segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Os mártires de Córdoba

        

São Rodrigo de Córdoba


         Os mártires de Córdoba foram quarenta e oito mártires cristãos que viviam no emirado  muçulmano de Al-Andalus (na Península Ibérica) no século IX. Suas hagiografias descrevem em detalhes as suas execuções provocadas principalmente pela busca, de forma deliberada, de penas capitais por violação da Sharia em Al-Andalus.
          Os martírios, estimulados por Eulógio de Córdoba, ocorreram entre 851 e 859 d.C. Com umas poucas exceções, os cristãos provocaram a execução ao fazerem declarações públicas sobre temas escolhidos especialmente para provocar o martírio: alguns foram até autoridades muçulmanas para denunciar Maomé ou o Islã (o que era blasfêmia) , outros, possivelmente os nascidos de casamentos entre muçulmanos e cristãos, publicamente declaravam sua fé no cristianismo e eram assim acusadas de apostasia.
           Em 711 d.C., um exército muçulmano vindo do norte da Africa conquistou a Ibéria visigótica cristã. Sob o seu líder, Tárique (Tariq ibn Ziyad), eles desembarcaram em  Gilbratar e colocaram a maior parte da Península Ibérica sob o jugo do Islã numa campanha que durou oito anos. A região foi rebatizada de Al-Andalus pelos novos líderes. Quando os califas omíadas foram depostos pelos abássidas em Damasco em 750 d.C., os sobreviventes da dinastia se mudaram para Córdoba e ali passaram a governar um emirado, tornando a cidade um centro da cultura islâmica ibérica.
           Uma vez conquistada a Ibéria, a sharia (lei islâmica) foi imposta em todo o território. Os cristãos e os judeus eram chamados de dhimmis ("povos do livro") e estavam sujeitos à jizyah, um imposto pago por pessoa, que os permitia viver sob o regime islâmico. Sob a sharia, a blasfêmia contra o Islã, seja por muçulmanos ou dhimmis, e a apostasia eram motivos suficientes para a pena de morte.
          Apesar de quatro basílicas cristãs e diversos mosteiros - mencionados no martirológio de Eulógio - terem permanecido abertos, os moçárabes (cristãos em território muçulmano) foram gradualmente se convertendo à nova fé, num processo estimulado pela taxação e pela discriminação legal imposta aos cristãos (como as leis regulando os filhos de casamentos entre cristãos e muçulmanos).
            De forma incomum, Recafredo, o bispo de Córdoba, ensinava as virtudes da tolerância e da acomodação com as autoridades muçulmanas, que não ajudou a estancar as conversões. Para espanto de Eulógio, cujos textos são a única fonte para os martírios e que passou a ser venerado como santo ainda no século IX, o bispo ficou do lado das autoridades muçulmanas contra os martírios, que ele entendia serem obra de fanáticos. O fechamento dos mosteiros começou a aparecer nos registros a partir da metade deste mesmo século.
           O monge Eulógio encoraja os mártires como forma de reforçar a fé da comunidade cristã, como nos tempos das perseguições aos cristãos sob o Império Romano. Ele compôs tratados e um martirológio para justificar a auto-imolação dos mártires, dos quais um único manuscrito contendo sua Documentum martyriale, os três livros de sua Memoriale sanctorum e sua Liber apologeticus martyrum, foi preservado em Oviedo, no reino cristão das Astúrias, no extremo noroeste da Ibéria.
           Santo Eulógio foi enterrado na Catedral de San Salvador, em Oviedo, para onde as suas relíquias foram transladadas em 884 d.C.
          Os quarenta e oito cristãos (a maioria monges) foram martirizados em Córdoba na década de 860 por decapitação por ofensas religiosas contra o Islã.
         A Acta detalhada destes martírios foram atribuídas ao habilmente chamado "Eulogius" ("benção"), que foi um dos últimos a morrer. Embora a maior parte dos mártires de Córdoba terem sido hispânicos, baeto-romanos ou visigodos, um nome veio da Septimania, outro era árabe ou berbere e um último tem nacionalidade indefinida. Há também ligações com o oriente ortodoxo: um dos mártires era sírio, outro um monge árabe ou grego da Palestina e dois outros tinham nomes claramente gregos. Este elemento grego pode ser reminiscente do breve interlúdio de poder dos  bizantinos na meridional Hispania Baetica, que durou até eles terem sido finalmente expulsos em 554 d.C.: representantes do Império Bizantino foram convidados para ajudar a resolver uma disputa dinástica na Visigotia e lá ficaram como uma esperada cabeça-de-ponte para uma "reconquista" bizantina imaginada pelo imperador Justiniano I.

urna de prata contendo os restos mortais dos mártires de Córdoba, na Basílica de São Pedro, Espanha


Lista dos Santos Mártires