quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Santo Álvaro Pelágio, bispo

            

            Julga-se que Álvaro fosse filho ilegítimo do trovador galego e almirante de Castela Paio Gómez Charino. Estudou primeiramente na corte de Sancho IV de Castela, tendo depois partido para Itália, a fim de estudar direito em Bolonha e Perugia. Em Bolonha, tendo por mestre Guido de Baisio, obteve o grau de doutor nos dois direitos (o civil e o canônico).
             Em 1304, contactando os Frades Menores reunidos em capítulo em Assis, e em particular com o seu Mestre-Geral, Gonçalo de Balboa, ingressou naquela oredem mendicante, tendo renunciado aos seus bens e doado-os aos pobres. Envolveu-se nas disputas internas da ordem, aproximando-se dos espirituais, que defendiam uma interpretação mais rigorosa das palavras de São Francisco no que tocava à pobreza. No entanto, por obediência ao Papa (João XXII), acabou por se afastar dessa corrente.
             Permaneceu em Itália, primeiro Perugia, depois em Assis, tendo enfim mudado-se para Roma, estabelecendo-se na Igreja de Santa Maria in Aracoeli. Grande defensor do primado do Papa sobre o poder dos príncipes, tornou-se legado do Papa João XXII no conflito que o opunha junto do Imperador, Luis da Baviera. Quando o Imperador fez coroar o seu representante, Pietro Rainalducci, como antipapa (sob o nome de Nicolau V), Álvaro fugiu para Anagni (1328), setenta quilómetros para sudoeste de Roma.
             Daí partiu para Avinhão (1330), onde se achava o Papa com a sua corte, tendo exercido o cargo de penitenciário apostólico. Em 1332, o Papa conferiu-lhe dispensa da bastardia, o que lhe permitia o acesso a cargos eclesiásticos, tendo sido nomeado bispo titular da diocese de Corona, na Grécia, não tendo contudo chegar a tomar posse.
             Em 9 de junho de 1333, o Papa nomeou-o bispo de Silves, regressando enfim à Península Ibérica. Envolveu-se em conflito com o rei português Dom Afonso IV, por não o apoiar na guerra que este declarara ao monarca castelhano Afonso XI, bem como por não concordar com os impostos extraordinários lançados sobre os bens eclesiásticos para poder manter o conflito. Chegou a ser atacado por sicários do rei, tendo fugido para Sevilha, cidade a partir da qual continuou a reger a sua diocese até à sua morte.

Obra

As três principais obras de Álvaro Pais são:
  • De statu et planctu Ecclesiæ (Do estado e do pranto da Igreja), obra composta entre 1332 e 1335, na qual defende o primado do poder da Igreja sobre o poder temporal, condenando a eleição do antipapa Nicolau e reconhecendo a legitimidade de João XXII;
  • Speculum regum (Espelho de reis), escrita em Tavira entre 1341 e 1344, durante a sua estada à frente da diocese de Silves, dedicada ao rei Afonso XI de Castela e ao cardeal Gil de Albornoz; é considerada por muitos a sua obra-prima, inspirada no De regimine principum de Egídio Romano, e destinada à instrução dos soberanos e à sua orientação no tocante às virtudes que devem por eles ser cultivadas;
  • Collyrium fidei adversus hæreses (Colírio da Fé contra os hereges), de 1348, onde condena os averroístas, os espirituais, as beguinas e os begardos, os judeus e os muçulmanos.
              A sua obra marcou várias gerações, tendo o «Espelho de Reis» sido obra sempre presente nas bibliotecas dos reis de Portugal (sabendo-se que existiram vários exemplares nas de Dom Duarte e Dom Afonso V, tendo o primeiro inspirado-se em várias das suas teses para compor uma das suas mais famosas obras, o Leal Conselheiro).