíssima devoção à Eucaristia e como, na Eucaristia, experimentou a santa Fundadora o mistério fecundo da Humanidade de Cristo.
Eleita prioresa do mosteiro em 1924, o foi, salvo uma breve interrupção, até 1947, infundindo na sua comunidade um profundo amor às Constituições de santa Teresa de Jesus e contribuindo de forma direta à expansão do Carmelo teresiano na Sicilia, fundação de Siracusa, e ao retorno do ramo masculino da Ordem. A partir da solenidade do Corpus Domini de 1933, ano santo da Redenção, Maria Cândida começa a escrever o que poderíamos definir como sua pequena obra mestra de espiritualidade eucarística,
A Eucaristia, «verdadeira joia de espiritualidade eucarística vivida». Se trata de uma longa, intensa meditação sobre a Eucaristia, sempre tensa entre a recordação da experiência pessoal e o aprofundamento teológico dessa mesma experiência. Na Eucaristia vê sintetizadas, a Madre Cândida, todas as dimensões da experiência cristã.
A fé: «Oh meu Amado Sacramentado, eu Te vejo, eu Te creio!... Oh Santa Fé». «Contemplar com Fé redobrada a nosso Amado no Sacramento: viver d’Ele que em cada dia».
A esperança: «Oh minha divina Eucaristia, minha querida esperança, tudo espero de ti... Desde menina foi grande minha esperança na Santíssima Eucaristia».
A caridade: «Jesus meu, quanto Te amo! É um amor imenso o que nutro em meu coração por Ti, oh Amor Sacramentado... Quão grande é o amor de um Deus feito pão pelas almas! De um Deus feito prisioneiro por mim».
Na Eucaristia, a Madre Cândida, então prioresa de sua comunidade, descobre também o sentido profundo dos três votos religiosos, que numa vida intensamente eucarística encontram, não só sua plena expressão, mas também um exercício concreto de vida, uma espécie de profunda ascese e de progressiva conformação ao único modelo de toda consagração, Jesus Cristo morto e ressuscitado por nós: «Que hino não deveria entoar-se à obediência de nosso Deus Sacramentado? E que é a obediência de Jesus em Nazaré, comparada com sua obediência no Sacramento desde há vinte séculos?». «Depois de instruir-me sobre a obediência, quanto me falas, quanto me instróis na pobreza, oh branca Hóstia! Quem mais despojada, mais pobre que Tu...Não tens nada, não pedes nada!... Divino Jesus, faz que as almas religiosas estejam sedentas de desprendimento e de pobreza sincera!».«Se me falas de obediência e de pobreza..., que fascinação de pureza não suscitas Tu só para te ver! Senhor, se teu descanso o encontras nas almas puras, que alma, tratando contigo, não se fará tal?». Daí o propósito: «Quero permanecer junto a Ti por pureza e amor». Mas é sem dúvida a Virgem María o verdadeiro modelo de vida eucarística, Ela que levou em seu seio ao Filho de Deus e que continuamente o engendra no coração de seus discípulos: «Quisera ser como Maria — escreve Maria Cândida numa das páginas mais intensas e profundas de La Eucaristia —, ser Maria para Jesus, ocupar o posto de sua mãe.
Em minhas Comunhões, Maria a tenho sempre presente. De suas mãos quero receber a Jesús, ela deve fazer me uma só coisa com Ele. Eu não posso separar a Maria de Jesus. Salve! Oh Corpo nascido de Maria!. Salve Maria, aurora da Eucaristia!». Para Maria Cândida, a Eucaristia é alimento, é encontro com Deus, é fusão de coração, é escola de virtude, é sabedoria de vida. «O Céu mesmo não possui mais. Aquele único tesouro está aqui, é Deus! Verdadeiramente, sim verdadeiramente: meu Deus e meu Tudo». «Peço ao meu Jesus ser posta como sentinela de todos os sacrários do mundo até ao fim dos tempos».
O Senhor a chamou, depois de alguns meses de agudos sofrimentos físicos, em 12 de junho de 1949, Solenidade da Santíssima Trindade nesse ano.