sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Beato Rafael de São José, religioso

         

            No dia 1 de Setembro de 1835, em Vilna, Polônia, nasceu um menino a quem puseram o nome de José e o apelido de Kalinowski. Perdeu a mãe, com apenas dois meses de idade, vindo a conhecer ainda mais duas, pois seu pai casou três vezes. Às três chamou mãe e amou-as com grande amor.
            A sua vida e a sua fé desabrocharam à sombra do santuário carmelitano de Nossa Senhora de Ostra-Brama. Nos estudos, foi sempre aluno brilhante e de excelentes notas. Durante a sua juventude alastrou a perseguição czarista, assistindo então o jovem José a inúmeras execuções públicas e a deportações para a Sibéria. Aos 17 anos, aluno brilhante e bem considerado socialmente, José mergulha numa crise vocacional: deveria ter entrado para o seminário, mas não teve coragem.
           Especializou-se em Agronomia, Zoologia, Química, Apicultura, Línguas estrangeiras e entrou na Academia Militar, donde saiu graduado em tenente. Tenente e engenheiro. A vida sorria-lhe. Aos 24 anos. voltou-se para Deus experimentando a intimidade profunda com Deus através da oração. Foi professor de matemática e Reitor do Colégio onde se tinha formado. E, com apenas 25 anos, foi promovido a Capitão do Estado Maior. Kalinowski dedicava-se, nesta altura, à adolescência e à juventude, orientando grupos de jovens que o admiravam.
            Em 1863, a Polônia insurge-se contra a Rússia, e Kalinowski foi nomeado Ministro da Defesa da Lituânia, o que aceitou com a contrapartida de não haver condenações à morte. Estabeleceu o fim da insurreição, mas mesmo assim foi preso e condenado à morte, pena que acabaria por ser comutada para prisão perpétua, na Sibéria.
            Tinha andado afastado de Deus nos últimos tempos, e esta amargura atraiu-o, de novo, para os braços do Pai. Ao confessar-se, mesmo sabendo-se prisioneiro condenado à deportação, sentiu uma paz profunda. Foi então que se deu a sua conversão, como mais tarde viria a reconhecer. No dia 29 de Junho de 1864, depois de se ter despedido dos seus e do Santuário de Nossa Senhora, parte para o desterro com os seus companheiros de infortúnio, consagrando-se então à Virgem Maria. Não se podem descrever os sofrimentos daqueles homens. Muitos ficaram sepultados na neve... Kalinowski era para todos tão bom amigo que lhe chamavam Anjo de Deus, Consolador de todos. Nunca se queixava, por maiores que fossem os tormentos, e estava sempre pronto a esquecer-se de si para ajudar os outros. Os seus companheiros de martírio tinham-no como santo, por isso, rezavam a Deus pedindo no fim das orações, dizendo: «Pela oração de José Kalinowski, livrai-nos, Senhor».
             Comutaram-lhe a pena, pela segunda vez, para dez anos de degredo. Quando completou os nove, libertaram-no. Tinha aprendido o gosto e o hábito de rezar sempre e em todos os momentos, e de em Deus descansar o seu coração. Dizia então: «Mesmo que o mundo tudo me roube, deixar-me-á sempre um lugar de refúgio: a oração».
            Aos 39 anos de idade foi escolhido para preceptor do príncipe Augusto Czartoryski. Mas, José Kalinowski continuava tão insatisfeito como aos 17 anos.
             Um dia, encontrou-se com a princesa Witoldowa, que se tinha feito carmelita. Ela convidou-o a fazer-se carmelita, a fim de ser ele o restaurador da Ordem na Polônia. Foi o acender duma luz divina que trouxe a felicidade e a paz ao coração inquieto daquele homem de 42 anos. Tomou o hábito do Carmo no dia 16 de Julho de 1877, festa da Rainha do Carmo. Passou a chamar-se Frei Rafael de S. José. Nunca sentira maior felicidade, pelo que escreveu: «Bendito seja Deus que me trouxe a habitar debaixo do tecto hospitaleiro dos filhos da Senhora do Carmo». Foi ordenado sacerdote aos 47 anos. Fez tudo para difundir entre os polacos a espiritualidade da Ordem do Carmo: dizia: «Os carmelitas são os filhos primogénitos de Maria». Através dele a Ordem dos Carmelitas Descalços começou a florescer em inúmeras vocações que pediam o hábito. Mais uma vez, frei Rafael de S. José atraía os jovens, como na sua juventude. Em 1907, as suas doenças aumentam assustadoramente, como espelham as suas palavras: «Reze por mim, escreve numa carta, que pareço outro Lázaro».
              No dia 13 de Novembro, recebeu os últimos sacramentos e deu a bênção aos seus irmãos carmelitas que o rodeavam, enquanto rezava: «Senhor, ficarei saciado quando aparecer a vossa glória». No dia 15, dia da Comemoração dos Defuntos da Ordem, adormeceu no Senhor dizendo: «Muito bem, agora vou descansar!» Tinha 70 anos, trinta como carmelita. Na guerra, no exílio, no convento, quando jovem, quando adulto e homem maduro, a vida de S. Rafael é claro farol que ilumina os nossos dias.
             O seu túmulo tornou-se lugar de peregrinação onde o papa João Paulo II, seu compatriota que o canonizou, rezou muitas vezes.