terça-feira, 4 de outubro de 2011

Início da Carta aos Magnésios, de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir (Nn.1,1-5,2: Funk 1,191-195) (Séc.I)


Convém sermos cristãos não só de nome, mas de fato

Inácio, chamado também o Teóforo, à Igreja, santa pela graça de Deus Pai em Jesus
Cristo, nosso salvador. Nele saúdo esta Igreja que está em Magnésia, junto ao Meandro,
e desejo-lhe em Deus Pai e em Jesus Cristo plena salvação.
 Tomando conhecimento de vossa religiosa caridade perfeitamente ordenada, decidi, na
exultação da fé de Jesus Cristo, vir falar convosco. Ornado com o nome mais glorioso
nas cadeias que carrego, louvo as Igrejas. A elas desejo a união com a carne e o espírito
de Jesus Cristo, nossa Vida sem fim, e a união na fé e na caridade. Nada há de preferível
a isto, sobretudo a união com Jesus e o Pai; nele suportamos toda a violência do
príncipe deste mundo, dele escapamos e, assim, alcançamos a Deus.
 Foi-me concedido o favor de vos encontrar através de Damas, vosso bispo, digno de
Deus, e dos presbíteros Basso e Apolônio e também do meu companheiro de serviço, o
diácono Zócion. Possa eu com ele conviver, porque é submisso ao bispo como à
benignidade de Deus e ao presbitério como à lei de Jesus Cristo.
 Contudo, não vos convém usar de excessiva familiaridade para como bispo por causa
de sua idade, mas em consideração ao poder de Deus Pai, mostrar-lhe todo o respeito.
Como soube, os santos presbíteros não abusam da notável juventude dele, mas
prudentes em Deus, obedecem-lhe. Ou melhor, obedecem não a ele, mas ao Pai de Jesus
Cristo, o bispo de todos. Por isso, em honra daquele que nos ama, faz-se mister
obedecer sem hipocrisia, pois não é a este bispo visível que alguém ilude, mas é ao
invisível que tenta enganar. Tudo quanto se faz neste sentido não se refere à carne, mas
a Deus que conhece todo o oculto.
 Convém, então, sermos cristãos não só de nome, mas de fato. Ora, há quem tenha o
nome do bispo na boca, porém, tudo faz sem ele. Estes tais não me parecem possuir
consciência reta, porque não se reúnem com lealdade, segundo o preceito.
 Tudo terá um fim. Mas dois termos nos são propostos: a morte e a vida. Com efeito,
cada um de nós irá para o próprio lugar. À semelhança de duas moedas, uma de Deus,
outra do mundo, também cada qual tem a própria marca inscrita. Assim, os infiéis têm a
marca deste mundo, enquanto os fiéis na caridade têm a marca de Deus Pai por Jesus
Cristo. Se nossa vontade não estiver inclinada a morrer por ele, à imitação de sua
paixão, também sua vida não estará em nós.